Dos deuses e demônios

Os espíritos dos mortos sempre se manifestaram através de médiuns \[pitonisas, xamãs, pajés, profetas (nabis), hierofantes, arautos, oráculos, videntes\] (1 Samuel 9,9; e 28, 16), o que originou o politeísmo. E por serem atrasados e maldosos, chamaram-nos de deuses infernais. “Os deuses falam verdades e mentiras” (brâmanes).

E o Hades (inferno) foi considerado um deus. “Ruach” (ar, espírito) simbolizava o espírito de Deus e o do homem. Para Homero, não havia distinção clara entre as palavras “Theos” (Deus) e “daimon” (demônio) . E os deuses e os demônios eram tidos de tal modo como seres humanos, que se lhes atribuíam os dois sexos: deuses e deusas. E para os antigos, os íncubos e súcubos (santo Agostinho acreditava neles) se envolviam sexualmente conosco!

Quando o Novo Testamento da Bíblia foi escrito, em grego, “daimon” (demônio) era a alma humana. Sócrates chamava seu anjo da guarda de meu demônio. Na Bíblia, anjo (alma humana superevoluída) pode ser também demônio (anjo mau), tal qual nós que podemos ser bons ou maus. Há a queda dos anjos e, também, a do homem. E é comum uma criancinha morta ser chamada de anjinho. Nessa visão, ela é, pois, um ser humano e, ao mesmo tempo, um anjo. Gabriel (anjo) significa “homem de luz”. E o espírito de Samuel é um deus (1 Samuel 28,13).

Descobriu-se que há espíritos mais importantes e um mais do que todos os outros. Daí o monoteísmo, a crença num só Deus, o pai dos espíritos (Hebreus 12,9). E nós somos deuses (João 10,34; e Salmo 82,6), inclusive Jesus, mas relativos. Deus mesmo é absoluto e único (o ser incontingente de são Tomás de Aquino). Mas havia e ainda há uma ambivalência sobre Deus, tido como bom e, erroneamente, mau. Deus é o Senhor da luz e das trevas (Isaias 45,7).

“Sine diabolo nullus Deus” (“Sem o diabo, Deus é nulo”). E para muitos, o diabo é a sombra de Deus. No Alcorão, o diabo é iblis. No zoroastrismo é ariman. Para o budismo é mara. No espiritismo e na ciência espiritualista, o demônio é um espírito humano atrasado. A Igreja combateu o dualismo gnóstico. Mas na prática, endeusou o diabo. Os judeus, por respeito a Javé, não pronunciavam seu nome. Mas hoje, é o nome do diabo que carismáticos católicos evitam falar, denominando-o de encardido! E os teólogos antropomorfizaram Deus, atribuindo-Lhe todas as imperfeições e mazelas humanas! Lúcifer, chefe da rebelião angélica, significa porta-luz. O verdadeiro porta-luz, porém, é Jesus! Para uma tradição, os anjos bons tornaram-se diabos por inveja do homem semelhante a Deus. Mas como pode um anjo pecar? Isso cheira mitologia, mas nos prova que os anjos são mesmo espíritos humanos. Mas até a Bíblia confunde o próprio Deus com o demônio. Deus manda Davi fazer o censo de Israel e Judá (2 Samuel 24,1). Mas, em 1 Crônicas 21,1, é de satanás que Davi recebe essa ordem!

Hoje, sabe-se pelas avançadas pesquisas espíritas, as quais têm o respaldo da Bíblia e, como vimos, da ciência espiritualista, que sempre houve, em toda a história do mundo, comunicações de espíritos humanos com o mundo físico. Moisés (não Deus) até proibiu esse contato (Deuteronômio, capítulo 18). Deus é Deus de vivos (espíritos).

Os povos, pois, erram sempre na identificação dos espíritos, mas não quanto à realidade de sua existência e comunicabilidade!

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