Medicina do futuro inclui o poder de cura da oração

Publicado no Planeta Jota

Quais os limites da medicina científica? Por que as terapias alternativas ameaçam invadir o campo de trabalho da medicina convencional?  Qual é o novo conceito de tratamento integral? Qual o papel das crenças e das orações nas curas médicas? Que interesses conspiram contra a medicina moderna? Por que os médicos vivem tão mal? 

Estas e outras questões da medicina do presente e do futuro são respondidas neste depoimento inédito do neurocirurgião fluminense Francisco Di Biase a Jomar Morais. A conversa foi realizada durante a produção da reportagem de capa da revista Super sobre a crise da medicina, assinada por JM, mas só agora é divulgada na íntegra. 

Di Biase é autor do livro O Homem Holístico- a unidade mente-natureza e co-autor do livro Science and the Primacy of Consciousness- Intimation of a 21st Century Revolution, em parceria com Stanislav Grof, o pai da Psicologia Transpessoal, Karl Pribram, criador da teoria holonômica do funcionamento cerebral, Rupert Sheldrake, criador da teoria dos campos morfogenéticos, e os físicos quânticos Henry Stapp, Fred A. Wolf, Amit Goswami e Richard Amoroso. 

“A crise da Medicina atual faz parte de uma crise mais abrangente do próprio processo civilizatório ocidental, que tem suas raízes em um terrível erro de percepção ocorrido há cerca de 400 anos. A partir do Renascimento, em uma tentativa de substituir a visão de mundo e os métodos utilizados pela Igreja Cristã na busca da verdade – que na época queimava nas fogueiras da Inquisição homens e principalmente mulheres que ousavam desafiar a concepção de mundo vigente, o paradigma aristotélico-tomista – , as cabeças pensantes da época começaram a investigar o mundo e as estrelas com uma metodologia que viria a ser conhecida como método científico. Esta nova maneira de olhar o universo resultou de contribuições de homens como Copérnico, Galileu, Kepler Descartes e Sir Isaac Newton que investigaram e sistematizaram o conhecimento desses séculos. Sua abordagem reflete o que hoje conhecemos como paradigma cartesiano-newtoniano, que é um modelo dualista (porque separa corpo/mente, e homem/universo), reducionista (porque reduz o funcionamento do universo e do homem às interações atômico-moleculares), e mecanicista (porque concebe o universo como um imenso e complexo mecanismo de relógio regido pelas leis da física clássica newtoniana).

A ciência tal como é praticada hoje , dessa forma dualista, reducionista e mecanicista não tem como lidar com experiências vivenciais , nem com valores, ética , ou tudo que se refira à qualidade. Galileu chegou mesmo a afirmar que somente os fenômenos quantificáveis deveriam ser admitidos no domínio da ciência. Ele disse “aquilo que não pode ser medido e quantificado não é científico” ,e em nossa ciência pós-galilaica isso passou a significar “o que não pode ser quantificado não é real”. Como afirmou Laing, 'este foi o mais profundo corrompimento da concepção grega da natureza como physis, que é algo vivo, sempre em transformação e não divorciado de nós'. Esse corrompimento do programa de Galileu foi incorporado pelo paradigma cartesiano-newtoniano de nossa época, relegando para fora do método científico a sensibilidade, a estética, os valores, a qualidade, a alma, a consciência, o espírito, ou seja a experiência humana. Acrescido do famoso erro de Descartes que separou o corpo da mente e isolou o homem do universo, e somado ao sucesso da física mecanicista newtoniana, isso gerou uma grave esquizofrenia cultural, confundindo a imagem do universo criada pela ciência com a realidade em si, quando na verdade ela é somente um conjunto de observações que nos permitem mostrar um quadro aproximado da realidade.

O LIMITE DA CIÊNCIA X O UNIVERSO ILIMITADO

A ciência é somente uma pequenina janela através da qual olhamos a vastidão do universo sempre de uma perspectiva limitada e incompleta . Vida e consciência são os modos que o universo desenvolveu para olhar a si mesmo.Somos o próprio universo que se olha através de nossos olhos. A ciência é apenas um dos olhos possíveis nesta imensa busca de significado. Intuição, meditação, estados alterados de consciência, emoções, sentimentos, são outras maneiras de olhar o universo, tão ou mais importantes até do que a ciência.

