“Enquanto a vitalidade [energia vital] se mantiver equilibrada pelo modo de viver correto, dieta apropriada e meditação com técnicas de pranayama (controle da energia vital), a energia vital do próprio corpo ‘eletrocutará’ a doença antes que ela possa se desenvolver” 100:82.
Paramahansa Yogananda (1.893-1.952)
“É a Natureza que cura as doenças”.
Hipócrates (460-377 a.C.)
Para a Organização Mundial de Saúde, a saúde é um estado de bem-estar psicossomático, social, ambiental e cósmico. Vida deveria ser sinônima de saúde, mas um catálogo com cerca de 35.000 doenças nos acompanha a vida, roubando-nos o vigor e fazendo-nos sofrer. O Gyu-zhi, o principal texto da literatura médica tibetana, que abrange todos os aspectos da doença (do diagnóstico ao tratamento), afirma que há 84.000 doenças, que podem ser reduzidas a 404 21:132. O próprio ser humano é o causador de suas próprias doenças, pela alimentação inadequada, pela assimilação de substâncias tóxicas como fumo, álcool e drogas, pelo estilo de vida agitado e tenso com poucas horas de sono, pelos desequilíbrios emocionais e sexuais, etc.. Para a medicina indiana, a causa de todas as doenças é o acúmulo de toxinas (ama em sânscrito).
Para a medicina tibetana, as doenças podem ter duas causas: uma de longo prazo e outra de curto prazo. A primeira diz respeito a fatores espirituais, de supostas vidas anteriores, correlacionados com o Karma (Cf. no Epílogo à Parte II) e suas doenças cármicas: males específicos que não se curam com remédios comuns. A segunda causa diz respeito à vida presente e à ação de mudanças sazonais, de “maus espíritos” (influências energéticas sutis como causas de insanidade e distúrbios psiquiátricos), de venenos, de hábitos e de certos comportamentos.
Tendo em vista o indivíduo, sabemos que existem cinco níveis de saúde: a saúde física, a emocional, a mental, a saúde social e a saúde espiritual. O homem é um ser multidimensional e para se curar o todo é preciso se curar a parte e para se curar a parte é preciso se curar o todo. É deixar emergir a nossa Essência, a Fonte de tudo, na nossa existência. A medicina integrativa é uma corrente filosófica, dentro da medicina, que visa integrar os diversos métodos de tratamento que abordam as diversas dimensões do universo que é o ser humano.
Cada dimensão humana está interligada e todas se influenciam mutuamente. Isso é um fato, e já vimos que a Psicossomática já comprova a relação entre distúrbios emocionais e mentais e algumas doenças de pele (psoríase, mononucleose infecciosa e até as verrugas vulgares), gastrintestinais (como a síndrome do cólon irritável, gastrites, colites e úlceras pépticas), doenças pulmonares (como a asma) e doenças cardíacas (como a angina e o infarto agudo do miocárdio). A verdadeira arte da ciência médica está em ver o ser humano como um todo, composto de diversas partes “vivas” e interligadas.
Não há nenhuma espécie viva que tenha compulsão por algo que possa prejudicar a si mesma. O que faz com que algumas pessoas ingiram certos líquidos ou usem certos tipos de drogas lícitas ou ilícitas? Porque será que deixamos de “ouvir” o que o nosso organismo físico “fala”? Se não estamos atento nem ao que nos faz mal emocionalmente ou mentalmente, evitando-o, por que cobrar que tenhamos atenção com o que colocamos para dentro de nosso organismo físico? Inundamos voluntariamente a nossa tela mental com as violências transmitidas pela mídia e sempre nos surpreendemos reforçando os nossos sentimentos negativos de vingança, rancor, mágoa e inveja. Nossa mente está tão distorcida que não vê o que está acontecendo com ela mesma, nem com o emocional e muito menos com o físico.
“O homem é um ser para a saúde, é um vir a ser. Temos a capacidade de nos construir, a cada momento fazer uma escolha diferente. Descobrir que algo não funciona direito e redirecionar o nosso caminho”.
Lika Queiroz
Psicóloga Transpessoal
Cada vez mais a medicina ocidental constata o que a medicina oriental defende há milênios: a saúde física é totalmente dependente da saúde mental e emocional. Essa relação pode ser uma relação de causa e efeito direto ou de somação a outros fatores. Dessa forma, mesmo as infecções e a assimilação de substâncias tóxicas (fumo, álcool e drogas) somente serão causas primárias de doenças físicas sérias se alguma forma de doença mental (ansiedades, medos, raivas, tristezas, remorsos, preocupações, neuroses, obsessões, compulsões alimentares, etc.) também estiver presente.
