Carta Internacional de Consciências

Colégio Internacional dos Terapeutas

 

 

I. Introdução

 

O Colégio Internacional de Terapeutas reúne homens e mulheres que tentam sair do longo sono do esquecimento do Ser. O Ser que está em tudo o que vive ou respira e do qual temos que cuidar, da mesma maneira como os Terapeutas de Alexandria fizeram há cerca de dois mil anos. Eles definiam seu trabalho como sendo o de Cuidar do Ser.

 

Um sábio chinês que Jung amava muito dizia: “Um instrumento justo nas mãos de um homem que não é justo, tem efeitos injustos”. Como terapeutas, conhecemos muitos instrumentos justos tais como práticas, técnicas e teorias. E as mensagens que nos foram transmitidas pelos livros sagrados são igualmente justas e belas. Mas homens e mulheres, algumas vezes, serviram-se tanto dos instrumentos quanto das mensagens para promover guerras, para se destruírem, para se tornarem doentes. Por isso o Colégio de Terapeutas insiste menos sobre a qualidade dos instrumentos e mais sobre a qualidade da pessoa que os emprega.

O Colégio de Terapeutas não é uma instituição, uma igreja ou uma associação a mais. Seus membros têm em comum uma antropologia, uma imagem aberta do homem que respeita os diferentes elementos que o constituem: a dimensão material, a dimensão psíquica, a dimensão noética ou imaginal e a dimensão pneumática.

A dimensão noética, a abertura do composto humano à transcendência é mais difícil de apreender. Esta transcendência, no sentido intermediário do termo, não é ainda o mundo espiritual, é o mundo dos arquétipos, dos símbolos e é também o mundo dos anjos, o plano dos seres intermediários. Na antropologia materialista estes planos do ser não são levados em consideração.

A dimensão pneumática é a dimensão propriamente espiritual e divina que habita o ser humano. Ela se situa além do mundo noético, imaginal. É o mundo da Clara Luz e do Puro Silêncio.

Cuidar do Ser é cuidar de todas estas dimensões no ser humano. Portanto, o terapeuta deveria ser, ao mesmo tempo, um médico que cuida do corpo, um psicólogo atento ao movimento da alma e do psiquismo e também um contemplativo, que medita e está atento à dimensão secreta do ser humano. Ele sabe que não está só sobre a terra e que a colaboração dos mundos intermediários pode ser benéfica para a humanidade.

Finalmente, o terapeuta deveria ser, também, um ser de silêncio que tem a consciência do mistério e do desconhecido que habita todas as coisas. É muito para um ser humano… Haverá uma formação adequada para atingir uma tal plenitude?

Por outro lado, esta visão do ser humano é uma utopia, um sonho, algo que deverá tornar-se, um vir-a-ser. O ser humano ainda não existe. Há entre nós alguns animais inteligentes, mais ainda não há, verdadeiramente, seres humanos. Há alguns animais que estão tecnicamente assistidos, com toda espécie de próteses cada vez mais sofisticadas, mas é muito raro encontrarmos um ser humano em sua inteireza.

Se sou o único a sonhar com uma mudança possível do homem, com uma mudança possível da sociedade, posso dizer que sonho. Mas se somos alguns a sonhar com uma mudança possível do homem e com uma evolução possível do mundo, esse sonho passa a ser o começo de uma realidade. Assim é o Colégio de Terapeutas: o começo desta realidade.

Além de uma antropologia, os membros do colégio compartilham uma ética centrada no respeito, práticas de meditação e de estudo além de outras, perfazendo dez orientações1 as quais têm por finalidade cuidar do Ser em cada pessoa e sobretudo, do Ser na pessoa do terapeuta.

II. A Internacional de Consciências

“Uma inspiração do Colégio Internacional de Terapeutas”

 

As dez orientações do CIT inspiraram, inicialmente na França, um movimento chamado “Europa de Consciências”. Aqui e agora ampliaremos este movimento chamando-o de “Internacional de Consciências”. O nome Internacional nos lembra que a primeira Internacional foi baseada em uma antropologia materialista que, a justo título, revoltava-se contra um certo número de injustiças. Esta Internacional não contemplou a dimensão de consciência, a dimensão propriamente humana, isto é, o respeito à liberdade.

A Internacional da Consciência que pensamos criar não é um partido político e entretanto pode inspirar o comportamento político, pode inspirar o comportamento social. Mas antes de querermos mudar a sociedade, de querermos mudar o mundo, temos que tomar consciência do que somos hoje, de nossos limites, de nossas doenças, de nossos desejos, procurando encontrar o médico e o mestre em nosso interior .

Os Antigos Terapeutas de Alexandria eram muito cuidadosos em evitar a dependência de alguém em relação a seu médico ou a seu terapeuta. Não é o terapeuta que cura. É a natureza que cura. E o papel do terapeuta é de criar as melhores condições, o local e a prática favoráveis para que a cura possa ocorrer. Para que o despertar possa chegar, abrindo os limites ao infinito para o qual somos feitos.

