Bruxas

 

“Uma bruxa é o fruto do amor entre a Terra e a Lua”

Mar-Garet Andreas

Descobrimo-nos bruxas quando conseguimos nos perceber enquanto mulher. De nada adianta querer ser feiticeira se não se conhece o segredo do feminino! É necessário primeiro o reconhecimento da fêmea que trazemos dentro de nós, essa parceira desconhecida que nos acompanha desde o nosso nascimento. Uma parceira silenciosa, que aponta a cada instante o caminho da sensibilidade. Costumamos, entretanto, estar tão ocupadas com nosso universo cotidiano, que nem ouvimos sua voz doce e suave. Para nos descobrirmos mulheres é preciso aguçar os sentidos e, assim poder vivenciar plenamente as experiências. Isso poderá, a princípio, parecer complicado, mas, iniciando com pequenas tentativas, constataremos estar cada dia mais perceptivas.

Experimente, ao tomar banho, explorar seu corpo suavemente. Sinta cada dobra de pele, cada osso, do mais saliente ao mais escondido. Deixe que a água percorra seu corpo. Não tenha medo de sentir prazer e, ao sair do banheiro, você experimentará extraordinária leveza interior.

Quando começamos a nos descobrir mulheres, um novo mundo se descortina à nossa volta. Ficamos muito mais susceptíveis e, por conseqüência, muito mais completas. Claro que essa sensibilidade trará, inicialmente, alguns contratempos com o universo masculino, pois seremos, então, donas absolutas do nosso prazer, o que é um tanto complicado de ser entendido pelos homens. Mas será exatamente essa posse do prazer que nos permitirá ajudar nossos parceiros na captura de sua sensibilidade própria.

O universo feminino foi por séculos sufocado por uma sociedade fálica, onde predominou a linguagem do poder. Nesse discurso, não encontramos em momento algum a doçura da transcendência. Tudo fica estabelecido num sistema quadrado, composto por retas e inibidor de curvas. Voltas sinuosas que nos indicam sempre o caminho da profundidade.

A própria púbis é traçada por dois montículos que, delicadamente, se vão estreitando até a espiral da vagina. Nesse mundo de retas, sempre voltadas para fora qual grandes lanças, a espiral feminina ficou espremida, sufocada a tal ponto, que se cobriu de uma casca espessa que não deixa a mulher se perceber.

Ao próprio homem, esse pensamento retilíneo trouxe tal rigidez, que o afastou melancolicamente de sua parceira, deixando-o irremediavelmente solitário e, por sua vez, também oprimido. Cabe a nós, mulheres restituir as curvas para melhor conviver com nossos parceiros. Só assim poderemos dançar juntos pelos campos onde outrora celebrávamos, também em parceria, a colheita. Você experimentará o maravilhoso de, sentando-se na grama sentir o pulsar alegre que ela emana, o sublime ato de, ao tocar suavemente as asas de uma borboleta, perceber nos dedos o seu cumprimento delicado. Restabelecida essa ligação, veremos que somos parte de um maravilhoso sistema encantado e não mais sentiremos medos e angústias, pois estaremos pulsando num mesmo compasso. O grande erro do ser humano foi acreditar-se o único ser inteligente em meio à natureza, tornando-se, assim, um espécime solitário e infeliz. Quando digo ser humano, estou me referindo à civilização dita humanizada, pois não encontraremos essa infelicidade nos ditos primitivos. Esses povos possuem a profunda sabedoria da natureza, sendo, por isso, incrivelmente felizes!

Uma bruxa poderia ser considerada, pelo homem civilizado, alguém essencialmente primitivo, alguém que não presta atenção ao serviço de meteorologia, uma vez que é profunda conhecedora dos movimentos do tempo.
Texto extraído do livro “Revelações de uma Bruxa” – de Márcia Frazão.

A Mulher e a Lua

“Acho que, desde que o mundo é mundo, o homem amou sob o olhar prateado dessa misteriosa dama.
Desde o primeiro enamorado até nossos dias, ela desliza pelo céu tal qual preguiçosa gata que se enrosca em nossas pernas…

Lírio Moon, Luna, Clara Lune, Doce Lua…não importa que nome lhe damos, pois, no fim de tudo, seu significado será mulher! Porque sempre ela e suas energias têm sido associadas ao feminino, desde o tempo em que apenas seu brilho iluminava as noites escuras.

