Mediunidade x ‘Tulku’

 

Quando uma criança é gerada, a alma reencarnante ainda não tem a posse do corpo, e nem dirige o seu crescimento. Um “elemental artificial” (o anjo da guarda), criado de acordo com o seu karma, dirige e modela a forma por nascer, permanecendo nela, após o nascimento, até a criança atingir cerca de 7 anos. A alma reencarnante vai, dessa forma, paulatinamente entrando em contato com os corpos físico, emocional e mental da criança, acostumando-se com eles, até que então toma posse definitiva dele e o elemental é dissolvido.

Diferentemente, o Ser Perfeito, como não tem karma a ser esgotado, não tem um elemental à sua disposição e ele tem que arcar com a tarefa de produzir o corpo desde a sua geração embrionária. Além de acarretar um grande dispêndio de energia, termina por gerar um corpo muito mais requintado e aperfeiçoado, resistente a doenças, às degenerações senis e às tendências hereditárias. Pelo grande dispêndio energético, o Ser Perfeito trata de cuidar desse veículo (upadhi) de forma que ele dure o máximo de tempo possível. Esses corpos, preparados para trabalhos superiores, têm que ser poupados dos inumeráveis atributos da vida cotidiana, com suas torrentes de influências negativas. Daí a sua reclusão em locais inacessíveis ao mundano.

Por isso, uma forma de manifestação mais adequada, a esses Homens, é tomar emprestado os corpos dos seus discípulos (chelas). Eles ocupam esses corpos somente quando extremamente necessário, de forma temporária e para um determinado propósito. Dessa forma ele proporciona um grande avanço, tanto para o discípulo quanto para o corpo utilizado, pela proximidade com o Mestre e com Seu maravilhoso magnetismo.

O termo “tulku” pode ser definido como sendo uma sombra ou projeção, nesse mundo, de entidades de categoria imediatamente superior. Significa, literalmente, “aparecer num corpo”, “transformar o eu de alguém”, “modificar um corpo” ou “tomar a posse de um veículo”. Mas o termo abrange fatos como criar um segundo corpo temporário, criar um corpo (não temporário) para ser usado quando necessário e usar o corpo de uma outra pessoa ainda encarnada ou imediatamente após o desencarne. Em tibetano a palavra é sprul-sku e em sânscrito é avesa.

Sabemos que a mente humana é capaz de muitos prodígios. Um deles é a criação de “fantasmas astrais”. Dessa forma surgem, por exemplo, os “protetores” dos centros espíritas, que geralmente são uma projeção formada pela crença daqueles que freqüentam as sessões. Do mesmo modo as estátuas dos santos, “animadas” por esses “fantasmas”, obedecem em linhas gerais a este mecanismo. Esses “fantasmas” obedecem ao comando do seu criador e, de acordo com o poder mental desse, são capazes de muitos prodígios (milagres). Vemos então o fundamento por trás do exército de seres mágicos de Oduarpa, o “Senhor de Rosto Sombrio” dos atlantes praticantes de magia negra, criados artificialmente, “formas desejo” materializadas (como no filme ”O Retorno da Múmia”).

Existem numerosos fenômenos na natureza cuja explicação se acha na doutrina do Tulkuísmo. É o caso, por exemplo, de Apolônio de Tyana, de Sai Baba, de Antônio de Pádua e outros santos da Igreja Católica, se desdobrando e se materializando à distância, deixando em seu lugar um “fantasma” de si mesmo. Porém, criações mágicas de um Buddha, ou de um Bodhisattva, são de maior amplitude, capazes de receber uma vida real, infundida pelo próprio criador.

Os Tulkus podem ser emanações, projeções ou veículos, digamos assim, fabricados por um ser da mais elevada espiritualidade, para ficar às suas ordens ou serviço, uma espécie de estátua viva, da mais alta qualidade espiritual e física. São, os Tulkus, seres ligados ao seu escultor ou Senhor (de cérebro para cérebro ou de inteligência para inteligência). Os tulkus coexistem com o seu criador, mas esse não fica completamente encarnado naquele. São os veículos dos quais se utilizam os Bodhisattvas para continuar a sua missão de reencarnar continuamente até que a última alma se ilumine.

O Tulkuísmo (continuidade de consciência), em linhas gerais, é o processo de se transmitir cultura ou sabedoria (mental, psíquica ou moral) de fora para dentro, de um ser superior por um ser inferior. Portanto o aluno seria um tulku de seu professor, que lhe transfere seus conhecimentos, e, da mesma forma, tudo o que existe na natureza é tulku de algo que lhe é superior: o homem é tulku do Adepto ou Sábio; o animal é tulku do homem, o vegetal é tulku do animal e o mineral é tulku do vegetal. Dessa forma, um Iniciado (não necessariamente um Adepto) pode enviar parte da sua consciência e vontade para se corporificar, por um período de tempo variável, em um mensageiro/aluno, que é enviado por ele para ensinar a humanidade ou cumprir uma determinada tarefa.

A mediunidade está no outro extremo dessa condição de tulku. Todo homem é um médium, falando no sentido de “mediador”, de ponte, de pontífice. Enquanto o médium é um simples joguete inconsciente (em transe) e vítima, na maioria das vezes, de embustes de elementais inferiores e elementares, o tulku desempenha o seu papel sem perda da consciência pessoal. Ele tem conhecimento definido e completo do que está ocorrendo, como se a consciência adquirida fosse a sua própria. O tulku simplesmente empresta o seu organismo “físico/astral” para uso temporário de uma consciência superior, por consentimento mútuo.

Por isso o Budismo ortodoxo proíbe, desde logo, àquele que há de ser um tulku, todo o rito religioso corrente, para que a Iluminação, que deve ser obtida pelo estudo e esforço da mente, não venha a ser prejudicada. Segundo Boris de Zirkoff, o teósofo tem por meta se preparar para ser tulku de homens que aprenderam, por meio de árduo treinamento oculto, como se retirar, temporariamente, de suas próprias constituições exteriores e penetrar em outras para transmitir o poder, o conhecimento e a influência deles.

O médium comum, para a sua evolução, tem que aprender a dominar completamente suas tendências mediúnicas desordenadas e patológicas, mantendo-as sob o seu domínio e vontade espiritual, não se deixando dominar sob nenhuma hipótese. Tem que se transformar em um mediador consciente (um transmissor) e não um médium de transe inconsciente ou, na melhor das situações, semiconsciente.

O tulku age, na verdade, como um transformador que capta a energia superior e a transmuta em outra que pode ser apreendida pela humanidade. Para servir como mediador, o tulku deve ser capaz de não se sujeitar à vontade de quem quer que seja e nem sofrer influências de seu próprio “eu inferior”.

Na mesma razão deste fenômeno está a série histórica dos chamados “Reis Divinos” do antigo Egito, do Peru, etc.. Interessante é ainda recordar que a seita dos Docetas, no cristianismo primitivo, considerava que o próprio Jesus crucificado não fora um personagem natural mas um “outro”, um “fantasma” criado por uma entidade espiritual, mas tão real quanto o seu criador, a tal ponto identificados, que se é tomado um pelo outro. Qual dos dois morreu na cruz? O verdadeiro ou ao tulku?

C. W. Leadbeater, em sua obra “Os Mestres e a Senda”, que o Sidarta Gautama assim procedeu na ocasião de alcançar o estado de Buda, o mesmo ocorrendo com o Senhor Maitreya (o Cristo) quando assumiu o corpo de Jesus Nazareno.

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