Dicionário-Texto de Budismo – B – C

 

B

 

B.L.I.A. – “Buddha’s Light International Association” (Associação Internacional Luz de Buda), fundada pelo Venerável Mestre Hsing Yün, em 1990, na ilha de Taiwan (República da China), com o objetivo de divulgar o seu budismo humanista. Desde 1992 a sede mundial da BLIA está localizada na Califórnia-USA. No Brasil, a sede fica em Cotia-SP, junto ao Templo Zu Lai.

BALA (sânscr. e páli) – literalmente “poder”; cinco poderes ou faculdades espirituais desenvolvidos pelo fortalecimento das cinco causas (indriya), que torna possível atingir a iluminação. São eles: (1) shraddha; (2) virya; (3) satipatthana; (4) samadhi; (5) prajna).

BANHO DO BUDA – cermônia realizada principalmente na China no aniversário do Buda histórico – Shakyamuni, no oitavo dia do quarto mês. Nele, uma imagem miniatura de Shakyamuni, sentada em um trono de lótus, com a mão direita voltada para o céu, e a mão esquerda para a terra, é banhada com água e flores que lhe são oferecidas. Toda a sangha participa desta cerimônia. Este costume já era conhecido na Índia e baseia-se na tradição de que imediatamente após seu nascimento, no Bosque Lumbini, nove nagas borrifaram Sidarta com água.

BANKEI EITAKU YOTAKI – monge Zen japonês (1622-1693) da linhagem Rinzai.

BARDO (tib., bar do; sânscr., antarabhava) – no budismo tibetano, o estado intermediário entre a morte e o renascimento; uma das seis yogas de Naropa (tib., naro chödrug).

BARDO TÖDÖL (tib., bar do thos grol) – Liberação através da Compreensão no Estado Intermediário; popularmente conhecido como o “Livro Tibetano dos Mortos”, texto sobre o processo da morte e renascimento.

BASSUI ZENJI – monge Zen japonês (1327-1387) da escola Rinzai.

BENARES – primeiro discurso de Buda Shakyamuni logo após a sua Iluminação. Ocorreu em Sarnath, próximo a Benares. Nele está contido o ensinamento das Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo.

BÊNÇÃO – (tib., jin gyi lab pa) transformação da men­te de um estado negativo para um estado positivo, de um estado infeliz para um estado feliz, ou de um estado de fra­queza para um estado de força, por meio da inspiração dos seres sagrados, como nosso Guia Espiritual, os Budas e os Bodhisattvas.

BHADANTA (sânscr.) – “grande virtuoso”; título respeitoso utilizado na índia para dirigir­-se ao Buda, a bodhisattvas ou a professores do Darma.

BHAGAVAD-GITA (sânscr.) – “Canto do Bem-aventurado”; poema religioso da devoção, incluído na epopéia indiana do Maha-Bharata.

BHAGAVAN (ou Bhagavat) – um dos dez epítetos do Buda. Literalmente, significa “afortu­nado, próspero, feliz, divino, adorável e venerável”. Uma vez que o Buda conse­guiu eliminar todas as aflições e impurezas, ele é o mais venerável dos seres.

BHAGAVAT BHAISHAJYAGURU VAIDURYA PRABHA RAJA TATHAGATAepíteto completo do Buda da Medicina em sânscrito, constituindo o conjunto de qualidades que se refere especificamente ao Buda da Medicina; algumas dessas qualidades, quando aparecem isoladamente, podem se referir a um ou outro Buda.

BHAISHAJYA-GURU-BUDDHA (sânscr.; chinês, yao-shih-fo; jap., yakushi nyorai) – “Buda da Medicina do Puro Brilho Azul Celeste”; no budismo Mahayana, o Buda da medicina, ou Mestre dos Remédios. É geralmente representado com um recipiente medicinal na mão esquerda e fazendo um gesto (mudra) de proteção com a mão direita. É também conhecido como o Buda da Cura. Em vidas anteriores, quando praticava o caminho do bodhisattva, ele fez doze grandiosos votos, destinados a auxiliar os seres sencientes a eliminar o sofrimento causado por enfermidades físicas e mentais e a guiá-Ios rumo à libertação.

BHAKTI (sânscr.) – devoção pessoal; meio de salvação em opo­sição à Via das Obras e à Via do Conhecimento.

BHANTE – senhor, venerável senhor.

BHAVA-CHAKRA (sânscr.) “a roda da vida”; representação iconográfica dos seis reinos (gati) do samsara.

BHAVANA (sânscr. e páli) – meditação.

BHAVANA-MARGA (sânscr.) – veja Yogachara.

BHIKSHU (sânscr.; páli, bhikkhu) – monge.

BHIKSHUNI (sânscr.; páli, bhikkhuni) – monja.

Homens e mulheres que renunciaram à vida leiga e receberam orde­nação plena, tornando-se integrantes da sanga budista. De acordo com o Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria, a palavra bhikshu (gênero masculino) origi­na-se da palavra bhiks, “esmolar”, e da expressão bhinna-klesa, “eliminação das aflições”. Portanto, os bhikshus e as bhikshunis são também chamados de “pedin­tes” ou “aqueles que eliminam as aflições”.