Atualmente com as contribuições da Física Quântica de David Bohm, da Teoria Holográfica de Denis Gabor e suas aplicações às Neurociências desenvolvidas por Karl Pribram, da Psicologia Transpessoal de Stanislav Grof, da Teoria Auto-Organizadora dos Estados Dissipativos de Illya Prigogine, e da Teoria dos Campos Mórficos do biólogo Rupert Sheldrake, estamos retornado a uma visão científica mais abrangente, orgânica e holística do universo, demonstrando com as próprias ferramentas da ciência cartesiana-newtoniana que somos parte de algo muito mais vasto do que nossas mentes individuais. Os dados científicos atuais permitem afirmar que somos parte de uma Consciência Holográfica Universal que permeia todo o universo e se confunde com sua própria estrutura, a qual podemos acessar por meio dos estados alterados de consciência, como o faz Grof em sua psicoterapia transpessoal holotrópica. Estas abordagens científicas vieram ao encontro aos pensamentos e conhecimentos descritos pelas mais antigas filosofias e tradições espirituais da humanidade, continuando a senda aberta por Capra e outros, em livros como O Tao da Física. É uma cosmovisão que permite englobarmos o homem e o universo em uma concepção holística e ecológica mais abrangente que une a ciência moderna às tradições espirituais, às filosofias,à mitologia e às artes, e que desde a famosa Declaração de Veneza da UNESCO, de 1986, vem sendo conhecida como Paradigma Holístico. 

No entanto, nada disso existe nos currículos acadêmicos das universidades que estão cristalizadas no antigo modêlo cartesiano-newtoniano. Essa reviravolta paradigmática vem abalando os alicerces da moderna medicina que apesar de muitas vezes utilizar uma tecnologia baseada em ciências de ponta como a física quântica e a holografia, ainda se encontra imersa nas concepções biopsicosociais do antigo paradigma cartesiano-newtoniano. Na verdade, o que observamos é um jogo de poder, em que tem mais autoridade quem pertencer a alguma instituição acadêmica ou sociedade oficial, ou seja é a valorização do membership, em detrimento daquilo que é a essência do método científico que é o estar aberto para toda e qualquer hipótese e investigá-la por meio da ciência. 

O PAPEL DA MENTE X VISÃO PRECONCEITUOSA

O que hoje observamos é a negação, baseada em preconceitos, de qualquer idéia ou prática que provenha do conhecimento transmitido pelas antigas civilizações, como por exemplo, a medicina ayurvédica da Índia, ou a medicina chinesa que desenvolveram sistemas médico-psicológicos, em muitos aspectos, hoje o sabemos, mais profundos e corretos do que nossos modelos cartesianos ocidentais. Por exemplo, comparada à moderna Psicologia Transpessoal, que utiliza estados expandidos de consciência desvelando toda a cartografia e os estratos mais profundos da mente humana, a Psicanálise freudiana com seu restrito modelo autobiográfico de inconsciente baseado no paradigma cartesiano-newtoniano, nem arranha as profundezas do inconsciente humano.

Até há pouco tempo não só a acupuntura, cuja eficácia está exaustivamente comprovada no ocidente e no oriente, mas até mesmo a homeopatia que tem origem ocidental, eram consideradas charlatanismo. A meditação que vem sendo estudada exaustivamente desde a década de 70, quando o Dr. Herbert Benson, em Harvard, demonstrou sua eficácia, monitorando o eletroencefalograma, o eletrocardiograma, a bioquímica do sangue e a resistência elétrica da pele, de meditantes, já originou milhares de trabalhos publicados nas mais renomadas revistas científicas ocidentais (os interessados podem consultar a bibliografia de meu livro Caminhos da Cura). A eficácia da meditação é tão levada a sério nos Estados Unidos, que a Sociedade de Cardiologia Americana recomenda o ensino da resposta de relaxamento (nome científico da meditação) no tratamento da hipertensão arterial. Pois, pasmem, no Brasil o Conselho Federal de Psicologia proibiu o uso da meditação como forma de terapia pelos psicólogos!

