Impactos da Passagem do Milênio (Parte 2)

2- Psique

Então, há aqueles que colocam outro risco e dizem que nós estamos sendo matéria sim, mas, não qualquer matéria; nossa matéria é informada, animada. Somos dotados de uma alma ou psique, psique – alma, ou seja, mente e emoções. Trata-se, então, de desenvolver a dimensão psíquica. Felizmente hoje, já se fala na inteligência emocional. No nosso sistema clássico uma pessoa pode chegar a ser um pós-doutor sendo analfabeto emocional, um bárbaro da vida, um ignorante da alma. Isto tem trazido grandes conseqüências bastante graves. Quando Oppenheimer presenciou, estarrecido, as conseqüências de seus estudos: a bomba atômica explodindo Nagasaki, Hiroshima e a nossa consciência ele quase enlouqueceu. Depois, afirmou que o pior perigo da humanidade é o cientista alienado. É premente uma alfabetização psíquica.

A alma é o melhor negócio! O que adianta você ganhar o mundo inteiro se você perdeu quem você é? Observe que essas palavras são antigas porém, onde nós aprendemos a desenvolver a psique? Onde há desenvolvimento emocional? Nas escolas? Há um movimento, nesse momento, dramático e salutar de reformulação do ensino. E não se trata apenas de fachada, nós temos que conspirar por uma reformulação radical. Eu me lembro de um educador, num congresso holístico internacional, que disse ao iniciar sua fala : 'Eu quero apenas ler a carta de um menino, a carta que ele deixou para os pais antes de pular do 15º andar de um edifício qualquer.' Ele abriu a carta e leu : 'Por favor, destruam as escolas!'. Até onde eu posso compreender, a única escola que merece ser preservada é aquela que facilita que o aprendiz oriente o coração para aprender. É preciso conspirar por isso, colocar alma no pré-primário: que as crianças possam aprender sobre emoções, sentimentos, exercitar relacionamentos enfim, aprender a aprender sobre si mesmo.

Infelizmente, a educação tem se resumido a um triste processo em que a criança tem que engolir informações, que se tornam obsoletas em quatro anos, e depois vomitá-las em exames. Perpetua-se esse absurdo, essa técnica de tortura, que é a comparação. Compara-se uma pessoa com outra pessoa. Cada criança é um milagre suficiente para não ter que ser comparada com ninguém a não ser consigo mesma. Mais tarde, num futuro próximo e mais saudável, comparar uma criança com outra será considerado crime. E por aí, nós podemos nos dar conta de quanto nós nos perdemos, porque vejo os pais estarrecidos, às vezes, por questões de mensalidades e outros detalhes, mas não pelo essencial.

Aqui estamos exercitando a antropologia psicosomática: nós assumimos uma dimensão anímica e aí nossos horizontes se abrem muito. Há uma questão que precisa ser dita rapidamente: as pesquisas psíquicas de ponta, na parapsicologia, na psicologia transpessoal, na tanatologia, apontam para uma hipótese da psique ser transcerebral. Nada nos evidencia, por exemplo, que a psique não possa transcender os limites da matéria e, mesmo, sobreviver à morte do corpo. Pelo contrário, uma pessoa que seja realmente cientista e que se dedique a estudar os textos recentes dessas abordagens e qualquer terapeuta com uma escuta mais generosa saberá que, talvez, 'morte' seja uma palavra a ser pronunciada no plural. A primeira morte é a morte do corpo, porém, a psique pode perdurar, num estado errático, de não apaziguamento. E isso nos traz um imperativo ético: além daquele 'aproveite tudo que você puder'. Uma pessoa que queira suicidar-se, por exemplo; ela pode matar o seu corpo, naturalmente. Agora, me diga que arma alguém pode possuir para para matar a alma, que é onde está o programa do sofrimento e desespero como também da felicidade? Quando você estiver se sentindo muito infeliz, olhe para dentro, que a causa esta aí. Quando você estiver se sentindo no sétimo céu, olhe para dentro, olhe para sua casa interna, a causa também está aí. Então, nós somos aqui uma bidimensionalidade corpo – psique e podemos ainda adicionar um terceiro risco e chamá-lo de NOUS.

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