Os Escandinavos

Seus cultos eram celebrados ao ar livre, seguindo as estações, embora não tivessem uma classe sacerdotal estabelecida. Acreditavam na vida após a morte, no próprio túmulo, e no paraíso Valhalla, para onde os guerreiros mortos em combate iam (semelhante crença se vê no código de leis hindu – vide adiante).

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Criam também no inferno, Hel, para os que morriam doentes ou velhos, na existência de nove mundos e na imutabilidade do destino. Dos três grupos germânicos (oriental, ocidental e setentrional) existentes antes da conversão ao cristianismo, os mais ao norte foram os que melhor preservaram a teogonia nórdica. Seu panteão era composto de 12 casais de deuses, cuja primazia era de três deuses, Odin, Freyr e Thor.

O Edda escandinavo, escrito na Islândia entre os séculos IX e XIII, relata que, antes da criação do mundo, havia tão somente um vácuo ilimitado dotado de poderosa magia, o Ginnungagap, o “vazio bocejante” que ficava entre os domínios do fogo e do frio. Quando o gelo do Ginnungagap derreteu, das suas gotas se formaram Ymir (gigante do gelo), essencialmente mal, e Audhumla (a vaca primeva). Alimentando-se do sal do gelo, Audhumla descobriu, dentro dele, Buri (o ancestral dos deuses).

Bor, filho de Buri, foi o pai dos três deuses que criaram o mundo, a partir do cadáver de Ymir: Odin, Vili e Ve. Coube a eles, também, a tarefa de criar o primeiro casal de humanos, Askr e Embla, a partir de dois troncos de árvores. Odin inspirou-lhes o sopro da vida, Vili deu-lhes a inteligência penetrante e um coração sensível, e Ve acrescentou a capacidade de ver e ouvir. Odin teve vários filhos, entre eles Thor (o deus do trovão), Hermod (o deus mensageiro), Hodr (o deus cego) e Balder (o deus que sangra). Loki (o deus do fogo), parceiro de Thor, antes um deus brincalhão e travesso, teve o mal germinado em si mesmo, tornando-se sombrio e malicioso. Embora os deuses tivessem notado a mudança de Loki, nada fizeram para impedir. Após Loki enganar a Hodr (chateado que estava por não ter sido convidado a um banquete onde estavam os doze deuses), este involuntariamente matou Balder (o Filho de Deus). Loki então aprisionou Balder no mundo inferior (reino de sua filha Hel), e uma catástrofe inevitável foi prevista (Ragnarok – o Juízo Final). Posteriormente os deuses resolveram aprisionar Loki nos subterrâneos de uma gruta escura, amarrado sob a boca de uma serpente que o atormentaria, até a chegada do Ragnarok, quando seria morto pelo “deus supremo”.

O Ragnarok era a condenação de todos os deuses. Após um terrível inverno de três anos, travar-se-ia uma batalha final entre os deuses (o bem), junto com os Einherjar (humanos que tiveram uma morte gloriosa), todos chefiados por Odin, contra os gigantes do gelo que, junto com os mortos inglórios, seriam chefiados por Loki (o mal), junto com seus filhos: o lobo acorrentado Fenrir (a besta), a senhora do inferno Hel e a serpente marinha Jormungand. Diante desse evento, que se iniciaria quando Heimdall (o deus supremo) tocasse a sua corneta e no qual a quase totalidade dos deuses e dos humanos pereceria, o único consolo de Odin era saber que o Ragnarok não seria a causa do fim do cosmos. Um novo mundo surgiria e Balder, ressuscitado, seria adorado em outras terras, em lugar de Odin. A luta final seria entre Heimdall e Loki.

O deus da guerra, Odin, era o pai dos mortos em combate, o deus de um olho único, o qual representava o Sol radioso e onisciente. Tinha aspectos antagônicos que nos fazem compará-lo ao Shiva hindu (vide adiante). Odin, em busca de sabedoria, voluntariamente enforcou-se durante nove dias na “árvore cósmica Yggdrasil”, foi trespassado por uma lança e gritou logo antes de morrer, após o que, pelo uso das artes mágicas que então aprendera no mundo dos mortos, durante a sua morte, ressuscitara mais sábio.

Thor, o deus do trovão, era, junto com Odin, encarregado das funções religiosas e aristocráticas. Tinha aspectos semelhantes ao deus hindu Indra e ao Zeus grego. Usava um martelo mágico, o Mjollnir, em forma de cruz, com uma enorme cabeça e um cabo curto, que era a única proteção dos deuses contra os gigantes do gelo. Seu martelo tinha poderes mágicos sobre a morte e a fertilidade, sendo usado para santificar os casamentos. Já Freyr (“Senhor”), o deus da fertilidade, estava relacionado à vida camponesa. Relacionava-se com a agricultura, controlando a luz, a chuva, a alimentação e a paz.

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