BHUMI (sânscr.) – “terra”, “país”; no budismo Mahayana, cada um dos dez estágios do Bodhisattva até alcançar a iluminação (bodhi).

BHUTATATHATA (sânscr.) – “substância da existência”; a realidade, em oposição às aparências do mundo fenomenal. Bhutatathata apresenta-se imutável e eterna, ao passo que as formas e aparências surgem, mudam e desaparecem. Nos tex­tos Mahayana, utiliza-se esse conceito como sinônimo de realidade absoluta ou suprema.

BIJA (sânscr.) – energia; particularmente importante na bija mantra.

BINDU (sânscr.; páli, thigle/ thig le) – no budismo Vajrayana, essência ou gota de energia sutil.

BODH GAYA – aldeia do Behar, onde se realizou a Iluminação de Shakyamuni. Até 1940, ainda se podia ver de pé a figueira (Ficus religiosus, ou Ficus indica) sob a qual se sentou Gautama na suprema meditação.

BODHI (sânscr. e páli; chinês, wu; jap., satori, kenshô) – “o iluminado”, “o desperto”; é o estado de quem está desperto para a verdadeira natureza do ser, iluminado em relação à sua própria natureza búdica, tendo já eliminado todas as aflições e ilusões e conquistado a sabedoria.

BODHICHITTA (sânscr.) – “mente da iluminação”; no budismo Mahayana, a mente altruísta que visa beneficiar a todos os seres; a mente do Bodhisattva. Bodhi signi­fica iluminação e chitta, mente. Há dois tipos de bodhichitta convencional e última. De modo geral, o termo refere-se à bodhichitta convencional, uma mente primária motivada por grande compaixão, que busca espontaneamente beneficiar to­dos os seres vivos. A bodhichitta convencional pode ser de dois tipos: aspirativa e engajada. A bodhichitta última é uma sabedoria motivada pela bodhichitta convencional, que realiza diretamente a vacuidade, a natureza última dos fenômenos.

BODHIDHARMA (sânscr.; chinês, P'u-T'i-Ta-Mo; jap., Bodai Daruma) – monge indiano budista que introduziu em 520 E.C. foi a Lo-yang (Ho-nan) fundar o budismo na China; aí ficou conhecido pelo nome Ch’an (em sânscr. Dhyana). Foi o primeiro patriarca do budismo Ch'an e o 28° patriarca do budismo indiano. É a ele que se refere o famoso kung-an “O que significa o patriarca ter vindo do Ocidente?”. Foi o principal teórico da Escola de Meditação do Mahayana.

BODHIPAKKHIYA DHAMMA (páli; sânscr., bodhipakshika-dharma) – as 37 virtudes para a iluminação.

BODHISATTVA (sânscr., páli, Bodhisatta; chinês, P'u-Sa; jap., Bosatsu, Bodaisatta) – sattva: “ser senciente”; bodhi: “iluminado”; ser da iluminação; é a principal característica do budismo Mahayana; ser de grande compaixão que procura ajudar a todos os seres, praticando as seis perfeições (paramita), realizando a mente da iluminação (bodhichitta), e adiando sua passagem para o Nirvana. É alguém que busca alcançar a consciência do Buda, ou libertação.

Bodhisattva da Ilimitada Intenção do Significado (sânscr., Aksayamatir Bodhisattva): literalmente, aksaya significa ilimitado, imensurável ou infinito; matir, que deriva de mati, significa sabedoria. Assim, Aksaymatir é também cha­mado de Bodhisattva da Infinita Sabedoria.

Bodhisattva do Auxílio Salvador (sânscr., Bodhisattva Bhaishajyaraja): o bodhisattva que liberta os seres sencientes do sofrimento resultante de doenças e desastres. Sua manifestação física é vermelha, representada sobre um trono de lótus. Também conhecido como Bodhisattva Rei da Medicina; considerado um bodhisattva da cura, oferece aos seres sencientes medicamentos para curar enfermidades mentais e físicas. OU:

Bodhisattva Rei da Medicina (sânscr., Bhaishajyaraja Bodhisattva): considerado um bodhisattva da cura, oferece aos seres sencientes medicamentos para curar enfer­midades mentais e físicas.

Bodhisattva da Medicina Suprema (sânscr., Bhaishajya-samudgata Bodhisattva): juntamente com o Bodhisattva Rei da Medicina, é o Bodhisattva da Cura.

Bodhisattva da Resplandecente Luz Solar (sânscr., Suryaprabha Bodhisattva): um dos assistentes do Buda da Medicina, cuja manifestação física se dá na forma ver­melha; ele leva na mão direita o disco solar e na esquerda uma flor vermelha.

Bodhisattva da Resplandecente Luz Lunar (sânscr., Chandraprabha Bodhisattva): um dos assistentes do Buda da Medicina, sua manifestação física é branca; apare­ce sentado em um cisne e levando na mão o disco lunar.

BOROBUDUR – grande construção, uma stupa, em forma de mandala, na ilha de Java, Indonésia, no século IX.

BOSATSU (jap.) – veja Bodhisattva.

BRAHMA – qualificação do Brahmã (o Absoluto). Senhor das Coi­sas (Prajâpatl) criadas. Um dos três deuses da tríade hinduísta. Para o budismo é um Deus mundano (deva, em sânscrito).

