Ved?nta dar?ana

Por Cláudio Azevedo

Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal

da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007

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Ved?nta ( ???????)

A filosofia Ved?nta (fim dos Vedas, em sânscrito), também conhecida como Uttara M?m??s? (análise da última parte dos Vedas), foi primeiramente associada com as Upani?ads e seus comentários por B?dar?ya?a no Brahm? S?tra, e, posteriormente, com a Bhagavad G?t? e o Ved?nta S?tra de Vyasa. Essa escola é, talvez, a pedra angular dos movimentos do hinduísmo atual e, certamente, foi a responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé e reformas culturais.

 

A Caminho no Ser          A distinção básica entre Ved?nta e Upani?ad é que essa última apresenta o diálogo filosófico e o primeiro a filosofia em si. Embora as Upani?ads e a Bhagavad G?t? sejam textos autorizados, no Ved?nta dar?ana, é no Brahm? S?tra que os ensinamentos dessa escola são expostos numa ordem lógica e sistemática. Além disso, o Brahm? S?tra esclarece os aparentes versos contraditórios das Upani?ads e expõe seus ensinamentos numa maneira sistemática.

O Brahm? S?tra consiste de 555 enigmáticos aforismos, em 4 capítulos, cada um dividido em 4 seções:

  • Samanvaya (harmonia ou coerência): explica que todos os textos do Ved?nta falam de Brahma?, a Realidade Última que é a meta de nossa vida;
  • Avirodha? (não-conflito): discute e refuta as possíveis objeções contra a filosofia Ved?nta;
  • S?dhana (os meios): descreve o processo pelo qual a libertação pode ser obtida;
  • Phal? (os frutos): fala do estado que é alcançado após a libertação.

Com vários aparentes pontos de discordância com os sistemas Yoga e S??khya, o Ved?nta dar?ana vê a busca do conhecimento (jñ?na-ka??a) e a auto-realização como os primeiros objetivos e a ação ritual (karma-ka??a) e a adoração (up?sana-ka??a) como acessórios. O caminho da libertação passa pelo estudo metafísico e não pela prática espiritual 3:50.

É um dar?ana de cunho fortemente teísta, que propõe a teoria de m?y? (ilusão) segundo o qual o mundo não é real tal como o percebemos. Ved?nta analisa o campo transcendental e fala que o Absoluto (Brahma?) possui um aspecto imanifesto e um manifestado, conhecido como ?abda Brahma? (Som de Brahma?).

Dirige-se àqueles que possuem mumuk?utva?, ou seja, que anseiam e buscam a liberação (mok?a) da ignorância de sua verdadeira natureza. Dividiu-se em três grupos principais:

 

Advaita Ved?nta ( ?????? ???????)Shankara

Advaita literalmente significa ‘não dois’, ou seja, é um sistema não dualístico (monista) que enfatiza a unidade (monoteísta). Seu consolidador foi ?a?kar?c?rya (788-820). ?a?kara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos das Upani?ads e de seu guru Gaudapada. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas à obtenção da paz e compreensão da verdade, que ?a?kara imortalizou no Viveka Ch?d?mani (a Jóia Suprema da Sabedoria).

Essa obra consiste de 580 versos em sânscrito, que não são divididos em capítulos ou seções, mas que apresentam um diálogo entre o Mestre e o discípulo, semelhante à Bhagavad G?t?. Disserta, de uma forma direta, lúcida e incisiva, sobre diversos assuntos como as qualificações necessárias para o caminho espiritual, aprender a discernir o real do irreal, controlar o pequeno ‘eu’ para obter a liberação e a união final com Deus.

Através da análise da consciência nos três estados comuns da experiência humana (vigília, sonho e sono), exposta na M????khya, Taittir?ya e Aitareya Upani?ad, ?a?kara explicou a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual, ou Brahma?, alcançada pelo quarto estado da experiência humana, conhecido como turiya. Nesse estado comprova-se que a separação entre sujeito e objeto é ilusória e que ?tman (nosso Espírito) e Brahma? (a Realidade Última – a Suprema Consciência) são absolutamente identificadas.

Assim, baseado nas Upani?ads, no Brahm? S?tra e no Viveka Ch?d?mani, determina essa unidade através das ‘Grandes Sentenças’ (Mahav?kya) 37:254:

  • Tat Tvam Asi (Tu és Aquilo): Ch?ndogya Upani?ad 30:95.
  • Aha? Brahm?smi (Eu Sou Brahma?): B?had?ra?yaka Upani?ad 30:118.
  • Ayam ?tman Brahm? (Esse ?tman é Brahma?): M????khya Upani?ad 30:68.
  • Prajn?na? Brahm? (Brahma? é Sabedoria): Aitareya Upani?ad 30:84.

Prescreve também a ‘Prática Quádrupla’ (ou s?dhana catu?taya?) TB:2-9:

  • Viveka (discernimento);
  • Vair?gya (desapego) ou vir?ga? (‘não r?ga’);
  • Satka-sampattih (seis virtudes): ?ama (tranqüilidade mental), dama? (autocontrole sobre os órgãos externos), uparama (cumprimento dos próprios deveres), titik?? (equanimidade), ?raddh? (fé ou confiança) e sam?dh?na? (equilíbrio); e
  • Mumuk?utva? (desejo firme e indomável de libertação).

Vi?i???dvaita Ved?nta ( ??????????? ???????)

R?m?nuja (1.040 – 1.137) foi o principal divulgador do conceito de ??iman Nar?ya?a como Brahma?, o Supremo. Outros expoentes desse sistema foram Natha Muni e Yamuncarya. A escola ensina que a Realidade Suprema (Brahma?) , embora seja Nir?k?ra (sem forma) e Nirgu?a (sem qualidades), pode ser descrito como Satya (Verdade – Realidade), Jñ?na  (Conhecimento), Anantatva (Infinitude), ?nanda (Bem-aventurança) e Amalatva (Pureza), e possui três aspectos: Brahm? (o Criador), Vi??u (o Preservador) e Rudra (o Transformador). Tradicionalmente, a Trindade hindu é designada como composta por Brahm?, Vi??u e ?iva, mas como esse site faz referências constantes ao ?iva S?tra, que considera ?iva como análogo a Brahma?, substituímos aqui ?iva por Rudra.

Afirma também que o Deus Absoluto é ??vara (Vi??u ou Nar?ya?a), e que Ele, cit (a alma) e acit (a matéria) são a mesma coisa. Vi??u seria a única realidade independente, enquanto a alma e a matéria são dependentes dele para sua existência. Devido a esta qualificação tríplice da Realidade Última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não-dualístico modificado (monismo qualificado), sendo um meio-termo entre as escolas Advaita e Dvaita Ved?nta.

 

Dvaita Ved?nta (????? ???????)

?r? Madhv?c?rya (1.199 – 1.278) também identificou Deus com Vi??u, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre a Realidade Última (Brahma?) e o nosso Espírito (?tman), entre o Criador (??vara) e a criatura (J?va), e o sistema, conseqüentemente, foi denominado Dvaita (dualístico) Ved?nta.

Para esse sistema, as almas individuais não foram criadas por Vi??u, mas coexistem com Ele e estão subjugadas à Sua Vontade eternamente. Divide as almas em três categorias: as qualificadas para a liberação (Mukti-yogyas), as presas eternamente à reencarnação (Nitya-samsarins) e as condenadas ao inferno eterno (Tamo-yogyas). A doutrina do inferno eterno está baseada no Bhagavad G?t? 16:19-20 e tenta explicar o eterno problema da existência do Mal.

 

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