A Razão Filosófica do Princípio Fundamental

(Collected Writings Vol. XII pp. 629-641) 

(1) Imaginem, a fim de ilustração, o Um homogêneo, Essência Absoluta e onipresente, em cima, no degrau superior da “escada dos sete planos do mundo”, e pronto a iniciar sua jornada evolucionária. Assim que seus reflexos correlatos gradualmente descem, diferenciam-se e se transformam em matéria subjetiva e finalmente em matéria objetiva. Deixe-nos chamar seu pólo norte, de Luz Absoluta; e seu pólo Sul (que para nós é o quarto, o degrau ou plano do meio, contando de que lado for) conhecido esotericamente como a Vida Una Universal. Agora marque a diferença. Acima, LUZ; abaixo, Vida. A primeira é sempre imutável; a outra se manifesta sob o aspecto de incontáveis diferenciações. De acordo com a lei oculta, todas as potencialidades incluídas na de cima, se tornam reflexos diferenciados, na de baixo; de acordo com a mesma lei, nada que seja diferenciado pode ser chamado de homogêneo.

Nem pode alguma coisa durar naquilo que vive e respira e tem seu ser nas ondas do mundo, ou planos de diferenciação. Assim, Buddhi e Manas sendo ambos raios primordiais da Chama Una – o primeiro, veículo (upadhi ou vahana) da Essência Una eterna, o último, o veículo de Mahat ou Divina Ideação (Maha-Buddhi nos Puranas), a Alma Universal Inteligente – nenhum deles, como tal, pode se tornar extinto ou ser aniquilado seja em essência ou consciência. Mas, a personalidade física, com seu Linga Sharira, e a alma animal com seu Kama, podem e o fazem. Elas nascem no campo da ilusão, e devem desaparecer como uma nuvem no eterno azul do céu. 

Aquele que leu a Doutrina Secreta com certo grau de atenção deve saber a origem dos Egos humanos, chamados genericamente de mônadas, e o que eram antes de serem forçados a se encarnarem no homem animal. Seres Divinos, a quem o Karma permitiu agirem no drama da vida manvantárica,· e são entidades de mundos e planetas superiores e iniciais, cujo Karma não estava cumprido quando seus mundos entraram em Pralaya.¨ Tal é o ensinamento; mas mesmo que assim seja ou não, os Egos Superiores são – comparados com tais formas transitórias, como lama terrestre que somos – Seres Divinos, Deuses, imortais através do Mahamanvantara, ou 311 040 bilhões de anos, durante os quais dura a Era de Brahma. E como os Egos Divinos, no sentido de re-tornar a Essência Una, ou ser absorvido de novo no Universal Aum, têm que se purificarem no fogo do sofrimento e experiência individual, assim também os Egos terrestres, as personalidades, têm que fazer o mesmo, se quiserem partilhar da imortalidade dos Egos Superiores. Isto pode ser alcançado por destruírem em si mesmos tudo o que beneficia a natureza pessoal inferior de seus “eus” e por realizarem a transfusão de seu Princípio Kâmico pensante no do Ego Superior. Nós (i.e., nossas personalidades) nos tornamos imortais pelo mero fato de nosso pensamento, natureza moral, estarem interligadas com a nossa Mônada divina trina (Atma-Buddhi-Manas), o três em um e o um em três (aspectos). Pois a Mônada manifestada na terra pelo Ego encarnante é aquilo que é chamado de Árvore da Vida Eterna, que apenas poderá ser aproximada se comermos o fruto do Conhecimento, o Conhecimento do Bem e do Mal, ou Gnosis, Sabedoria Divina.

Nos ensinamentos exotéricos, este Ego é o quinto princípio no homem. Mas o estudante que leu e compreendeu as duas primeiras Instruções, sabe algo mais. Está atento de que o sétimo princípio não é humano, mas sim um princípio universal no qual o homem participa; e também igualmente cada átomo subjetivo e físico, e também cada lâmina de grama e tudo que vive ou está no Espaço, seja sensível a isto ou não. Ele sabe, mais ainda, que se o homem está mais de perto conectado com isto, e assimila com um poder centuplicado, é simplesmente porque ele foi coroado com a mais alta consciência da terra; este homem, logo se tornará um Espírito, um Deva ou um Deus na próxima transformação, o que mesmo uma pedra ou um vegetal, ou um animal não poderão fazer antes de se tornarem homens por sua vez.