BRAHMÃ – o Espírito Supremo Universal, objeto da meditação abstrata.

BRAHMA-VIHARA (sânscr. e páli) – meditações ilimitadas; amor (maitri), compaixão (karuna), alegria (mudita) e equanimidade (upeksha). Veja chatvari-apramanani.

BRAHMANA (sânscr., Shataprana) – interpretação sobre o Brahmã: a segunda parte dos textos sagrados védlcos.

BRÂMANESna Índia antiga, sacerdotes, professores e intérpretes do conhecimento religio­so, que compunham a mais elevada das quatro castas (seguidos pelos xátrias, os guerreiros; vaixás, os lavradores, comerciantes e artesão; e sudras, os servos e escra­vos; não pertenciam a casta nenhuma os “impuros”, ou párias).

BUDDHA (sânscr., chinês, Fo; jap., Hotoke, Butsu) – “o desperto”, “o iluminado”; aquele que alcançou a iluminação (bodhi), faz parte da Jóia Tríplice (Triratna). Há incontáveis budas no universo. O Buda Shakyamuni foi o Buda histórico que ensinou o Darma na Terra (463-383 a.E.C.).

BUDDHAS PASSADOS – Budas que já entraram no Parinirvana em épocas passadas. Na atual Era, conhecida como Bhadrakalpa (“Era Afortunada”), existirão mil Budas. Quatro já apareceram: Krakucchanda, Kanakamuni, Kasyapa e Shakyamuni, o Buda do nosso tempo.

BUDDHAGHOSHA – monge da escola Theravada (século IV) que estudou no Sri Lanka (ex-Ceilão); autor do Visuddhi-Magga, a Via da Pureza.

BUDDHAHOOD – expressão usada para indicar a realização perfeita da Iluminação que caracteriza um Buda.

BUDDHAPALITA – veja Madhyamika.

BUDDHAT[V]A (sânscr.; jap., busshô) – natureza búdica.

BUDDHO – uma recitaçao do Buda; um exemplo de mantra.

BUDISMO o Budismo nasceu na Índia, no séc. VI a.C., com Buda Shakyamuni. O Buda Shakyamuni nasceu ao norte da Índia (atualmente Nepal) como um rico príncipe chamado Sidarta. Aos 29 anos de idade, ele teve quatro visões que transformaram sua vida. As três primeiras visões — o sofrimento devido ao envelhecimento, doenças e morte — mostraram-lhe a natureza inexorável da vida e as aflições universais da humanidade. A quarta visão, um eremita com um semblante sereno, revelou-lhe o meio de alcançar paz. Compreendendo a insignificância dos prazeres sensuais, ele deixou sua família e toda sua fortuna em busca de verdade e paz eterna. Sua busca pela paz era mais por compaixão pelo sofrimento alheio do que pelo seu próprio, já que não havia tido tal experiência. Ele não abandonou sua vida mundana na velhice, mas no alvorecer de sua maturidade; não na pobreza, mas em plena fartura. Depois de seis anos de ascetismo, ele compreendeu que se deveria praticar o “Caminho do Meio”, evitando o extremo da automortificação, que só enfraquece o intelecto, e o extremo da auto-indulgência, que retarda o progresso moral. Aos 35 anos de idade, sentado sob uma árvore, posteriormente conhecida como árvore Bodhi, em uma noite de lua cheia, ele, de repente, experimentou extraordinária sabedoria, compreendendo a verdade suprema do universo e alcançando profunda visão dos caminhos da vida humana. Os budistas chamam essa compreensão de “iluminação”. A partir de então, ele passou a ser chamado de Buda Shakyamuni (Shakyamuni significa “Sábio do clã dos Sakya”). A palavra Buda pode ser traduzida como: “aquele que é plenamente desperto e iluminado”.

BUDISMO HUMANISTA – seus Conceitos Fundamentais apresentados pelo Venerável Mestre Hsing Yün: Em 1990 o Venerável Mestre Hsing Yün falou sobre O Budismo Humanista, o fundamento da Ordem Budista Internacional Fo Guang Shan por ele fundada: (…) “o Budismo Humanista não está somente em meu coração; está também sempre em minhas atitudes e pensamentos”. 

Sabemos que o fundador do Budismo, Buda Shakyamuni, é o Buda de nosso mundo. Ele nasceu neste mundo; cultivou seu desenvolvimento espiritual, atingiu a iluminação e partilhou com outros, neste mundo, as profundas verdades que compreendeu. O mundo humano foi enfatizado em tudo o que ele fez. Por que ele não alcançou a condição de Buda em um dos outros cinco reinos? Por que não atingiu a iluminação em um dos outros dez mundos do Darma? Por que, ao invés disso, conseguiu o despertar supremo como um ser humano? Levando esta questão adiante, por que o Buda não alcançou a iluminação num kalpa passado ou futuro? Por que escolheu nosso mundo saha e o presente kalpa? Só pode haver uma resposta: o Buda desejava que os ensinamentos budistas fossem relevantes ao mundo dos humanos. A própria vida do Buda como ser humano nos deu inspiração e um modelo para o caminho espiritual, de modo a fazer, de nossas vidas, uma prática espiritual. O Budismo que o Buda nos ofereceu é humanista, e o Budismo Humanista é a integração de nossa prática espiritual em todos os aspectos de nossa vida diária”.

