Dicionário-Texto de Budismo: Q – R

 

Q

 

QUATRO CONTINENTES – a cosmologia budista registra a existência de quatro continentes: Jambudvipa, no sul; Purvavideha, no leste, Aparagodana, no oeste, e Uttarakuru, no norte. No ponto central, entre os quatro continentes, encontra-se o Monte Sumeru, também conhecido como Monte Meru.

QUATRO DEMÔNIOS – metáfora aplicada às injunções que nos mantêm amarrados à prisão do mundo. São eles: (1) as obsessões nocivas; (2) os cinco skandhas; (3) a morte, e (4) as opiniões errôneas.

QUATRO ESFORÇOS MENTAIS – tanto na meditação como na vida cotidiana: (1) esforço de evitar; (2) esforço de superar; (3) esforço de fazer surgir,e (4) esforço de manter e desenvolver.

QUATRO FRUTOS – são os quatro estágios de realização espiritual de acordo com a tradição Theravada: (1) o vencedor da correnteza (shrotapanna); (2) o que retorna uma vez (sakadagami); (3) o que nunca retorna (anagami), e (4) o destruidor do inimigo (arhat).

QUATRO INCOMENSURÁVEIS ESTADOS MENTAIS (sânscr., chatvariapramanani): quatro aspectos ilimitados da mente búdica – bondade, ou generosidade, ilimitada (maitri), compaixão ilimitada (karuna) , alegria ilimitada (mudita) e eqüanimidade ilimitada (upeksa).

QUATRO IMPOSSIBILIDADES DE SE ENCONTRAR O “EU” – se o “eu” existisse da maneira como parece, ele teria que exis­tir de um dos quatro modos: como o corpo, a mente, o conjunto de corpo e mente ou como algo distinto do corpo e da mente. Não há nenhuma outra hipótese. Examinamos essa afirmação atenciosamente até nos convencermos de sua veracidade. Então, passamos a examinar as quatro possibilidades, uma a uma:

1. Se o eu fosse o corpo, não teria sentido dizer “meu corpo”, porque o possuidor e o possuído seriam idênticos. Se o eu fosse o corpo, não existiria renascimento, pois o eu cessaria com a morte do corpo. Se o eu e o corpo fossem idênticos, uma vez que somos capazes de gerar fé, sonhar, resolver problemas matemáticos etc., seguir-se-ia que carne, sangue e ossos poderiam fazer o mesmo. Como nada disso é ver­dadeiro, segue-se que o eu não é o corpo.

2. Se o eu fosse a mente, não teria sentido dizer “minha men­te”, porque o possuidor e o possuído seriam idênticos. Mas, quando nos referimos à mente, dizemos “minha mente”, o que indica com clareza que o eu não é a mente. Se o eu fosse a mente, visto que cada pessoa possui muitos tipos de mente, tais como as seis consciências, as mentes conceituais e não-conceituais, seguir-se-ia que cada pessoa também teria diversos “eus”. Como isso é um absurdo, segue-se que o eu não é a mente.

3. Uma vez que o corpo não é o eu, tampouco a mente é o eu, o conjunto de corpo e mente não pode ser o eu. O conjunto de corpo e mente é um agrupamento de coisas que não são o eu; portanto, como poderia o conjunto em si ser o eu? Por exemplo, num rebanho de vacas nenhum dos animais é uma ovelha; logo, o rebanho em si não é ovelha. Do mes­mo modo, no conjunto de corpo e mente nem o corpo nem a mente são o eu; assim sendo, o conjunto, ele pró­prio, não é o eu.

Talvez esse ponto nos pareça difícil, mas, se pensarmos bastante sobre isso, com uma mente calma e positiva, e con­versarmos com praticantes mais experientes, aos poucos nos sentiremos elucidados. Além disso, podemos consultar obras autênticas, como Coração de sabedoria.

