As Bases Filosóficas e Científicas do Yoga

II CAPÍTULO

2.  TERAPIAS ALTERNATIVAS

2.1     Conceito

Quais seriam as verdadeiras razões da procura pelas medicinas paralelas, pelas terapias alternativas? O que são estas terapias alternativas?

Terapias alternativas para Amorim, “são atividades heterogêneas que se compõem de adivinhações, descrições de personalidades, até de técnicas de medicina alternativa baseadas em pressupostos místicos e religiosos. Estas técnicas são consideradas como conhecimentos pré-científicos ou embasadas no senso comum” (Amorim: 1985). Já para Laplantini, em seu livro Medicinas Paralelas, as terapias alternativas são aquelas consideradas não oficiais, à margem das medicinas legitimadas em uma certa época. Acrescenta ainda, que para a visão clássica, este tipo de medicina representa o retorno ao obscurantismo que a ordem biologizante pensava ter vencido.

As práticas alternativas, apesar de serem consideradas místicas, religiosas, advinhatórias, pré-científicas, embasadas no senso comum,  retrógradas, têm na atualidade, uma grande aceitação social. Laplantine, em seu livro Medicinas Paralelas, observa sua crescente utilização na França, um a cada dois franceses, e médicos  (um a cada quatro), terapeutas não-médicos (em torno de cinqüenta mil). Afirma sua utilização em países como Estados Unidos da América e União Soviética.

A evidência da crescente utilização destas terapias alternativas por profissionais, terapeutas, e médicos, bem como o avanço das mesmas sobre espaços, mercados de trabalho antes dominados pela medicina tradicional, considerada científica, como é o caso da Psicologia leva à polêmica, discussões e debates em alguns segmentos sociais, é o que afirma, no artigo com o título “As fronteiras entre a Psicologia e as Práticas Alternativas”, Emmanuel Zagury Tourinho, doutor em Psicologia, e Marcus Bentes Carvalho Neto mestrado em Psicologia.   Segundo os autores    essas  discussões passam a ser preocupações constantes de psicólogos e instituições que os representam, formulando questionamentos sobre a cientificidade das mesmas, bem como sobre o exercício daquelas práticas que estão à margem de conselhos superiores de atuação profissional.

Nesse contexto de críticas, as práticas alternativas são cobertas de conteúdos religiosos ou superticiosos, na busca de recursos mágicos para solucionar problemas cotidianos, enquanto que a Psicologia e outras disciplinas utilizam-se de conhecimentos científicos. Àquelas não são ensinadas em instituições formais, não são fiscalizadas ou cobradas por conselhos profissionais, enquanto que estas reúnem todos os pré-requisitos essenciais à sua utilização.

2.2     Terapias alternativas para Laplantine

Quem são estas terapias alternativas? Laplantine, em seus estudos as denominou MEDICINAS COMPLEMENTARES, buscando classificá-las em três categorias: diagnósticas, terapêuticas, diagnósticas e terapêuticas.

Para este autor as diversas terapias existentes deixaram de se reduzir à mera consulta e tratamento, de ser grupos marginais e passaram a se tornar maioria, verdadeira cultura, amplo fenômeno social.

São vários os tipos de pessoas que acreditam e utilizam essa cultura médica segundo pesquisa de Laplantine: geralmente pessoas da classe média, assalariados, profissionais liberais. O perfil destas pessoas é o de pessoas de trinta e cinco e cinqüenta anos, com maior penetração entre as mulheres. A freqüência de sua utilização se distribui entre alguns ocasionalmente, outros sistematicamente como recusa global da alopatia e cuidado com a saúde. O autor classifica as pessoas que as utilizam, como medicina alternativa (Medicinas Paralelas, p. 34) dessa forma: doentes que sofrem de perturbações crônicas em que não é possível localizar a sede de uma lesão ou detectar uma exata etiologia (aquelas tidas como funcionais) que são dores de cabeça, insônia, perturbações digestivas, alergias, etc.; os que apresentam afecções agudas, sem grande gravidade; as preventivas; as que fazem o papel de cura no sentido da desintoxicação (droga, tabagismo etc) e por casos incuráveis ou rejeitados pela medicina.

