A Nova Espiritualidade

Estamos vivendo um novo ressurgimento da Religião-sabedoria dos antigos, agora numa nova dimensão, num ponto da espiral ascendente mais alto que a ocorrida entre 700 a.C. e 300 d.C..

 

O homem se arvorou como dono do conhecimento obtido, querendo fazer de sua verdade relativa, uma verdade absoluta pela imposição. Associou-se com o poder secular vigente para esse fim, fundando uma “ditadura espiritual”. A reação a ela logo se fez presente, na forma de um pacto de convivência mútua, inaugurado com a Renascença, aonde a concepção dualista chegou a seu apogeu, separando em dois pólos, em dois domínios, a ciência e a espiritualidade.

Enquanto na Antigüidade, ciência, poesia, arte e sacerdócio eram intimamente ligados, com a ciência buscando esclarecer, iluminar e libertar o ser humano, chegou-se no século XVII à total dissociação de ciência e sacerdócio, ficando a poesia e a arte entre esses dois pólos, num estado que pode ser chamado de “democracia controlada”. Nessa época, a máxima de Francis Bacon (1.561-1.626), “o conhecimento em si é poder”, levou a ciência a buscar não mais a sabedoria, e sim a manipulação com vistas à dominação. Chegou-se, enfim, ao outro extremo com o Iluminismo do século XVIII, pelo surgimento de uma nova situação, agora dita “ditadura materialista”, com a razão subjugando totalmente a subjetividade. A ciência passou a, tão somente, querer quantificar, controlar e manipular o Universo.

Essas “ditaduras” levaram à formação de um novo conceito, derivado da dialética socrática e platônica, e que chamamos de neo-dialética, pensamento filosófico inaugurado pelo alemão Hegel, no século XIX. Afirmava que todo conceito tendia a se transformar no seu oposto, como explicitado no quinto Princípio Hermético da filosofia egípcia. Como resultado da interação do par de opostos, surgiria então um novo conceito totalmente novo. Tese, antítese e síntese; ser, negação e negação da negação, numa nova posição que não seria exatamente o meio entre os dois pólos. Seria o transcender numa nova dimensão, fora da dualidade cartesiana, convergindo a ciência e a Religião-sabedoria.

Esse renascer da Religião-sabedoria, num nível mais elevado, baseado na complementaridade e não na polaridade, faz perceber as partes como um todo, e mais, cada parte é um retrato fiel do todo. Estamos vivendo uma mudança de paradigma para um paradigma holográfico, uma visão holística do mundo.

O marco inicial foi um novo despertar para o subjetivo quando ele começou a se manifestar objetivamente na forma de fenômenos, na metade do século XIX. O racionalismo científico atestou a autenticidade dos fenômenos ditos espíritas, na pessoa de físicos, biólogos, astrônomos, médicos e astrofísicos, tendo essa investigação culminado no surgimento da metapsicologia e da parapsicologia.

Foi observando os fenômenos espíritas que a russa Helena Petrovna Blavatsky (1.831-1.891) demonstrou que a maioria deles era reproduzível através da manipulação de forças, ditas ocultas, da Natureza, que apenas alguns iniciados sabiam. As mesmas forças conhecidas, por exemplo, por Jesus e ensinada aos seus discípulos. Em sociedade com Henry Steel Olcott (1.832-1.907), fundou, em 1.875, a Sociedade Teosófica.

Teosofia é a denominação genérica dada a doutrinas que se caracterizam pela busca de um conhecimento de Deus e das coisas divinas a partir do aprofundamento da vida interior. Ensina a obter tal conhecimento por uma via diferente da científica. Reúne, com base no hinduísmo e budismo, todas as religiões, a filosofia e as ciências, mas sem desprezar as aspirações místicas que se estendem pelas ciências ocultas (esoterismo). Incentiva a investigação científica e religiosa com o fito de uni-las. É o ressurgimento da Religião-sabedoria no novo contexto da complementaridade sem antagonismos.

O ramo europeu da Sociedade Teosófica, criado e dirigido pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1.861-1.925), se aproximou do cristianismo e criou a antroposofia. A Antroposofia é considerada um movimento religioso que combina fundamentos cristãos com elementos místicos.

Viu-se durante o século XX, o redescobrir miraculoso de manuscritos perdidos, filosofias quase esquecidas foram renovadas e a ciência materialista, com a física quântica, chegou a seu limite, de forma que para continuar a progredir e explicar os fatos observados, passou a buscar inspiração na filosofia perene e na Religião-sabedoria. De uma forma geral, o pensamento humano passou a desconfiar firmemente do ponto de vista puramente materialista, causador de guerras e massacres humanos, passando à busca de valores espirituais mais profundos, particularmente os orientais com suas doutrinas do carma e da reencarnação.

Essa mudança de paradigma científico inaugurou uma nova física, uma nova biologia, uma nova medicina, uma nova psicologia, etc., dando ênfase ao todo (holos em grego) sem detrimento às partes. Não se perdendo de vista o todo, entenderemos melhor as partes. Tudo está integrado dentro de um sistema ecológico, uma ecologia dita profunda. A ciência tem uma outra meta: a de reconhecer padrões de relações interdependentes e assumir que tudo que disser será expresso numa forma limitada e aproximada. Essa visão holística seria a base para a implantação da verdadeira paz, em todos os níveis, do micro ao macrocosmo. Uma visão para o século XXI, uma NOVA ERA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *