Esta prática começou a generalizar-se, no mundo ocidental, em torno de 1.970 com a publicação do livro em que o Dr. Kenneth Cooper, voltado para o melhoramento do sistema cárdio-respiratório, relatava suas pesquisas e propunha um teste de aptidão física por meio de uma corrida de doze minutos. Somente em 1.992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que o sedentarismo não é apenas um fator que contribui para a ocorrência de doenças como as do coração, diabetes, hipercolesterolemia ou diabetes, mas que ele é um mal em si. Estudos demonstram que obesos, pacientes com hipercolesterolemia, diabetes e hipertensão que fazem exercícios têm uma expectativa de vida maior que magros sedentários que não apresentam essas doenças.
A American Heart Association (AHA) recomenda 15 a 30 minutos de atividade física aeróbica diária de moderada intensidade (50 a 75% da freqüência cardíaca máxima) 4:3-5, pelo menos por cinco dias na semana. A freqüência cardíaca máxima pode ser calculada diminuindo-se de 220 a idade da pessoa. São bons exemplos de atividade aeróbica o caminhar, o subir escadas, passear com o cachorro, dançar, pular corda, brincar com os filhos, correr, pedalar, remar ou nadar, praticados num ritmo que permita uma boa respiração e uma concomitante boa oxigenação dos tecidos.
Para pessoas com mais de 40 anos, a atividade física deve ser aumentada gradativamente, sob controle médico. Mas sabe-se hoje que aqueles trinta minutos diários de exercícios podem ser trocados por três períodos de 10 minutos durante o dia, com resultados praticamente iguais. Ou seja, sair de manhã cedo para comprar pão, caminhar até algum restaurante na hora do almoço e descer do ônibus algumas paradas antes, na volta do trabalho, aumentam a expectativa de duração da vida com uma vida saudável. Mas essa meia hora diária é apenas o limite inferior de tempo a partir do qual se iniciam os benefícios à saúde.
Entre os benefícios físicos de uma boa atividade física podemos citar o aumento da atividade antioxidante, maior produção de hormônio de crescimento e L-glutamina, substâncias químicas importantes no retardo do envelhecimento, melhora da imunidade e uma sensação de calma e alegria, pela produção de endorfinas. É fato comprovado que a prática de exercícios melhora a capacidade mental e impede o declínio cognitivo. Essa melhora na capacidade mental cognitiva provavelmente é devida ao aumento do suprimento sanguíneo do cérebro, com conseqüente melhor oxigenação, e maior aporte de nutrientes e de substâncias essenciais para seu funcionamento, como L-acetil-carnitina, coenzima Q10, fosfatidilserina e pregnenolona.
A maioria das pessoas utiliza, excessivamente, cerca de 50 dos 600 músculos de seu organismo e subtiliza os demais. Os resultados lógicos são transtornos articulares, mialgias, deficiência circulatória em alguns músculos, lesões por esforço repetitivo (LER) e artrites, causadas por bloqueios energéticos nos locais de tensão muscular. Diversas técnicas corporais que utilizam movimentos conscientes têm sua eficácia comprovada em promover a saúde. Essa consciência corporal é crucial para se acessar a conexão corpo-mente que nos dá poderes de cura e autocura.
Todas as tradições religiosas e filosóficas incorporaram algum tipo de exercício físico e respiratório como prática purificadora: “cansar o corpo para acalmar a mente”. Longe de ser desprovida de espiritualidade, a atividade física deve ser encarada como mais uma manifestação dela e uma forma de se trilhar o caminho que leva à iluminação. O exercício da concentração em cada movimento corporal aumenta o nosso nível de consciência e ajuda no processo meditativo que busca a união com o divino.
Esse aspecto do caminho foi esquecido na filosofia ocidental, quando, por exemplo, grandes religiosos sempre foram acometidos, no final da sua vida, de graves doenças que os levaram a uma extrema debilidade física e, invariavelmente, à morte precoce do corpo físico. São Paulo da Cruz (1.694-1.775), fundador dos passionistas, escreve inspirado em Tauler (1.300-1.361), que viveu 400 anos antes dele: “Creia-me, nunca conheci uma alma que se dedicasse à perfeição e oração e tivesse boa saúde” 87:60.
Não se pode negar que o contato com o nível divino sobrecarrega o corpo e a psique. Como dito anteriormente, Santa Teresa d’Ávila (1.515-1.582) relata que após cada êxtase: “o corpo se desconjunta, de maneira que permanece ainda dois ou três dias sem conseguir ter alguma força para escrever e sentindo grandes dores. E sempre me parece ainda que lhe fica mais sem força que antes” 87:61. Mas na filosofia oriental desconhece-se esse relato.
No budismo, hinduísmo e taoísmo, sempre se teve conhecimento de que o desenvolvimento espiritual traz grandes exigências à contraparte psicofísica do ser. Para eles, ficar doente durante a caminhada espiritual não é um fato normal, pois advém da falta de preparo prévio do corpo e da psique. No taoísmo, que trabalha primordialmente com a alternância dos opostos, a atividade espiritual (meditação) e a atividade corporal devem ser concomitantes e complementares como forma de se obter a boa saúde e a longevidade.