(2) Agora quais são as funções de Buddhi? Neste plano não tem nenhuma, a não ser que esteja unido a Manas, o Ego Consciente. Buddhi está para a divina Essência  Raiz na mesma relação que Mulaprakriti para Parabrahman, na Escola Vedantina; ou como Alaya, a Alma Universal, para o Eterno Espírito Uno, ou o que está além do Espírito. É o seu veículo humano, removido do Absoluto, pois este não pode ter nenhuma relação sequer com o finito e condicionado.

(3) Então mais uma vez o que é Manas e suas funções? Em seu aspecto puramente metafísico, Manas, sendo mais uma vez, o saído (no plano para baixo) de Buddhi, é tão imensurávelmente superior ao homem físico, que não pode entrar em relação direta com a personalidade, exceto através de seu reflexo a mente inferior. Manas é a Auto Consciência Espiritual, em si mesma, e Divina Consciência quando unida com Buddhi, que é o verdadeiro “produtor” desta “produção” (vikara), ou Auto Conscientização, através de Mahat. Buddhi-Manas, portanto, está inteiramente não adaptado para manifestar-se durante os períodos das encarnações, exceto através da mente humana, ou Manas inferior. Ambos estão ligados e são inseparáveis, e tem pouco há ver com os Tanmâtras· inferiores (átomos rudimentares) como o homogêneo com o heterogêneo. É, portanto, tarefa do Manas inferior, ou personalidade pensante, se quiser se ligar a seu Deus, o Ego divino, dissipar e paralisar os Tanmâtras, ou propriedades da forma da matéria. Daí Manas ser mostrado como duplo, Ego e Mente do Homem. É Kama-Manas, ou o Ego inferior, que iludido numa noção de existência independente, como por sua vez “produtor” e o Soberano dos cinco Tanmâtras se torna Ego-ismo, o Eu egoísta, e neste caso tem que ser considerado como Mahabhudico e finito, no sentido de estar conectado com Ahamkara, a faculdade pessoal do “Eu criador”. Daí, “Manas ser visto como eterno e não eterno; eterno em sua natureza atômica (paramanu-rûpa), como eterna substância (dravya), finito (kârya-rupa), quando em ligação, como uma díade, com Kama (desejo animal ou volição humana egoísta), uma produção, em resumo, inferior”. Nisto estou repetindo o que escrevi em agosto, 1883, em resposta a uma crítica no Teosofista, num artigo chamado “O Real e o Irreal”.  Enquanto, portanto, o EGO INDIVIDUAL, devido a sua essência e natureza, é imortal por toda eternidade, com uma forma (rupa) que prevalece durante todo o ciclo da vida da Quarta Ronda, seu Sósia, ou simulacro, o Ego pessoal, tem que vencer sua imortalidade.

(4) Antaskarana é o nome daquela ponte imaginária, a senda que se encontra entre os Egos divino e humano, pois eles são Egos, durante a vida humana, para re-tornar um Ego no Devachan ou Nirvana. Isto pode parecer difícil para se entender, mas na realidade, com a ajuda de uma ilustração imaginativa e familiar, se tornará bem simples. Imaginemos uma lâmpada brilhante no meio de uma sala, jorrando sua luz sobre uma parede sólida. Deixe a lâmpada representar o Ego divino, e a luz sobre a parede, o Manas inferior, e a parede representar o corpo. A atmosfera que transmite o raio da lâmpada para a parede será, em nosso simples exemplo, o Antaskarana. Devemos adiante supor que a luz mesmo transmitida está dotada de razão e inteligência, e possui mais ainda, a faculdade de dissipar todas as sombras maléficas que passam pela parede, e de atrair o brilho para si mesma, recebendo suas impressões indeléveis. Agora, está sob o poder do Ego humano de acabar com as sombras (pecados) e multiplicar o brilho (boas ações) que fazem essas impressões, e assim, através do Antaskarana, assegurar sua própria conexão permanente e sua reunião final com o Ego divino. Lembre que este último não pode acontecer enquanto permanecer uma única tintura terrestre ou de matéria, na pureza daquela luz. Por outro lado, a conexão não poderá ser rompida, e a reunião final não alcançada, tão longe haja uma ação espiritual, ou potencialidade, para servir como um fio de união; mas no momento que esta última fagulha é extinta, e a última potencialidade exaurida, então advém a soberania. Numa parábola Oriental o Ego divino é comparado ao Mestre que, envia seus trabalhadores para ararem a terra e juntar a colheita, e que está contente em manter a terra desde que esta lhe provenha o mínimo que seja. Mas quando o solo se torna estéril, não apenas é abandonado, mas os trabalhadores (Manas inferior) também perecem.

