Neurociências e Religião: Interfaces (Parte 2)

 

B. Pontos de vista suscitados pelos novos mapas da mente

 

I. Visão geral do problema

1. Vamos nos apoiar largamente em A. Damásio, neurocientista e psiquiatra português que trabalha nos Estados Unidos, no Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa. Ele é hoje um dos mais festejados cientistas do mundo. Virou best seller, por seu estilo acessível, mas permanece no campo estrito de sua ciência, sem muitas concessões. A questão da religião, da ética e da arte aparece em sua obra mais em observações marginais, embora tenham notável peso em seu pensamento. Para não fugir à terminologia própria de sua ciência ele parece preferir uma linguagem apenas alusiva.

Damásio tem dois livros fundamentais 22. A originalidade de seu primeiro livro reside na maneira como ele articula a capacidade humana de sentir, discernir, pensar e avaliar com uma minuciosa descrição do funcionamento do cérebro. Em seu segundo trabalho, aproximando-se mais ainda ao assunto que nos interessa — a religiosidade — ele aborda o mistério da consciência humana, este “sentimento” (“feeling”) tão diferente que temos a respeito daquilo que acontece dentro e fora de nós. Como é que nós conhecemos que conhecemos? Como é que nossa consciência e nossa mente elaboram um sentido de nós mesmos (de nosso self)?

Nossa maneira usual (seja dos filósofos e cientistas da religião, seja dos médicos e psicólogos) de conceituar a consciência humana se detinha mais sobre a tentativa de ver como nós elaboramos nossas imagens mentais. Damásio vai mais além. O que busca explanar é o surgimento e o sentido do self enquanto elemento central de nossa consciência.

Damásio mostra que este sentido tem a ver com a habilidade do cérebro humano de permitir ao indivíduo perceber-se como um organismo vivo no jogo que estabelece com o mundo e os objetos. Isto não é algo restrito apenas à memória, à razão ou à linguagem, como se diz quase sempre. Damásio mostra que, também neurofisiologicamente falando, o que está no centro da atenção hoje é a consciência. É ela a chave que nos pode permitir um acesso cientificamente adequado à compreensão daquilo que nos faz propriamente humanos, quando comparados a outros mamíferos superiores. Nem é necessário salientar como esta maneira de falar, inusitada na medicina fisiológica, interessa a quem pretende entender o fenômeno religioso em seus fundamentos mais essenciais.

2. Para quem é leigo em medicina talvez valha a pensa acrescentar que o notável avanço verificado na neurologia e na neuropsiquiatria deve muito ao progresso das ciências da computação. Os dados se acumulam quase que mês a mês, mas estamos ainda em uma época de descobertas isoladas. Crescemos de teorias de meio alcance capazes de reunir o que se sabe em quadros teóricos mais complexos. Tudo está “in fieri”. A teoria de Damásio não deve ser tida como assegurada; ela é apenas precursora.

A introdução de tecnologias computorizadas de observação direta do funcionamento do cérebro é que torna plausível e dá seriedade científica à visão de conjunto que está emergindo. Não se trata de especulações e sim de deduções que têm fundamento em dados seguros. A ressonância magnética (MRI) e a tomografia computorizada através de positrons (PET), por exemplo, nos permitem visualizar em imagens o funcionamento do cérebro. São técnicas que tornam possível mapear diretamente a atividade neuronal por ocasião de cada uma de suas atividades (memória, sentimento, raciocínio, medo, raiva, etc). Em pacientes que sofrem de lesões cerebrais, essas imagens possibilitam observações de grande valor heurístico e clínico 23. Pode-se hoje enxergar a mente humana funcionando de modo tão claro como o da ultrassonografia que nos faz ver “em direta e a cores” um feto humano em seus primeiros meses de desenvolvimento intra-uterino.

3. O melhor, talvez, seja dar um ou dois exemplos. Um, tido como clássico, é o acontecido em 1848, com um operário norte-americano de nome Phineas Gage. Em um acidente seu cérebro pré-frontal foi trespassado por uma fina barra de metal. O rapaz de 25 anos não perdeu nem os sentidos nem as funções cerebrais de fala, memória e locomoção. Após a retirada do objeto contundente ele se recuperou completamente, só que sua personalidade sofreu uma grande mudança em aspectos exclusivamente humanos, em especial na capacidade de se relacionar com os outros com senso de reciprocidade. Diz Damasio, que estudou a fundo este caso:

“…(Gage) perdeu a capacidade de planejar o futuro enquanto ser social. Até que ponto esteve consciente dessa perda? Poderá ser descrito como um ser consciente de si mesmo, tal como qualquer um de nós? Será sensato afirmar que sua alma foi prejudicada ou que a perdeu? E se assim foi, o que pensaria Descartes se tivesse conhecimento desse caso e possuísse os conhecimentos que hoje possuímos sobre neuro-biologia? Ter-se-ia interrogado sobre a glândula pineal de Gage?” (Damásio, 1998, 41).