Hsing Yün continua:

O Budismo Humanista tem as seis seguintes características:

1. Humanismo. O Buda não era um espírito que andava para lá e para cá sem deixar rastros, nem fruto de nossa imaginação. O Buda foi um ser humano vivente. Como todos nós, ele tinha pais, uma família e viveu uma vida. Foi através de sua existência humana que ele mostrou a suprema sabedoria da compaixão; responsabilidade ética e sabedoria intuitiva. Portanto, ele é um Buda que foi também um ser humano.

2. Ênfase na Vida Diária. Em seus ensinamentos, o Buda deu grande importância ao cotidiano enquanto prática espiritual. Ele nos ofereceu orientação para tudo, desde o modo de comer, vestir, trabalhar e viver, até para caminhar, estar em pé, sentar e dormir. Ele deixou instruções claras quanto a todos os aspectos da vida, desde o conduzir nos campos social e político.

3. Altruísmo. O Buda nasceu neste mundo para ensinar, dar exemplo, e trazer alegria a todos. Ele ocupou-se de todos os seres, pois sempre teve, em seu coração e mente, o interesse dos demais. Em resumo, cada pensamento seu, cada palavra ou ação, originou-se de um coração repleto de interesse e consideração pelos outros.

4. Alegria. Os ensinamentos budistas dão alegria às pessoas. Através da infinita compaixão de seu coração, o Buda almejava aliviar o sofrimento de todos os seres e dar-lhes alegria.

5. Oportunidade. O Buda nasceu por uma grande razão: para construir um relacionamento especial com todos nós que vivemos neste mundo. Apesar de ter vivido há aproximadamente 2.500 anos, e ter alcançado o nirvana, ele deixou a semente da liberdade para as futuras gerações. Ainda hoje, os ideais e ensinamentos do Buda servem como guias importantes e oportunos para todos.

6. Universalidade. A vida do Buda como um todo pode ser caracterizada pelo seu espírito de desejar salvar a todos os seres, sem exceção. O Buda amava os seres em geral, fossem animais ou humanos, homens ou mulheres, jovens ou velhos, budistas ou não budistas, etc.

Há um tempo, era difícil para as pessoas compreenderem a relevância do Budismo para suas vidas modernas e diárias. Eu ainda me lembro do diálogo entre o Sr. Shu-ming Liang e o Mestre T'ai Hsu sobre a relevância do Budismo neste nosso mundo humano. O Sr. Shu-ming Liang disse sentir que o Budismo não enfatizava suficientemente os interesses humanos e essa seria a razão pela qual ele abandonara os caminhos do Budismo e focalizara suas atenções no Confucionismo. Quando o Sr. Liang foi convidado pelo Mestre T'ai Hsu para fazer uma palestra na Faculdade Budista Han Ts'ang, o Sr. Liang iniciou o evento escrevendo no quadro negro: ‘Agora, Hoje e Nós’. Disse ele: “Especificamente por estas razões, optei por estudar o Confucionismo. O Budismo fala do passado infinito, do presente e dos kalpas futuros, mas eu acredito que o tempo presente, no qual vivemos, é o mais importante. O Budismo fala do espaço e dos elementos, deste e de outros mundos, dos incontáveis mundos em todas as dez direções, mas eu acredito que é o nosso próprio mundo que devemos purificar. O Budismo fala dos humanos e de todos os seres dos dez mundos-Darma, mas eu acredito que são os humanos os mais importantes’. Após a conferência, o Mestre T'ai Hsu deu o seu parecer sobre a questão. Ele disse que, apesar de o Budismo falar do passado, do presente e do futuro, ele enfoca, particularmente, o bem estar universal dos seres do mundo presente; apesar de o Budismo falar deste mundo e de incontáveis outros, ele enfatiza, particularmente, o bem estar dos seres deste mundo; e apesar de o Budismo falar de todos os seres dos dez mundos-Darma, ele dá maior ênfase aos humanos”. O Budismo é uma religião para seres humanos, e a atenção às questões humanas está fortemente na raiz desta religião. Nos vários sutras e shastras, o Buda reiteradamente disse que também ele era um membro da comunidade, de maneira a enfatizar que ele não era um deus. O Sutra Vimalakirti diz: ‘O reino do Buda se encontra entre os seres viventes. Além dos seres viventes, não há Buda. Além da multitude de seres, não há caminho para a Verdade’. O Sexto Patriarca também ensinou que: ‘O Darma está no mundo; compreender o mundo é compreender o Darma. Buscar a iluminação fora do mundo é como procurar chifres num coelho’. Para alcançar a condição de Buda, devemos treinar e cultivar a nós mesmos neste nosso mundo humano. Não há outro meio para se atingir essa condição. Já que tivemos a sorte de renascer como humanos, deveríamos viver nossas vidas em coerência com o Budismo Humanista, integrando nossa prática espiritual ao nosso cotidiano’ “.