A Lua é o Sol da noite, o olhar bondoso da Deusa que nos abençoa a cada mês. Lua e Deusa são palavras sinônimas em muitas culturas, representando o princípio feminino, a eterna fonte de vida, a mulher, o mundo instintivo e o supremo movimento de vida e morte. A atitude em relação à Lua é termômetro poderoso que nos aponta sua postura em relação à mulher.

Na cultura retilínea, delegou-se à Lua um papel inferior ao Sol; o próprio tempo, antes indicado pelos ciclos lunares, é agora medido a partir do movimento da Terra em torno do Sol. O poder da Lua, representado pelo inconsciente, a mente intuitiva, as energias emocionais e psíquicas deram lugar ao poderio solar, o qual representa, por sua vez, o pensamento racional, o mundo prático, ou seja, o logos masculino.

Com esse movimento, foi criado um par de opostos que não mais se complementam; o que antes era oposto para unir, hoje é oposto para separar. A Lua, então, foi deixada para trás, e o Sol tomou o poder como senhor do universo.

E o que isso representou? O resultado dessa ascensão solar tornou-se a pedra de toque na subjugação da mulher, ou seja, das energias femininas, que antes também eram enfatizadas nos próprios homens. A desvalorização dessas energias resultou numa civilização solar que cultiva apenas os aspectos masculinos e reprime tudo o que tem a ver com as qualidades lunares femininas. Essa cultura retilínea estabeleceu, então, um critério de valores, referindo tudo o que se tem respeito às energias solares como bom e tudo que indica forte influência lunar como mau.

Com esse jogo de polaridades exclusivas, forma-se uma enorme sombra, que fica pairando no ar, sem que as pessoas dela se apercebam, e que cumpre, então, um papel destrutivo nas expressões do emocional. Para comprovar, basta dar uma olhada de leve nos jornais diários, que divulgam uma série de manifestações dessa sombra.
 
O sofrimento resultante da divisão artificial dessas duas polaridades míticas é sentido hoje de forma muito intensa. E, por mais paradoxal que pareça, é no macho que ele se faz mais presente.
 
Quando a sociedade retilínea impôs a separação desses dois opostos, estabeleceu o grande dilema da nossa cultura, ou seja, a existência de um universo composto por energias opostas, em que cada uma precisa dominar e conquistar a outra. Da mesma maneira que esse par de polaridades estabeleceu, por seu caráter exclusivo,a discriminação do papel do feminino, também criou todo um sistema de outras discriminações na nossa sociedade, em que algumas raças se julgam superiores a outras, algumas classes se consideram melhores do que outras; o nós se opôs ao eles; o Diabo versus Deus; o bom ao mau, provocando uma infinidade de segregações.

Se, entretanto, pararmos um pouco para pensar, veremos que Sol e Lua possuem ambos suas próprias fases. O Sol em sua ronda diária pela Roda do Ano tem períodos em que sua energia é menor e outros em que seu poder é mais intenso.

Existem períodos em que ele se encontra mais próximo de nós e outros em que está mais afastado, criando, assim, a s estações. Da mesma forma, a Lua tem seu movimento; mensalmente a vemos mudar de fase e, quando estamos com ela conectadas, percebemos fisicamente o efeito de sua misteriosa dança no espaço.

Em muitos mitos de civilizações antigas, encontramos com freqüência a tríade formada por Terra, Lua e Sol, e, em nenhum deles seus elementos se encontram separados. A Terra precisa tanto do calor do Sol como da luz da Lua dirigindo as noites.

Um complementa o outro em dança eterna…

A Lua sempre esteve ligada aos nossos sentimentos, a essa parte onírica que nos invade sem que sobre ele tenhamos qualquer controle.

Quando começamos a seguir o caminho da Lua, nos tornamos mais profundos em nossos sentimentos, mais vulneráveis, sensitivos, intuitivos, oníricos, leves, instintivos, espontâneos, ligados à natureza, ou seja, valorizando todas as qualidades associadas com o feminino.

No caminho da Lua, aprendemos a trabalhar ciclicamente com nossa personalidade, como quando nos conectamos com os ciclos da Lua e organizamos nossas vidas de acordo com seu movimento. As fases da Lua afetam toda a vida existente no planeta, desde as marés dos oceanos até o crescimento das plantas. No nosso corpo, visto ele ser composto por grande parte de água, a Lua funcionará também com igual intensidade. As mulheres que começam a se conectar com os ciclos da Lua podem ver nitidamente essa transformação ocorrendo nos seus corpos pela menstruação.
 