Por outro lado, entretanto, ainda usando nosso exemplo, quando a luz refletida na parede, ou o Ego humano racional, atinge o ponto de atual exaustão espiritual, o Antaskarana desaparece, a luz não é mais transmitida, e a lâmpada se torna não existente para ela. A luz que foi absorvida gradualmente desaparece e ocorre a “eclipse da alma”; o ser que vive na terra então passa ao Kama Loka como um mero conjunto de qualidades materiais sobreviventes; nunca poderá passar para o Devachan, mas renascerá imediatamente, como um animal humano e uma escória. Deixe “Jack o Estripador” servir de modelo.

            Este exemplo, apesar de fantástico, ajudará a se ter uma idéia correta. A não ser através da união da natureza moral com o Ego divino, não existe imortalidade para o Ego pessoal. Apenas o que está em sintonia com as emanações espirituais superiores da alma humana pessoal é que sobrevive. Tendo, durante um tempo de vida, estado imbuído com a noção de “Eu sou Eu” de sua personalidade, a alma humana, aquela que em verdade, receberá a essência das ações Karmicas do homem físico, se torna após a morte deste, parte e parcela da Chama divina (o Ego). Torna-se imortal através do mero fato de que agora está solidamente ligada na Mônada, que é a “Árvore da Vida Eterna”.

Agora devemos falar sobre o assunto da “segunda morte”. O que acontece à alma humana Kâmica, sempre aquela de um homem mau e debochado, ou ainda de uma pessoa sem alma?  Esse mistério será agora explicado.

A “alma” pessoal neste caso – a saber, naquele que nunca teve um pensamento desconectado com o eu animal, não tendo nada a transmitir para o Superior, ou para acrescentar à soma de experiências das encarnações passadas cuja memória é para ser preservada pela eternidade – esta alma pessoal se torna separada do Ego. Não pode assimilar nada do Eu naquele tronco eterno cuja seiva joga fora milhões de, personalidades, como muitas folhas de seus ramos, folhas que secam e morrem e caem no final de sua estação. Essas personalidades brotam, adiante florescem e expiram, algumas sem deixarem um traço atrás, outras, após terem entrelaçado sua própria vida com a do caule principal. São as “almas” do primeiro tipo que estão fadadas à aniquilação, ou Avichi, um estado tão mal compreendido e ainda descrito de maneira pior por alguns escritores Teosóficos, mas que está de fato não apenas localizado na terra, mas é a própria Terra.

Assim vemos que o Antaskarana foi destruído antes que o homem inferior tivesse uma oportunidade de assimilar o Superior e se tornar uno com ele; e daí a “Alma” Kâmica se torna uma entidade separada, para viver assim por diante – por um longo ou curto período, de acordo com seu Karma – como uma criatura “sem alma”.

Mas antes que eu elabore esta questão, devo explicar mais claramente o significado e funções do Antaskarana. Como já foi dito, está representado no Esquema I como uma linha estreita conectando o Manas inferior ao Superior. Se olhar no Glossário de A Voz do Silêncio, pp. 88-89, verá que é uma projeção do Manas inferior, ou melhor, o elo entre este e o Ego Superior, ou entre a Alma divina ou espiritual e a humana. · “Na morte é destruído como um caminho, ou meio de comunicação, e seus remanescentes sobrevivem no Kama Rupa – como “cascão”. É isto que os Espíritas algumas vezes vêem aparecendo em seções como “formas” materializadas, que tolamente confundem com os “Espíritos dos já passados”. Tão certo é isto como sendo o caso, que em sonhos, apesar do Antaskarana aí estar, a personalidade está apenas desperta por metade; por isso o Antaskarana é dito estar bêbado ou insano durante nosso estado de sono normal. Se tal for o caso durante a morte periódica (sono) do corpo humano, pode-se ter uma idéia do que o Antaskarana se torna quando foi transformado após o “sono eterno” no Kama Rupa.

Retomemos. No sentido de não confundirmos a mente do estudante com dificuldades abstrusas de metafísicas Indianas, deixe-o ver o Manas inferior ou Mente, como o Ego pessoal durante seu estado desperto, e como Antaskarana apenas durante aqueles momentos quando aspira em direção a sua metade Superior, e assim torna-se o meio de comunicação entre os dois. É por esta razão que é chamado “Senda”. Agora, quando um membro ou órgão pertencente ao organismo humano físico é deixado em desuso, se torna fraco e finalmente atrofia; assim também acontece com qualquer faculdade mental; daí, o atrofiamento da função mental inferior, chamada Antaskarana, se torna compreensível em ambas as naturezas, aquela completamente materialista, e a das pessoas depravadas.