O médico que atendeu Phineas, do ponto de vista diagnóstico, tinha basicamente os mesmo recursos que Descartes. Mas a medicina de sua época já lhe permitia seguir outras hipóteses clínicas que se mostraram muito fecundas. Se Phineas vivesse hoje e fosse a um hospital bem equipado, o médico poderia “assistir” o que se passava em seu cérebro, quase como se estivesse assistindo a um filme. Hoje o MRI e o PET ajudam a mapear e ver com boa exatidão as partes do cérebro que geram reações e estilos de personalidade como as que aparecem no caso Gage.

É algo fascinante ver em uma tela as diferentes áreas cerebrais que entram em ação quando falamos, lemos ou pensamos. Ou, então, como as regiões do cérebro responsáveis pela linguagem são ativadas quando contamos as sílabas de uma sentença ou de uma palavra ou quando tentamos entender o significado das mesmas. Ou, ainda, como outras partes bem distintas do cérebro entram em ação quando a leitura é feita sob tensão emocional.

Como não dispomos dos equipamentos para mostrar tudo isto, lancemos mão de um pequeno experimento 24. Leia de modo normal a frase abaixo:

FINISHED FILES ARE THE RESULT OF YEARS OF SCIENTIFIC STUDY COMBINED WITH THE EXPERIENCE OF YEARS

Depois de ler a frase, diga, quantas são as letras “F” contidas naquela frase. Faça uma única leitura. Quantos “Fs” você contou? 25 R. Carter 26 descreve outros comportamentos mais complexos (os ligados a emoções e valores humanos) que estão também conectados a circuitos neurais e áreas específicas que não se devem a lesões cerebrais. Menciona, entre outros, o alcoolismo, a dislexia, a anorexia, o autismo, a depressão e algumas disfunções que sabemos ligadas a áreas já bem determinadas do cérebro. Um dado mencionado por ela é especialmente conhecido em comportamentos religiosos: a dificuldade em mudar de opinião. Essa dificuldade parece conectada à baixa atividade nos lobos frontais, uma área que tem tudo a ver com a formação de idéias, a construção de planos e com uma característica de que muito nos orgulhamos: a nossa consciência ética, que, por sua vez é indissociável de noções tão essenciais à espécie humana hoje como as de dignidade, liberdade, direitos, ética e religião.

4. Voltemos agora às perguntas-chave que Damásio nos propõe em seu último livro: “O que é a consciência? Como surge?”. Ou às ainda mais agressivas levantadas por Steven Spinker: “será que um dia nós poderemos compreender o cérebro tão bem quanto o coração e os rins e outros órgãos? Quem controlará o nosso pensamento, os cientistas ou os ditadores? E os neurologistas, depois de mapear o cérebro até a última sinapse (conexão entre dois neurônios) conseguirão reproduzir sua configuração elétrica num chip de silício e imortalizar a mente humana?

Mas, antes de responder a tais perguntas (será que um dia o lograremos?) é oportuno recordar que o cérebro humano é o sistema mais complexo do nosso universo.

II. Desvendaremos os mistérios do cérebro?

1. Diz Steven Pinker (1998) que “entender o funcionamento do cérebro é uma coisa, mas saber como o cérebro gera a consciência é um problema bem diferente”. Mas, o que quer ele exatamente dizer com essa acertada observação?

Partamos novamente de exemplos e suposições. Imagine-se no ano 2020, em um laboratório qualquer, olhando um quadro artístico, escutando uma música ou rezando. Os estímulos estarão provocando nas células de seu cérebro um padrão correspondente ao que vocês estará vivenciando. Se um cientista ou um observador qualquer puder observar os seus neurônios, ele poderá saber quais as imagens que você está vendo, escutando ou sentindo. Mais: ele poderá alterar esse padrão, enviando uma corrente elétrica para outras regiões de seu cérebro e você passará a ver, escutar ou sentir outra coisa.

O exemplo dado acima se inspira em Pinker. Para ele não é fazer ciência fantástica supor que, das imagens ao senso moral, dos sentimentos cotidianos às grandes proezas intelectuais, cada processo da mente possa ser mapeado em uma ou mais regiões do cérebro. No momento a tecnologia já torna possível saber se uma pessoa está criando uma imagem mental de um lugar de sua infância ou tentando se lembrar do nome de alguém.

Existe real possibilidade de, muito em breve, se comandar a fantasia e despertar a criatividade. Já entendemos bastante bem como isto acontece. Na Universidade de Stanford já se faz algo análogo com macacos. O mesmo já se faz com pacientes portadores de lesões neurológicas estimulados desde fora por processadores sofisticados. Os cientistas falam com desenvoltura da possibilidade de se intervir no que se passa na consciência de uma pessoa, orientando-se, por exemplo, o fluxo de suas recordações e pensamentos 27.

