Já que a ciência não tem meios, ainda, de descrever e explicar o que ocorre, vamos recorrer à metafísica das tradições para isso. É em nossas vísceras, principalmente em nosso coração, onde a maior quantidade de energia vital se encontra.
Wilhelm Reich afirmava que essa energia vital, que ele chamava de orgone, estava diretamente ligada a todas as nossas vísceras. Envolvendo-as fica uma camada energética mais externa, composta dos músculos e da pele, que dão a forma física ao corpo. E por fim, externamente, nossa energia vital forma um campo energético, ligado profundamente às vísceras e se diluindo à medida que se afasta do corpo físico.
Existe um movimento energético contínuo de contração e expansão entre o cerne (nossas vísceras) e a periferia. A expansão energética faz com que a pele fique quente e brilhante e a sua contração faz com ela perca sua vitalidade, ficando fria e sem brilho, quase acinzentada. Esses movimentos se fazem, mais intensamente, nas áreas correspondentes aos Chakras principais, mas ocorre em todos os locais onde há Chakras.
Além desse pulsar, a energia vital flui em ondas, através do corpo, usando dois circuitos energéticos: um superficial e um profundo. Ambos os fluxos se iniciam na região sacral, ascendem posteriormente pela pelve, dorso, costas, nuca e cabeça e descem anteriormente pela face, tórax, abdome e púbis, até chegar aos membros inferiores, de onde ascendem novamente pela face posterior das pernas até a região sacral novamente.
O circuito energético superficial está ligado aos nossos músculos e pele, e se move através de nossos músculos estriados (voluntários), e nos faz interagir com o aparente mundo externo material. É esse fluxo energético que nos faz ter a consciência da existência de um ego pessoal, com o qual percebemos a “realidade” externa e a interna, e buscar uma harmonização entre elas (homeostase). Quando esse circuito está fluindo livre de quaisquer bloqueios, nos sentimos seguros na realização de nossas tarefas e fazemo-las de forma prazerosa: o nosso êxito nos dá uma grande sensação de prazer.
Já o circuito energético profundo está ligado a nossas vísceras e aos músculos lisos, interligando-os. Esse fluxo se faz de forma suave e fluida. É ele o responsável por nossa sensibilidade, que nos faz perceber, no corpo, nossos sentimentos, emoções e anseios mais profundos. Reich se referia a essas sensações viscerais como a nossa Essência. Quando esse circuito está fluindo livre de quaisquer bloqueios, nos sentimos amorosos, criativos, íntegros, voltados para a realização pessoal e com a sensação de se estar em comunhão com a vida.
Durante os exercícios espirituais (alguns descritos no próximo capítulo), quando se mentaliza o fluxo do ar, na respiração, fluindo pelos canais sutis (exercícios de pranayama), a energia vital realmente passa a fluir por eles. Essa mentalização nasce da dimensão hárica (Cf. adiante), na forma de intencionalidade. Há uma intenção em se fazer esse fluxo energético e essa intenção age, através do Tan-t’ien inferior, no corpo astral, fazendo o Ch’i fluir. Os efeitos desse fluxo no organismo são descritos no final do capítulo.
Para o taoísmo, a força espiritual da intenção (tan) está plantada no Tan-t’ien (3,5 cm abaixo do umbigo) e pode ser ativada pela respiração nesse ponto. Então, levar Ch’i pela respiração ao Tan-t’ien é a forma de ativar nossa energia interior. Essa energia interior é responsável pela autopreservação (instintos básicos que originam o medo e a raiva, a sede e a fome) e pela preservação da espécie (sexualidade). Ativado, o Tan-t’ien faz circular o Ch’i pessoal pelos canais e meridianos, levando vitalidade a todo o organismo, energia que assume a forma física nos diversos líquidos corporais.
Dessa forma, quando a energia (o Ch’i ou Prana), movida inconscientemente pela respiração, atinge o segundo Chakra, ela é incorporada ao sêmen (espermatozóide) ou ao fluxo menstrual (óvulo). No terceiro Chakra ela é incorporada a todas as secreções gastrintestinais e de suas glândulas associadas (fígado e pâncreas). No quarto Chakra e no Chakra do baço a vitalidade segue com o sangue e com a linfa, no quinto Chakra está junto com as secreções respiratórias e no sexto com a salivação.