De acordo com a filosofia esotérica, entretanto, o ensinamento é como se segue. Vendo que a faculdade, função do Antaskarana é necessária assim como é por intermédio  do ouvido que ouvimos, ou do olho é que vemos, tão longe o sentimento de Ahamkara (ou do “Eu” pessoal ou egoísmo) não se encontra inteiramente destruído no homem, e a mente inferior não esteja inteiramente imersa ou se tornando una com o Eu Superior (Buddhi-Manas) nos chega a razão de que destruir o Antaskarana é como destruir uma ponte sobre um precipício sem passagem: o viajante nunca poderá atingir a meta no outro lado. Aqui está a diferença entre o ensinamento exotérico e o esotérico. O primeiro, através da Vedanta, coloca que mesmo que a Mente (inferior) junte-se através do Antaskarana ao Espírito (Buddhi-Manas), é impossível para ela adquirir verdadeira Sabedoria espiritual, Jñana, e que isto só pode ser alcançado por tentar entrar en rapport com a Alma Universal (Atman); isto de fato, é por ignorar a Mente Superior como um todo é que se alcança a Raja Yoga. Dizemos que não é assim. Nenhum único degrau da escada que nos leva ao conhecimento pode ser pulado. Nenhuma personalidade poderá alcançar ou se trazer para a comunicação com Atman, a não ser através de Buddhi-Manas; tentar tornar-se um Jivanmukta ou “Mahatma”, antes de ter se tornado um Adepto ou mesmo um Naljor (homem sem pecados) é como tentar alcançar o Ceilão, pela Índia, sem cruzar o mar. Portanto nos é dito que se destruirmos o Antaskarana antes que a personalidade esteja absolutamente sob o controle do Ego impessoal, arriscamos perder este e ficar separado dele para sempre, a não ser que de fato consigamos estabelecer comunicação num supremo e último esforço.

É apenas quando somos indissoluvelmente ligados com a essência da Mente Divina, que teremos que destruir o Antaskarana. “Como quando um guerreiro solitário perseguido por um exército, busca refúgio numa fortificação; para cortar a ligação com  inimigo ele primeiro destrói a ponte removível, e só então começa a destruir a de acesso; deste modo age o Srotâpanna antes de assassinar o Antaskarana”.  Ou, como diz um axioma oculto: “A unidade se torna Três, e três gera quatro. É para este último (o quaternário) retornar a ser três, e para o três divino se expandir no Absoluto Um”. As Mônadas (que se tornam díades no plano de diferenciação, para se desenvolverem em tríades durante o ciclo das encarnações), mesmo quando encarnadas, não conhecem nem Espaço nem Tempo, mas são difundidas pelos princípios inferiores do quaternário, sendo onipresentes e oniscientes em sua natureza. Mas esta onisciência é inata, e pode manifestar sua luz refletida apenas através daquilo que é pelo menos semiterrestre ou material; mesmo que pelo cérebro físico que, por sua vez, é o veículo da Mente inferior entronada em Kama Rupa. E é isto que é gradualmente aniquilado em casos da “segunda morte”.

Mas tal aniquilação – que é na realidade a ausência de um mais leve traço da alma amaldiçoada de eterna MEMÓRIA, e por isso significa aniquilação na eternidade – não significa apenas descontinuidade da vida humana na terra, pois a terra é AVICHI, e o pior Avichi possível. Expelidos para sempre, da consciência da Individualidade (o Ego reencarnante), os átomos físicos e vibrações psíquicas da agora separada personalidade são imediatamente reencarnados na mesma terra, apenas numa criatura mais inferior e abjeta, um ser humano apenas em forma, amaldiçoado por tormentos Kármicos durante toda sua nova vida. Mais ainda, se persistir em seu curso debochado ou criminoso, sofrerá uma longa séria de tais reencarnações imediatas.

Aqui duas perguntas apresentam-se: (1) O que acontece com o Eu Superior em tais casos? (2) Que tipo de animal é uma criatura humana nascida sem alma?