Escreve o próprio Pinker:

Embora as regiões cerebrais responsáveis pelo ciúme, percepção visual e fala tenham sido identificadas, entender como – e não onde – esses fenômenos ocorrem é um grande mistério. Não se sabe ainda como o cérebro organiza as conexões lógicas que permitem diferenciar a piscadela de um flerte do piscar de olhos da de alguém colocando uma lente de contato. Outra dificuldade é entender como o simples trânsito de íons pode criar a sensação vívida, subjetiva e imediata da cor, som, coceira e outras manifestações que compõem o nosso ser (…)

Não há dúvida de que a atividade fisiológica do cérebro é responsável por aquilo que nós chamamos de experiência (ou de consciência, na terminologia de Damásio). Pensamentos e emoções podem ser deflagrados, interrompidos ou modificado por impulsos elétricos e químicos. Mas, ninguém consegue entender ao certo por que alguns estímulos cerebrais são sentidos como algo pessoal. Há quem diga que as experiências subjetivas não podem ser cientificamente medidas e portanto não constituem objetos de estudo da ciência. Outros afirmam que, uma vez feita a distinção entre processos conscientes e inconscientes e demonstrada sua influência sobre o comportamento humano, tudo poderia ser esclarecido. Mas alguns acreditam que esse ramo da ciência conhecido como “senciência” ainda carece de uma boa explicação e esperam que um dia apareça um gênio 28 capaz de elucidá-lo”.

Fico me perguntando o que diriam Tomás de Aquino, Wiliam James, Rudolf Otto e S. Freud se tivessem ante seus olhos tal “status quaestionis”? E eu mesmo me pergunto: que deve dizer a isto um psicólogo da religião do ano 2001 ?

2. Corpo e emoção no surgimento da consciência

2.1. Levando adiante sua análise do papel fundamental da emoção na racionalidade humana (objeto do primeiro livro), o segundo livro de Damásio perscruta a natureza da consciência e sua ligação com a emoção e o corpo, através da mediação do cérebro.

Diz Greco (1999) que o principal desafio que Damásio se propõe enfrentar é o de “entender como…sabemos não somente coisas sobre o mundo à nossa volta, usando nossos sentidos, mas também como estamos cientes simultaneamente de que existe um “eu” experimentando essa “sensação” do que acontece”.

O ponto talvez central das hipóteses teóricas de Damásio é o seguinte: a mente humana tem a capacidade de perceber que existe uma interação do corpo com o meio ambiente e que ela pode reagir com base nos dados que o corpo colhe através de sensações, percepções e emoções internas e externas. O que chamamos de “consciência” é o fruto de tudo isto. Do ponto de vista da neurofisiologia a base segura para se dizer o que acontece na consciência é o corpo, entendido em seu sentido global.

Desde essa base, considerada em todos os seus aspectos, Damásio cria uma teoria que tenta interligar os elementos que entram em jogo. Hipotiza para tanto uma seqüência de quatro níveis, que corre em uma via de duas mãos:

  • nível dos mecanismos básicos de sobrevivência. São os padrões elementares de resposta orgânica responsáveis pela regulação do metabolismo, pelos movimentos reflexos, pelo prazer e a dor, pelas motivações biológicas, etc.
  • nível das emoções. São padrões mais complexos que incluem respostas orgânicoemocionais:
  1. primárias (medo, raiva, surpresa, tristeza, nojo…);
  2. secundárias que já envolvem relacionamentos sociais (ciúme, constrangimento, culpa, orgulho) e
  3. condições emocionais de fundo que são mis difusas (estados de bem estar ou mal estar, “stress” ou relaxamento).
  • nível das sensações. Relativo aos padrões sensoriais indicativos de dor, prazer e emoções conectados e dotados de significado através das imagens formuladas pela consciência.
  • nível da razão, ou seja, do pensamento e da “vontade”. São os padrões privativos da espécie humana. Envolvem respostas de maior complexidade. Apresentam flexibilidade sujeita a rotinas. São formuladas em imagens e conceitos encadeados pela consciência.

O que Damásio chama de consciência envolve esses quatro níveis, mas emerge em seu sentido específico é na passagem do terceiro ao quarto nível. Ele chega a desenhar um modelo da forma como o cérebro lida com estes quatro níveis e da relação entre eles. Este modelo é fruto de um estudo minucioso com pacientes portadores de distúrbios neurológicos. Um bom exemplo é o caso de uma jovem que sofre de calcificação na amígdala cerebral. Ela é em tudo normal, salvo em um detalhe importante: ela desconhece absolutamente a sensação/emoção do medo. Mas é capaz de identificar a alegria e o nojo. Damásio vê neste caso uma prova de que não existe um centro cerebral único de processamento de emoções. O que existe são sistemas separados para diferentes padrões de emoção. Na passagem da emoção para a sensação (do segundo para o terceiro nível) entram em ação dois mecanismos complementares: primeiro há o envio de mensagens químicas enviadas por via sangüínea e, depois, seguem-se mensagens eletroquímicas passadas através dos neurônios e sinapses. Juntos, estes dois processos nos fazem ter consciência de que estamos tendo uma emoção. Nós a podemos, então, visualizar mentalmente, significar e expressar; ou seja, nós podemos “senti-la”. Mas, permanece a pergunta do como sabemos que estamos sentindo tal emoção. Damásio é categórico ao afirmar que “para um organismo saber que tem uma sensação é necessário adicionar o processo da consciência como conseqüência da emoção e da sensação”.