Todas esses líquidos corporais são passíveis de perda, diminuindo a vitalidade e encurtando a vida. Somos um grande acúmulo de energia, materializada em nossa água corporal, que é responsável por 70% da nossa constituição física. As principais funções da água nos organismos vivos relacionam-se ao transporte das substâncias reguladoras dos processos vitais e à manutenção das estruturas celulares dos tecidos. Dez por cento da água contida no corpo humano se encontra no sangue, vinte por cento se localizam nos interstícios celulares e os setenta por cento restantes ocupam o interior das células. O abdome humano, onde a água está mais presente, é conhecido pela filosofia taoísta como região das águas.
A respiração abdominal consciente (como nos exercícios de pranayama) traz o fogo de Li (nome dado pelos taoístas ao terceiro Chakra) para a região das águas (abdome), ou em outras palavras, faz a energia vital do ar passar pelo terceiro Chakra em direção ao segundo Chakra durante a inspiração. Isso transforma o ching (nome taoísta da substância sexual presente no sêmen e nos óvulos e fluxo menstrual) novamente em Ch’i (energia vital) 27:83. Com o ching transformado em Ch’i, esse prossegue ao primeiro Chakra, no períneo, e daí pode percorrer, mentalmente através do Nadi Sushumna, por todos canais e meridianos do corpo. Para o taoísmo, se essa energia retornar a circular pelo corpo, a vida será prolongada. O objetivo último do taoísmo é tornar o corpo físico imortal.
Quando a alimentação é adequada, ou é ausente (no jejum e no “viver de luz”), menor é a necessidade de Ch’i gasto na digestão, e essa energia vital pode ser usada para circular pelo corpo sutil. Da mesma forma, o acalmar da circulação sangüínea (pelo acalmar do coração) também economiza Ch’i. A circulação do Ch’i pelos canais sutis, faz com que eles se dilatem. Esse “preparo” faz com que Sushumna possa ser capaz de suportar a ascensão da energia primordial (Kundalini), energia essa mais densa. Esse é um processo longo e gradual que, como já dito antes, deve ser orientado por alguém treinado, um Mestre ou Guru que já tenha passado por esse processo. O perigo reside em se forçar a subida da Kundalini por um canal delicado demais, “queimando-o” e danificando-o, com conseqüências irreversíveis aos veículos (físico, emocional e mental) da alma humana. Por outro lado, à medida que o Ch’i prepara Sushumna e a Kundalini sobe, diversas transformações físicas, emocionais, mentais e espirituais vão acontecendo, de acordo com o Chakra atingido.
De início, a ascensão da energia primordial se faz involuntariamente, levando às maravilhosas experiências já descritas no Capítulo I. Esse é o resultado de um processo diário de exercícios espirituais (pranayamas e meditação), que fazem circular o Ch’i. Nessa circulação, a energia vital que foi depositada em líquidos corporais é re-transformada em Ch’i e sempre que essa energia passa pela porção anterior do sexto Chakra, se forma o néctar divino, um líquido semelhante à saliva, mas adocicado, que deve ser deglutido para retornar ao organismo (abdome) e ser re-transformado em Ch’i. Analogamente, sempre que o Ch’i passa pelo Chakra coronário, a energia vital se transforma em energia espiritual e energia do vazio, ou, segundo os taoístas: Ch’i se transforma em shen (espírito), a cada inspiração, e em shu (vazio) a cada expiração 27:88.
À medida que aumenta a energia espiritual, maior é o trabalho em Sushumna, de forma que as subidas da energia primordial (Kundalini) se tornam cada vez mais freqüentes e cada vez mais voluntárias. No nível mais alto de meditação, quando a Kundalini atinge voluntariamente, sob o comando intencional do Tan t’ien (da dimensão hárica), o Chakra coronário, adquire-se a capacidade de abandonar o corpo, voluntariamente através desse ponto. Transcende-se a vida e a morte.