Fase IV da crise sistémica:
por GEAB [*]
Em 2007, o LEAP/E2020 anunciara que os bancos americanos e o consumidor americano estavam ambos insolventes. Há mais de um ano, a nossa equipe estimara em US$ 10 milhões de milhões (1012) o montante de “activos fantasmas” que ia desaparecer devido à crise. Estes dois anúncios estavam em completa oposição às análises que dominavam então; a sequência dos acontecimentos mostrou no entanto que eram perfeitamente justificadas. Em função da mesma lógica de antecipação, o LEAP/E2020 estima hoje que o mundo entrou numa nova sequência da fase IV da crise sistémica mundial (a fase dita de “decantação”), ou seja, a sequência da insolvência global.
Ao contrário do que os dirigentes mundiais, à imagem dos seus banqueiros centrais, parecem pensar, o problema de liquidez, que eles tentam resolver por baixas históricas das taxas de juros e uma criação monetária ilimitada, não é uma causa mas uma consequência da crise atual. É sim um problema de solvência que cria os “buracos negros” nos quais desaparecem as liquidezes, quer se chamem balanços dos bancos [1], endividamentos das famílias [2], falências de empresas ou déficts públicos. Com uma estimativa conservadora dos “ativos fantasmas” mundiais elevada doravante a mais de US$ 30 milhões de milhões [3], a nossa equipe considera que doravante o mundo enfrenta uma insolvência generalizada que evidentemente atinge em primeiro lugar os países e as organizações (públicas ou privadas) super-endividadas e/ou muito dependentes dos serviços financeiros.
Como distinguir uma crise de solvência de uma crise de liquidez
Esta distinção entre crise de liquidez e crise de solvência pode parecer muito técnicas e no fim pouco determinante para a evolução da crise em curso. Contudo, ela nada tem de querela acadêmica uma vez que, conforme o caso, a ação atual dos governos e dos bancos centrais será útil ou pelo contrário totalmente inútil, até mesmo perigosa.
Um exemplo simples permite captar bem o que está em jogo. Se tiver um problema transitório de tesouraria e o seu banco ou a sua família aceitar emprestar-lhe os fundos necessários a fim de atravessar este período difícil, este esforço é benéfico para toda a gente. Com efeito, o senhor continua a atividade em curso, pode pagar os seus empregados ou a si mesmo, o seu banco ou a sua família é reembolsado (com juros, sem dúvida, no que se refere ao banco) e a economia em geral foi beneficiada com uma contribuição positiva. Em contrapartida, se o seu problema não for de tesouraria mas sim devido ao fato de que a sua atividade não é rentável e não pode vir a ser nas condições econômicas do momento, então o esforço do vosso banco ou da vossa família torna-se tanto mais perigoso para toda a gente envolvida. Com efeito, segundo toda a probabilidade, o seu primeiro pedido de fundos será seguido por outros sempre recheados com promessas (honestas, suponhamos) de que o mau tempo logo estará terminado. O seu banco ou a sua família serão tanto mais incitados a continuar a ajudá-lo porque arriscam-se a perder o que já lhe emprestaram no caso de cessar a sua atividade. Mas se a situação continuar a piorar, o que será o caso, se for realmente um problema de rentabilidade, então chega um momento em que são atingidos certos limites: por um lado, o seu banco vai decidir que tem mais a perder em continuar a sustentá-lo do que em deixá-lo cair; e por outro lado a sua família simplesmente não tem mais dinheiro disponível, pois o senhor sugou-lhe toda a sua poupança. Fica evidente, para todos, que não só o senhor está falido e insolvente como também que provavelmente arrastou a sua família para a mesma situação ou enfraqueceu o seu banco [4]. O senhor desferiu assim um golpe terrível à economia em torno de si, inclusive a dos seus próximos [5]. É importante sublinhar que tudo isso pode lhe acontecer com toda a boa fé quando uma mudança brutal do ambiente econômico perturbar as condições de rentabilidade da sua atividade sem que o senhor tenha tomado consciência da amplitude das consequências na sua atividade.
Segundo o LEAP/E2020, este exemplo simples ilustra perfeitamente a situação prevalecente neste princípio do ano 2009 para o conjunto do sistema financeiro mundial, uma parte importante da economia do planeta e todos os atores económicos (Estados inclusive) que fundamentaram o seu crescimento destes últimos anos sobre o endividamento. A crise traduziu e ampliou um problema de solvência global. O mundo está em vias de tomar consciência de que é muito mais pobre do que a última década o havia feito acreditar. 2009 é o ano que vai obrigar todos os atores econômicos a tentar avaliar concretamente o estado da sua solvência, sabendo que numerosos ativos ainda continuam a perder valor. A dificuldade é que um número crescente de operadores já não tem confiança nos indicadores e instrumentos de medida tradicionais. As agências de classificação perderam toda credibilidade. O dólar dos EUA não é senão uma ficção de unidade de medida monetária mundial de que numerosos Estados tentam livrar-se o mais rapidamente possível [6]. Portanto toda a esfera financeira é, com boa razão, suspeita de não ser senão um imenso buraco negro. Para as empresas, ninguém sabe se os pedidos de encomenda são fiáveis [7] uma vez que, nos setores em geral, os clientes anulam maciçamente as encomendas [8] ou não compram mais, mesmo quando os preços são rebaixados, como se confirma pela forte baixa das vendas a retalho destas últimas semanas [9]. E para os Estados (e outras coletividades públicas), doravante é o afundamento das receitas fiscais que faz temer um disparar dos deficits que pode também implicar falências. Além disso, desde os milionários russos [10] até as petromonarquias do Golfo passando pelo Eldorado comercial chinês [11], todas as “galinhas dos ovos de ouro” das empresas e dos estabelecimentos do planeta (e nomeadamente europeus, japoneses e norte-americanos [12]) agora mostram-se insolventes ou simplesmente solventes. A questão da solvência do Estado federal e dos estados americanos [13] (tal como a da Rússia ou do Reino Unido) já começa igualmente a ser colocada na grande mídia internacional; assim como certamente a dos grandes fundos de pensão por capitalização, grandes atores da economia globalizada destes últimos vinte anos.
Para o LEAP/E2020, a tendência é clara: a sequência que começa neste princípio do ano de 2009 é realmente a da insolvência global. <!–[if !vml]–><!–[endif]–> <!–[if !vml]–><!–[endif]–>
Notas
(1) Eis uma lista muito útil dos bancos americanos prestes a falirem, apresentada no sítio LewRockwell.com
(2) Este mapa dinâmico dos cartões de crédito e dos empréstimos imobiliários não pagos nos Estados Unidos (2º trimestre de 2008), realizado pelo Federal Reserve de Nova York, permite julgar a extensão da crise que afetam os rendimentos das famílias e o seu nível de endividamento. Fonte: NewYorkFed , 12/2008
(4) Não falamos aqui sequer dos empregados, fornecedores, clientes, …
(9) Nos Estados Unidos, em 2009 há o risco de que 25% dos estabelecimentos comerciais a retalho fechem as suas portas. Fonte: ClusterStockAlleyInsider , 27/12/2008
(13) Fontes: USAToday , 28/12/2008; Reuters , 02/01/2009
[*] Global Europe Anticipation Bulletin.
O original encontra-se em www.leap2020.eu
Este comunicado encontra-se em http://resistir.info/ .