2.2. A palavra “consciência” na perspectiva do psiconeurologista

2.2.1. Primeiro, é preciso recordar o que ficou dito sobre o sentido de “consciência” no nível do senso comum (cf o parágrafo A, III, 2.1. deste artigo). Acontece que a palavra tem vários significados também para os neurofisiologistas aqui considerados. Eles, contudo, estão de acordo alguns ítens importantes. Segundo Greco (1999), todos tendem a ver “a consciência como um fenômeno biológico; pensam que resolver o mistério da consciência não equivale a resolver todos os mistérios da mente humana; que a consciência é um fenômeno relativo ao senso de si mesmo e do saber experimentado por cada um de nós; e que ela é um processo e não uma 'coisa' única”.

Mas, existem também inúmeras divergências quanto ao entendimento da função, classificação e interpretação do que seja a consciência. Francis Crick 29, por exemplo, salienta que para entender a consciência é indispensável compreender o processo de formação das imagens do cérebro, uma afirmação que encontra inteiro acolhimento em Damásio. Mas defende a tese de que existem várias consciências: uma estaria relacionada à dor, outra à emoção e outra — de tipo especial e própria só do homem — à auto-consciência.

Ora, Damásio não o aceita e propõe um outra leitura. Sabedor de que está lidando com conceitos complexos e sutis, escreve:

“A ciência pode nos ajudar a fazer distinções entre os fenômenos; pode agora distinguir… (e afirmar que) …. consciência e mente são distinguíveis: a consciência é a parte da mente que parece relacionar-se ao sentido do self e ao saber. Na mente existe algo mais que a consciência e a mente pode existir sem a consciência, como nós descobrimos pacientes que têm uma e não a outra…” (Damásio, 1999, 27).

2.2.2. Explicitando o acima dito, ele concebe a consciência humana evoluindo ao longo de dois estágios que se completam:

Há uma “consciência nuclear” (a “core consciousness”). É um fenômeno fundamentalmente biológico, de organização relativamente mais simples. Permanece praticamente estável durante toda a vida do organismo. É constituída no início do processo da formação da consciência. Não depende da memória convencional, nem da linguagem ou da razão. Ela dá ao organismo um sentido do eu que permite à pessoa situar-se e orientar-se em uma determinada situação de tempo e lugar, fazendo com que aquela dada situação adquira um sentido imediato para o sujeito. A consciência nuclear por si mesma só percebe o que está acontecendo aqui e agora. Não orienta o indivíduo sobre o que passou antes e sobre o que está por vir. Ou seja, ela não se conecta a um passado (remoto ou próximo) e a um futuro.

Tem, por isto, um sentido fragmentário e parcial. Há uma “consciência estendida” (a “extended consciousness”). É um fenômeno igualmente biológico, mas, por seu extremo grau de complexidade, precisa ser explicado através de categorias psicológicas e mentais mais elaboradas. Só existe de modo pleno na espécie humana, (embora os mamíferos superiores já a possam vivenciar de maneira elementar).

Evolui ao longo de vários níveis durante a vida útil do organismo. Está ligada ao que convencionalmente chamamos de memória. É construída a partir da “consciência nuclear” que, por sua vez, torna possível um sentido temporal e espacial, o qual confere ao que se vê e vive aqui e agora, um significado abrangente que ultrapassa necessidades defensivas de sobrevivência e déficit, adquirindo aquelas conotações de significado e valor, que podemos chamar de propriamente humanas.

Correlacionando esses dois estágios (que são, evidentemente, de uma só e mesma consciência humana e de um só e mesmo cerebro) Damásio observa que “se for verdade que a consciência nuclear equivale a um rito de passagem para o “saber” 30, será igualmente verdade que os níveis de “saber” que levam à criatividade humana são aqueles que somente a consciência estendida pode permitir”.

2.3. Os três tipos de “self” de Damásio

Com base em estudos muito técnicos e específicos, Damásio postula a existência de distintas bases neurológicas para três tipos de self, que existem e atuam distintamente um do outro. Em geral os três “self” agem integradamente, mas em portadores de certas lesões e disfunções cerebrais — como no caso, por exemplo, dos automatismos de ausência presentes em alguns tipos de epilepsia — percebe-se claramente que os três “selfs” existem e atuam indpendentemente um do outro. Devemos, portanto, falar de:

  • um “self -central” (“core self “) ligado à consciência nuclear;
  • um “self auto-biográfico” (“autobiographical self”) ligado à consciência estendida;
  • um “proto-self” que deve sua existência a estádios muito primitivos do desenvolvimento que nossa espécie tem em comum com os animais.