4. Se o eu não for o corpo, nem a mente, tampouco o conjunto do corpo e da mente, a única possibilidade que resta é que ele seja algo distinto do corpo e da mente. Nesse caso, teríamos que apreender o eu sem o aparecimento do corpo e da mente. Porém, se imaginarmos o completo desaparecimento de nosso corpo e mente, não sobrará nada que possa ser chamado de eu; portanto, segue-se que o eu não é distinto do corpo e da mente.

Devemos imaginar que nosso corpo gradualmente se des­faz em ar rarefeito e que a mente, em seguida, faz o mesmo; nossos pensamentos se espalham ao sabor do vento e as sen­sações, os desejos e as percepções se dissolvem no nada. Res­tou algo que seja o eu? Não. Com certeza o eu não é algo separado do corpo e da mente.

QUATRO FRUTOS – de acordo com a tradição Theravada, os quatro estágios da realização espiritual: (1) “o vencedor da correnteza” (Shrotapanna); (2) “o que retorna uma vez” (Sakadagami); (3) “o que nunca retorna” (Anagami), e (4) “o destruidor do inimigo” (Arhat).

QUATRO FUNDAMENTOS DA PLENA ATENÇÃO – (1) experimentando o corpo inteiro; (2) sensação de suprema bem-aventurança, através da respiração consciente, acalmando todas as funções corpóreas com serenidade; (3) experimentando a consciência dos estados da mente alegre, concentrada, livre, e (4) experimentando a consciência dos objetos ou idéias sobre o Darma.

QUATRO JHANAS (DHYANAS) ALCANÇADOS POR SHAKYAMUNI – no momento de sua iluminação, Buda alcançou os seguintes estágios em sua meditação: o primeiro jhana consistiu em ter pensamento equilibrado, acompanhado de uma sensação de elevação; o segundo permitiu que o pensamento se acalmasse através da concentração mental; o terceiro encorajava a elevação e o esforço de concentração para conseguir a serenidade, e o quarto permitiu que a serenidade assim alcançada fosse aplicada retrospectivamente a todas as experiências prévias. Neste quarto jhana, Buda é descrito como se sentindo purificado por meio de uma combinação de serenidade e atenção. Ele tem pleno controle de suas faculdades e está completamente cônscio do ambiente que o cerca.

QUATRO LOCAIS SAGRADOS PARA O BUDISMO – (1) Parque de Lumbini, próximo da capital do Reino dos Shakya, Kapilavastu, hoje o Nepal, local onde nasceu o Buda histórico; (2) Bodh Gaya, fica a noventa kilômetros ao sul de Patna, local onde Sidarta recebeu a plena Iluminação; (3) Samath, cidade próxima a Benares, atualmente Isipatana, onde Shakyamuni fez seu primeiro sermão após a sua Iluminação, e (4) Kushinagara, atualmente Kasia, no estado de Uttar-Pradesh, neste local Buda Shakyamuni adentrou ao Parinirvana. .

QUATRO MEIOS DE REUNIR DISCÍPULOS – os quatro meios de reunir discípulos praticados por um Bodhisat­tva são: agradar os outros dando-lhes presentes materiais ou qualquer coisa de que precisem; ensinar-lhes o Darma para conduzi-Ios à liber­tação; ajudar-lhes na prática de Darma encorajando-os; e dar-lhes um bom exemplo praticando sempre o que ensina.

QUATRO NOBRES VERDADES (sânscr., Aryasatya; páli, Aryasatta) – literalmente em páli: Cattari Ariyasaccani; os ensinamentos básicos do budismo: (1) a verdade da existência do sofrimento (Dukkha Satya), através da impermanência (Anicca); insatisfatoriedade (Dukka); impessoalidade (Anatta); (2) a verdade da causa, ou origem do sofrimento (Samudaya Satya), através dos desejos (Tanha); (3) a verdade da cessação do sofrimento (Nirodha Satya), através da extinção do desejo (Nirvana), e (4) o verdadeiro caminho que conduz à extinção do sofrimento (Magga Satya); é o Nobre Caminho Óctuplo, ou Caminho do Meio.

