As Várias Abordagens no Budismo (Parte I)

Terceira Abordagem: Compaixão

Quinta etapa do Nobre Caminho Óctuplo

Textos de apoio: O Caminho do Bodisatva, de Shantideva; o Sutra do Diamante e seus comentários

A terceira abordagem é o início de uma experiência em que o próprio ensinamento ultrapassa o nível pessoal, ao contrário das duas primeiras, nas quais o trabalho, pelo menos enquanto diagnóstico, se dava no nível da identidade. Ou seja, um “Bom Coração” é um bom coração de alguém, a “perfeição” ou a “purificação” é a purificação de alguém. Já nesse terceiro nível é descoberta uma qualidade transpessoal que será a base do ensinamento e do nosso próprio esforço. Existe uma grande diferença entre esta e as abordagens anteriores. Ela é uma abordagem mais poderosa, é uma classe de ensinamentos enfatizada por Sua Santidade o Dalai Lama e também por grandes praticantes.

Ainda assim, essa não é a abordagem que engloba todo o ensinamento. Os ensinamentos começam pela perspectiva de um “Bom Coração”, entram no estudo em que o carma e todas as dificuldades são reconhecidos, para então ser ultrapassada a pessoalidade. Essencialmente, esse é “O Caminho do Bodisatva”, de Shantideva. “O Caminho do Bodisatva” é um ensinamento em si mesmo, é uma classe de ensinamentos constantemente apresentada e incentivada por Sua Santidade o Dalai Lama. Ele promove esse ensinamento não apenas como um professor, mas como sua prática principal. Todo o Budismo vai tratar da capacidade de ação nesse nível, na forma da ação compassiva de um Bodisatva.

Esse caminho também pode incluir a abordagem pessoal que, de certa forma, é a linguagem que Shantideva usa em partes do seu ensinamento. É como se nós disséssemos “Eu deveria ser mais compassivo. Se eu fosse inteligente eu usaria esse método, entenderia que não há razão para focar a mim mesmo. Eu deveria ajudar os outros.” Nessa perspectiva há sempre um eu que “deveria” muitas coisas. E como seria possível ultrapassar a pessoalidade? Entendendo “O Caminho do Bodisatva” segundo o Sutra do Diamante. De acordo com os ensinamentos desse Sutra, a prática das qualidades positivas não precisa estar centrada em uma identidade e, aliás, ela vai atingir a sua perfeição na transcendência da identidade, quando ela for a expressão de uma liberdade mais ampla.

E como entender essa liberdade mais ampla? A partir da oitava etapa, ou seja, no momento em que nós ampliamos e sofisticamos a visão. O conceito de uma identidade é substituído pela experiência direta de uma natureza que está por detrás e além de todas as identidades. As identidades surgem e cessam, mas algo se preserva em meio a esses nascimentos e mortes. Para uma prática mais perfeita do que seja o caminho de um Bodisatva, a consciência dessa natureza é muito importante. Ao compreendermos isso, tudo se torna mais fácil, porque nós passamos a ter uma linguagem que pode expressar essa compreensão. Nós vamos poder dizer: “A minha natureza é mais ampla do que a minha identidade, tanto que eu posso expressar essa natureza através de várias identidades. Todas elas vão mudando, mas a minha natureza está sempre presente e intacta.”

Através dessa consciência, nós descobrimos que não é necessário o tempo passar para que as identidades passem. Nós nos damos conta de que, hoje mesmo, manifestamos várias identidades; somos pais, mães, profissionais, namorados, estudantes, muitas identidades ao mesmo tempo. Nós podemos nos manifestar de diferentes formas. Quando vamos ao teatro, ao cinema ou assistimos a uma novela, nós também surgimos como uma identidade através da nossa conexão com os personagens. E se é possível compreendermos um personagem virtual, porque não conseguiríamos compreender uma pessoa que está a nossa frente? Dessa forma, nós descobrimos que a nossa natureza também pode se manifestar na compreensão da identidade do outro, ou seja, nós podemos nos associar à forma como o outro está pensando e assim, podemos entendê-lo. Existe essa possibilidade de entendermos o outro não mais a partir da nossa identidade, mas através da situação em que o outro se encontra.