Vejamos primeiro um exemplo concreto da interação entre os três “selfs”. O exemplo é do próprio Damásio em uma recente entrevista 31. Ele pergunta: o que percebe uma pessoa assentada, tomando chá? O seu “proto-self” é constituído por uma coleção de mapas cerebrais do sistema límbico e das demais zonas corticais de associação, conectados a diversas partes do sistema nervoso central e do sistema neuro-vegetativo. Estes mapas representam aspectos fundamentais do estado interno do corpo, como a corrente sanguínea, a pressão, o que ocorre no coração, pulmões e outros órgãos internos, a postura, o equilíbrio homeostático, etc. Ë como se fosse um centro de monitoramento sustentado por estruturas ancestrais que datam das primeiríssimas formas de evolução do cérebro de nossa espécie e que persistem quase intocadas no cérebro do tomador de chá.

Normalmente não prestamos atenção alguma ao que é coordenado pelo proto-self, exceto no caso de algo extraordinário, como derramar chá quente na mão. A sensação de dor resultante da queimadura produzirá uma concentração instantânea da atenção, em tudo semelhante à que se observa em situações de medo e alarme. Uma vez que a pessoa presta atenção em um dado objeto (na mão queimada pelo chá quente ou em um cachorro que a ameaça) suas imagens internas passam a ser representadas em outros níveis do sistema nervoso e do cérebro. Essas imagens por sua vez, irão modificar fisicamente a forma como a pessoa se percebe e reage. Se a pessoa que toma chá pular da cadeira e curvar a cabeça para melhor atender a mão queimada, ela terá em seu cérebro duas representações: uma se referirá ao estado interno de seu corpo que sente a dor e se agita e outra enfocará com excepcional nível de consciência um objeto, sua mão que dói. Poderá haver ulteriores complicações que envolvam elementos auto-biográficos do tomador de chá.

Ele poderá ser, por exemplo, alguém que sofreu uma infecção devido a um acontecimento semelhante e, por isto, ficará mais ansioso com o acidente e desejoso de procurar logo um médico, talvez o mesmo que o socorreu antes e se tornou seu amigo de confiança. Ou, ele, se religioso e brasileiro, fará uma reza para a cura queimaduras, ensinada por sua querida avó. À essa altura as três áreas cerebrais correspondentes aos três “selfs” já estarão sendo simultaneamente acionadas e a consciência desta pessoa estará plenamente ativada.

Em indivíduos normais, portanto, os vários “self” não são coisas estranhas postas um ante o outro. Ao contrário, a consciência estendida deste indivíduo se constrói sobre a nuclear e supõe o funcionamento do “proto self “. Um é continuação e complementação do outro. O “self nuclear” tem continuidade no “self auto-biográfico” e os dois juntos passam ao indivíduo uma única e mesma idéia de si mesmo. O “self central” tem a ver com a auto-percepção aqui e agora e o “self auto-biográfico” situa permanentemente (podendo haver é claro instantes de curto circuito) essa imagem auto-perceptiva de si em uma linha de continuidade.

A pessoa possui, assim, uma consciência de si; pode, desta maneira, desentranhar e reativar situações e experiências, emoções e idéias a respeito de si e das coisas. O arsenal de sua memória está vivo e atuante em função do que ela precisa, sente, pensa e quer.

O ser humano é um animal da espécie “homo rationalis”, diria o zoólogo; ele é uma pessoa humana, diriam o filósofo e o teólogo; ele é alguém com identidade e consciência inconfundivelmente próprias e que possui uma dimensão inconsciente que pode ou não ser objeto de repressões afetivas, diria o psicólogo.

3. Estruturas funcionais do cérebro humano

Há outras constatações da neurofisiologia contemporânea que podem nos ajudar a entender as colocações de Damásio sobre o corpo, a conciência e o self e, mais todavia, a perceber as conexões que esses dados têm com o fenômeno religioso. Veremos, a seguir, duas delas, ambas de natureza estrutural: (3.1.) a dos três cérebros e (3.2.) a dos dois hemisférios.

3.1. Os três cérebros

Os folhetins científicos dos grandes jornais mundiais têm falado com freqüência dos “três cérebros” 32, divulgando conhecimentos que devem muito a Mac Lean (1970), um dos pioneiros dos estudos de ponta nesta área. Mac Lean vê cada um com uma destas três partes (do sistema nervoso central e/ou do encéfalo mais propriamente falando) “com uma história filogenética diferente, cada um com sua organização e constituição distintas, apesar de estarem interligados por milhões de conexões, cada um tem sua própria inteligência, sua própria sensação de espaço e tempo e seu próprio funcionamento motor… postula que os três cérebros evoluíram em três estágios produzindo parte do cérebro que está agora ativamente em nós apesar de modificado e intercomunicado”.