O Colégio Internacional dos Terapeutas inspirou diretamente a Carta da Internacional de Consciências. Talvez que ela possa ser a fonte de, não somente um sonho a mais, mas de um pouco de realidade transformadora. Isso depende da consciência e do engajamento de cada um.

 

III. A Internacional de Consciências faz um convite 

1. Nós lhe convidamos a unir-se à INTERNACIONAL DE CONSCIÊNCIAS que reúne as pessoas físicas ou morais que:

Reconhecem-se na Carta onde estão declinadas as orientações fundadas sobre os valores da espiritualidade, da ecologia e da solidariedade.

Querem participar de uma vasta sinergia capaz de fazer reconhecer estes valores.

Querem levá-los em conta e colocá-los em prática na sociedade, tanto através de iniciativas privadas quanto através de ações junto aos poderes públicos.

O que os reúne é uma adesão aos valores de base em uma visão global do homem e de sua vida, qualquer que seja o campo particular de interesse e de ação de cada um.

 

2. A INTERNACIONAL DE CONSCIÊNCIAS quer ser um movimento transdisciplinar e transreligioso. Não está ligada a nenhuma abordagem filosófica específica – exceto à philosophia perennis – nem a nenhuma tradição ou religião particular – a não ser aquela da experiência espiritual que constitui sua essência.

 

3. A INTERNACIONAL DE CONSCIÊNCIAS não é um partido e não tem programa. Ela compreende somente:

  • promover e colocar em marcha os valores.

  • propor idéias.

  • promover iniciativas e ações.

  • inspirar as realizações, as atividades, os funcionamentos, fundados sobre os princípios da Carta.

  • Ela se esforçará, também, para que o mundo político a leve em conta em seu trabalho de legislação e de gestão social.

IV. Carta da Internacional de Consciências

Considerando que o mundo, em sua construção política atual, leva realmente em conta, unicamente, as dimensões econômicas e financeiras,

Considerando que um materialismo onipresente e organizado se apoderou de todos os continentes gerando violência, mercantilismo, amoralidade, perda acelerada da identidade cultural, e que um novo obscurantismo está em vias de possuir os espíritos,

Considerando que uma uniformização generalizada tende a se impor, destruindo as diversidades culturais e esmagando os indivíduos,

Considerando que somente soluções de ordem espiritual são capazes de responder à amplidão da “crise” de uma maneira profunda e durável, sendo essas mesmas soluções fundamentos verdadeiros das relações fraternas entre os homens e fundamentos de uma relação respeitosa do homem para com a Natureza,

Considerando todas estas afirmações, os membros da INTERNACIONAL DE CONSCIÊNCIAS adotam a presente Carta, pela qual reconhecem a importância e a urgência de:

  • Restabelecer a dimensão espiritual do homem e os valores eternos:

  • Inteiramente voltado para o ter e o poder, o homem moderno separou-se de sua dimensão mais profunda pela qual sua vida adquire sentido e plenitude.

  • É quando está conectado à fonte de toda a vida existente nele, que o homem pode desenvolver visão e ação justas. Ele participa, então, da dança e da harmonia do universo e, respeitando suas leis, vive na alegria a consciência e a liberdade infinitas.

  • Reintegrar o homem no seio da natureza – tanto ao nível da espécie quanto ao nível do indivíduo:

O homem é parte integrante da natureza. Nela tem suas raízes e dela retira sua substância. A natureza deu-lhe a vida, ela o nutre e o cura, ela o sustenta e o regenera.

  • Quando o homem polui a natureza, ele se polui. Quando a destrói, ele se destrói.

  • Quando lhe falta com o respeito, é a si mesmo que insulta.

  • Submeter o econômico ao político e o político à sabedoria:

É necessário respeitar, no seio de toda sociedade, uma hierarquia justa em seus poderes. A sabedoria mostra quais são os objetivos e os sugere, o poder político utiliza aquilo que é reconhecido como justo, o poder econômico satisfaz as necessidades materiais no quadro traçado pelo poder político.

A perda do poder político diante do poder econômico, conduziu a esta perversão na qual o consumo tornou-se um fim em si mesmo e é concebido como a fonte de toda felicidade.

Favorecer as realizações à dimensão do homem e a democracia de vizinhança:

Há um espaço justo para existir em plenitude, uma distância justa para estar bem um com o outro. Em um espaço muito estreito o homem definha, em um espaço muito grande ele se perde.

Em um espaço confinado as relações se tornam rapidamente conflitantes; elas são inexistentes no seio de uma multidão.

As relações sinceras e francas desabrocham com a proximidade, com a vizinhança.

Instaurar uma maior justiça social, expressão natural de fraternidade e condição de paz durável:

O sentido da unidade de todas as coisas que dá a experiência espiritual, conduz naturalmente à fraternidade e ao compartir. A justiça social não é mais um princípio teórico mas se impõe com a força da evidência. Uma paz durável – tanto para o indivíduo como para a coletividade – decorre naturalmente dela.