No cinema, em princípio, todo mundo ri ou chora na mesma hora. Por quê? Porque ainda que nós sejamos uns diferentes dos outros, todos estamos movidos pelo mesmo personagem e passamos a viver segundo a sua forma. Na medida em que o filme se apresenta, nós nos colocamos à mercê das paisagens oferecidas. Nós tendemos para um lado ou para outro de acordo com as paisagens que o diretor nos oferece e assim, sem raciocinarmos, de repente estamos torcendo pelo super-herói, desejando que ele mate todos os seus inimigos. O aspecto da paisagem é que nos constrói junto com o personagem. Ao longo do filme, somos literalmente construídos. Do mesmo modo, nós podemos nos construir como alguém que entende as pessoas a partir das circunstâncias pelas quais elas experimentam a realidade. Nós nos construímos de acordo com os processos de relação estabelecidos por elas. E como é que isso acontece? Como no cinema, ou seja, entendendo e aceitando os processos de relação vividos pelo outro, nós passamos a vivê-los também.

Seguindo esse raciocínio, fica claro que nós não poderíamos nos construir no outro se ele fosse realmente alguém separado. Por já entendermos a vacuidade, ao olharmos dentro do outro, não encontramos nada a não ser a liberdade. As definições que encontramos no outro são todas construídas, não são definições próprias. Elas mostram processos de relação, são apenas funções entre objetos e não propriamente objetos. Então, mesmo que teoricamente, nós compreendemos que não existe um grande problema em nos associarmos a qualquer paisagem e vivermos os diversos tipos de relação pelos quais o outro opera, uma vez que, entrar e sair das paisagens, é uma habilidade que usamos para poder sentir o que o outro sente.

Se ainda assim nós desconfiarmos, achando que as coisas não são bem assim, nós podemos observar, por exemplo, um jogo de xadrez. Durante o jogo, nós nos construímos como um personagem que joga, cuja paisagem mental é o tabuleiro. Quando uma terceira pessoa chega e olha o tabuleiro, ela é capaz de entender exatamente o sentido da apreensão dos jogadores. Ela pode dizer: “Cara, você está perdido!” E como isso é possível? Isso é possível porque ela vê o jogador como um processo de relação e entende o que é possível e o que não é possível dentro daquele processo. Ela entende que a dificuldade dos jogadores é real dentro daquela paisagem.

Isso nos permite compreender que é possível a nossa natureza operar segundo um processo mais sofisticado que simplesmente buscar uma ação que seja perfeita para uma identidade. É possível ultrapassar a noção de identidade e de fato olhar para os outros, reconhecendo as suas dificuldades e o seu potencial positivo. Ao fazermos isso, uma dimensão de energia é acionada. Por quê? Porque nós passamos a viver o “Bom Coração”, que é como uma eletricidade. E, num certo sentido, ao surgirmos através do outro, nós morremos, desaparecemos enquanto “sendo” nossas definições. Ao mesmo tempo, surge a experiência de ampliação na conexão com o outro. Nós somos nós mesmos e ao mesmo tempo, somos o outro.

Assim, surge a ação livre da nossa natureza. Se antes ela estava encaixotada na experiência de autocentramento, limitada a fazer apenas determinadas coisas, agora ela está muito mais ampla. Desse fato, brota uma eletricidade na forma de alegria que vai ser o combustível natural para todo esse processo. Se a alegria estiver presente, é porque a nossa natureza se expandiu, se ampliou. Esse ponto é muito interessante porque nós vamos recuperar a capacidade de amar. De forma geral, os amores convencionais apresentam problemas, mas aqui nós estamos falando de uma forma mais ampla de amor, de um amor que ultrapassa boa parte dos seus problemas.

Nessa terceira forma de abordagem dos ensinamentos do Buda existem recomendações como: “Troque a sua experiência pela experiência do ouro. Troque de lugar com ele.” Ou ainda: “Aspire tudo o que for negativo dentro do outro e transforme isso em algo positivo. Quando você inspirar, inspire as dores do outro, quando expirar, expire sabedoria, qualidades positivas.” Dessa maneira nós começamos a olhar o mundo de uma outra forma, através da qual nós naturalmente praticamos as seis perfeições como descritas no Sutra do Diamante. Se a prática da compaixão, alegria, equanimidade e amor se tornar possível, então iremos também praticar as seis perfeições de forma impessoal, como uma prática de liberdade.