QUATRO REIS CELESTIAIS – na cosmologia budista, há quatro reis míticos que vivem na metade do caminho para o topo do Monte Sumeru (Meru): (1) rei Dhatarastra no leste, (2) rei Virudhaka no sul, (3) rei Virupaksa no oeste, e (4) rei Dhanada (ou Vaisravana) no norte.

QUATRO VOTOS – os quatro votos universais feitos por um Buda ou Bodhisattva; a saber, (1) salvar todos os seres, sem exceção, (2) erradicar todas as paixões e ilusões, (3) aprender todos os métodos que levem aos fins anteriores, (4) tornar-se perfeito no Dharma.

QUATRO VOTOS ILIMITADOS QUE CARACTERIZAM O BUDISMO HUMANISTA – o VM Hsing Yün nos diz: “Os Quatro Votos Ilimitados são: bondade, compaixão, alegria e generosidade. A verdade é que não é preciso olhar além destes Quatro Votos Ilimitados para compreender porque o Budismo Chinês perdeu seu vigor. Nós, budistas chineses, não colocamos em prática os ensinamentos budistas e perdemos o contato com o Darma. O Buda ensina bondade e compaixão. Quantos de nós somos realmente bons e compassivos? O Buda ensina alegria e generosidade. Quantos de nós somos realmente alegres e generosos? Independentemente de sermos laicos ou monges, se não praticamos o Darma, o que nos diferencia dos não-budistas?”

Em meu país, há um ditado popular que diz: ‘Toda família tem Amitabha, todo lar tem Avalokiteshvara’. Lá, Avalokiteshvara é venerado em todos os altares. O melhor lugar da casa é escolhido para Avalokiteshvara. Por quê? Porque Avalokiteshvara é compassivo. A compaixão é bem vinda em todos os lares; a compaixão conquista o respeito das pessoas e ganha o coração delas”.

Não sei exatamente quando o Budismo adquiriu tamanho tom de pessimismo. Toda vez que budistas se encontram, dizem coisas do tipo: ‘A vida é sofrimento! Tudo é impermanente! Oh, a impermanência!’ Mas o Budismo é feliz em caráter e alegre em espírito. Os ensinamentos falam de felicidade sem limites e de compaixão infinita, e nós, budistas, temos a responsabilidade de partilhar isso com o mundo. Quando o Buda falou de sofrimento como sendo a Primeira Nobre Verdade, foi porque ele desejava que reconhecêssemos a causa do sofrimento, e a maneira pela qual poderíamos nos liberar das ilusões e obter felicidade verdadeira. Não deveríamos nos contentar apenas com a compreensão de que a vida é repleta de sofrimento. O Buda nos ensina que todos os fenômenos são impermanentes. A impermanência é realmente maravilhosa! Ela torna as mudanças possíveis, já que o mal pode ser transformado no bem. Por causa da impermanência, a adversidade pode ser seguida de felicidade, e a má sorte mudar para melhor. É por causa da impermanência que o destino não é irrevogavelmente determinado. Nossa tarefa enquanto bodhisattvas é espalhar as sementes de felicidade para que o mundo inteiro possa ouvir sobre o Darma e cada um possa ter uma vida de bem-estar, paz e alegria”.

Nem sempre uma vida material próspera, tal como criada por uma economia florescente, é capaz de aliviar os sofrimentos da vida. Mais dinheiro e bens materiais podem trazer ainda mais problemas às pessoas. A alegria do Darma é a paz e a felicidade que podemos todos experimentar quando estamos de bem com nós mesmos; essa alegria vem da compreensão do Ch'an e da percepção da verdade. Geralmente, a prática religiosa das pessoas se baseia na ganância; as pessoas oram aos bodhisattvas e aos deuses por paz, fortuna, felicidade familiar, longevidade e o número ganhador da loteria. Uma fé religiosa que brote da cobiça não tem um nível profundo de maturidade espiritual. Deveríamos basear nossa fé no doar. Praticar uma religião é contribuir, fazer sacrifícios e trabalhar para beneficiar outros. Se uma das características do Budismo Humanista é o espírito de doação e beneficio do próximo, pode-se dizer que o Budismo Humanista incorpora as características dos Quatro Votos Ilimitados de bondade, compaixão, alegria e generosidade. É esse, também, o significado do Budismo Humanista”.

