O Erro e o ego

Capítulo 3 – A PERCEPÇÃO INOCENTE

IV. O erro e o ego

1. As capacidades que possuis agora são apenas sombras da tua força real. Todas as tuas funções atuais estão divididas e abertas ao questionamento e à dúvida. Isto é assim porque não tens a certeza quanto ao modo como as vais usar e és, portanto, incapaz de conhecimento. Também és incapaz de conhecimento porque ainda podes perceber sem amor. A percepção não existia até que a separação introduziu graus, aspectos e intervalos. O espírito não tem níveis e qualquer conflito surge da confusão de níveis. Só os Níveis da Trindade são capazes de Unidade. Os níveis criados pela separação não podem senão entrar em conflito. Isto é assim porque são sem significado uns para os outros.

2. A consciência, o nível da percepção, foi a primeira divisão introduzida na mente depois da separação, fazendo com que a mente seja um percebedor em vez de um criador. A consciência é corretamente identificada como o domínio do ego. O ego é uma tentativa da mentalidade errada para perceberes-te a ti mesmo como desejas em vez de como és. No entanto, só podes conhecer-te a ti mesmo como és, pois essa é a única coisa quanto à qual podes ter a certeza. Tudo o mais está aberto ao questionamento.

3. O ego é o aspecto questionador do ser pós-separação, o qual foi feito em vez de criado. É capaz de fazer perguntas, mas não de perceber respostas significativas porque estas envolveriam conhecimento e, portanto, não podem ser percebidas. A mente está, portanto, confusa, pois só a mentalidade una pode ser sem confusão. A mente separada ou dividida não pode deixar de ser confusa. É necessariamente incerta em relação ao que é. Tem de estar em conflito, pois não está de acordo consigo mesma. Isto faz com que os seus aspectos sejam estranhos um para o outro e esta é a essência da condição que induz ao medo, no qual o ataque é sempre possível. Tens toda a razão para sentir medo percebendo-te a ti mesmo como percebes. É por essa razão que não podes escapar do medo enquanto não reconheceres que não te criaste a ti mesmo, nem poderias tê-lo feito. Tu jamais podes fazer com que as tuas percepções erradas sejam verdadeiras, e a tua criação está além do teu próprio erro. É por esta razão que, eventualmente, tens de escolher curar a separação.

4. A mentalidade certa não deve ser confundida com a mente que conhece, porque só é aplicável à percepção certa. Tu podes ter a tua mente disposta para o que é certo ou errado e até mesmo isso está sujeito a graus, demonstrando claramente que o conhecimento não está envolvido. O termo «mentalidade certa» é usado de forma adequada como a correção para a «mentalidade errada» e aplica-se ao estado mental que induz a percepção acurada. É a mente que se volta para o milagre porque cura a percepção errada e isso é de fato um milagre, considerando o modo como te percebes a ti mesmo.

5. A percepção envolve sempre um certo uso errado da mente, porque traz a mente para áreas de incerteza. A mente é muito activa. Quando escolhe estar separada, escolhe perceber. Até então só tem vontade de conhecer. Depois disso só pode escolher ambiguamente e a única saída para a ambigüidade é a percepção clara. A mente só regressa à sua própria função quando tem vontade de conhecer. Isto coloca-a ao serviço do espírito, onde a percepção é mudada. A mente escolhe dividir-se quando escolhe fazer os seus próprios níveis. Mas a mente não poderia separar-se inteiramente do espírito porque é do espírito que deriva a totalidade do seu poder de fazer ou criar. Mesmo na criação errada a mente está a afirmar a sua Fonte ou, simplesmente, deixaria de ser. Isto é impossível porque a mente pertence ao espírito que Deus criou e é, portanto, eterna.

6. A capacidade de perceber fez com que o corpo fosse possível, porque tens de perceber alguma coisa e com alguma coisa. É por essa razão que a percepção envolve uma mudança ou tradução que o conhecimento não necessita. A função interpretativa da percepção – uma forma distorcida de criação – permite-te, então, interpretar o corpo como sendo tu mesmo, numa tentativa de escapar ao conflito que induziste. O espírito – que conhece – não poderia ser reconciliado com essa perda de poder porque é incapaz de escuridão. Isto faz com que o espírito seja quase inacessível à mente e inteiramente inacessível ao corpo. Daí em diante, o espírito é percebido como uma ameaça, porque a luz elimina a escuridão, simplesmente, mostrando-te que não existe. A verdade sempre vencerá o erro deste modo. Isto não pode ser um processo ativo de correção porque, como já enfatizei, o conhecimento não faz nada. Pode ser percebido como um atacante, mas não pode atacar. O que tu percebes como ataque é o teu próprio vago reconhecimento de que o conhecimento sempre pode ser lembrado porque nunca foi destruído.

7. Deus e as Suas criações permanecem em segurança e, portanto, têm o conhecimento de que não existe nenhuma criação errada. A verdade não pode lidar com os erros que tu queres. Eu fui um homem que se lembrou do espírito e do conhecimento do espírito. Enquanto homem, não tentei compensar o erro com conhecimento, mas corrigir o erro de baixo para cima. Demonstrei tanto a ausência de poder do corpo, como o poder da mente. Unindo a minha vontade com a do meu Criador, naturalmente lembrei-me do espírito e do seu propósito real. Não posso unir a tua vontade à de Deus por ti, mas posso apagar todas as percepções erradas da tua mente, se as trouxeres à minha orientação. Somente as tuas percepções erradas impedem o teu caminho. Sem elas, escolhes sempre acertadamente. A percepção sã induz à escolha sã. Não posso escolher por ti, mas posso ajudar-te a fazer a tua própria escolha certa. «Muitos são chamados mas poucos são escolhidos» deveria ser «Todos são chamados, mas poucos escolhem escutar». Por conseguinte, não escolhem certo. Os «escolhidos», simplesmente, são aqueles que escolhem certo mais cedo. Mentes certas podem fazer isto agora e encontrarão descanso para as suas almas. Deus só te conhece em paz e essa é a tua realidade.

 

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