A generosidade não será a generosidade de alguém, mas a expressão de uma natureza mais ampla. A moralidade vai deixar de ser a prisão a algum tipo de regra para se tornar a prática de uma liberdade natural. Também a paz surge de forma natural, impessoal, porque não é a paz de alguém e tampouco é um objetivo, o seu surgimento é espontâneo. Na presença da paz a energia se torna estável, como se os problemas, de certa forma, se dissolvessem. Quando a energia se estabiliza, surge a concentração da mente, uma vez que ela não é mais perturbada por flutuações e emergências. A mente e a energia se tornam naturalmente estáveis na ausência de perturbações. E essa estabilidade não precisa ser construída, ela é uma condição natural.

E se a mente está concentrada e a energia, estável, surge a sabedoria. Essa sabedoria é o resultado da concentração da mente num contexto no qual nós temos mobilidade, entendemos as paisagens, as identidades e a sua transcendência. Essa compreensão é a sabedoria. Na medida em que olhamos todas as coisas comuns a partir dessa paisagem mais ampla, elas passam por redefinições. As redefinições são a sabedoria, um processo mais sofisticado de purificação; o que é diferente da purificação anterior, na qual existiam as identidades. Aqui é reconhecida uma dimensão mais profunda, impessoal, a dimensão da vacuidade no surgimento de todas as coisas. A partir desse olhar é que se dá a purificação.

Os ensinamentos que falam sobre a estabilidade correspondem à sexta etapa do Nobre Caminho Óctuplo. Já a Compaixão, o foco dessa terceira abordagem, seria o quinto passo. Na visão Mahayana, ainda que essa abordagem seja o quinto passo, ela se torna a abordagem de topo, final, o que não acontece, necessariamente, em todas as linhagens. E aqui, seria importante falarmos sobre a paisagem em que a compaixão surge, uma vez que apenas a motivação adequada nem sempre é suficiente. A motivação é muito importante, mas está ainda na dependência de uma paisagem. Quando aspiramos a ultrapassar as nossas dificuldades e ajudar os outros, removendo nossos obstáculos e produzindo ações positivas, existe aí uma paisagem. Nessa paisagem, todos os seres, incluindo a nós mesmos, são vistos como estando perdidos e tendo dificuldades. Esta é a paisagem e, quando ela surge, a motivação de ajudar a estes serem em dificuldade é natural, espontânea. Sem a paisagem, a nossa motivação vai parecer artificial, ao passo que quanto mais clara for a paisagem, mais natural será a motivação.

Ao ouvirmos sobre motivação, pode surgir a sensação de que ela é algo que devemos construir, como se entre várias possibilidades, nós escolhêssemos uma motivação. E é justamente nesse contexto que a palavra motivação tem sentido e utilidade. Por outro lado, a motivação não é um processo completamente estável, porque nós podemos flutuar, falhar na motivação. E por que isso pode acontecer? Porque, sem perceber nós nos transferimos de paisagem e dessa forma, em outras paisagens, outras motivações brotarão como se fossem sabedoria natural e de natural utilidade. Nós podemos ter a motivação de produzir benefícios, mas, de repente, nós voltamos para a motivação de um jogo de xadrez ou de um jogo econômico, no qual nós nos vemos com contas a pagar, coisas para comprar. Nós nos transferimos para um outro lugar, onde temos outras coisas a fazer e assim, a paisagem da compaixão se torna apenas uma lembrança no horizonte. O segredo para uma estabilidade na motivação é permanecer continuamente dentro de uma paisagem mais ampla. Quando nós criamos uma paisagem, no seu sentido mais sofisticado, nós nos construímos como um ser específico dentro desta paisagem e em ação natural lá. A paisagem não é algo que está no horizonte ou algo que esteja ao redor, nós estamos dentro dela, nós nos construímos através dela, passamos a ter sentido como identidades só a partir dela. A partir da paisagem, nós podemos naturalmente criar uma outra identidade, mais favoráveis e menos favoráveis. Compreendendo esse processo tão sofisticado do surgimento conjunto do ambiente e da identidade, nós podemos agir de forma natural quando dentro da paisagem de sabedoria.