Isto se baseia no princípio filosófico da dualidade que existe na Unidade. As manifestações opostas do Tao (Yin e Yang) estão presentes em todas as coisas manifestadas e uma não deve nunca excluir a outra. O Espírito é Yang e o corpo é Yin, as técnicas de movimento são Yang e as posturas imóveis são Yin. A boa saúde necessita do perfeito equilíbrio entre Espírito e corpo, movimento e imobilidade.
Assim, enquanto o externo se move, o interno deve se manter imóvel (em paz e tranqüilidade), e quando o externo se imobilizar, o interno deve ser movimentado pela respiração consciente que faz fluir a energia vital pelos canais sutis. Dessa forma, o Yin estará presente no Yang, o Yang no Yin, a mobilidade na imobilidade, a imobilidade na mobilidade, o interno no externo e o externo no interno. A prática física produz energia Yang que, chegando a sua plenitude, cria a necessidade da produção crescente de energia Yin, sentar-se tranqüilamente para meditar e mentalmente purificar aquela energia. Quando o Yin atingir o seu ápice, promoverá a necessidade de intensificar o Yang, trazer tranqüilidade à mente, livrar-se do sedentarismo e estimular a circulação.
“Após praticar… [uma atividade física] por longo tempo, deve-se descansar e praticar a meditação. Então, depois da quietude gerada pela meditação, deve-se voltar aos movimentos… para estimular a circulação sangüínea, libertar-se da estagnação física e relaxar a mente” 27:17.
Da Liu
Huai-chin Nan, mestre zen e profundo conhecedor do taoísmo, aconselhava 27:33: “em seguida a um sono reparador, com a vitalidade renovada, deve-se meditar novamente. No entanto, se não houver fadiga na mente nem no corpo, será melhor ficar de pé e fazer um pouco de exercício. Desse modo, o espírito, mais desperto, poderá manter um estado apropriado e estável de placidez”. O Ch’i-Kung, o Hatha-yoga, o sistema Yogoda 101:272 de exercícios de energização ensinados por Paramahansa Yogananda (1.893-1.952), ou o T’ai Chi Ch’uan, são exercícios que combinam muito bem com essa recomendação matutina: “aumentam a energia, fortalecem a ligação entre a mente e o corpo e melhoram a ligação com a Terra” 10:211.
Por volta de 530 d.C., na China, Ta Mo fundou uma escola zen-budista no mosteiro Shao Lin. Enquanto ensinava meditação deu-se conta da fragilidade física de seus alunos e, preocupado, meditou, segundo reza a tradição, durante nove anos, sentado diante de um muro, e desenvolveu uma forma simples de exercícios para estimular a circulação sangüínea e vital, e aumentar a flexibilidade das articulações. Logo se percebeu que a prática regular permitia longos períodos de meditação sem efeitos físicos indesejáveis. Posteriormente, Ta Mo e seus discípulos tornaram os exercícios mais vigorosos e rápidos, e desenvolveram técnicas de boxe e uso de armas, tornando o sistema uma arte marcial.
Várias atividades físicas, que têm origem filosófica, como o Yoga do corpo (Hatha-yoga), o T’ai Chi Ch’uan, os exercícios derivados do zen-budismo, como os do mosteiro Shao Lin (origem do Wo-shu ou Kung-Fu) e as artes marciais japonesas (conceito de Bushido), com ênfase ao Aikido, o Ta Kuan Tao coreano e o boxe vietnamita, utilizam a meditação como um meio de atingir o ápice da técnica.
Mas quaisquer atividades físicas, desde que feitas com concentração e acompanhadas ritmicamente pela respiração, são benéficas para o corpo e para a psique. Atualmente, cada vez mais se combate o sedentarismo, considerando-o como base para a manifestação de doenças, e orienta que se busque ao menos caminhar, como forma de promoção de saúde. Se alguém gosta de musculação como atividade física, então que levante o peso concentrado no movimento realizado: o início da contração muscular, o movimento, o pico de contração, o início do relaxamento, o movimento de volta e a fase de total relaxamento da musculatura, sem esquecer de sincronizar todo o movimento com a inspiração, pausa inspiratória, expiração e pausa expiratória. O resultado para o corpo e para a mente será totalmente outro.
Na busca do caminho interior não se deve menosprezar o exterior, o nosso corpo físico, mas sim tratá-lo de maneira mais amigável e fazê-lo forte para resistir às pressões advindas do crescimento espiritual. O exercício da compaixão, dada com ênfase na doutrina budista, e do amor deve necessariamente incluir a compaixão e o amor pelo próprio corpo. Se não sabemos cuidar de nosso próprio corpo como cuidaremos do corpo daqueles a quem amamos, nossos filhos, por exemplo?