O ciclo menstrual feminino está claramente ligado aos ciclos lunares, e isso foi comprovado na observação de mulheres que vivem no campo, afastadas das luzes artificiais das grandes cidades, tendo uma existência mais comunitária, portanto mais próxima da natureza; verificou-se que suas menstruações se apresentavam em conjunto, sempre no quarto minguante ou na Lua nova; seus períodos férteis também ocorriam em conjunto, todas ovulando na Lua cheia! As evidências também mostram que mulheres que resistem ou reprimem o seu ciclo menstrual sofrem as terríveis cólicas que desde pequenas nos apavoram, o que não acontece com aquelas que estão mais conectadas com seus próprios corpos e ciclos lunares.
 
Felizmente, as mulheres, hoje, estão começando a procurar suas raízes lunares, e começam a ser editados estudos sobre esses ciclos, que durante muito tempo foram vistos como desonra feminina. Muitas mulheres já não se envergonham de seu período menstrual e trabalham as energias dele advindas.
 
A Lua nova é o tempo do fervilhar de novas idéias; tudo fica com o contorno de perpétuo começo, e podemos sentir que as idéias surgidas nesse período crescem à medida que a Lua vai crescendo no céu. É o tempo da criatividade, em que as idéias se manifestam no plano real, e é sempre bom, nesse período, anotar num caderno o turbilhão de sentimentos que nos chegam com a intensidade das águas.
 
A Lua minguante é o tempo da desintegração de algumas idéias antigas; o movimento aqui é de introspecção e recolhimento.
 
É o período pré-menstrual em várias mulheres e pode ser caracterizado por intensa depressão quando não se está em sintonia com os ciclos lunares. No período da Lua cheia, os sentimentos transbordam e tem-se a impressão de que tudo, afinal foi concluído. O poder dessa fase é intenso e nervoso para algumas mulheres, precisando, então, de exercícios de canalização das energias.
 
Quando nos acostumamos a trilhar o mágico caminho da Lua, passamos a ver nosso ciclo menstrual como um período de completa intimidade conosco. Em culturas primitivas era comum passar o período menstrual totalmente afastada dos homens, a fim de propiciar intenso diálogo entre seu próprio corpo e a Deusa.
 
Durante o período menstrual, a mulher deve ficar atenta à sua voz interior, pois é exatamente nesse período que nossos canais sensitivos estão mais abertos e estamos conectadas diretamente com esse feminino a nós interdito.
 
O tempo parece ficar mais lento, como se nos pedisse mais calma. Nossos movimentos se tornam mais leves e aumenta a vontade de ficar na cama. Embora nosso poder esteja incrivelmente intensificado, é o tempo de fazer coisas que não dependam de força física.
 
Experimente trocar a terra dos vasos de plantas, cuidar do jardim, ler aquele livro há muito comprado, anotar projetos…,enfim, atividades que concentrem o movimento interior.
 
Lembre-se de que no seu período de sangue da Lua, a sua feminilidade está altamente desenvolvida e resta a você ouvir o que essa mulher diz no fluir sangüíneo. Preste muita atenção nos sonhos desse período, escrevendo-os a cada mês para, no fim de mais um ano lunar, compará-los e perceber seu crescimento.
 
Ultrapassada a menopausa, igualmente marginalizada pela cultura retilínea, a mulher é massacrada por preconceitos que a deixam com a sensação de ter deixado de ser mulher completa; fica-se com o sinal do aleijão e se é considerada quase como fruta bichada. Talvez por esse motivo, as próprias mulheres evitem falar sobre essa fase, fechando-se em intermináveis calores e nervosismo.
 
Na menopausa trabalhamos com um aspecto diferente do feminino. Nosso ciclo lunar vai aos poucos diminuindo até o momento em que desaparece completamente. Durante o período em que nossas regras escasseiam, existe uma série de intervalos entre elas, e, nesse período, nos preparamos para nos tornar, enfim, uma lua completa. Nossos calores e outras manifestações físicas devem ser vistos como sinais de transição e transformação, devendo, por isso, ser tratados com honra e nunca silenciados. 

É o tempo que caracteriza um importante rito de passagem para as mulheres. De repente, somos envolvidos por uma calma mais intensa e nos tornamos muito mais perceptivas quanto aos nossos sentimentos; é o tempo em que a mulher se torna mais sábia, podendo compartilhar essa sabedoria com as mulheres mais novas; nesse período temos e somos a própria Lua!

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