As Bases Filosóficas e Científicas do Yoga

I CAPÍTULO

I – O CONTEXTO SOCIAL DA CRISE GENERALIZADA

Esta é uma época em que as mudanças são muito mais rápidas do que em qualquer período da história da humanidade. O racionalismo científico, analítico e mecanicista enaltece o aspecto lógico e quantitativo da realidade ocasionando um estilo de vida competitivo e acelerado, vigorando o individualismo, as desigualdades, a exclusão social, alta taxa de desemprego, bem como uma verdadeira luta pela sobrevivência. Apesar da lógica da cidadania que prima pela qualidade de vida, num ambiente de tensão e medo, de competição, o homem age cada vez mais, motivado por impulsos que o levam à dissociação entre sentimento e ação.

Neste contexto surgem então, sintomas como tensão, irritação, ansiedade, angústia, tristeza, apatia, fadiga, depressão, acomodação, rigidez, desmotivação, falta de metas ou propósito de vida. O homem individualiza-se, supervaloriza o que é material, age egoisticamente, isola-se. Conflitos de toda a ordem se somam às exigências constantes do ambiente, acarretando uma enorme perda de energia vital.

 Neste novo panorama mundial, há um desgaste excessivo no esforço sobre-humano em busca das condições necessárias à sobrevivência, com alto nível de estresse, diversas situações conflitantes, crises de todas as espécies prejudiciais ao homem, levando-o a uma série de doenças psicossomáticas.

Já não há mais tempo para o lazer; este está cada vez menor, uma vez que há necessidade de duplicar ou triplicar os turnos de trabalho para a aquisição da renda necessária à sobrevivência. O homem que finda o dia é um homem desvitalizado, cansado. É normal ser estressado, desaprendeu-se a preservar o equilíbrio natural do organismo, obedece-se à lógica do sistema através da necessidade, da utilização, cada vez maior de drogas para dormir e relaxar. Há uma verdadeira desconexão do corpo com seus mecanismos de defesa.

 As espécies vivas do planeta, inclusive a humana, estão vivendo em um mundo cheio de tensão e profundas modificações contrárias à lei da sobrevivência, em virtude de um modo consumista de viver. Tudo reflete uma falência ética com perda de valores fundamentais como a solidariedade, a humildade, o respeito à vida e à natureza. Uma prova concreta disso são as atitudes políticas em áreas como saúde, educação, estampadas em todos os jornais, como desvio de verbas, roubos etc. Cada vez mais cresce a variedade de tipos de falcatruas rumo ao enriquecimento ilícito.

 Dessa forma, a sociedade adota um novo estilo de vida. Os valores sofreram e sofrem ao longo dos tempos expressivas modificações. Fala-se muito em crise. Crises de todos os tipos: financeira, cultural, social, familiar, de valores. Desse modo, vive-se em uma época conturbada pela desorganização geral dos sistemas sócio-culturais humanos. Em meio às crises surge a necessidade do desenvolvimento de capacidades que levem ao aprendizado ou re-aprendizado, no sentido de reduzir o grande desgaste e melhorar a qualidade de vida. É imperativo o acesso a instrumentos que desenvolvam atitudes mais positivas, de modo a transformar a crise em oportunidade de crescimento e aprendizado. À linguagem, ao pensamento, às ações cotidianas atuais acresce-se a urgência de atitudes rumo à busca por medidas alternativas que minimizem ou resolvam os conflitos existenciais, enfim, que dêem conta da nova problemática mundial.

 Nessa perspectiva, sonha-se com um ambiente especial, com o céu, com o paraíso perdido, com o pacto social que contemple “a ampliação dos direitos de cidadania aos pobres e miseráveis, que na sociedade comporte os diferentes e as diferenças sem violência, com redistribuição de renda real, educação, moradia, saneamento básico e saúde para todos. Com a criação de uma identidade comum às pessoas, capaz de cimentar alianças entre diferentes classes sociais e o poder público”. (GONDIM, Linda. P  1900).

 Para muitos, isso só será possível, na medida em que cada um desperte uma consciência mais ampla do ser, que tome a si a responsabilidade pelo processo evolutivo próprio e do sistema social e cultural no qual se encontra envolvido, através da integração homem e natureza. Para outros, nada disso importa, o que deve prevalecer é a lógica do capitalismo apesar das suas conseqüências como exploração, divisão não eqüitativa de renda etc.

 Essa forma de viver, dentro do contexto da crise global, gera a fragmentação, a dissociação e a desvinculação do homem na sua totalidade (pensamento/sentimento/ação), embora permeada pela busca de uma vida melhor, acaba por manter a situação vigente.

 Na atualidade fala-se muito em qualidade de vida para referir-se à saúde, e esta passa a ser um imperativo, para que haja chances de um futuro viável e digno. O enfoque vital há que passar a ser orgânico, sistêmico, ecológico e integrativo. Há que se enfrentar o desafio da crise e lutar pela consciência de inteireza.

 Em meio a este cenário, surge no contexto social não apenas a procura como também a oferta por um caminho alternativo que leve a uma melhor forma de viver, de curar, de prevenir a saúde. Esta procura, este caminho são visíveis através da crescente procura pelas terapias alternativas, em detrimento da medicina tradicional.

 Para essa oferta, valem as leis do mercado. Cada vez mais profissionais como médicos, psicólogos, psiquiatras considerados medicina tradicional, adotam as terapias alternativas como complementares às suas metodologias de trabalho.

 Essa grande aceitação social das terapias alternativas representa, portanto, um descrédito na capacidade da medicina tradicional dar conta da problemática atual com relação à saúde e bem estar social. Uma denúncia real desse estado de tensão e conflito em que vive o homem contemporâneo, sua incessante busca, do seu desespero para alcançar um mundo melhor, um mundo digno, um mundo mais saudável, a humanização que se faz necessária.

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