Traumatismos também causam doenças físicas, mas essas serão mais rapidamente debeladas se não houver um concomitante processo psicopatológico. Mas até os acidentes acontecem mais com pessoas que estejam com alguma desordem sutil emocional ou mental. A desatenção para com o que está ocorrendo ao seu redor, e até para com as sensações internas que prenunciam um perigo iminente é um fator primordial na concretização de qualquer acidente. Essa desatenção sempre tem origem em algum distúrbio emocional ou mental.
Mais ainda, muitas vezes a doença não é nada mais do que um sinal de alerta do organismo, uma forma drástica de dizer PARE! É o que acontece quando, ignorando os pequenos avisos do corpo (cefaléias, e dores no corpo, sonolências, problemas intestinais, desânimos, etc.), continuamos com o nosso ritmo intenso de vida, ansiosos, nos alimentando mal e apressadamente, adiando continuamente uma parada necessária para, no mínimo, olhar para si mesmo. De repente algo nos deixa prostrados, e esse algo varia desde um acidente com fratura óssea, por exemplo, até algum transtorno psicológico como uma depressão.
A desordem primária não está, então, no plano físico, mas sim em planos mais sutis de nossa constituição. Não adianta nos preocuparmos somente com o nosso organismo físico (uma boa alimentação e um bom exercício físico) se ignorarmos as nossas outras dimensões: a emocional, a mental e a espiritual.
Mas como a mente pode influenciar na saúde física? Os distúrbios mentais influenciam nosso corpo astral, alterando a distribuição da energia vital 100:82 (Prana – Cf. no Capítulo I), de forma que a saúde do corpo físico, dependente da boa distribuição dessa energia para todos os órgãos, se altera. Do mesmo modo, a mudança de nosso estado mental para melhor redistribui a nossa energia vital curando as doenças. Vimos como os Chakras etéricos estão intimamente relacionados com alguns plexos nervosos, e mais intimamente com as nossas glândulas endócrinas. Os hormônios que dirigem todos os aspectos do crescimento, do desenvolvimento e da atividade física diária, são regulados por nosso corpo energético. Qualquer colapso que ocorra dentro da rede energética de Nadis e Chakras etéricos levará, de alguma forma, a um mau funcionamento do corpo físico.
Muitas vezes, terapeutas conseguem curar, na presença ou não do doente, apenas com a sua força mental, oração mental ou verbalizada (“rezadeiras”), ou com a imposição das mãos, processos esses já comprovados experimentalmente, mas ainda não explicados cientificamente. A dificuldade da ciência ocidental em criar modelos experimentais para estudar completamente esses fenômenos vem da dificuldade em se medir as energias sutis das emoções e dos pensamentos, a energia mental.
E como adoecemos mentalmente? A influência de tendências hereditárias, distúrbios emocionais (mau desenvolvimento psicológico na infância com feridas emocionais ou reações anormais ao estresse) e transtornos ambientais (infecções e lesões cerebrais) são as causas das doenças mentais, desde a simples ansiedade e depressão até a esquizofrenia, autismo e os distúrbios bipolares. Mesmo o mal de Parkinson e o de Alzheimer, que têm alterações estruturais comprovadas (morte celular naquele e depósitos amilóides nesse), devem ter sua causa primeira, também, naqueles três primeiros fatores.
“O sistema nervoso não foi criado para suportar a força destrutiva de emoções intensas ou de pensamentos e sentimentos negativos e persistentes” 100:98.
Paramahansa Yogananda – santo hindu
“A loucura é uma reação sadia a um ambiente social insano” 15:78.
R. D. Laing – Psiquiatra
“Para todos os transtornos mentais, os genes… não decidem o destino. Nossos cérebros… regulam diretamente o nosso comportamento e… são o produto dos genes, do meio e do acaso que agem durante a vida” (SCIAM 17:91).
Steven E. Hyman
Neurobiologista da Harvard Medical School
Tratar os distúrbios emocionais, nossas estratégias de caráter (Cf. no capítulo anterior), é imprescindível. O tipo “Distante”, cuja ferida psicológica foi a rejeição, guarda em sua Sombra energias mentais de raiva e sempre somatizam na forma de câncer, depressão, constipação, doenças auto-imunes, autismo, anemias e sangramentos, anorexia ou bulimia, mal de Alzheimer ou esquizofrenia. O seu desafio de cura psíquica é afirmar a vida, sentir o prazer em estar na vida, viver cada momento como um momento sagrado, fazer exercícios físicos. Passaram a vida refugiados em seu mundo interior e em suas leituras, e quando se curam psiquicamente podem manifestar os seus dons de intelectuais, racionais e espiritualistas.
