A Meditação Dirigida

A Meditação no Respirar

“Foi dito: quando exalamos, o som é ‘Ham’, ao inalar, o som é ‘Só’. ‘Ham’ é a forma de Shiva (a  Consciência), ‘Só’ é a forma de Shakti (a Energia)”  50:113

Shiva Swarodhaya, 51

 

“Esteja atento à respiração sem estar preocupado com ela. Respirar profundamente é bom, pode e deve ser aprendido. … Respirar profundamente não deve ser respirar artificialmente”  1:72.

Omar Ali-Shah – mestre sufi

 

Já descritos anteriormente, os exercícios respiratórios são considerados também como uma forma de meditação, pois concentram a mente no fluxo de energia vital pelo corpo, ou simplesmente focalizam a mente no entrar e sair de ar pelas vias respiratórias. Sincronizados ou não com exercícios corporais, são geralmente feitos no início dos exercícios meditativos, pois facilmente trazem a mente para longe do tumulto de pensamentos. Mas a concentração nos processos respiratórios, por si mesma, pode levar ao êxtase religioso. Assim, pode ser considerada como uma técnica auxiliar, associada a quaisquer das próximas técnicas, ou como técnica única.

O exercício preliminar mais simples foi descrito anteriormente nesse capítulo como respiração profunda (em “A RESPIRAÇÃO”) e consiste em, de olhos fechados, se concentrar na região faríngea (na região posterior da boca) e se visualizar essa área como uma bomba de sucção, fazendo o ar entrar (inspiração ou puraka em sânscrito) vagarosamente pelas narinas, que devem ficar imóveis, e chegar à faringe, procurando tornar a respiração audível nesse local. Ao mesmo tempo observar que a região abdominal e as costelas inferiores se expandem em primeiro lugar, seguidas das costelas intermediárias e, só então, as superiores, procurando manter os ombros imóveis e relaxados e o peito quase imóvel. Nessa hora se pára o movimento respiratório (kumbhaka em sânscrito) e se começa a soltar o ar (rechaka em sânscrito), também vagarosamente, na seqüência inversa, até todo o ar ser expelido (termina com uma leve contração abdominal), quando então se mantêm os pulmões sem ar (bahya kumbhaka em sânscrito).

Esse exercício é feito ritmicamente, podendo ser ritmado mentalmente de uma forma simétrica (tempo de inspiração, expiração e pausas respiratórias de igual duração) ou assimétrica (com um ou mais dos tempos diferente dos demais). Pode-se sincronizá-la com os batimentos cardíacos, com o ritmo de alguma música ou com o recitar de alguma oração. O importante, quando se utiliza a respiração como exercício meditativo, é a concentração no fluxo do ar, ou nos movimentos respiratórios do corpo.

É de grande utilidade como modo de voltar o foco mental para um ponto único podendo ser utilizado a qualquer momento durante o exercício meditativo e não apenas como exercício preliminar. Outra forma sugerida é se contar as respirações (a um conjunto de inspiração e expiração conta-se uma respiração) até dez e se repetir indefinidamente. Se por acaso a mente se distrair do processo respiratório antes de chegar a dez respirações, se reinicia, então, a contagem.

No Soto Zen, em que se acentua bastante a importância da concentração na respiração, recomenda-se iniciar com uma inspiração profunda e abdominal, reter-se o ar por alguns segundos e em seguida exalar. A partir de então se conta cada movimento respiratório (inalatório e exalatório), se concentrando unicamente na respiração. Após alguns dias de prática se contam apenas as exalações, depois as inalações e, por fim, deixa-se de contar e simplesmente se segue a respiração. Até nos praticantes avançados, continua a recomendação de que se concentre na respiração, sem contagens, pois sempre há o risco de se perder a serenidade e se desperdiçar tempo de meditação.

A combinação da respiração com a mentalização de seu som específico aprimora a concentração no ato de respirar. Morihei Ueshiba falava da importância de aun no kokyu: respirar o som primordial OM ou inspirar tudo. No hinduísmo o mantra que corresponde ao som da respiração, inconscientemente recitado quando se respira, é so ham 101:433, que quer dizer “eu sou isso” 50:226. Em japonês a inalação é su e a expiração é haku. Juntos formam suhaku que também quer dizer “eu sou isso”, ou, em termos de Aikido: “Eu sou o Universo” 86:63. Nossa respiração individual é parte da respiração Cósmica e meditando nela podemos nos unir ao Cosmos.

Já em outras escolas, como a ordem sufi Naqshbandi (a escola mais antiga dentro da tradição sufi), o meditar no respirar é diferente de qualquer exercício respiratório. Não se deve controlar os tempos respiratórios, nem buscar hiperventilar voluntariamente, nem produzir sons laríngeos ou gemidos, mas simplesmente ter consciência da respiração (Hush dar Dam) 1:73, observá-la desacelerar-se naturalmente e entrar num ritmo próprio gerador de conforto e tranqüilidade internos. Nesse sentido, ter consciência da respiração não é vigiá-la ou buscar acalmá-la, pois isso gerará ansiedade, mas apenas observá-la.

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