Antes de respondermos a essas perguntas naturais, temos que dirigir a atenção de todos vocês que são nascidos em países Cristãos para o fato de que o romance da missão de Jesus como é agora visto, foi desenhado ou emprestado por alguns Iniciados bastante liberais do misterioso e estranho princípio fundamental das experiências terrenas do Ego reencarnante. Este último é de fato a vítima sacrificial, de seu Karma e através dele, seu próprio Karma de prévios Manvantaras, que tomou sobre si mesmo voluntariamente sem, no entanto, ter o dever de salvar aqueles que seriam homens sem alma ou personalidades. A verdade Oriental é ainda mais filosófica e lógica do que a ficção Ocidental. O Christos (Buddhi-Manas) de cada homem não é bem um inocente e um Deus sem pecados, mesmo que num certo sentido seja o “Pai”, sendo de mesma essência com o Espírito Universal, e ao mesmo tempo o “Filho”, pois Manas é o segundo que é removido do “Pai”. Pela encarnação o Filho Divino se torna si mesmo responsável pelos pecados de todas as personalidades as que Ele informará. Isto poderá fazer apenas através de seu reflexo, o Manas Inferior. Isto, então, é o que acontece quando tem que se soltar da personalidade. É o único caso em que o Ego Divino pode escapar da penalidade e responsabilidade como um princípio guia, porque com suas vibrações psíquicas e astrais, a matéria está então, pela mesma intensidade de suas combinações, colocada fora do controle do Ego. “Apophis o Dragão”, tendo se tornado o conquistador, o Manas reencarnante, separando-se gradualmente de seu tabernáculo (altar sagrado), rompe  finalmente separando sua Alma psico-animal.

Assim, em resposta a primeira pergunta, digo:

(1) O Ego Divino faz uma das duas coisas: ou (a) recomeça imediatamente sob seus próprios impulsos Kamicos uma série fresca de encarnações; ou (b) procura e acha refúgio “no colo da Mãe” Alaya, a Alma Universal, da qual o aspecto Manvantárico é Mahat. Livre das impressões da vida da personalidade emerge num tipo de interlúdio de Nirvana, onde aí não pode ser nada a não ser o eterno Presente, que absorve o passado e a Futuro. Desligado do “trabalhador”, estando ambos perdidos, o campo e a colheita, o Mestre, na infinidade de seu pensamento, naturalmente preserva que não haja lembrança da finita e evanescente ilusão que foi esta última personalidade. Esta então, é de fato aniquilada. (2) O futuro do Manas inferior é mais terrível, ainda mais para a humanidade do que para o agora homem animal. Acontece que algumas vezes após a separação a Alma exausta, agora tornada principalmente animal, extingue-se em Kama Loka, como o faz outras almas animais. Mas sabendo que quanto mais material a mente humana, mais perdura, neste estágio intermediário, freqüentemente acontece que após a vida atual do homem sem alma ter findado, ele de novo, e de novo, reencarna em novas personalidades, cada uma mais abjeta do que a outra. O impulso da vida animal é muito forte; não pode ser desgastado em uma ou duas vidas apenas. Em casos raros, entretanto, algo mais aterrador acontece. Quando o Manas inferior é condenado para se exaurir através da fome; quando não há mais esperança de que apenas um remanescente de uma pequena luz possa, devido a condições favoráveis – digamos, mesmo um pequeno período de aspiração espiritual e arrependimento – atraia de volta para si o Ego Pai, então o Karma lidera o Ego Superior a novas reencarnações. Neste caso o espectro Kama Manásico poderá se tornar o que chamamos de “Guardião do Umbral”. Este “Guardião” não é igual aquele literalmente tão bem descrito em Zanoni, mas um fato real da natureza e não uma ficção de romance, quão belo possa este ser. Bulwer deve ter tirado a idéia de um Iniciado Oriental. Nosso “Guardião”, direcionado pela afinidade e atração, força sua entrada na corrente astral, e através do Envelope Áurico do novo tabernáculo não habitado pelo Ego Pai, e declara guerra a pequena luz que o substituiu. Isto, de fato, poderá apenas acontecer no caso de fraqueza moral da personalidade assim obsediada. Ninguém fortalecido por virtude, e reto caminhar em vida, ficará sujeito a tal coisa; mas, apenas aqueles depravados de coração. Robert Louis Stevenson teve um vislumbre de uma verdadeira visão quando escreveu seu O Estranho caso de Dr. Jekyll e o Sr. Hyde. Essa estória é uma verdadeira alegoria. Cada Chela reconhecerá nela o substratum da verdade, e em o Sr. Hyde um “Guardião”, um obsessor da personalidade, o tabernáculo do “Espírito Pai”.