Abordando sobre uma das terapias alternativas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), descrevemos abaixo a técnica Yoga.

Terapia alternativa – Yoga

Conceito

Yoga para Aurélio Buarque de Holanda Ferreira é um sistema ortodoxo de filosofia da Índia, elaborado ao longo de séculos, que constitui o lado prático do sistema samkhya, no qual se expõem os meios fisiológicos e psíquicos que devem ser empregados para se atingir a moksa (um estado de perfeição, liberto de paixões e de inquietudes, resultado e função específica do conhecimento verdadeiro) (V. darsana).

Darsana – (Do sânscr.) – cada uma das escolas filosóficas da Índia, que se classificam em geral, em ortodoxas e heterodoxas, conforme aceitem ou não  a autoridade do Veda. São seis as ortodoxas: niaia, vaisesica, sanquia, ioga, mimansa e verdanta; e duas as heterodoxas principais: o budismo e o jainismo (Cf. hinduísmo).

Segundo Daniel Goleman existem inúmeras escolas espirituais chamadas “yoga” que buscam alcançar esta perfeição através do conhecimento verdadeiro:

  • bhakti yoga é o caminho da devoção;
  • o Karma yoga usa o serviço altruísta;
  • e o gyana yoga toma o intelecto como seu veículo.
  • A via esboçada no Yoga Sutras condensa todas elas.

Para este mesmo autor, embora seus métodos possam variar, todas as trilhas yogicas buscam transcender a dualidade na união. Consideram que o lócus da dualidade está dentro da mente, na separação entre os mecanismos de consciência e seu objeto. Para transcender a dualidade, o aspirante deve penetrar um estado em que essa falha é superada na fusão do vivenciador com o objeto. Esse estado é o samadhi, onde a consciência do meditador funde-se com seus conteúdos.

Ainda sobre esta questão, afirma o autor que a mente está repleta de ondas de pensamento e que estas ondas são fonte de emoções fortes e de hábitos cegos que prendem o homem a um falso eu. Estas ondas de pensamentos criam o abismo que o yoga procura transpor.

Quando sua mente fica calma e quieta, o homem pode conhecer a si mesmo como realmente é. A medida em que suas ondas de pensamento são subjugadas, o ego do yogi retira-se. Finalmente, como homem liberto, está apto a vestir seu ego ou a descartá-lo como um conjunto de roupas. Vestindo seu ego ele age no mundo; descartando-o pelo apaziguamento da mente, ele une-se a Deus. Acalmando suas ondas de pensamento, apaziguando sua mente, o yogi encontrará a união.

Mas primeiro ele precisa submeter-se a uma árdua disciplina de mente e corpo. Essa transformação começa com a concentração, voltando sua mente para a unidirecionalidade.

O YOGA ASHTANGA DE PATANJALI

Para Patanjali o samadhi, mais do que o nirvana é a estrada para a libertação.

O Yoga real (“do rei”), ou raja yoga impõe ashtanga: oito práticas-chave ou membros. Os dois primeiros, yama e niyama, são o treino moral pra a pureza. Os dois seguintes são asana, o desenvolvimento através de exercícios de uma postura firme e ereta, ou “sentada”, e pranayam, exercícios para controlar e acalmar a respiração.  Tanto o terceiro quanto o quarto membros se desenvolveram intrincadamente por conta própria, de modo que algumas escolas yógicas usam essas práticas como seus métodos principais – e a maioria dos ocidentais associam “yoga” exclusivamente com esses dois membros. No quinto membro, pratyahara, o yogui subtrai sua mente dos objetos dos sentidos, focalizando sua atenção no objeto de meditação.  No sexto membro, dharana, ele prende sua mente ao objeto. O sétimo, dhyana, envolve  “um fluxo ininterrupto de pensamento na direção do objeto de concentração”. O sexto e o sétimo membros correspondem, no sistema Visuddhimagga, à aplicação inicial e sustentada de atenção. O membro final é o samadhi que é o próprio yoga; é o meio mais elevado.

