A Igreja procura, hoje, passar a imagem de que está com a ciência, o que é uma meia-verdade. Caducou o argumento de que algumas doutrinas suas são mistérios de Deus, quando são dos teólogos. Dar valor sagrado a uma coisa, sem que ela o tenha, é o que se chama superstição. E será que a Igreja é totalmente isenta de superstições?
Há dois mundos naturais, o físico e o espiritual. Como espíritos encarnados, somos do mundo físico; se desencarnados, somos do mundo espiritual. Mas, quando ocorre um fenômeno espiritual ou mediúnico, muitos religiosos, por superstição, sempre têm ensinado que se trata de um fenômeno sobrenatural, quando ele é natural, sendo apenas o espírito participante do mundo espiritual.
A religião que mais cura as doenças declaradas incuráveis pela medicina é o espiritismo. Mas ele jamais as considera milagres ou curas sobrenaturais. Na Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), na cidade de São Paulo, por onde passam cerca de 10 mil pessoas, diariamente, houve, em 2006, 60 mil curas, muitas das quais extraordinárias, mas naturais e não sobrenaturais. Considerar uma cura por um espírito humano como divina ou sobrenatural, só porque ele é desencarnado, é superstição. Os líderes religiosos tradicionais ensinam que os milagres de Jesus são sobrenaturais (divinos), quando Ele disse que nós podemos fazer tudo o que Ele fez e até mais, ainda, o que prova que são mesmo naturais.
E os fenômenos de efeito físico, de hóstias que sangram, como em Lanciano, na Itália, são paranormais ou mediúnicos, de transmutação da matéria. Envolvem o padre, um ou mais fiéis e um ou mais espíritos da corrente católica. No espiritismo, que é uma ciência e a religião que mais experiência científica tem nessa área, são de variados tipos e conhecidos aos milhares. Todos são extraordinários, mas também naturais e não sobrenaturais. E hóstias que sangram não comprovam que as outras hóstias consagradas sejam carne e sangue, do mesmo modo que quem levita não comprova que não existe a lei da gravidade.
Eles têm acontecido em várias partes do mundo. No Brasil, ocorreram com o médium padre Cícero, de Juazeiro do Norte, Ceará. E, no Vaticano, até mesmo com o papa João Paulo II aconteceu um caso desses, quando dava comunhão a uma coreana em 1995, que já havia tido essa experiência em seu país. A Igreja manteve-se em silêncio a respeito do assunto, pois tem suas dúvidas sobre o fenômeno. Ademais, não olha com bons olhos a realidade da mediunidade.
E eis aqui duas afirmações oportunas, que nos demonstram que a teologia não pode mesmo se opor à razão e à ciência: “A fé só é inabalável quando puder enfrentar a razão face a face em qualquer época da história da humanidade” (Kardec). “A ciência sem religião é aleijada, e a religião sem ciência é cega” (Einstein).