Como afirma o Dr Carl Simonton, oncologista e radioterapeuta americano que trabalha com pacientes portadores de câncer, e utiliza além das técnicas acadêmicas, psicotecnologias como a meditação e a visualização voltadas para a cura: “Continuar a ignorar o papel da mente e das emoções na recuperação – apesar das provas médicas que já existem – é uma forma de charlatanismo, pois estaremos ignorando técnicas que já deram as suas provas. A questão atual não é a de saber se a mente influencia (juntamente com as emoções) o resultado final do tratamento; agora o importante é saber como direcioná-las para que influenciem o resultado do tratamento, de uma maneira mais eficiente”.

PRÁTICA MÉDICA X INTERESSES ECONÔMICOS

Um outro ponto importante a ser abordado é o da influência exercida pelas empresas multinacionais farmacêuticas no direcionamento das pesquisas médicas e no desenvolvimento e mercantilização de medicamentos. Todo tipo de conhecimento ou pesquisa que não seja do interesse destas empresas, até há muito pouco tempo era tratado como irrelevante e colocado de lado, não sendo divulgado nas escolas de medicina e nas instituições médicas. Isto só começou a mudar, há muito pouco tempo, desde há cinco ou seis anos, quando foi criado no Instituto de Saúde dos Estados Unidos (National Institutes of Health), o Office of Alternative Medicine, para financiar pesquisas nas áreas alternativas. Este escritório foi recentemente transformado em Centro autônomo com verbas próprias distribuídas para dezenas de hospitais e instituições científicas, com o objetivo de demonstrar por meio do método científico quais os
metodos alternativos realmente eficazes. Hoje já se sabe por exemplo que oração, meditação, visualização, acupuntura, medicina ayurvédica, medicina homeopática, yoga, tai chi chuan, e muitos outros métodos são altamente eficazes em inúmeras doenças, nas quais a medicina alopática ocidental só consegue tratar os sintomas.

A MEDICINA DO FUTURO:  ALOPATIA E TERAPIAS ALTERNATIVAS

É importante colocar aqui que a medicina acadêmica e a medicina alternativa não devem ser vistas como antagônicas, mas como complementares. Se você estiver doente necessitando de tratar por exemplo uma apendicite aguda , ou uma pneumonia grave ou uma meningite, que necessitam de uma terapia rápida e eficaz por meio de antibióticos, ou se você sofreu um traumatismo grave que necessite de investigação por meio de imagens, e de cirurgia, recorra a um médico alopata, pois nestas áreas nossa medicina tecnológica moderna apesar de cara, é insubstituível e a que melhor resolve a situação. Eu não conseguiria mais trabalhar como neurocirurgião se não tivesse o meu serviço de tomografia computadorizada ao alcance da mão, permitindo um diagnóstico rápido e preciso de patologias como por exemplo um traumatismo cranio-encefálico. Neste momento que escrevo estas palavras aqui em minha clínica, acabo de receber um telefonema da Santa Casa, informando que foi admitida no hospital uma criança atropelada em estado de coma. Antes de sair correndo para atendê-la, já pedi ao plantonista da emergência que solicitasse uma tomografia computadorizada de crânio de urgência que me permitirá saber se o paciente é cirúrgico ou não, e me auxiliará na conduta, e na indicação da necessidade de tratamento intensivo (CTI).

Se você sofrer uma obstrução coronariana aguda, e necessitar de um diagnóstico e tratamento, rápido e preciso, isso só poderá ser feito com a moderna tecnologia de imagem por meio de uma cinecoronariografia (cateterismo). E se necessário, durante o exame poderá ser realizada uma angioplastia (colocação de stent- uma pequenina mola que abre a luz do vaso-para desobstrução da artéria comprometida, o que permite uma pronta recuperação. É uma tecnologia cara mas altamente eficaz, e para quem está sendo salvo o importante é a cura. Por outro lado, se você, por exemplo, tem um filho que sofre de bronquite asmática há anos e não consegue um tratamento eficaz, procure um homeopata ou um acupunturista que poderão curá-lo, enquanto o alopata só continuará tratando os sintomas.