Sair do egoísmo nacional para entrar em uma fraternidade sem fronteiras:

A verdadeira fraternidade ignora as fronteiras. Não é mais possível defender seus interesses pessoais e seu bem estar pessoal – suas vantagens adquiridas – ignorando o que se passa além das fronteiras e que nós contribuímos grandemente a criar.

Responsabilizar a pessoa e encorajar uma solidariedade de vizinhança:

Não é possível querer-se livre sem, ao mesmo tempo, querer-se responsável.

Assumir sua responsabilidade dá ao indivíduo dignidade e grandeza.

Esta responsabilidade não exclui a necessidade de uma solidariedade, que encontra sua primeira expressão no círculo dos mais próximos.

Considerar a necessidade de uma “Declaração dos deveres do homem”:

A Declaração dos direitos do homem foi concebida para proteger o fraco do forte. Mas, insidiosamente, ela reforçou em todos, o egoísmo e a inveja, em detrimento do dom de si mesmo e do espírito de serviço. O homem, tornado consciente demais de seus direitos, esqueceu de seus deveres.

Investir mais na prevenção dos problemas do que em sua solução – agir na consciência de longo prazo:

Manter as coisas na ordem justa, antecipando-se aos problemas, é muito melhor que resolvê-los após ter sido negligente.

Da mesma maneira, é a consciência do longo prazo que deve guiar nossos atos. Não é responsável satisfazer sem limites os seus desejos – tanto para um indivíduo quanto para uma coletividade – sem se preocupar com o futuro.

A política eleitoral impele em sentido contrário: dá preferência às soluções com efeitos mais visíveis e às ações comandadas pelos interesses do curto prazo, premida pelo espaço do prazo eleitoral.

Sacralizar o nascimento e proteger a primeira infância:

Sabemos atualmente que a qualidade do nascimento e da primeira infância dependem grandemente do equilíbrio psicológico e emocional do adulto, do seu bem estar relacional e social e de sua felicidade – e os da sociedade no qual ele viverá.

De onde a importância da qualidade do nascimento, de considerar a criança como uma pessoa e de não lhe infligir ofensas em qualquer nível através de uma conduta que não respeite a globalidade do acontecimento.

Educar para a vida ao mesmo tempo que profissionalizar:

Ao lado de uma transmissão de saberes e técnicas que preparem a um trabalho, uma educação deve preparar para a arte de viver..

Devem completar a acumulação de conhecimentos e o exercício da razão: o desenvolvimento do caráter, da sensibilidade, da inteligência emocional; a cultura da escuta e do respeito, da disciplina e do esforço, da compaixão e da solidariedade; a abertura à vida interior, à responsabilidade, ao dom de si e ao espírito de serviço.

Reencontrar uma visão global da saúde e aceitar uma medicina plural:

O homem, atualmente, não é senão uma máquina na qual se consertam as peças defeituosas. Apesar de suas grandes conquistas no quadro em que ela se fixou, falta à nossa medicina uma visão global do homem – daí seus resultados contestáveis em termos de saúde global do indivíduo e seu custo excessivo que pesa sobre outros aspectos da vida.

Devolver ao trabalho seu sentido e sua dimensão de serviço:

O trabalho é um serviço dirigido aos outros ao mesmo tempo em que é um caminho de realização pessoal. Assim percebido torna-se igualmente, útil e comunicativo, em vez de tornar-se enfadonho, aviltante ou desprovido de significação. Seria de bom alvitre religa-lo ao espírito dos construtores antigos ou às antigas corporações, revalorizando o trabalho manual e a aprendizagem: opor-se ao concreto, fabricar, sentir-se pedra viva no edifício, na sociedade.

Abrir mais a sociedade às mulheres e aos valores femininos:

Nossa sociedade é muito racionalista e patriarcal, sua arquitetura é fria e arrogante, seu funcionamento competitivo. Torna-se necessário abri-la, em um maior grau, à intuição e ao sentimento, à linha curva e à doçura, à acolhida e à doação, à cooperação e à generosidade.

Reintegrar a velhice e a morte no seio da existência:

A velhice e a morte fazem parte da vida e permitem descobrir o seu sentido. Daí sua importância e o lugar que elas devem ter no seio da sociedade.

Abrir mais o Ocidente aos aportes orientais:

Valorizando a experiência espiritual, a visão global, os valores femininos, a consciência do corpo, os valores espirituais… o Oriente nos fornece pistas. Ele nos ensina também a diferença entre a pobreza e a miséria e nos ensina que é o amor que nos torna felizes.

Reencontrar o sentido da vida plena:

Em suas pesquisas voltadas para o exterior, o homem negligenciou a si mesmo, abandonou-se. Resta-lhe aprender – ou reaprender – a abrir seu coração, desabrochar sua alma, conscientizar seu corpo. Ele descobrirá então a plenitude que é o amor infinito, o conhecimento total, a liberdade sem limites. Ele emergirá na verdadeira vida.

 

A presente carta está aberta à assinatura de todas as pessoas que queiram aderir à Internacional de Consciências, na forma em que colocamos seus fundamentos.

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