Quando dizemos que o Budismo é uma religião para seres humanos, devemos entender que a forma humana é algo a ser valorizado e não menosprezado. Na verdade, o Sutra Lótus usa uma analogia para ilustrar o quão árduo e, ao mesmo tempo, precioso é ter-se nascido como ser humano. O sutra declara: ‘Numa noite escura como breu, uma tartaruga cega espera encontrar uma costa rasa. No vasto oceano e no escuro infinito há apenas um pedaço de madeira. Esse pedaço de madeira tem um buraco. Em cem anos, a tartaruga sobe à superfície apenas uma vez para buscar ar. Somente se ela for capaz de encontrar esse buraco ela conseguirá sobreviver’. No Sutra Agama também está escrito: ‘a quantidade de seres que perdem a forma humana é tão numerosa quanto as partículas de poeira na terra; o número dos que são capazes de alcançar a forma humana é tão escasso quanto a poeira sob uma unha’. Todas estas citações indicam a precariedade e a preciosidade da existência humana”.

Uma vez eu estava num encontro com membros de uma comunidade em São Francisco, e um professor, que fazia parte do grupo, me fez esta pergunta: ‘O Senhor pede a nós, budistas leigos, que trabalhemos no sentido de libertar-nos da roda do renascimento, sendo que esse não é o nosso desejo. O Senhor nos ensina o caminho para alcançar a condição do Buda, quando não é exatamente essa a nossa aspiração. Essas questões são remotas e distantes demais. Nós somos felizes só em poder viver nossas vidas um pouco melhor do que os demais, um pouco mais cultivadamente que os outros’. Esse comentário me perturbou intensamente porque tais pessoas concebem o Budismo como uma religião separada da humanidade. Essa concepção, de que o Budismo se caracteriza pelo isolamento, retiro em florestas, auto-centrismo e individualismo, perdeu toda sua qualidade humanista. Como conseqüência, muitos dos que têm interesse em transpor os portais do Budismo, não ousam fazê-lo; essas pessoas hesitam ao entrar e ficam vagando pelo lado de fora. Precisamos redefinir e redobrar nossos esforços no sentido de ajudar a todos os seres sencientes”.

Os primeiros 100 a 300 anos da história do Budismo foram o período do Pequeno Veículo, porém não do Grande Veículo. Ou seja, o Budismo Theravada era popular enquanto o Budismo Mahayana permanecia obscuro. Os 600 anos seguintes testemunharam a emergência da prática do Grande Veículo, mas não do Pequeno Veículo: o Budismo Mahayana ganhou popularidade, enquanto o Budismo Theravada retrocedeu. Durante os 1.000 anos que se seguiram, desenvolveu-se a prática Tântrica. O Budismo Humanista que eu advogo convida à integração de todos os ensinamentos Budistas desde o tempo do Buda até os dias de hoje, sejam eles derivados das tradições Theravada, Mahayana ou Tântrica”.

O Budismo Humanista é verdadeiramente o estudo do caminho do bodhisattva. O Budismo Chinês há muito vem honrando o caminho do bodhisattva, que o Budismo Humanista incorpora. No decorrer do desenvolvimento do Budismo Chinês, quatro montanhas se distinguiram como pontos de peregrinação. Cada uma dessas montanhas está associada com um bodhisattva em particular: Avalokiteshvara (Kuan-yin), Manjushri (Wen-shu), Samantabhadra (P'u-hsien), e Kshitigarbha (Ti-tsang). Dos quatro, Avalokiteshvara, Manjushri e Samantabhadra se manifestaram como budistas laicos. Somente o bodhisattva Kshitigarbha se manifestou como monge. Por que três dos quatro bodhisattvas se manifestaram como laicos? A resposta está no fato de que, enquanto os monges enfatizam o desprendimento e a transcendência da materialidade, são o otimismo e o engajamento ativo dos budistas laicos que detêm o maior de todos os potenciais para realizar os propósitos do Budismo Mahayana, estando mais próximos do espírito do Buda. Como disse certa vez o Mestre T'ai Hsu a respeito de si mesmo: ‘Não sou um bhikshu, nem me tornei um Buda; gostaria, porém, que me chamassem bodhisattva’. O que ele quis dizer é o seguinte: não ouso me intitular um bhikshu, já que é muito difícil seguir os preceitos de um bhikshu com perfeição. Se me chamarem de Buda, isso não é real, pois ainda não me tornei um. Minha esperança, no entanto, é servir ao próximo como um bodhisattva. Um bodhisattva não é meramente uma estátua de cerâmica a ser venerada num templo, ao contrário, é uma pessoa enérgica, iluminada e gentil, que luta para ajudar todos os seres viventes a libertar-se. Todos nós podemos nos tornar bodhisattvas. É por isso que o mestre T'ai Hsu dedicou sua vida a divulgar as palavras e ideais do Budismo Humanista. Compreender plenamente a maneira de ser de um bodhisattva é o objetivo do Budismo Humanista”.

