Receber graça todo mundo a recebe em abundância, pois Deus não faz acepção de pessoas Mas cabe a nós fazermos a nossa parte. E recebemo-la na medida de nossa receptividade.
Se plantarmos muito o bem, colheremos muito bem, mas se semearmos muito mal, é muito mal que vamos ceifar.
Portanto, não é bem de graça que conseguimos sucesso na nossa busca da salvação ou libertação. “O que importa é a fé que opera pelo amor” (Gálatas 5,6). Aliás, se a nossa parte não valesse, Jesus não teria vindo ao mundo trazer-nos as normas evangélicas.
E, enquanto principiantes na nossa aprendizagem espiritual, vamos adquirindo conhecimentos elementares. E só depois, estaremos em condições de nos aprofundar mais nas questões do conhecimento espiritual.
É como nos ensina o apóstolo Paulo, esse nosso progresso espiritual é tal qual o da alimentação da criança, que começa com a mamadeira, mas que, quando ela se torna adulta, o seu alimento passa a ser sólido.
Assim, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade são importantes no período de nosso desconhecimento da verdade.
“A fé é a certeza de coisas que se esperam” (Hebreus 11,1). Mas a fé não pode ser cega, e sim, raciocinada, a qual já traz em si o embrião do conhecimento. E assim, ela pode ser tida como um novo nascimento, ou seja, uma mudança figurada de uma vida frágil e sustentada só pelo alimento lácteo e líquido, para aquela nova vida de adulto já alimentado por um nutriente sólido, que lhe traz a certeza da realidade da grandiosidade das coisas do reino dos céus, que só se conseguem com o desvencilhar-se das trevas da ignorância e o ingresso na luz do conhecimento. As religiões podem ajudar-nos nisso, mas elas não bastam.
Quando Paulo fala que o homem é justificado pela fé (Romanos 3,28), ele quer dizer a fé verdadeira ou no sentido de fidelidade. “Tudo o que não provém da fé é pecado” (Romanos 14,23). Realmente, quem tem mesmo fidelidade a Deus, pratica os seus dez mandamentos, e não pecados que jamais poderiam provir da fidelidade a Deus. “O justo pela sua fé viverá” (Romanos 1,17).
A fé verdadeira é aquela que produz efeitos salutares. “Mesmo que eu tenha uma fé de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13,2). Também são Tiago disse a conhecida frase: “A fé sem obras é morta”.
E podemos dizer que o indivíduo de fé é um amigo de Deus, enquanto que o ciente ou conhecedor da verdade libertadora é um amante de Deus.
E numa outra comparação talvez frívola, diríamos que o homem de fé é como se fosse o trampolim para um nadador, enquanto que o conhecedor da verdade seria o mergulho do nadador nas águas profundas do oceano infinito do reino de Deus!