O controle de qualidade mais sofisticado para a nossa ação será reconhecer incessantemente o lugar onde estamos, a paisagem de sabedoria na qual surgimos. A paisagem da compaixão é muito poderosa, não importa o quê aconteça, nós devemos primeiro pensar: “Na vastidão desse universo, os seres estão atuando carmicamente, eles acreditam ser o seu próprio carma, estão fixados em suas respostas, justificam todas as suas ações. Entre esses seres, poucos ouviram os ensinamentos e sabem da irrealidade de tudo isso. Entre os seres que ouviram e que buscam ultrapassar essas paredes, o véu dessa complicação, eu me incluo, e assim, busco ultrapassar os sentidos convencionais. Essa é a minha busca e eu fiz o voto de Bodisatva para estar no mundo junto dos seres em meio às suas dores, em meio às suas histórias. Porém, eu não sou o personagem dentro disso, estou vivendo essa experiência como uma forma de treinamento, tentando reconhecer a liberdade natural dentro de tudo isso, para poder, então, ajudar a todos os seres”.

Dessa forma, quando estivermos em meio a qualquer tipo de situação complicada em que as pessoas se exaltam e se agridem, a nossa respiração estará naturalmente estável, em paz, porque nós não temos nada a defender. Nós estaremos simplesmente praticando a lucidez, livres de todas as confusões, tentando conduzir a situação da melhor forma possível. Se este for o sentido da nossa presença, mesmo que nós fiquemos calados, esta já será uma enorme tarefa. Não será preciso dizer nada. Se estivermos lúcidos, presentes, sem entrar nas disputas, já estaremos trazendo beneficio. A paisagem produz esse alívio. E mesmo que em determinadas situações nós sejamos obrigados a nos manifestar de alguma forma, o fato de estarmos ancorados nessa paisagem, já será uma grande prática. Reconhecer os seres em sofrimento, lembrar os votos, o objetivo de ultrapassar os significados e as responsividades, significa que nós estamos cumprindo nossa parte e isso já nos trará um grande alívio. Nós não vamos nos perturbar pelo fato das pessoas se comportarem mal, pois nós compreendemos que elas se comportam como é possível dentro das suas limitações. Assim, elas estão naturalmente perdoadas, nós não vamos julgar ninguém. A partir dessa perspectiva mais ampla, nossas ações vão se purificando. Dentro dessa classe de ensinamentos, Sua Santidade o Dalai Lama oferece textos e práticas de purificação e cura. Entre esses ensinamentos, está o “Caminho do Bodisatva”, assim como uma vastidão de outros textos e ensinamentos de outros autores, como Daniel Goleman, por exemplo.

Mas qual é o elemento básico que possibilita esta visão? É a liberdade natural de uma natureza mais profunda e não construída. Isso significa que nós não vamos nos construir como alguém especial e definitivo, mas apenas usufruir uma liberdade natural que está evidentemente presente. Dentro dos nossos panoramas restritos, a liberdade não é percebida. Ao contrário de liberdade, qualquer opção que esteja fora dessas paisagens que construímos e onde surgimos e nos fixamos, será percebida como uma perturbação. Se nós estivermos, por exemplo, jogando uma partida de xadrez, e alguém precisar da nossa ajuda, isso parecerá um grande incômodo, porque todos os nossos esforços estão em outra direção. Por outro lado, quando nós ampliamos a nossa visão, aquele panorama e suas ações vão parecer completamente sem sentido. Mas, quando nós estamos presos, tudo passa a ter importância extrema. É como uma pessoa com um jornal nas mãos lendo as notícias que no dia seguinte não lembrará mais. Mas se alguém a perturbar naquele momento ela pode se sentir violentada, agredida: “Você não entende que eu estou lendo o meu jornal, você não tem sensibilidade para ver isso?”