Para sermos coerentes com o propósito de nos tornarmos bodhisattvas, deveríamos todos lutar para viver numa terra pura. Referimo-nos à Terra Pura da Suprema Bem-Aventurança no Ocidente e à Terra Pura do Azul (Céu) Resplandescente no Oriente. Na realidade, Terras Puras não se encontram somente no Oriente ou no Ocidente. Terras Puras estão em toda parte. O bodhisattva Maitreya tem a Terra Pura de Tushita e Vimalakirti, a Terra Pura da Mente. Muitos de vocês já estão familiarizados com o conceito de uma Terra Pura neste planeta. Ao invés de depositar nossas esperanças em renascer em uma Terra Pura no futuro, por que não trabalhamos na transformação do nosso planeta Terra num mundo puro de paz e plenitude? Em lugar de concentrar todas as nossas energias na busca de algo no futuro, por que não dirigir nossos esforços para a purificação de nossas mentes e corpos aqui e agora, no momento presente? É com esse espírito que Fo Guang Shan propicia o recolhimento a antigos e leais devotos que dedicaram suas vidas à Ordem. Dessa forma, eles não precisam ser necessariamente cuidados pelos seus filhos. Nem precisam esperar pela morte para, finalmente, gozar da Terra Pura do Buda Amitabha. Dizemos a eles: ‘Vocês fizeram muito pelo Budismo. Ocuparemo-nos de vocês lhes oferecendo uma terra pura em vida’. Acredito que os templos e mosteiros de Fo Guang Shan deveriam instilar nesses discípulos a confiança de que a Ordem pode suprir todas as suas necessidades e de que eles podem encontrar a alegria de uma terra pura aqui mesmo. Creio que o Budismo Humanista deve se concentrar mais nas questões deste mundo e menos em questões transcendentais; preocupar-se mais com os vivos do que com os mortos, beneficiar os outros mais do que a si mesmo, assim como objetivar a salvação universal mais do que a própria”.

Independentemente da escola (Theravada ou Mahayana) ou da ênfase (tantras ou ensinamentos gerais), o Budismo deve ter uma dimensão humanista a fim de permanecer relevante em qualquer época. Por atender as necessidades do tempo presente, sem apenas seguir cegamente as tradições, pode ser considerado um farol para o futuro. Agora, mais do que nunca, é importante divulgar os ideais do Budismo Humanista, pois, como observou mestre T'ai Hsu, vivemos no período denominado O Declínio da Compreensão do Darma. Durante o primeiro período do Budismo, o espírito Mahayana do Darma era visto através dos olhos dos shravakas, tradicionalmente chamados de “santos praticantes”; assim, este foi o período da Verdadeira Compreensão do Darma. Em seguida, veio o período da Aparente Compreensão do Darma, quando o espírito Mahayana era visto através dos olhos dos praticantes do “veículo celeste”. Nós estamos atualmente vivendo o último estágio do Budismo, quando o espírito Mahayana é visto através dos olhos dos praticantes do “veículo humano”. Este é o período do Declínio da Compreensão do Darma. Segundo o Mestre T'ai Hsu, durante este período quando nossa maturidade espiritual é nascente, torna-se importante a compreensão do Darma através da prática em nossa vida diária. Sendo este o caso, eu gostaria de mencionar os seguintes seis pontos, considerando o Budismo Humanista como a aplicação dos ensinamentos budistas a nossa vivência cotidiana”.

BUSHIDO – (jap.) Via dos Cavaleiros. Código moral do guerreiro conforme a disciplina Zen.

BUTSU (jap.) – veja Buddha.

BUTSUDAN (jap.) – no budismo japonês, pequeno altar familiar.

 

C

 

CAMINHO ÓCTUPLO (sânscr., ashtangika-marga; páli, atthangika-magga) – é o caminho para a libertação do sofrimento (duhkha); é a evolução da última das quatro nobres verdades; é um dos trinta e sete limbos da iluminação; caminho óctuplo: (1) palavra correta (sânscr.: samyag-vach; páli: samma-vacha), (2) ação correta (sânscr.: samyak-karmanta; páli: samma-kammanta), (3) meio-de-vida correto (sânscr.: samyag-ajiva; páli: samma-ajiva), (4) esforço correto (sânscr.: samyag-vyayama; páli: samma-vayama), (5) plena atenção correta (sânscr.: samyac-smriti; páli: samma-sati), (6) concentração correta (sânscr.: samyak-samadhi; páli: samma-samadhi), (7) pensamento correto (samyag-samkalpa; páli: samma-sankappa), e (8) compreensão correta (sânscr.: samyag-dristhi; páli: samma-ditthi).

CANAL CENTRAL – o canal principal no centro de nosso corpo, em que estão localizados os chakras.

CARMA – veja karma.

CARYA – realização, a segunda das quatro séries de tantras.

CATTARI ARIYASACCANI (páli) – Veja “As Quatro Nobres Verdades”.

