Citta-v?tti


Por Cláudio Azevedo

Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal

da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007

Para melhor visualização faça o download das fontes usadas no site: tahoma, tahoma bold, sanskrit98, sanskrit2003

Agora, com a mente plenamente interiorizada, chega-se, então, ao ponto mais alto da prática: a investigação da base formadora da mente associativa e discriminativa, que é a causa das reações mentais (citta-v?tti) em manomaya? ko?a. Para Pat?ñjal?essas reações mentais são de cinco tipos (pañcatayyah), podendo ser dolorosas (as agradáveis e as desagradáveis) ou indolores (nem agradáveis nem desagradáveis) YS I:5, ou seja, dez ao todo. O objetivo é cessar todos essas reações mentais para se atingir um estado ampliado de consciência conhecido como superconsciência (sam?dhi): única forma consciente de se contemplar o Eu.



A Caminho no Ser

Pat?ñjal? discrimina essas modificações mentais em dois tipos objetivos, pois surgem durante o contato com um objeto, dois subjetivos, pois surgem sem esse contato, e um vazio de conteúdo YS I:6-11:

 

· Conhecimento correto (pram??a?) – são as modificações mentais baseadas na percepção sob contato direto (pratyak?a) com um objeto, ou sob contato indireto, como na inferência lógica (anum?na) baseada em evidências ou experiências prévias, ou em um testemunho reconhecido (?gam?) de um Mestre, de uma Escritura ou após o contato com o próprio Eu;

· Conhecimento equivocado (viparyaya) – são as modificações mentais baseadas em um conhecimento mental equivocado, após contato direto ou indireto com um objeto (crenças, aparências ou ilusões), pois não corresponde à real forma do objeto. Sempre que não houver correspondência entre a nossa percepção e o objeto em si, haverá viparyaya ou avidy? (ignorância);

· Conhecimento passado ou memória (sm?ti) – onde a modificação mental vem da percepção de uma imagem de um objeto que foi retida e impressa (sa?sk?ra), proveniente de um contato prévio, direto ou indireto, com esse objeto. Pode ser consciente, subconsciente ou inconsciente, essa última conhecida como karm??aya?;

· Conhecimento imaginário ou construção mental (vikalpa) são imagens mentais que provém de um conhecimento sem nenhuma base objetiva, mas baseadas em material retido e impresso na memória: são criações da mente. Quando aparecem de forma ordenada constituem a fantasia ou imaginação, quando caóticas, fantásticas e desordenadas, constituem o sonho (svapna);

· Conhecimento ausente ou sono profundo (nidr?) – onde a mente continua ativa em seu próprio plano e as modificações mentais, embora pareçam ter cessado, persistem ‘silenciosas’ e não-perceptíveis como imagens mentais (pratyaya) em manomaya? ko?a. Devido a essa desconexão entre a mente e o cérebro, perde-se a consciência tanto do eu externo e individual (‘exclusivo’) quanto do Eu interno ampliado (‘inclusivo’).

 

Todos esses processos mentais têm o poder de co-criar a nossa realidade física e a nossa percepção da mesma. Experimentos científicos cada vez mais comprovam a conexão mente-matéria e demonstram a influência das reações mentais na realidade que experimentamos e no ambiente ao nosso redor. Essas reações mentais (citta-v?tti) são grandes atratores, para usar a nomenclatura usada pela matemática da complexidade, que atraem, como um grande imã, aquilo em que focam.

A importância, por exemplo, da imaginação nesse processo é bem reconhecida e a visualização criativa também tem um papel fundamental na prática de concentração (dh?ra??) exercida pelos iniciantes, envolvidos pelos seus hábitos (sa?sk?ras) e dores (ud?r???? kle?as). Mas mesmo assim não devemos esquecer que essa é uma prática que deve ser abandonada nesse ponto da caminhada, pois, a partir daqui, ela começa a se constituir um obstáculo ao acesso a estados mais profundos e ampliados de consciência:

 

yaegiíÄv&iÄinraex>.2.

yoga? citta-v?tti-nirodha?

(I-2) Yoga é a cessação (nirodha?) [da identificação com] dos processos reativos (v?tti) da mente (citta).

 

A natureza da mente (citta) é a instabilidade (v?tti), principalmente de seu aspecto inferior (manomaya? ko?a). Nunca poderemos cessá-la permanentemente, mas apenas mudar o foco da percepção para além desse nível, pois o conceito de citta inclui diversos níveis de mente. Enquanto não ultrapassarmos todos os níveis da mente, nos livrando de todas as ilusões, a serenidade da mente inferior permanecerá intermitente: “ela vem e vai”. 30:46

A cessação temporária dessas reações ocorre sempre quando se cessa a atividade associativa e discriminativa em manomaya? ko?a. Mas para isso duas condições são imprescindíveis YS I:12: um esforço em permanecer nesse estado (abhy?sa) YS I:13, que somente se estabelece firmemente através da prática por longo tempo, sem interrupção e com reverente seriedade e fé YS I:14, e pelo perfeito domínio consciente (va??k?ra sa?jñ?) de todos os desejos (v?san?s) por objetos percebidos (d???a-vi?ayas) ou revelados (?nu?ravika-vi?ayas) YS I:15: desapego (vair?gya).

 

BIBLIOGRAFIA

  • As referências bibliográficas acham-se assim indicadas: xx:yy, onde ‘xx’ é o número da referência contido na BIBLIOGRAFIA (no final do livro) e ‘yy’ é a página onde se encontra.

  • Quando precedendo ‘xx’ estiver escrito YS, a obra referenciada é o Yoga S?tra de Pat?ñjal?, BG quando for Bhagavad G?t?, VC quando for o Viveka Ch?d?mani, TB quando for o Tattvabodha? e SS quando a obra referenciada for o ?iva S?tra (obra de referência no ?ivaísmo de Cachemira). Nesses casos ‘xx’ é o capítulo e ‘yy’ é o s?tra.

 

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