Escrito pelo Dr. Marcus Zulian Teixeira
Introdução
Não pensem aqueles que são a priori, pré-conceituosamente, e em um exercício de pré-julgamento, próprios da Cultura de Massa, que não estejamos a par da Epistemologia Científica. Além de conhecermos muito bem os nossos críticos sistemáticos, sabemos quais são seus eternos argumentos flatus voces (vozes aos ventos). Insisto em trazer a Homeopatia à baila por ser ela sempre um agente da saúde integral: física e psíquica. Tanto em Psicologia como em Homeopatia somos vítimas de ser taxados de agentes do efeito placebo. Maravilha se assim o fosse. Mas não o é. Meu interesse particular pela Hopmeopatia começou com meus estudos em Física Quântica. E continuo nesse caminho.
Freqüentemente, a classe homeopática tem sido surpreendida por críticas ao seu modelo terapêutico, na maioria das vezes por indivíduos que desconhecem os preceitos básicos da Homeopatia. O jargão mais utilizado por estas pessoas é que a Homeopatia “não apresenta comprovação científica” dentro do modelo epistemológico atual.
Com as resoluções do Conselho Federal de Medicina (n° 1.499 e n° 1.500), que proíbem aos médicos a utilização de “práticas alternativas”, urge diferenciarmos a Homeopatia, como especialidade médica, destes outros métodos e evidenciarmos o caráter científico do tratamento homeopático.
Lembremos que os pilares fundamentais da Homeopatia são: o princípio da semelhança e a experimentação no indivíduo humano e sadio. Aqui, concentro minha pesquisa no estudo da Lei dos Semelhantes – que ao ser confirmada pela metodologia científica atual aproxima a Homeopatia à episteme moderna.
Importa salientarmos que o modelo homeopático é fundamentalmente experimental, fruto da observação cuidadosa do efeito das drogas no organismo humano. Apoiado nestas evidências, Samuel Hahnemann desenvolveu o tratamento pela similitude. Nos parágrafos 63 e 64 de sua obra máxima, Organon da Arte de Curar, Hahnemann estipula o mecanismo de ação das drogas, sistematizando-o: “toda droga causa certa alteração no estado de saúde humano pela sua ação primária; a esta ação primária do medicamento o organismo opõe sua força de conservação chamada ação secundária ou reação, no sentido de neutralizar o distúrbio inicial”.
Observando que esta “ação secundária” poderia ser empregada como reação curativa, desde que direcionada no sentido correto, Hahnemann propôs um modelo terapêutico. A este seriam utilizados medicamentos que produzissem, em sua ação primária no organismo, sintomas semelhantes à doença natural, visando despertar uma reação orgânica para anular esta doença artificial e, conseqüentemente à semelhança de sintomas com a doença original, neutralizar também esta última. Daí surgiu o princípio terapêutico pela similitude: “todo medicamento capaz de despertar determinados sintomas no indivíduo sadio é capaz de curar estes mesmos sintomas no indivíduo doente”.
Assim fundamentado, Hahnemann passou a experimentar uma série de substâncias em indivíduos considerados “sadios”, anotando todos os sintomas (primários) que neles surgissem, confeccionando com isto a Matéria Médica Homeopática. À medida que defrontava pacientes com sintomas semelhantes às drogas experimentadas, aplicava-as a estes enfermos, visando despertar a reação secundária e curativa do organismo, obtendo, assim, a cura dos mesmos.
Desse modo, a aplicação do princípio terapêutico homeopático implica no estimular uma reação homeostática e curativa, direcionada pela ação primária da droga que causou no experimentador “sadio” sintomas muito semelhantes aos sintomas da doença original.
Realizando a ponte com o cientificismo atual, utilizando-nos da Farmacologia Moderna, encontramos uma infinidade de relatos, tanto em compêndios farmacológicos como em publicações científicas, que descrevem uma reação secundária do organismo a um estímulo primário da droga, confirmando o citado por Hahnemann. Esta ação secundária do organismo, no sentido de manter a homeostase (equilíbrio) orgânica, é denominada de efeito rebote ou reação paradoxal, segundo a racionalidade científica atual.
Ilustrando o acima exposto, drogas utilizadas classicamente para o tratamento da angina de peito, promovendo, inicialmente, melhora da dor como efeito primário, despertam, como ação secundária ou efeito rebote, após a suspensão da medicação ou tratamento irregular, exacerbação da dor torácica tanto na freqüência como na intensidade, em alguns casos não respondendo a qualquer terapêutica.
Drogas utilizadas no controle da hipertensão arterial podem provocar uma hipertensão arterial de rebote, como reação secundária ao estímulo primário. Agentes cardiotônicos empregados no tratamento da insuficiência cardíaca promoveram, após a interrupção da administração, rebote hemodinâmico, com riscos de desencadear severos problemas cardíacos. Fármacos empregados para diminuir o colesterol despertaram um aumento rebote e significante do colesterol sangüíneo.
No emprego de drogas psiquiátricas (ansiolíticas, sedantes ou hipnóticas, antidepressivas, antipsicóticas etc.) observou-se uma reação do organismo para manter a homeostase orgânica, promovendo sintomas opostos aos esperados em sua utilização terapêutica primária. Medicamentos neurológicos, utilizados em sua ação primária para evitar convulsões, movimentos discinéticos ou contrações musculares, apresentam como reação secundária ou efeito rebote, após a suspensão da medicação, exacerbação destes mesmos sintomas. Drogas antiinflamatórias, utilizadas primariamente para suprimir a inflamação, desencadeiam respostas secundárias no organismo aumentando a concentração sangüínea dos mediadores da inflamação.
Drogas anticoagulantes, empregadas por seu efeito primário na profilaxia da trombose sangüínea, promovem complicações trombóticas como efeito secundário ou rebote. Diuréticos, utilizados primariamente para diminuir a volemia (edema, hipertensão arterial, ICC etc.), causam, como efeito rebote, aumento da retenção de sódio e potássio, com conseqüente aumento da volemia. Medicamentos empregados para a dispepsia (gastrites, úlceras gastroduodenais), como antiácidos e antagonistas do receptor H2, promovem, após o efeito primário de diminuição da acidez, aumento rebote ácido e piora das úlceras gastroduodenais. Fármacos empregados na asma brônquica, como os broncodilatadores e corticosteróides inalatórios, desencadeiam piora da broncoconstrição, como resposta secundária do organismo à suspensão ou descontinuidade do tratamento.
Trazendo algumas das muitas evidências encontradas no cientificismo moderno sobre os principais fundamentos da Homeopatia, completo o relato com o emprego de drogas convencionais segundo o método homeopático. Utilizando-se da reação secundária do organismo como forma de tratamento (princípio homeopático), administrou-se um contraceptivo bifásico (anovulatório) para pacientes que apresentavam esterilidade funcional, incapazes de ovular e engravidar.
Após a suspensão da droga, observou-se a ovulação em aproximadamente 25% das pacientes e, destas, 10% engravidaram. Outras drogas modernas poderiam ser utilizadas segundo o método homeopático de tratamento, desde que provocassem no indivíduo “sadio” os mesmos sintomas que se deseja tratar no indivíduo doente, apesar do emprego de uma “similitude parcial”, diferente da similitude totalizante e individualizadora empregada pela Homeopatia.
Neste breve relato citei algumas evidências da racionalidade científica moderna, que acredito, sirvam de base para estudos homeopáticos futuros dentro do meio acadêmico e científico, visando nos aproximarmos e efetivamente contribuirmos para o desenvolvimento da Clínica.