CAUSA, CONDIÇÃO, EFEITO E CONSEQÜÊNCIA NA COMPREENSÃO DO BUDISMO HUMANISTA – o VM Hsing Yün nos diz: “Quando eu estava visitando o exército, alguns dias atrás, os oficiais me contaram que eles têm um problema com o pessoal. Alguns jovens recrutas os questionam dizendo: ‘Eu me alistei no ano passado, junto com ele. Por que ele já é sargento e eu ainda sou soldado? É muito injusto. Temos as mesmas qualificações e nos alistamos ao mesmo tempo. Então, por que a diferença no avanço de nossas carreiras?’ Nós deveríamos saber que na lei de causa, condição, resultado e conseqüência, a condição está bem no meio. Quando as condições são diferentes, os resultados serão diferentes. Vamos pensar em duas flores, por exemplo: se a uma for dada mais água e fertilizante, e se ela for plantada em solo mais fértil, então, mesmo que ambas as flores sejam alimentadas pelo mesmo sol, elas crescerão diferentemente. As duas flores são da mesma variedade, porém, devido às condições diferentes, o resultado não é o mesmo. Alguns se queixam de seu destino e condenam o mundo como sendo injusto. Criticam que esse membro da família ou aquele amigo não é bom. Se apenas a origem de seus problemas… Por exemplo, poderiam enxergar que perderam a oportunidade de serem promovidos a sargento por alguma coisa imprópria que disseram. Outro exemplo seria alguém que, mesmo apresentando mais qualificações do que outra pessoa que estivesse disputando a mesma promoção, tivesse sido superado por essa pessoa que se esforçou apresentando qualidade de serviço, adequação de palavras, assumindo grandes responsabilidades em momentos críticos, ganhando portanto, a promoção. O Budismo nos ensina a melhorar nossas condições e a nos relacionarmos melhor com o próximo. Diz-se: ‘Antes de conquistarmos o Caminho do Buda, devemos cultivar bons relacionamentos com os outros’. Em nossa vida diária, deveríamos saber que um simples grão de arroz é o resultado de muitas causas e condições. Deveríamos valorizar cada uma das várias causas e condições. Deveríamos ser gratos a todos que nos deram a oportunidade de estar aqui nesta conferência. Deveríamos ser agradecidos à Faculdade Budista pelo patrocínio e pela afabilidade que torna tão agradável nossa presença aqui”.

Pela manhã, os jornais são entregues em nossas casas. À noite, muitos programas de televisão nos trazem entretenimento e informação sobre acontecimentos locais e globais. Será que aprendemos a apreciar o trabalho dos outros? Imaginem a limitação de visão e a monotonia da vida se essas coisas não estivessem disponíveis. Causas e condições nos habilitam a conectar-nos uns com os outros por todo o mundo. Os esforços e contribuições de muitas pessoas propiciaram a todos nós muitas facilidades. Deveríamos valorizar essas causas e condições. Já que outros trabalharam para oferecer-nos tão boas condições, o que podemos fazer para retribuir essa gentileza? Podemos aprender a agradecer e a verdadeiramente gozar a fortuna e a satisfação de viver, em qualquer lugar e em qualquer tempo. Falando de causa, condição, efeito e conseqüência, a lei de causa e efeito é profunda. Algumas pessoas não entendem a lei de causa e efeito. Alguns recitam regularmente o nome do Buda Amitabha, mas, assim que surge um problema, acusam Buda Amitabha por não tê-los protegido. Eles dizem: ‘Eu fui enganado, roubado e agora estou falido. Por que Amitabha não me protegeu?’; ‘Não ganhei dinheiro na Bolsa de Valores. Onde está o poder de Amitabha?’; ‘Sou vegetariano, mas minha saúde está em declínio. Por que o Buda Amitabha não tem mais compaixão?’ No entanto, onde está a conexão entre o fato de se recitar o nome de Buda ou ser vegetariano, e o fato de se ter riqueza, saúde ou viver uma vida longa? Não devemos nos confundir quanto ao que causa que efeitos. Como pode alguém que plantou melões esperar colher feijão? Cantar e manter uma dieta vegetariana encontram-se no reino das causas e efeitos religiosos e morais. Acumular grande fortuna está no domínio das causas e efeitos econômicos. Ter boa saúde ou uma longa vida tem a ver com as causas e efeitos relacionados à saúde. Como podem as pessoas atribuir todos os seus problemas à crença religiosa? É por isso que hoje há muitas pessoas que, por fazerem uma conexão confusa entre certas causas e efeitos, não são capazes de compreender, com precisão, a lei de causa e efeito”.

Certa vez, uma pessoa que passava roubou um coco do quintal de uma família. O proprietário disse: ‘Ei! Como ousa roubar a minha fruta?’ A pessoa respondeu: ‘O que você quer dizer com minha fruta? Ela é da árvore!’ ‘Mas fui eu que a plantei!’, gritou o proprietário. O passante retrucou: ‘O coco que você plantou está na terra. O meu eu tirei da árvore’. Não há, então, uma conexão entre ambos? Causa e efeito estão eternamente ligados um ao outro; não podem jamais ser desconectados. Uma causa, se encontrar boas condições, frutificará. Existe um ditado: ‘Os bodhisattvas temem as causas, os seres viventes temem os efeitos’. Por saber que as causas não podem ser encaradas levianamente, os bodhisattvas não as criam por acaso. Por não temerem as causas, os seres viventes agem sem pensar nos efeitos. No final, eles caem nas profundezas do olhassem um pouco mais de perto suas próprias causas e condições, descobririam a origem de seus problemas… Por exemplo, poderiam enxergar que perderam a oportunidade de serem promovidos a sargento por alguma coisa imprópria que disseram. Outro exemplo seria alguém que, mesmo apresentando mais qualificações do que outra pessoa que estivesse disputando a mesma promoção, tivesse sido superado por essa pessoa que se esforçou apresentando qualidade de serviço, adequação de palavras, assumindo grandes responsabilidades em momentos críticos, ganhando portanto, a promoção. O Budismo nos ensina a melhorar nossas condições e a nos relacionarmos melhor com o próximo. Diz-se: ‘Antes de conquistarmos o Caminho do Buda, devemos cultivar bons relacionamentos com os outros’. Em nossa vida diária, deveríamos saber que um simples grão de arroz é o resultado de muitas causas e condições. Deveríamos valorizar cada uma das várias causas e condições. Deveríamos ser gratos a todos que nos deram a oportunidade de estar aqui nesta conferência. Deveríamos ser agradecidos à Faculdade Budista pelo patrocínio e pela muitas pessoas que, por fazerem uma conexão confusa entre certas causas e efeitos, não são capazes de compreender, com precisão, a lei de causa e efeito”.