Eis os nomes que ele dá a estas três partes:

  • ? cérebro reptiliano (ou “R complex”): situa-se no tronco encefálico e é a parte mais primitiva que a espécie humana compartilha com todos os invertebrados. Data de milhões de anos. Aparece de forma intocada em répteis e pássaros. Células humanas advindas desta área têm semelhança às de repteis. O “R complex” controla processos vitais de capital importância como o sistema cárdio-vascular e respiratório. Um bebê humano pode subsistir sem parcelas dos dois hemisférios, mas morrerá se nascer desprovido do cérebro reptiliano. Tem a ver com os movimentos padronizados e inatamente fixos (quais as danças rituais de acasalamento) e com comportamentos instintivos. Os neurologistas o associam aos “três Fs” (“fight – flight – freeze”, isto é, “lutar-, fugir- resfriar”) querendo assim indicar suas funções de ataque e defesa, agressividade, hibernação. Também os mecanismos responsáveis pela fome, sede, sensação de bem ou mal estar, residem aí. Comportamentos sexuais da espécie, como o da cópula, têm no “R complex” um centro organizador de fundamental importância. Ele é, ainda, responsável pela vigília e pela manutenção da atenção consciente. Possui inúmeras outras funções.
  • ? Cérebro límbico que há muito tempo é conhecido como sendo o nosso cérebro emocional. Para Mac Lean nós o temos em condomínio com os mamíferos e páleomamíferos. Situa-se no interior do encéfalo, bem protegido pela caixa craniana, para poder salvaguardar seus sistemas de informação que percebem, selecionam, guardam na memória, movimentam e distribuem os dados chegados dos sentidos e que aí recebem uma conotação de prazer ou desprazer e um sentido que irá orientar a reação do resto do organismo e o comportamento da pessoa. Sabe-se que os bebês de mamíferos do mar e da terra “brincam”, coisa que os repteis não fazem. Os adultos, por seu lado, demonstram comportamentos de proteção das crias.
  • ? A amigdala localiza-se no sistema límbico (no hipocampo). Ela exerce a função de sentinela emocional. Os sinais sensoriais do olho ou ouvido vão primeiro e de modo direto à amígdala 33. Só então, via tálamo, é emitido um segundo sinal endereçado ao neo-córtex, isto é ao cérebro pensante. Logo, a amígdala dá uma resposta ainda antes que o córtex tenha percebido o estímulo e elaborado uma resposta mais detalhada, isto é, mais consciente. Descobertas como essa revolucionaram as opinião convencionais existentes antes sobre os circuitos cerebrais e situaram melhor as relações entre as emoções e o pensamento e outras funções superiores. Explicam o poder da emoção no confronto com a racionalidade. Antes, supunha-se que os sinais iam primeiro ao neo-córtex e dele ao sistema límbico, quando de fato o que se dá é o contrário. A razão intervém só depois que o neo-córtex teve mais tempo e informações para ‘pensar’. Esta ligação neural ajuda o organismo a tomar em consideração tudo o que precisa ser considerado; ela guarda, também, a memória de tudo o que precisa ser evitado ou procurado, por causar perigo, dor/ prazer, saciedade/fome, sede, etc. O tálamo e o hipotálamo estão anatomicamente no sistema límbico e ocupam lugar vizinho à hipófise que, como se sabe, rege a orquestra químico-hormonal do organismo. O sistema hipotâlamico-pituitário age em sintonia com os sistema de ativação ou de repouso do sistema vegetativo simpático e pára-simpático, exercendo uma função reguladora e homeostática de primeiro plano.
  • ? cérebro neo-cortical, que é característico dos neo-mamíferos, mas é especialmente bem desenvolvido só nos primatas. Apresenta uma extraordinária complexidade de células, sinapses e tecidos, sendo mais de 10.000 milhões os neurônios que o compõem. No indivíduo humano é a última parte do Sistema Nervoso Central a encontrar seu estado adulto. Também filogeneticamente o córtex frontal surgiu há muito pouco tempo. Pode-se dizer que esta é a sede da consciência humana, embora, como mostrou Damásio, a consciência tenha a ver com a totalidade do organismo corpóreo. Em todo o caso, o córtex frontal se relaciona com a linguagem, o raciocínio lógico e os símbolos. Ele é constituído por dois hemisférios que são unidos por uma ponte, o corpo caloso. De alguns anos para cá tem-se avançado muito no conhecimento das funções de cada um destes dois hemisférios simétricos que juntos perfazem o cérebro, como já se disse em outro lugar desse artigo.

Um exemplo, dado por Turner (1983, 6) ilustra a função do neo-córtex: “um animal privado de seu córtex pode ainda encontrar o caminho para casa, pode alimentar-se, saciar a sede, evitar estímulos dolorosos, mas terá dificuldade em atribuir função ou significado a objetos: um predador será percebido, mas, aparentemente não será percebido como uma ameaça. Isto porque a percepção precisa e a atribuição de significado requerem evidentemente a presença dos hemisférios cerebrais”.