“Isto é uma estória de pesadelo”! Quase sempre me dizia uma pessoa, não mais em nossos quadros, que tinha um forte “Guardião”, um “Sr. Hyde”, como acompanhante quase que constante. “Como pode tal processo pode acontecer sem alguém saber?” Pode e acontece, e foi quase que descrito por mim uma vez antes no O Teosofista. “A Alma, a Mente Inferior, se torna como um princípio metade animal quase que paralisada pelo vício diário, e cresce gradualmente inconsciente de sua outra metade subjetiva, o Senhor . . . Um de seus habitantes mais supremos”; e “na proporção ao rápido desenvolvimento sensual do cérebro e nervos, mais cedo ou mais tarde, ela (a Alma Pessoal) finalmente perderá a visão de sua missão divina na terra.” Na verdade, como o vampiro, o cérebro se alimenta, vive e cresce em força, as custas de seus pais espirituais… e a Alma pessoal meio inconsciente se torna insensível, situa-se além da esperança de redenção. Não tem mais o poder de discernir a voz de seu “Deus”. Busca o desenvolvimento e maior compreensão da natural, vida terrena; e só pode descobrir senão os mistérios da natureza física. . . . Inicia-se ao tornar-se virtualmente morta, durante a vida do corpo; e termina por morrer completamente – isto é, sendo aniquilada como uma completa Alma imortal. Tal catástrofe pode muitas vezes acontecer longos anos antes da morte física desse alguém: “Nós nos acotovelamos com homens e mulheres sem alma a cada passo de nossa vida.” E, quando para estes, chega a morte. . . não existe mais Alma (o Ego Espiritual reencarnante) para ser liberada…. pois ele já se foi anos antes”.

Resultado: Sem seus princípios diretores, mas, fortificada pelos elementos materiais, Kama-Manas, de ser uma “luz derivada”, agora se torna uma Entidade independente. Após o sofrimento de mergulhar cada vez mais profundamente no plano animal, quando soar a hora para seu corpo terreno morrer, uma ou duas coisas podem acontecer: ou o Kama-Manas renasce imediatamente em Myalba (o estado de Avichi na terra),· ou se se tornar bastante forte no mal – “imortal em Satã” é a expressão oculta – é algumas vezes permitido, por propósitos Kármicos, permanecer em estado ativo de Avichi, na Aura terrestre. Então através do desespero e perda total de esperança se torna como um mítico “demônio” em sua maldade sem fim; continua em seus elementos, imbuído mais e mais com a essência da matéria; pois o mal é coexistente com a matéria dado o desligamento com o espírito. E quando seu Ego Superior tenha mais uma vez se encarnado, envolvendo um novo reflexo, ou Kama-Manas, o Ego Inferior condenado, como o monstro Frankenstein, sempre se sentirá atraído por seu “Pai”, que repudia seu Filho, e se tornará um “Guardião” regular do “umbral” da vida terrena. Apesar de ser uma Doutrina Oculta, indiquei as linhas mestras no O Teosofista de outubro, 1882, e em novembro, mas não posso entrar em detalhes, e portanto fiquei embaraçada quando me pediram para explicar. No entanto eu havia escrito claramente o bastante sobre os “zangões sem utilização” – aqueles que se negam a serem co-trabalhadores com a natureza e perecem aos milhões durante um ciclo Mavantárico; aqueles (como o caso indica) que preferem sofrer em Avichi sob a Lei Kármica do que doarem suas vidas “ao mal”, e finalmente aqueles que são cooperadores com a Natureza na destruição. Existem verdadeiros homens depravados e maus, e tão altamente intelectualizados e com acuidade espiritual para o mal, assim como aqueles que o são para o bem. “Os Egos (inferiores) desses podem escapar a lei final de destruição, ou aniquilação por eras a vir”.

Assim achamos dois tipos de seres sem alma na terra: aqueles que perderam seu Ego Superior na encarnação presente, e aqueles que nasceram sem alma, tende estado separados de sua Alma Espiritual no nascimento precedente. Os primeiros são candidatos ao Avichi; os últimos são os “Snrs. Hydes” sejam dentro ou fora de seus corpos humanos, sejam encarnados ou pendurados em torno como invisíveis, mas potentes ghouls. Em tais homens, a acuidade se desenvolve a um grau tremendo, e ninguém a não ser aqueles familiarizados com a doutrina suspeitariam de serem seres sem alma, pois nem a Religião ou Ciência tem uma leve suspeita de que tais fatos existem realmente na Natureza.

