“O homem, com sua inteligência, sabe defender-se das feras, mas não sabe proteger-se dos próprios maus hábitos e costumes 100:67. …A maioria das pessoas não muda porque não vê seus próprios erros” 100:74.
Paramahansa Yogananda (1.893-1.952)
“Para nós, o trabalho de transformação é um caminho sagrado. Contudo, mais e mais pessoas que procuram a mudança não vão a um rabino. Vão a um psiquiatra, que não lhes ensina a iluminação, mas a auto-satisfação” 93:47.
Rabino Jonathan Omer-Man
“O julgamento do homem pelo homem, e o conseqüente medo pessoal de ser julgado, é uma das causas do mal na Terra”.
O que fizemos de real importância em nossas vidas? O que fizemos de errado e que não queremos repetir? Tenho alguma meta real em vista e o que estou fazendo hoje para que ela possa se realizar amanhã? Que futuro eu quero para mim? Qual o meu propósito de vida, aquele propósito que vim realizar nessa encarnação: minha vocação e meu dever (dharma)?
Existe um desejo inato, registrado no ser humano: o desejo de melhorar, o desejo de ir além do que somos no presente. A noção de infinito, entre todos os seres vivos, parece ser exclusiva do ser humano. Aparentemente, somente o homem consegue conceber o infinito, e assim ele o busca em todos os setores de sua existência material, sem sucesso. Quanto mais o homem tem mais ele quer. Nunca se satisfaz por que procura o infinito em coisas finitas.
Esse desejo inato de melhorar, na maioria das vezes, não é suficiente e não conseguimos sair da nossa mesmice, equivocados que estamos quanto ao alvo. Assim nos surpreendemos repetindo nossos erros e hábitos, satisfazendo nossas tendências, escravos de nosso carma (Cf. no Epílogo à Parte II):
“Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço… então não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero”.
Paulo de Tarso (Rm 7:14-19)
Nos falta o despertar da sabedoria e do discernimento, presente no mais íntimo recôndito de nosso ser. Nos falta a convicção firme e inabalável, dada pelo despertar de Buddhi (nosso corpo intuicional), que faz a nossa mente ver todos os problemas da vida na perspectiva correta e nos possibilita agir sem hesitação na meta da comunhão com o que há de divino em nós.
Esse insucesso, associado com a frustração e a insatisfação conseqüentes, é a causa da busca de ajuda específica, nas psicoterapias, ou de apoio em algum caminho espiritual. Mas nenhuma dessas alternativas será completa se não se unirem. O caminho espiritual demanda conhecimento da nossa própria psicologia e o trabalho estritamente psicológico é autolimitado, necessita de um algo mais que a espiritualidade dá. Na maioria das vezes é preciso um sofrimento intenso, ou uma perda considerada irreparável, para o homem decidir-se a procurar algum apoio, ajuda e resposta aos seus por quês. Mas antes de se chegar aos por quês (talvez nunca se chegue a todos eles), se deve buscar os para quês.
“Para chegar à essência de Deus em toda a sua grandeza é necessário antes, pelo menos, penetrar na essência de si mesmo, pois não é possível conhecer a Deus sem primeiro conhecer-se a si mesmo. Vá às profundezas da alma, o lugar secreto do Altíssimo, vá às raízes e às alturas, pois tudo o que Deus pode fazer está concentrado ali” 75:171.
Johann Eckhart (1.260-1.328)
Sacerdote dominicano alemão e professor de teologia, Mestre Eckhart também afirmava que a noção de Deus era algo que necessitávamos como uma referência inicial, mas que o objetivo final era transcendê-la. A alma humana, de início, se veria como um nada em comparação com “O TODO”. Haveria uma etapa em que ele se veria similar e depois idêntico a Deus, para, como objetivo final, romper com o conceito de Deus e viver “sem por quê”. A vontade é a chave para se perseguir esse objetivo.
Mas por que será que não temos uma vontade suficientemente forte para prosseguir na autotransformação? Por que achamos extremamente difícil fazer mudanças em nossa vida? A auto-análise, com as conseqüentes mudanças pessoais, emocionais, mentais e espirituais, é a única forma de existir alguma mudança real em nossas vidas, e para isso temos que estar livres. Se existisse uma única regra para nos autotransformarmos, ela deveria incluir, necessariamente, a aquisição da consciência plena de todos os nossos corpos e de todos os nossos estados de consciência. Essa afirmação também é válida para o autoconhecimento e para a auto-realização.
Se não conseguimos suportar uma análise crítica, vinda de outras pessoas, é sinal de que não tivemos sucesso em nossa auto-análise, ou ela foi feita sem a coragem necessária de penetrar em nossos mais profundos defeitos. Embora nossa auto-análise, sempre nos mostre quão imperfeito somos, não devemos cair nas armadilhas de nosso inconsciente. Ele tanto pode levar-nos à auto-indulgência, fazendo-nos crer que não podemos mudar, pois aquilo que vemos está por demais incrustado em nós, como pode levar-nos a um sentimento autodestrutivo, pela vergonha em nos descobrirmos imperfeitos demais para as nossas exigências egóicas. De uma maneira ou de outra não conseguiremos nos autotransformar. Devemos, portanto, fugir da indulgência e do desânimo e buscar incessantemente o nosso poder da vontade, na intenção da busca de nossa transformação.