O Aspirante

Por Cláudio Azevedo

Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal

da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007

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Estou disposto a ver a mesma coisa de uma outra forma? E como consegui-lo? Disciplina é tornar-se discípulo de Si-mesmo.

Conforme já visto, só quando for consciente de sua auto-identificação (asmit?), e tiver conseguido a atenuação de quase todos os seus hábitos, com a conseqüente serenização da mente, é que o buscador se tornará apto ao caminho do a????gayoga de Pat?ñjal? YS II:29 e poderá ser chamado de aspirante. Mas somente pela percepção direta da Realidade (viveka-khy?ti) YS II:28 é que surgirá o supremo desapego (paravair?gya), necessário para a definitiva extinção de todos os desejos (v?san?) e misérias (kle?as) e estar-se-á apto para o surgimento interior de um campo propício à verdadeira ética livre e não mais ‘auto-imposta’ pelo poder do convencimento.

 


A Caminho no Ser

Nesse momento, em que se torna apto ao caminho, é necessário que o aspirante investigue as causas mais sutis de kle?as, através das práticas externas do a????gayoga. Essas práticas externas (bahira?gayoga) despertam cada vez mais a consciência do buscador, ao mesmo tempo em que formas cada vez mais sutis de hábitos lhe vêm à percepção. É a hora de se olhar para os nossos hábitos mais sutis, cristalizado em crenças, em que uma engrenagem desconhecida, automaticamente coloca o buscador nas mais diversas situações, cada vez mais sutis, como se algo colocasse o ‘discípulo em prova’.

Bahira?gayoga faz o buscador tomar consciência dos seus envoltórios (ko?as) mais sutis e desperta e desenvolve a energia latente (?akt?) presente neles. Daí o perigo de nosso ego autoconsciente (aha?k?ra) se apoderar dessa energia, podendo causar estragos em si mesmo e nos outros, além de densificar ainda mais o véu que o separa do Eu verdadeiro. Por isso as provas!

E elas surgirão nos relacionamentos. Na prática externa do Yoga é imprescindível a presença do outro (do grupo). Surgirão dores (kle?as) cada vez mais sutis (e intensas) devido a crenças cada vez mais profundas. A auto-observação (dhy?na) YS II:11 e ponderação sobre os opostos (pratipak?a-bh?vana?) YS II:33-34 serão cada vez mais difíceis. Nesse momento (que pode ser extrapolado para todos os momentos de dor) pode-se perguntar a si mesmo e responder, ponderando com sinceridade e sem pressa, cada um desses itens:

1.     Isso é verdade?

    a.     Esse pensamento (ou crença) é realmente verdade?

        ·         Eu realmente quero isso? Eu realmente preciso possuir isso? O outro realmente é o responsável pelo que me está ocorrendo? Ele fez isso com a intenção que estou percebendo?

    b.     Você tem certeza absoluta que esse pensamento (ou crença) é realmente verdade?

2.     Como você se sente pensando assim (ou tendo essa crença)? Essas sensações e emoções são agradáveis?

    a.     Você quer isso em 100% dos momentos?

    b.     Você tem certeza disso?

    c.     Como você se sentiria se não tivesse esse pensamento (ou essa crença)?

3.     Você quer se livrar desse pensamento (ou crença)?

    a.     O harmonioso é sempre dizer que sim! O Eu sempre diz sim…

4.     Como você pode inverter esse pensamento (ou crença)?

    a.     Como eu me sinto agora, invertendo esse pensamento (ou crença)?

Essas perguntas são suficientes para remover qualquer pensamento (ou crença) que esteja nos causando dor. Somente quando o buscador ‘provar’ ao Eu (à Presença) que está apto a se desvencilhar de todas as armadilhas que aha?k?ra puder lhe armar, é que ele poderá ser chamado de praticante avançado ou yogin YS IV:7. Como ‘discípulo aceito’, o Mestre (a Presença) surgirá…

Devemos estar sempre atentos a esses 13 pontos:

  • Estou aceitando ser responsável por aquilo que vejo, procurando me ver, no espelho das atitudes que vejo no outro?

  • Estou buscando unir ou separar?

  • Estou perdoando ou condenando?

  • Estou percebendo o óbvio, aquilo que é (a realidade)?

  • Estou insatisfeito pela razão que imagino?

  • Estou ansioso ou com medo?

  • Estou exercitando o desapego, confiante no fluxo da vida?

  • Estou escolhendo mudar todos os pensamentos que me magoam?

  • Estou escolhendo ver as coisas de uma maneira positiva?

  • Meu objetivo é tentar mudar as outras pessoas?

  • Estou tentando mudar a percepção que tenho do mundo, das pessoas e de mim mesmo?

  • Estou construindo belas aparências e lindas justificativas, para justificar meu modo de estar no mundo?

  • Estou tendo o bom senso de ter somente o necessário para ser?

           Só então o buscador estará apto a ter a verdadeira clareza para seus propósitos e então firmá-los intensamente. Essa firmeza pessoal de propósitos deve então ser exercitada. É um exercício de se sintonizar permanentemente na Vontade do Eu. A clareza de propósitos que criará a nossa realidade é dependente de se ter uma mente clara e centrada, e uma técnica extremamente poderosa, que utiliza princípios de psiconeurolinguística e auto-hipnose com esse fim, é conhecida na filosofia hindu como sa?kalpa (resolução).

          Sa?kalpa é uma técnica de auto-sugestão, à qual Paramahansa Yogananda denomina ‘técnica de afirmação’. É a forma mais simples e acessível de auto-hipnose capaz de transformar uma vida individual, pois capacita o buscador a controlar o que imagina e o que pensa. O acesso fácil ao inconsciente, a partir de um estado de consciência modificado semelhante ao sono, mas situado entre ele e a vigília, é o trunfo principal dessa técnica, quando realizada juntamente com as práticas de interiorização.

          Sabe-se que os momentos logo após o acordar, ou instantes antes de adormecer, denominados zona do crepúsculo (twilight zone), são os momentos em que o inconsciente está mais aflorado e, portanto, mais propenso a aceitar sugestões. Assim, a repetição silenciosa ou mental de frases de efeito ou pensamentos inspiradores nesses períodos do dia, pode causar efeitos muito positivos em aha?k?ra, quando realizados três vezes, antes e depois das práticas de interiorização.

 

BIBLIOGRAFIA

  • As referências bibliográficas acham-se assim indicadas: xx:yy, onde ‘xx’ é o número da referência contido na BIBLIOGRAFIA (no final do livro) e ‘yy’ é a página onde se encontra.

  • Quando precedendo ‘xx’ estiver escrito YS, a obra referenciada é o Yoga S?tra de Pat?ñjal?, BG quando for Bhagavad G?t?, VC quando for o Viveka Ch?d?mani, TB quando for o Tattvabodha? e SS quando a obra referenciada for o ?iva S?tra (obra de referência no ?ivaísmo de Cachemira). Nesses casos ‘xx’ é o capítulo e ‘yy’ é o s?tra.


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