Quando ainda nos corpos que já perderam sua “Alma” superior por conta de seus vícios, existe ainda esperança para tal pessoa. Pode ainda ser redimido e modificar a sua natureza materialista; em tal caso um intenso sentimento de arrependimento, ou um único apelo honesto ao Ego que se foi, ou melhor de tudo, um esforço efetivo para emendar o caminho, pode trazer o Ego Superior de volta. O fio ou conecção não se encontra como um todo, partido, apesar do Ego estar fora do alcance, pois o “Antaskarana está destruído”, e a Entidade pessoal tem já um pé em Myalba; · Mas ainda não está além de poder escutar um forte e espiritual apelo. Existe uma outra colocação em Isis sem Véu sobre este assunto. É dito que esta morte terrível pode ser algumas vezes evitada “pelo conhecimento do misterioso NOME, a ‘PALAVRA’”ª. O que esta “Palavra” (que não é uma “Palavra” mas um Som) é, vocês todos sabem. Sua potência está no ritmo ou na acentuação. Isto significa simplesmente que mesmo uma má pessoa pode, pelo estudo da Ciência Sagrada, se tornar redimida e parar com o caminho da destruição. Mas a não ser que atinja a verdadeira união com seu Ego Superior, poderá repeti-la como um papagaio, dez milhares de vezes por dia, que a “Palavra” não o ajudará. Ao contrário, se não inteiramente em unidade com sua Tríade superior poderá produzir um resultado bem ao contrário do efeito beneficente, os “Irmãos da Sombra” a usam freqüentemente para objetivos maliciosos; neste caso, desperta e movimenta apenas o mal, e os elementos materiais da natureza. Mas se a natureza desse alguém é o bem, e ele luta sinceramente em direção ao EU SUPERIOR, que é aquele “Aum”, através do Ego Superior de cada um, que é esta terceira letra (Buddhi sendo a segunda), não há ataque do Dragão Apophis que não consiga ser repelido. Para aqueles que muito é dado muito é esperado. Aquele que bate à porta do Santuário com o pleno conhecimento de sua sacralidade, e após ter obtido admissão, foge do umbral, ou se vira e diz, “Ó, nada existe ali dentro!” perdendo assim a chance de aprender toda a verdade – pode então esperar por seu Karma.

Tais são então as explanações esotéricas daquilo que deixou muita gente perplexa que acharam  ser contradições nos vários escritos Teosóficos, incluindo “Fragmentos da Verdade Oculta” nos Vol. III e IV do O Teosofista, etc. Antes de me descartar do assunto eu devo acrescentar um aviso, que rogo que mantenham em mente. Será mais natural para vocês que são Esoteristas, esperarem que nenhum de vocês pertença a porção sem alma da humanidade, e que podem se sentir relativamente bem em relação a Avichi, tal como os bons cidadãos em relação as leis penais. Apesar de que talvez ainda não exatamente na Senda, estão perscrutando suas bordas, e muitos de vocês na direção certa. Entre as nossas faltas venais – inevitáveis sob nosso mundo social – e a maldade sem fim descrita na nota do Editor no “Satã” de Eliphas Lévy,« existe um abismo. Se não nos tornarmos “imortais no bem pela identificação com (nosso) “Deus,” ou Aum, Atma-Buddhi-Manas, nós certamente não nos fizemos “imortais no mal” cooperando com Satã, o eu inferior. Você esqueceu, no entanto, que tudo necessita ter um início e que o primeiro passo numa subida de uma montanha escorregadia é o necessário antecedente para alguém despencar precipitadamente para baixo e para a morte. Está longe de mim a suspeita de que qualquer dos estudantes esotéricos alcançaram um considerável ponto no sentido para baixo no plano de descida espiritual.  Mas como sempre eu previno a vocês de evitarem dar o primeiro passo. Poderão não chegar a este extremo nesta vida ou em outra, mas você agora gerará causas que lhe assegurará sua destruição espiritual em seu terceiro, quarto, quinto ou subseqüente nascimento. No grande épico Indiano poderá ler como uma mãe, cuja família toda de filhos guerreiros foi morta em batalha, e reclamando a Krishna que apesar de ter visão espiritual que lhe permitia retroceder em cinqüenta encarnações atrás, não podia ver, no entanto, pecado algum que merecesse tal pesado Karma; e Krishna lhe respondeu: “Se tivesse olhado para trás na 51, como eu posso, teria se visto matando com crueldade o mesmo número de formigas, igual ao dos filhos que você perdeu agora.” Isto de certo, é apenas um exagero poético; no entanto é uma imagem chocante para mostrar como grandes resultados podem advir de pequenas causas.