Mas o que é que nos prende a esses mundos particulares ainda que eles não tenham qualquer importância? Quando nós estamos dentro de algum tipo de processo, uma responsividade passa a operar e, porque nós a respeitamos, a nossa tendência é seguir a qualquer impulso que surgir. Caso isso não seja possível, nós nos sentimos violentados. Isso não significa que o objeto ou o impulso precisem de um significado, um sentido, isso não é necessário. Todo objeto ou evento é o que é na sua própria limitação. Mas ainda assim ele nos domina. Este é apenas um breve comentário sobre a responsividade, pois nesse momento esse não é ainda o nosso foco. Por enquanto, o nosso foco é o reconhecimento da liberdade de transitar entre as várias paisagens e identidades, essa é a nossa descoberta.

Em relação à abordagem anterior, a da perfeição, há aqui uma inversão de perspectiva, pois ao invés de tentarmos nos construir de forma positiva, nós simplesmente exerceremos uma liberdade natural de trânsito. Porque há essa liberdade de trânsito, nós nos “desconstruímos” e nos reconstruímos em qualquer ambiente. Nós passamos a confiar em uma liberdade natural sempre presente. Quando esse processo é levado a um nível de sofisticação, ele se torna a própria expressão da Iluminação. Esse processo tem dentro de si o que nós vamos chamar de onisciência, que é a capacidade de andar nos vários mundos. E o que significa isso? Significa penetrar nas diversas paisagens e experiências, entendendo os processos de relação e surgindo como um ponto dentro de quaisquer redes em qualquer dos mundos.

A nossa natureza é luminosidade e vacuidade. Ela é livre. Isso no Dzogchen é muitas vezes simbolizado por uma esfera transparente, sem bordos, flutuando no ar. Essa esfera somos nós. O reconhecimento da natureza última é que nos permite chegar em qualquer lugar e estabelecer conexões. A onisciência é a capacidade de flutuarmos em direção aos vários mundos. O Buda Shakyamuni diz: “Eu, sentado no jardim Jetavana, vejo todos os mundos com seus seres e aflições e em cada um há um Buda dando ensinamentos. Todos os mundos, Budas e seres harmonicamente se movimentam como essas plantas ao vento, dançando o som do Darma. As águas fluem e murmuram o som do Darma. Tudo manifesta o som do Darma.” Ou seja, o som da liberdade ilimitada se faz particular, constrói mundos que se inter-relacionam como uma expressão de liberdade. Entender a noção de liberdade é entender a onisciência, a Iluminação. Logo, essa terceira abordagem, que pertence ao quinto passo do Nobre Caminho, quando realmente aprofundada, conduzirá à Iluminação completa.

Quando Sua Santidade o Dalai Lama oferece a classe de ensinamentos mais sofisticados da oitava etapa, o Dzogchen, ele afirma que a sua culminância é a compaixão. Ele ensina a oitava etapa até o seu último detalhe, e ao final ele diz : “A minha prática é a compaixão”, ou seja, a sua prática é a culminância do oitavo passo do nobre caminho na forma da compaixão. Isso justifica o fato de que o quinto passo, na visão Mahayana, não é uma etapa inferior. A compaixão, na verdade, é uma expressão da perfeição. O quinto passo, quando abordado no nível de natureza ilimitada e não mais de identidade, já não vai oferecer uma linguagem provisória, mas uma linguagem que vai apenas se aperfeiçoar, terminando por manifestar os aspectos últimos, completos.

Para que o oitavo passo possa ser realmente compreendido, precisa estar dentro de um contexto, caso contrário se torna uma especialização de conhecimento sobre a natureza da mente e não propriamente a sua prática. Torna-se uma sabedoria sobre a natureza última ao invés de ser o seu exercício. Uma vez tendo a compreensão completa dessa natureza, o desafio passa a ser como exercitá-la. Esse exercício vai se dar através da culminância das qualidades do quinto passo – ação de um Buda em meio ao mundo. Por isso a importância de conhecermos as diferentes abordagens. Nós deveríamos entender a qual delas pertencem os ensinamentos e textos que encontrarmos. É muito importante ler, estudar e incorporar essa visão geral dos ensinamentos. Nós não só deveríamos incorporá-la em nossa prática, como deveríamos perceber se um determinado ensinamento irá ou não apoiar a nossa prática, porque antes de conhecermos ou praticarmos qualquer outra abordagem, é mais apropriado amadurecer na abordagem em que estamos envolvidos.

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