Já o tipo “Carente”, cuja ferida psicológica foi o abandono, guarda em sua Sombra energias agressivas que sempre somatizam na forma de problemas respiratórios, obesidade, vícios (álcool, café, chocolate, drogas, comida, sexo, pessoas, compras, trabalho, etc.), hipocondria, febres inexplicadas, diabetes ou transtornos obsessivo-compulsivos. O seu desafio de cura psíquica é experimentar a espiritualidade, tornar-se auto-suficiente e assim nutrir-se, para realizar o seu dom de doação e generosidade em sua plenitude.
O tipo “Vítima”, muito semelhante ao tipo carente, guarda também agressividade em sua Sombra, com a diferença de que a causa foi a ferida psicológica da humilhação. Sempre somatizam com faringites, amigdalites, gagueira, dislalia, hipotireoidismo, tireoidites auto-imunes, e outras formas de doenças auto-imunes, e depressão por serem pessoas com complexo de inferioridade. A sua cura está em reconhecer o seu valor pessoal em servir de forma altruísta.
O “Intimidador”, cuja ferida é a traição, guarda em sua Sombra a sensação de estar sempre vulnerável e somatiza com doenças como a hipertensão, cardiopatias, enxaquecas, estomatites, gastrites, úlceras gástricas, tensão pré-menstrual e acidentes vasculares cerebrais. Tem que aprender a confiar e entregar-se ao novo, ao desconhecido. Já o “Rígido”, cuja ferida é o medo da imperfeição, somatiza através de artroses, dores musculares, tendinites, ansiedades e insônia e tem que aprender a ser mais flexível, diminuir a autocobrança e aceitar as coisas como elas são, pois é excelente líder, pela capacidade e senso de responsabilidade adquirido na vida.
Resumindo, percebe-se que a doença e a cura são apenas visões diferentes de uma mesma realidade. A cura advém pelo senso de auto-responsabilidade (eu sou o responsável pela minha cura), por meios indiretos (desativando e desagregando todas as feridas psicológicas) ou por meios diretos (todas as formas de contato com a Fonte: a meditação em todas as suas formas, descritas adiante). Assim, esses “males da alma” devem ser convenientemente tratados, ou por uma boa terapia, ou por um caminho espiritual bem definido.
Não há mal em se ter emoções e pensamentos destrutivos, afinal somos humanos. O mal está em negarmos a existência deles e os escondermos em nosso inconsciente onde continuarão agindo negativamente em todas as dimensões de nosso ser. E mais, há uma responsabilidade pessoal embutida no nosso estado de saúde ou de doença. Adoecemos porque queremos e temos saúde porque queremos. Essa forte afirmação, já plenamente aceita no plano psicoterapêutico emocional e mental, só é compreensível e inteligível racionalmente, quando se fala em saúde física, se compreendermos o conceito oriental de Karma (Cf. no Epílogo à Parte II).
Na medicina oriental, particularmente a budista tibetana, a idéia do Karma e da enfermidade cármica é um traço característico. Segundo essa idéia, algumas enfermidades têm causa puramente espiritual e não responderão a nenhum tratamento físico, emocional ou mental, respondendo apenas a tratamentos espirituais ou religiosos que irão agir na sua origem. Assim dividem a medicina em três categorias principais: a dhármica ou religiosa, a tântrica e a somática comum.
A medicina dhármica trata a moléstia a nível espiritual e psicológico, pela meditação, oração e desenvolvimento moral, buscando entender a natureza da mente e controlar as emoções destrutivas, enquanto a medicina tântrica atua nos corpos sutis, manipulando as energias dentro do corpo, visando a cura. A terceira categoria é totalmente baseada na medicina ayurvédica (Cf. adiante).
Mesmo tendo em vista que a doença se manifesta primeiro em nossos corpos sutis, não devemos descuidar do nosso corpo, ao contrário, ele é o meio pelo qual o nosso “Eu superior” deve se manifestar e evoluir. Para isso o corpo deve ser preparado para expressar toda a luminosidade desse Eu. A alimentação correta, a respiração correta, a luz solar, o não desperdício energético e o desbloqueio energético do corpo são fundamentais para a boa saúde e para o preparo do corpo para a sua missão de manifestar a divindade.