 

R

 

RAHULA – filho do Buda Shakyamuni, que se tornou pai aos 29 anos de idade.

RAGA – sede carnal, luxúria, desejo.

RAKAN (jap.) – veja arhat.

RAKSHASAna forma feminina: rakshasi; tipo de fantasma malévolo; está entre os oito grupos de seres celestiais, mas, sendo seres que ainda não se iluminaram, estão sujei­tos ao ciclo de nascimento e morte (samsara).

RAKUSU (jap.) – no budismo Zen, pequeno kesa retangular, conferido aos monges e leigos ao receberem a ordenação.

RATNASAMBHAVA (sânscr.) – um dos cinco Dhyani-Buddhas.

REALIZADOR SOLITÁRIO – um tipo de praticante Hi­nayana, também conhecido como Conquistador Solitário. Veja Ouvinte.

REFLEXO DA LUA NA ÁGUA – imagem poética da condição instável e passageira de todas as coisas; aplicada à Assembléia do Darma; indica que a assembléia do Darma é realizada para atender à necessidade de aperfeiçoar os seres sencientes; não dura eternamente e, por depender das circunstâncias, como tudo neste mundo, muda­rá – não será permanente, assim como acontece com o reflexo da Lua na água.

REFÚGIO (sânscr., sarana: “libertar”, “auxiliar”, “proteger”) – tomar refúgio ou refugiar-se significa entregar-se ao virtuoso poder da Jóia Tríplice; assim, aque­le que se refugia consegue eliminar o sofrimento e libertar-se do ciclo de nasci­mento e morte.

REI DO JULGAMENTO DO INFERNO – sânscr., Ytzma ou Ytzma-raja.

RENÚNCIA – o desejo de ser libertado do samsara.

RIME (tib., ris med) – movimento anti-sectarista do budismo tibetano, surgido no século XIX.

RINPOCHE (tib., Rin Po Che) – “precioso”; título honorífico tibetano, dado a grandes lamas e professores.

RINZAI (falecido em 866/67) – conhecido, em chinês, como Lin-Chi, foi discípu­lo de Huang-po e fundou a escola Rinzai, de zen-budismo, no Japão.

RINZAI[-SHÛ] (jap.; chinês, Lin-Chi-Tsung) – uma das escolas do budismo Zen japonês, dividida em duas linhagens (Yôgi e Ôryô); enfatiza a prática do kôan.

RITSU[-SHÛ] (jap.) – Escola da Disciplina; escola japonesa, fundada pelo monge chinês Chien-Chen (jap. Ganjin) em 754, com base na escola chinesa Lü-Tsung.

RO (jap.) – literalmente “décimo-segundo mês (do calendário lunar)”; na antiga China era costume oferecer uma cerimônia, chamada Ia (jap., ro) de fim de ano. Os monges budistas adotaram este termo como designação para o fim do ango, o período de treinamento de verão. Finalmente esta palavra tomou o sentido do “número de anos que um monge passou em um monastério”. Assim se diz que um monge estará pronto após muitos ro.

RÔHATSU-SESSHIN (jap.) – retiro Zen, tradicionalmente feitos nos oito primeiros dias de dezembro para celebrar o dia da iluminação do Buda Shakyamuni (8 de dezembro).

ROSHI (jap.) – título honorífico japonês que significa “venerável mestre”. Na América, roshi tem se tornado sinônimo de “Mestre Zen”.

RUPADHATU – veja Três Mundos; veja triloka.

RUPALOKA – veja Três Mundos; veja triloka

RYOKAN, DAIGU (1758-1831) – notável monge japonês da escola Soto Zen, célebre por sua bela poesia.

RYUTAN SOSHIN – grande mestre Zen do século IX, conhecido na China co­mo Lung-t' an.

 

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