Na minha cidade natal em Yang Chou, China, não havia polícia numa área de dezenas de quilômetros, nem tribunais de justiça em centenas de quilômetros. Mesmo assim, crimes e assassinatos eram raríssimos. No caso de um conflito, as pessoas não brigavam ou discutiam. Ao contrário, íamos a um templo e fazíamos um juramento diante dos deuses. Todos nós acreditávamos que isso era justo. Por quê? Porque nós acreditávamos que a lei de causa e efeito resolveria, por si só, a questão. Mesmo quando não havia meios de apelação, todos ficavam em paz. Todos sabíamos que a lei de causa e efeito não nos trairia. Como diz o ditado: ‘Todos os atos, bons ou maus, geram conseqüências; é só uma questão de tempo’.

Quando o Buda estava vivo, ele experimentou o fenômeno do envelhecimento, da doença, da vida e da morte, como todos nós. Ele também existiu no reino das causas e efeitos, e portanto, estava sujeito às manifestações de causa e efeito. É importante ter essa noção, uma vez que em face das causas e efeitos, todos somos iguais. Ninguém escapa dessa lei. Há um ditado que diz: “As pessoas abusam dos bons, mas aquele que enxerga a justiça, não. As pessoas temem os maus-caracteres, mas aquele que enxerga a justiça, não.’Quem, ou o que, é este “enxergador da justiça?’ No Budismo, o enxergador da justiça é a causa e o efeito. Causa e efeito são sempre equânimes e justos. Nós, que promovemos o Budismo, lutamos para firmemente estabelecer o conceito de causa e efeito, por ser ele bastante científico e racional. Se todos acreditássemos em causa e efeito, isso serviria de polícia e guia de cada um de nós. Causa e efeito seriam, então, o princípio das leis internas de cada pessoa”.

CHAKRA (sânscr.) – roda; centro de energia sutil; é um centro focal de onde os canais secundários saem do canal central. Meditar sobre esses pontos causa a entrada dos ventos internos no canal central.

CH'AN (chinês; sânscr., dhyana: “meditação”; páli, jhana; jap., Zen. Ch’an é a abreviação de Ch’anna, transliteração chinesa do vocábulo sânscrito Dhyana. Também é o nome de uma das mais importantes dentre as oito escolas do budismo chinês, que enfatiza a Iluminação, dando-lhe maior destaque do que à prática ritualística. O Venerável Mestre Hsing Yün nos diz: “Entre os oitenta e quatro mil ensinamentos do budismo, o Ch'an (Zen em japonês) é o mais entusiasticamente estudado e discutido no mundo de hoje. Embora uma vez confinado ao leste onde teve origem, nos dias de hoje o estudo do Ch'an captou a atenção e o interesse do ocidente. Por exemplo, muitas universidades dos Estados Unidos estabeleceram grupos de meditação. É encorajador ver que a meditação está se espalhando da reclusão dos monastérios para o mundo moderno, onde está desempenhando papel muito importante.

Descrever o Ch'an não é uma tarefa fácil, porque o Ch'an não é algo que possa ser discutido ou expresso em palavras. No momento em que a linguagem é usada para explicar o Ch'an, não estamos mais considerando seu verdadeiro espírito. O Ch'an está além de todas as palavras, contudo não se pode deixá-lo inexpresso”.

Qual é a origem do Ch'an?

O Ch'an é a forma abreviada da transliteração chinesa do termo sânscrito dhyana, que significa contemplação tranqüila. Originado na Índia, a lenda conta que durante uma assembléia no Pico do Abutre (Grdhrakuta), o Buda apanhou uma flor e, levantando-a, mostrou-a à assembléia sem dizer palavra. Os milhões de seres celestiais e humanos que estavam reunidos na assembléia não entenderam o que Buda queria significar, exceto Mahakashyapa, que sorriu. Assim, o Ch'an foi transmitido sem utilizar nenhuma palavra oral ou escrita: foi transmitido de mente para mente. Mais tarde, o Ch'an foi introduzido na China. Durante a época do Sexto Patriarca Hui Neng, o Ch'an floresceu e desenvolveu-se em cinco escolas, que se tornaram as principais correntes do budismo chinês”.

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