A Realidade

“A distinção [entre o real e o imaginário] está apenas em nossas mentes?”

Stephen Hawking – físico

 

Esperar que a vida seja uma ilusão é um passo para me desligar dela,

morto, maluco ou solitário. Sofrer com as lições da vida é não ver que

por trás do espinho existe a flor, e que a pedra no meu caminho foi colocada

para que eu aprenda a andar  e me desviar dela.

Sonhando, o sonho é real. Seja um sonho bom, seja um sonho ruim,

que bom que sempre posso aprender.

 

 

O que é realidade? O que é o verdadeiro? A moderna física (Cf. no Volume 1), com a teoria das supercordas, admite e prova matematicamente a possibilidade de múltiplas realidades (o islamismo admite a existência de 18 mil universos criados por Alá), mas a vivência delas, pelo ser humano, é uma função do estado de consciência em que ele se encontra. Vimos que as diversas tradições religiosas falam de diversos estados de consciência, que podem ser desenvolvidos, seja no estado de vigília ou fora dele. Há inúmeras “versões” da realidade, ou dimensões, cada uma com o seu propósito, seu tempo e seu espaço: sua existência. Cada dimensão é tão real quanto mais atenção a nossa mente dá a elas.

O estado de vigília deveria significar uma presença real no “aqui e agora”: estarmos acordados. Mas na verdade vivemos a nossa vigília num estado de hipnotismo, com nossos pensamentos e sentimentos vivendo ou no passado ou no futuro. Não estamos vigilantes e sim adormecidos em nossos pensamentos, sonhando acordados. Viver a realidade vigil significa trazer à consciência o mundo físico, através de nossas sensações, emoções e pensamentos, evocados pelo contato com esse mundo.

Quando passamos a viver o presente conscientemente, passamos a perceber e a interpretar tudo o que nos acontece, o que fazemos e como reagimos. Basicamente, sempre teremos duas formas de interpretar cada situação, uma negativa (como é que ele, ou ela, faz isso comigo?) e uma positiva (o que essa situação quer me mostrr e o que posso aprender com ela), e a partir disso podemos fazer uma miríade de escolhas quanto à ação que iremos realizar, que inclui até nada fazer. mas, presos em nossos “pré-conceitos”, situações críticas nos faze perder a noção de totalidade, não vemos as múltiplas formas de perceber os fatos e, presos à negatividade, nos vemos reagindo automaticamente e, na maioria das vezes, extravasando nossas negatividades.

As religiões, a filosofia, a psicologia e, mais recentemente, até a física tem se deparado com essas questões: posso realmente reagir ao que me acontece de uma forma nova (livre-arbítrio) ou estou “condenado” à mesma antiga reação (determinismo)? Uma das conseqüências das equações da relatividade de Einstein é a relatividade do tempo, que em resumo diz que presente, passado e futuro coexistem e são pré-determinados. Quando aumento a minha velocidade e me aproximo à da luz, o meu tempo pessoal passa cada vez mais lento, isso quer dizer que nessa situação tudo à minha volta vai passar mais rápido. Assim, na prática, viajo ao futuro e posso gravar em meu passado (na minha memória) coisas que ainda não aconteceram, mas que vão acontecer pois eu já as vi e já são meu passado.

Então toda mudança pessoal minha, e dos outros, já está “escrita nas estrelas”. Nessa situação nenhuma mudança é real, pois não há mudança, mas apenas um desvio previsto de rota. Tal coisa não existe no mundo microscópico das subpartículas onde nada está determinado e, lógico, não pode ser previsto. Nessa situação a mente do observador tem um papel crucial no que acontece: a mente escolhe o que vai se “materializar”. Ou seja, aquela onda energética de probabilidades (o campo quântico) se torna uma subpartícula e ocupa o seu local no espaço-tempo (o colapso de onda), e todas as outras possibilidades de surgimento no espaço-tempo somem.

Trazendo para o nosso dia-a-dia, diante de uma situação qualquer sempre teremos um “campo quântico” de possibilidades de resposta, mas iremos escolher apenas uma (um colapso de onda) e todas as outras sumirão. No momento seguinte teremos então diversas outras possibilidades, inclusive de desfazer o que escolhemos, e de repente “bum”: outro colapso de onda. Em física quântica, a existência teórica de universos paralelos, que nos faz pensar em um multiverso e não em um universo, nos explica o que pode acontecer com todas as outras infinitas possibilidades de reação (ou, no mundo quântico, de colapso de onda): elas colapsam simultaneamente nessas outras dimensões.

Então seríamos seres multidimensionais, em que infinitas partes nossas vivem todas aquelas escolhas que rejeitamos. E na verdade, todas as possibilidades são escolhidas e todas ocorrem simultaneamente, em múltiplas dimensões, mas a nossa consciência ordinária percebe e vivencia apenas uma. Assim, cada reação nossa envolve uma percepção diferente e uma vivência de nossa consciência em uma dimensão diferente. Quando, conscientemente, percebemos duas opções de interpretação de uma mesma situação em nossas vidas, viajamos entre duas dimensões psíquicas, tão reais quanto as dimensões postuladas pela física moderna.

É uma viagem interdimensional real de nossa consciência entre duas dimensões físicas nossas, fato que está sendo pesquisado seriamente por renomados físicos. Nessa investigação já se conseguiu até fazer com que uma mesma molécula tivesse presença física, simultaneamente, em mais de um lugar diferente. Então, ter uma mudança de percepção seria viajar interdimensionalmente, viagem feita por nossa consciência. É ela quem escolhe em qual dimensão física viver: a de dor e de sofrimento ou a de felicidade e bem-aventurança. Nessa perspectiva, não é a partícula que surge, mas é a nossa consciência que viaja para uma dimensão em que ela tem existência real naquele local e momento.

Quanto mais formas de percepção formos capazes de ter (quanto maior for a nossa visita a outras dimensões psíquicas), maior o leque de opções que a nossa consciência tem para escolher. O ato de tirar nossa consciência do espaço-tempo, fazendo outras coisas e interagindo com outras histórias, é a forma mais simples de não se aprisionar àquela situação de sofrimento. Mas, uma forma mais elaborada é “parar o tempo” e visitar outras dimensões, universos de possibilidades, e a partir daí, escolher onde queremos ficar. Essa viagem, essa mudança de percepção e essa escolha são feitas por aquela parte nossa que transcende o nosso corpo, as nossas emoções e os nossos pensamentos. Essa viagem é feita pela nossa consciência. Vivenciar essa possibilidade é experimentar uma ampliação de nossa consciência, que passa a abranger cada vez mais possibilidades de ser, existir e escolher.

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