A combinação dharana-dhyana-samadhi é um estado chamado samyama. Esse estado altamente concentrado dá a chave para poderes sobrenaturais como a clarividência e a telepatia. Esse poderes são vistos como sutis armadilhas para o aspirante. O yogi é instado a desprezar esses engodos como derradeiras tentações para o ego.

Passos para a Meditação:

Patanjali elenca diversos objetos adequados para a concentração: a sílaba Om, ou outro mantra; o coração; uma divindade ou “alma iluminada”; ou um símbolo divino.

O yogi ao fundir a consciência com o objeto primeiro, alcançará o samadhi savichara, concentração-acesso. Nesse nível existe identidade com o objeto primeiro mesclada com a percepção de nome, qualidade e conhecimento. Depois disso, vem o samadhi nirvichara – primeiro jhana, em que há identidade sem outra percepção. Uma vez atingido o nível nirvichara o yogi deve eliminar até mesmo o pensamento do objeto primeiro e assim alcançar o samadhi nirvikalpa, em que todo sentimento de dualidade fica obliterado.

 Nirvikalpa é o samadhi mais profundo; nele, a mente está na sua maior quietude. Neste estado é varrido para longe todas as idéias de dor e censura… Todas as dúvidas e desconfianças são dissipadas para sempre; as oscilações da mente se interrompem; o impulso das ações passadas se extingue. Mas um limite do samadhi nirvikalpa é que ele só pode ser gozado enquanto o yogi permanece quieto, absorto na meditação profunda. A tradição yogica diz que alguém neste estado poderia ficar por até três meses em meditação profunda ininterrupta, com a respiração e outras funções metabólicas virtualmente suspensas durante todo esse tempo.

 O passo final do yoga ashtanga é estender a quietude profunda do samadhi ao estado de virgília do yogi. Quando o samadhi se difunde ao longo dos outros estados de modo que nenhuma atividade ou agitação interior possa enfraquecer seu domínio sobre a mente do yogi, este fica marcado como um jivan-mukti, um homem liberto.

DEFINIÇÃO OPERACIONAL PARA DISTINGUIR ENTRE UM YOGI EM SAMADHI NIRVIKALPA  E UM SAMADHI SAHAJ.

O yogi em sahaj parcialmente reside no samadhi, não mais se identificando com seus pensamentos ou sentidos. Seu ser está enraizado numa consciência que transcende o mundo sensorial, e assim ele permanece separado desse mundo ainda que operando nele. Esse “ideal do yoga, o estado jivvan-mukti, escreve Eliade (1970), é a vida num “eterno presente” em que “já não se possui uma consciência pessoal – isto é, uma consciência alimentada por uma própria história – mas uma consciência testemunha que é pura lucidez e espontaneidade”.

No samadhi sahaj, a meditação  é auto-sustentada, fato espontâneo da existência do yogi. Ele exprime sua tranqüilidade de mente em suas ações e está livre de todos os laços e interesses do ego, e suas ações não estão mais presas pelos depósitos do passado. Meher Baba (1967) descreve isso como “um estado de total vigilância” em que não há fluxo e refluxo, acréscimo e decréscimo, mas apenas a estabilidade da verdadeira percepção.  O jivan-mukti transcendeu a consciência de seu corpo junto com o universo conceitual; ele não vê o mundo como diferente de si mesmo. Para aquele que vive no sahaj, não há ego e não há outros.

Vyas Dev (1970), por exemplo, detalha 250 posturas asana, elabora cinqüenta diferentes exercícios pranayam e 25 shat-karmas e mudras – métodos para limpeza dos órgãos internos. Ao meditar superar os obstáculos à concentração, como dúvida, preguiça, desespero e vontade de prazeres sensuais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *