Da mamadeira ao alimento sólido, isto é, da fé à ciência

Pela teologia há dois grupos de virtudes: as cardeais e as teologais. As cardeais têm por etimologia a palavra latina “cardo” (dobradiça). Assim, como as portas são sustentadas pelas suas dobradiças, as virtudes cardeais sustentam, de um modo geral, todas as virtudes. São quatro essas virtudes cardeais ou “dobradiçais”: justiça, prudência, fortaleza e tolerância.

E as virtudes teologais são a fé, a esperança e a caridade. Elas têm esse nome, porque segundo os teólogos, elas nos são dadas por Deus, gratuitamente, o que é contraditório, malgrado esse ensino seja baseado em são Paulo: “Pela graça sois salvos” (Efésios 2,5). Ora, se eu pratico a caridade, tenho mérito. Se a não pratico, tenho demérito.

Receber graça todo mundo a recebe em abundância, pois Deus não faz acepção de pessoas Mas cabe a nós fazermos a nossa parte. E recebemo-la na medida de nossa receptividade.
Se plantarmos muito o bem, colheremos muito bem, mas se semearmos muito mal, é muito mal que vamos ceifar.

Portanto, não é bem de graça que conseguimos sucesso na nossa busca da salvação ou libertação. “O que importa é a fé que opera pelo amor” (Gálatas 5,6). Aliás, se a nossa parte não valesse, Jesus não teria vindo ao mundo trazer-nos as normas evangélicas.

E, enquanto principiantes na nossa aprendizagem espiritual, vamos adquirindo conhecimentos elementares. E só depois, estaremos em condições de nos aprofundar mais nas questões do conhecimento espiritual.

É como nos ensina o apóstolo Paulo, esse nosso progresso espiritual é tal qual o da alimentação da criança, que começa com a mamadeira, mas que, quando ela se torna adulta, o seu alimento passa a ser sólido.

Assim, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade são importantes no período de nosso desconhecimento da verdade.

“A fé é a certeza de coisas que se esperam” (Hebreus 11,1). Mas a fé não pode ser cega, e sim, raciocinada, a qual já traz em si o embrião do conhecimento. E assim, ela pode ser tida como um novo nascimento, ou seja, uma mudança figurada de uma vida frágil e sustentada só pelo alimento lácteo e líquido, para aquela nova vida de adulto já alimentado por um nutriente sólido, que lhe traz a certeza da realidade da grandiosidade das coisas do reino dos céus, que só se conseguem com o desvencilhar-se das trevas da ignorância e o ingresso na luz do conhecimento. As religiões podem ajudar-nos nisso, mas elas não bastam.

Quando Paulo fala que o homem é justificado pela fé (Romanos 3,28), ele quer dizer a fé verdadeira ou no sentido de fidelidade. “Tudo o que não provém da fé é pecado” (Romanos 14,23). Realmente, quem tem mesmo fidelidade a Deus, pratica os seus dez mandamentos, e não pecados que jamais poderiam provir da fidelidade a Deus. “O justo pela sua fé viverá” (Romanos 1,17).

A fé verdadeira é aquela que produz efeitos salutares. “Mesmo que eu tenha uma fé de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13,2). Também são Tiago disse a conhecida frase: “A fé sem obras é morta”.

E podemos dizer que o indivíduo de fé é um amigo de Deus, enquanto que o ciente ou conhecedor da verdade libertadora é um amante de Deus.

E numa outra comparação talvez frívola, diríamos que o homem de fé é como se fosse o trampolim para um nadador, enquanto que o conhecedor da verdade seria o mergulho do nadador nas águas profundas do oceano infinito do reino de Deus!

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