O Bem e o Mal são relativos, e são intensificados ou diminuídos de acordo com as condições pelas quais o homem se acha envolto. Alguém que pertença ao que denominamos “porção da humanidade sem utilização”, isto é, a grande maioria, é em muitos casos irresponsável. Crimes cometidos por Avidya (ignorância) envolve responsabilidades físicas, mas não morais ou o Karma. Tomemos como exemplo, o caso de idiotas, crianças, selvagens e outras pessoas que pouco sabem. Mas o caso de cada um de vocês, jurados ao Eu Superior, é um outro fato. Vocês não podem invocar essa Testemunha Divina sem impunidade, uma vez que se tenham colocado sob a sua tutelagem, vocês pediram à Luz Radiante para brilhar em vocês em cada canto escuro de seu ser; conscientemente vocês invocaram a Justiça Divina do Karma para anotar seus motivos, escrutinizar suas ações, e penetrar em tudo que lhe diz respeito. O passo é tão irrevogável como aquele tomado pela criança ao nascer. Nunca mais poderá forçar sua volta à Matriz de Avidya e da irresponsabilidade. Resignação e anulação de suas promessas não os ajudarão. Mesmo que voem para os mais recônditos lugares da terra, e se escondam da vista do homem, ou busquem esquecimento no tumulto do redemoinho social, aquela LUZ os achará, escutando cada pensamento, palavra e ato. Será algum de vocês tão tolo para supor que foi para a pobre H.P.B. que estavam dando sua palavra? Tudo o que ela pode fazer é enviar a cada um verdadeiro entre vocês, a mais sincera e fraterna simpatia e esperança para um bom desempenho de seus objetivos. Entretanto, não desencorajem, mas tentem, sempre continuem tentando, · vinte falhas não são irremediáveis se seguidas pelo mesmo número de luta para cima. Não é assim que montanhas são escaladas?  E saibam mais, que se o Karma atua persistentemente no que diz respeito ao Esoterismo, os maus atos dos ignorantes são passados por cima, no entanto, igualmente verdadeiro é que cada um de seus bons atos, por causa de sua relação com o Eu Superior, é cem vezes intensificado como uma potência para o bem.

Finalmente, mantenham sempre em mente, a Consciência de que apesar de vocês não verem nenhum Mestre ao lado da cama, nem ouvirem o audível sussurro no silêncio da quieta noite, mesmo assim o Poder Sagrado está sobre vocês, a Sagrada Luz brilhando em sua hora de necessidade e aspirações Espirituais, e não será nenhuma falta dos Mestres, ou de sua humilde interlocutora e serva, se através da perversidade ou fraqueza moral, algum de vocês cortarem seus elos com essas altas Potências, e colocarem seus pés no declive que conduz ao Avichi.


· referente a manvantara, um período de manifestação correspondente a um dia e uma noite de Brahma, aproximadamente 4 320 milhões de anos (N. do trad.)

¨ repouso, após um ciclo de manifestação.(N. do trad.)

· Tanmâtra significa uma forma rudimentar e sutil, o tipo grosseiro dos elementos mais sutis. Os cinco Tanmâtras são realmente as propriedades características ou qualidades da matéria, como de todos os elementos; o real sentido da palavra é “algo” ou “meramente transcendental”, no sentido de propriedades ou qualidades.

· Como o autor de Budismo Esotérico e O Mundo Oculto, chamou Manas a alma humana, e Buddhi a Alma Espiritual, deixei estes termos sem mudar em A Voz, no sentido de que era um livro direcionado ao público em geral.

· A Terra ou mesmo vida terrena, é o único Avichi (Inferno) que existe para os homens de nossa humanidade neste globo. Avichi é um estado, não uma localidade – uma contraparte do Devachan. Tal estado segue a “Alma” onde quer que vá, seja no Kama Loka como um semi-consciente “espectro”, ou em um corpo humano, quando renasce para sofrer Avichi. Nossa filosofia não reconhece nenhum outro Inferno. 

· Veja A Voz do Silêncio, p.97(notas 35 a Parte III)

ª Leia a útima nota do pé de página na p. 368, Vol.II de Isis sem Véu, e verá que mesmo os Egiptologistas profanos e homens que, como Bunsen, eram ignorantes da Iniciação, se chocaram com suas próprias descobertas quando acharam a “Palavra” mencionada nos velhos papiros.

« Veja O Teosofista, Vol. III, outubro 1881, pp. 12-15, (Collected Writings, Vol. III, pp. 287-91)

· Leiam páginas 40 e 63 em A Voz do Silêncio.

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