Nagarjuna

Nagarjuna viveu no séc. II DC na Índia. Fui um sutil filósofo metafísico. Morreu esfaqueado. Encontrando-o sangrando e à morte, seus discípulos o interrogaram: – Mestre, quem fez isto? Nagarjuna respondeu – Fui eu mesmo. Os alunos insistiram, sabiam que sendo ele um budista não atentaria contra a própria vida. Quem teria ferido um homem pacífico?

Nagarjuna explicou: – Este acontecimento é uma dívida que de alguma forma eu contraí, talvez não por mim individualmente, mas carma de nossa própria civilização. Por isso posso dizer que fui eu mesmo, pois de alguma maneira retorna a mim esta agressão. Se eu disser quem o fez vocês o perseguirão e odiarão, assim este carma será realimentado e não terá fim. Se compreendermos que fui eu mesmo, ele cessa aqui comigo. E morreu sem nada revelar.

Lembrei-me da bela história de Nagarjuna por causa da explosão dos Budas de Bamyian. Não se pretende aqui considerar sobre a ignorância fundamentalista do Taliban afegão. Se os egípcios explodissem suas pirâmides estariam fazendo besteira similar, destruindo um símbolo metafísico e um patrimônio turístico do qual poderiam usufruir. O que parece surpreendente é uma coisa que a mídia não tratou de ressaltar, tão insólita deve parecer no nosso mundo de vinganças. O fato é que não se viram reportagens sobre grupos budistas apedrejando mesquitas. Nem passeatas queimando bandeiras afegãs. Tampouco ameaças de retaliações a lugares sagrados do islã em qualquer lugar do mundo. Isto que se contam os budistas em números de centenas de milhões.

Como explicar que os budistas parecem tão avessos a vindita? Somente através da compreensão da atitude de Nagarjuna. E isto é tremendamente alentador para os destinos finais da humanidade. Se a reação budista genérica foi esta então é possível que a nossa espécie um dia encontre um caminho de convivência em que os ódios não sejam realimentados. Não é a primeira vez que esta religião exótica nos mostra este caminho. Dos seis mil templos e mosteiros do Tibete os chineses só deixaram de pé uma dúzia. Não há notícia de represália budista contra obras chinesas. Creio que ressaltar estes fatos seria inspirador no nosso mundo, infelizmente as explosões são notícia, mas um inclinar conformado e reverente de um Dalai Lama não produz fumaça, nem poeira, nem estrondo. Apenas a surpresa insólita de um pacifismo convicto.

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