3.2. Os dois hemisférios

São como duas estruturas paralelas de forma arredondada, em forma de nozes, que se contrapõem simetricamente dentro da caixa craniana. São aparentemente iguais e foram tidos como idênticos em suas funções durante centenas de anos. Hoje sabe-se, graças a neurocirurgiões como R.W. Sperry e outros, que eles não exercem as mesmas funções. Os dois hemisférios, ao que tudo indica, trabalham separadamente em um sistema de “on” e “off” ainda não bem esclarecido. Parece existir uma espécie de competição entre eles pelo controle da consciência e do organismo. Supõem alguns que os dois hemisférios têm consciência separada e que o corpo caloso é que torna unitário o funcionamento da mente humana, permitindo o surgimento de uma consciência unitária de si.

Turner (1985, 7), citando Barbara Lex, sintetiza assim as descobertas a este respeito:

“na maior parte dos seres humanos o hemisfério cerebral esquerdo funciona na produção do discurso, bem como do pensamento linear e analítico e também avalia as unidades temporais processando as informações seqüencialmente. Em contraste, a especialização do hemisfério direito dá conta da percepção espacial e sonora do reconhecimento de padrões (modelos) – inclusive os constitutivos das emoções e outros estados íntimos – do pensamento holístico e sintético, mas sua capacidade lingüística é limitada e sua capacidade temporal, acredita-se, seja ausente. Os atos específicos são processados complementarmente pelas funções dos dois hemisférios”

Turner, da mesma maneira que d'Aquili e Laughlin, julga que os dois hemisférios agem conjuntamente para encontrar a solução de problemas através de “um mecanismo de mútua inibição controlado a nível de tronco cerebral. O mundo é aproximado por uma rápida alternação funcional de cada hemisfério. Um é, por assim dizer, ligado e desligado e, então, o segundo é ligado e desligado. O ritmo deste processo e o predomínio de um lado ou de outro pode ser a explicação para os diversos estilos cognitivos (pode-se pensar no contraste de Pascal entre o “ l'esprit de gometrie et l'esprit de finesse”) desde o extremamente analítico e científico até o extremamente artístico e sintético”.

Detalhemos um pouco mais as funções específicas de cada um deles:

O hemisfério esquerdo é usualmente associado à capacidade linguística e analítica. Como a linguagem é o que mais distingue o homem de outros animais, este hemisfério esquerdo é tido – especialmente no Ocidente – como o mais importante. Eis algumas de suas características: é verbal, temporal, racional, digital, numérico, lógico, causal. Seu desenvolvimento seria favorecido pela cultura e pela escola ocidentais. E por suas religiões (o judaísmo, o cristianismo e o islamismo).

O hemisfério direito usa símbolos mais que palavras, é sintético, intuitivo, analógico, não temporal, não racional, espacial, holístico. Povos de raças e culturas orientais o teriam desenvolvido melhor. Suas religiões (Hinduísmo, Budismo, Xintoísmo, Taoismo) acusariam os mesmos traços.

Ornstein (1986) defende que o lado esquerdo é esquemático e rígido; volta-se para a eficiência objetiva. O hemisfério direito, ao contrário, é o que responde pela criatividade, possibilitando uma qualidade de vida mais equilibrada e mais consciente. Jaynes (1990), detentor do Nobel, diz que o surgimento da consciência humana é devido ao fim do que ele chama de “mente bicameral”. Segundo ele a fisiologia e o funcionamento dos dois hemisférios eram desarticulados um dos outros. Não haveria no passado remoto da humanidade uma conexão sistemática entre os dois lados. Haveria um predomínio da câmara direita. Devido a tal predomínio a racionalidade e a lógica não eram a marca característica do conhecimento e das reações do sistema nervoso central daqueles seres humanos. Jaynes levanta a hipótese de que, então, as percepções e reações do organismo humano, especialmente em momentos de stress, eram regidas pela audição de “vozes, palavras, idéias”, identificadas com as de deuses ou de forças mais ou menos mágicas da natureza. Com o passar dos milênios e o advento das civilizações teria se firmado um estilo de consciência mais objetivo e realista, decorrente de redes e conexões neurais do lado direito do cérebro e do corpo caloso. Isto foi tornando possível uma harmonia maior entre as duas partes do cérebro humano, modificando-se o estilo fantasioso, não-racional e intuitivo do “conhecer” e do “pensar” determinado pelo hemisfério direito. A civilização pôde dar um salto qualitativo, associando organização racional e criatividade. Isto não significa, segundo Jaynes e também Turner, que as reações e comportamentos se tenham tornado inteiramente articulados, processuais, linguísticos, sintéticos e racionais. O lado direito continua existindo e exercendo influência sobre a percepção e as reações neurológicas de base. Ele continua influindo na percepção da realidade que permanece visual-espacial, cinestésica, difusa.