Este é um dos pontos críticos da crise da medicina acadêmica atual, pois devido ao acesso fácil aos meios de informação que divulgam a todo momento tratamentos alternativos, muitos pacientes, preferem deixar de lado a medicina alopática e tentar formas mais “suaves “de terapia, acreditando que a medicina acadêmica e a alternativa são antagônicas. Na verdade elas se complementam, e até mesmo muitos médicos sejam eles alopatas ou homeopatas ou alternativos têm essa visão incorreta de antagonismo. Não devemos esquecer, que nossa medicina tecnológica, apesar do preço elevado, é extremamente rápida e eficaz quando indicada corretamente.

TRATAMENTO INTEGRAL: TECNOLOGIA, REMÉDIOS, ORAÇÃO…

A verdadeira medicina holística do futuro nascerá da interfecundação da nossa medicina cientifica acadêmica com a medicina alternativa a qual, devido a iniciativas como a do Instituto de Saude Americano que está investigando sua eficácia , com o passar do tempo, se tornará tambem acadêmica. Isto permitirá que no futuro os médicos tenham à sua disposição um arsenal de possibilidades terapêuticas muito mais amplo para tratar seus pacientes.

Em minha Clínica já trabalho com profissionais de diversas áreas alternativas comprovadamente eficazes há mais de 10 anos, utilizando a meditação, a visualização, a oração, a acupuntura, e o tai chi chuan o qual eu mesmo pratico há mais de 11 anos. A meditação e a oração, são em minha experiência altamente eficazes em pacientes portadores de doenças psicossomáticas, hipertensão arterial, na normalização do peso, em pacientes precocemente envelhecidos pelo estresse, em pacientes que necessitem melhorar a eficiência cardiovascular, na melhoria do desempenho atlético, na melhora do desempenho acadêmico, no tratamento da depressão, da ansiedade e da síndrome do pânico, como coadjuvantes no tratamento da epilepsia, no pré e pós-operatório de meus pacientes neurocirúrgicos e como coadjuvantes no tratamento dos pacientes internados com doenças neurológicas como derrames, isquemias, tromboses, polineuropatias, etc.

A CRISE EXISTENCIAL DOS MÉDICOS

Quanto ao elevado índice de alcoolismo e mortalidade precoce entre os médicos, esta situação é exatamente o reflexo de uma experiência vivencial altamente contraditória e limitada, baseada em concepções e condutas fragmentadoras , mecanicistas e cartesianas (dualistas) que afastam o médico da compaixão, da verdadeira cura e da espiritualidade, o impedindo de vivenciar a vida de forma plena e a morte como parte natural da vida. 

A morte na Medicina ocidental foi sempre encarada como algo ruim, e a maioria dos médicos inconscientemente se afasta de seus pacientes terminais não participando desta importantíssima fase de transição da vida deles , como afirma a Dra Elizabeth Kubler-Ross. Em suas áridas e frias concepções acadêmicas cartesianas, a morte é o final de tudo, a derrota de uma luta que com o tempo, para muitos vai perdendo o sentido, sendo substituída pela busca dos prazeres materiais da vida. No entanto, esta situação é também extremamente inquietante, pois não têm nada para colocar em seus corações como referência para compreender o seu lugar no universo, e aí o alcoolismo surge muitas vezes como uma solução para aliviar o desespero e o niilismo sem sentido, no qual foi mergulhado pela sua formação e nunca teve coragem de contestar. O envelhecimento precoce e a morte prematura acabam sendo a conseqüência de uma vida altamente estressante na qual nunca ninguém lhe ensinou o caminho da paz interior, da meditação, da oração e de uma ética de celebração da felicidade, da vida e do cosmos.”

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