As Várias Abordagens no Budismo (Parte II)

Conclusão

E ao final poderia surgir a pergunta: “Mas qual seria o seu caminho, Lama Samten?” Em meu caminho eu tenho utilizado a estrutura do Nobre Caminho de Oito Passos do Buda Sakiamuni, porque ele é realmente muito útil, uma excelente estrutura, um ensinamento dado pelo próprio Buda. Essa abordagem se dá pela lógica e, portanto, é uma abordagem Mahayana. Ela pertence ao mundo cognitivo e, assim, mais facilmente estabelece pontes com outras tradições e ensinamentos. Essa não foi uma escolha aleatória, eu vejo Sua Santidade o Dalai Lama utilizando esse processo e percebo como essa abordagem facilita enormemente a reunião dos vários segmentos da mente ocidental, porque não há mesmo separação, é possível desenvolver uma linguagem que penetra os diversos mundos. Se nós nos limitamos a um método, talvez não tenhamos olhos para perceber e compreender esses mundos, porque não há uma linguagem que possibilite isso.

É preciso tocar as pessoas onde elas estejam, e para isso, é muito útil um método que permita o desenvolvimento de uma linguagem para os vários âmbitos. Isso é decisivo. Qualquer caminho é como um treinamento, ele deve culminar numa abertura que nos permita entrar nos vários mundos, desenvolvendo linguagens para entender as pessoas nos seus contextos e ajudá-las. Isso é o que há de mais essencial em qualquer prática, é o reconhecimento da Natureza de Buda em todos os seres, onde eles estiverem. Como dar as costas aos seres, reconhecendo a sua Natureza de Buda? Isso não seria possível. Esse método Mahayana é o próprio Budismo, é o voto de Bodisatva que, na verdade, não é apenas um voto, é um processo natural. O voto surge naturalmente porque não há como abandonar os seres, nós vamos tentar encontrar uma forma efetiva de ajudá-los.

As várias tradições são como métodos para praticarmos o que, no Budismo Tibetano, é chamado de Rime. Num certo momento, houve no Budismo Tibetano uma grande divisão entre as linhagens e até uma certa hostilidade entre elas. Mais tarde, surgiu o movimento Rime, um movimento no qual diferentes linhagens e mestres, percebendo os méritos de outros ensinamentos, tentaram preservá-los, pois com o enfraquecimento das linhagens, os seus ensinamentos também se perderiam. E o que seriam esses ensinamentos? São as realizações de grandes mestres, algo realmente precioso. Assim, outros mestres com esse olhar, percebendo que isso realmente poderia acontecer, tomaram diferentes ensinamentos e métodos, de diferentes linhagens, mantendo-os vivos.

Isso também pode acontecer no Ocidente, o que está perfeitamente dentro do Mahayana. Nós deveríamos olhar as várias linhagens, entender os vários processos e aprendê-los de acordo com as nossas próprias limitações. Nós deveríamos entender os diferentes ensinamentos como riquezas, e não só os ensinamentos budistas, mas todos os ensinamentos. Nós deveríamos ser capazes de entendê-los como expressões profundas de uma natureza una. Eu vejo Sua Santidade o Dalai Lama dialogando com os cientistas na tentativa de estabelecer uma base budista para a própria ciência, pois a grande tradição espiritual do Ocidente, nesse momento, é a ciência, é lá que está o nosso refúgio convencional. Eu entendo que é necessário dialogar com a ciência, psicologia, psiquiatria, educação, medicina, filosofia. É necessário encontrar uma base de compreensão mais profunda, porque todas essas áreas representam luzes de clareza da mente. Elas representam o coração compassivo buscando soluções. Dessa forma, é necessário desenvolver uma linguagem comum. Esse seria o meu voto pessoal, o panorama em que me movimento o tempo todo, fazendo sempre o que está a meu alcance.

Retiro conduzido por Lama Padma Samten, no Centro Paramita em Curitiba, junho de 2003.

Transcrição e Edição: Eliane Steingruber, Josélia Rabelo e Márcia Baja

Revisado pelo Lama Padma Samten em Merigar, agosto de 2003

 

Que todos os seres possam praticar o Darma!

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