Os êxtases religiosos, por exemplo, que hoje são observados também em milhões de cristãos ocidentais, são uma espécie de “retorno” a essa mente bi-cameral não articulada. Hoje tornou-se patente que as expressões religiosas ditadas pelo lado esquerdo, ao contrário das previsões da sociologia, não desapareceram com o advento das sociedades industrializadas. Ao contrário, em cidades como São Paulo e exatamente nas classes sociais que haviam apostado tudo nas possibilidades do hemisfério direito há uma marcante efervescência místico-religiosa. Claro que fenômenos como o da expansão dos esoterismos em cidades como São Paulo, constatados por G. Magnani 34, não se explicam desde a neurofisiologia, mas esse fator não deixa de ter sua importância na compreensão global das transformações porque passa a religiosidade do brasileiro neste momento.

O corpo caloso, denso feixe de nervos e fibras, situado entre os dois hemisférios, é responsável pela transmissão de informações entre eles. Ele leva aproximadamente dez anos para amadurecer, o que significa que uma criança pequena não apresenta ainda um funcionamento sintônico e fluido entre as duas partes. Ele tem conexão, também, com a memória. Sua lenta maturação nos indivíduos da espécie humana é uma das razões porque não temos lembrança dos dois ou três primeiros anos de vida, embora emocionalmente eles já possam deixar vestígios 35.

O lóbulo frontal precisa ser mencionado de maneira especial. Ele é, digamos assim, a “sede” da imaginação, concatenação elaboração do raciocínio e da decisão. Sua maturação principal se realiza lentamente, dos 3 ou 4 anos de idade até os 7 ou 8 anos de idade. Entra também em decadência mais cedo que outras partes do cérebro. Sem o fronte cortical não poderia existir a maravilhosa sinfonia dotada de significado racional, volitivo e afetivo (a consciência, a mente), tornada possível mediante uma síntese de todas as demais partes, sistemas, mecanismos, conexões e órgãos do sistema nervoso central.

 
 


22 Cf Damásio, A., 1995 e 1999.
23 Para citar um exemplo brasileiro, menciono as pesquisas de Espere A . Cavallheiro, do laboratório de Neurologia Experimental da Unifesp de São Paulo. Ele estudos a fundo porque dois cérebros com lesões iguais desenvolvem enfermidades disrtintas (por exemplo, em um a disfunção neuronal gera a epilepsia, em outro provoca um derrame, dois quadros nosológicos que nada têm em comum. Para uma informação sumária, cf. Arantes, Tadeu, Memória seletiva, em Pesquisa -PAPESP, Suplemento especial-Infraestrutura 3, , 2001, No. 66, p. 32-35.
24 O que acontece de fato, como o MRI o demonstra, é que a maioria das pessoas, de língua inglesa ou não, contam normalmente só quatro letras “F”, (deixando de contar os “F” das preposições “of”). A razão é a seguinte: o cérebro processa palavras curtas que nos são familiares como se fossem um símbolo, isto é, não as divide em unidades menores, como aprende a fazer com palavras mais longas ou pouco familiares (caso mais freqüente quando se trata de outra língua). Os dois tipos de palavra (as curtas com “of” e as de tamanho normal) são processados em áreas diferentes do cérebro ainda pouco conhecidas. As novas tecnologias estão permitindo “ver” diretamente isto na tela.
25
26 Cf CARTER, Rita, 1999. Várias das observações deste parágrafo são tiradas deste livro, escrito por uma jornalista especializada.
27 Nesta hipótese os doutorandos de amanhã se alvoroçarão ante a possibilidade de poderem conceber e redigir suas dissertações com a ajuda de laboratório de neurociências.
28 Observe-se que vanguardas controvertidas da especulação trans-psicológica pensam que este gênio já chegou na pessoa de Ken Wilber (nascido em 1954), batizado por alguns deles de ” o Einstein do conhecimento”. Cf. VALLE,, Edênio, 1998, 226.
29 CRICK, Francis, 1994.
30 Damásio fala aqui de um “saber” que não é o do animal. Trata-se de um saber noético e axiológico. É uma “scientia” e é uma “com-scientia”.
31 CONCAR, David, 2000, 14.
32 J.P. Henry e P.M. Stephens ajuntaram a estes três um quarto cérebro. De fato, segundo eles, o quarto cérebro seria representado pelo hemisfério cerebral dominante (o esquerdo) que filogeneticamente seria o mais recente e apanágio exclusivo da espécie humana. Apud Turner, 2000, p. 4.
33 Cf Ledoux, Joseph, 1998. Este autor faz uma excelente descrição de todo este processo deixando bem delineado o que é novo na visão das relações entre o tálamo e a amígdala, de um lado, e o neocórtex, do outro.
34 MAGNANI, José G., 1996. Cf também VALLE, Edênio, 1998, p. 201 – 228.
35 A repressão, mecanismo de defesa do ego, postulado pela psicanálise, à essa luz, carece de uma revisão e complementação sérias.
 

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