Órion Volume 2

Lançamento do livro

Matéria no Diário do Nordeste

Palestra de Lançamento (04/10/2002)

INTRODUÇÃO

“Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”.

Mahatma Mohandas Karamchand Gandhi (1.869-1.948) 

          Um dos maiores filósofos do século XX, o matemático e psicólogo Sir Karl Raymund Popper (1.902-1.994), afirmava que a Verdade é inatingível e que a realidade teria três aspectos. O primeiro aspecto seria a realidade última sobre a qual nunca se teria conhecimento completo. Os outros aspectos seriam a realidade dos sentidos e a realidade das idéias que apenas nos aproximariam daquela primeira, dando-nos aspectos da Verdade absoluta. 

“Grande verdade é que nada de bom procede de nós, a não ser a miséria de ser nada”  92:215.

Santa Teresa d’Ávila (1.515-1.582) 

          “Quanto de verdade se suporta, quanto de verdade ousa um espírito?” 20:14 perguntava Friedrich Wilhelm Nietzsche (1.844-1.900) no final do século XIX. Para ele, cada avanço e cada conquista humana no campo do conhecimento dependia do ânimo e da dureza contra si mesmo e do anseio para consigo mesmo. É mais fácil se acovardar ante a perspectiva da Verdade, do que encará-la, além do mais, quanto mais e melhor soubermos, tanto mais rigorosamente seremos julgados, se com esse conhecimento não vivermos em busca do reto caminho (Tomás de Kempis – 1.380-1.471).Quais os medos e as reais buscas do homem? Com seus apegos, ele vê obscurecida sua mente, levando-o ao sofrimento. O homem tem medo, na realidade, do sofrimento e do desconhecido. A religião e a filosofia vieram como um modo de encará-los. O homem vem à existência em busca, primordialmente, da sua auto-realização, em toda sua plenitude.

          Nessa sua busca, todos os bons caminhos têm que levar ao mesmo lugar, à “casa do Pai”, senão não podem ser chamados bons caminhos. A física moderna veio como uma enviada divina para desfazer, em nós, o que os budistas chamam de ilusão. Nascemos nesse tempo de mudanças para participar ativamente nesse processo, que afetará não somente o presente em nosso planeta, mas o nosso futuro e o Universo inteiro. A ciência atual (Cf. no Volume 1) está demonstrando as mesmas coisas que a filosofia e a religião, milenares, já afirmam:

  1. Uma origem para o universo “através” do som (a grande explosão do Big-Bang), o qual ainda pode ser ouvido e “mantém” o Universo (a energia escura presente no vazio), e a ilusão da existência desse mundo manifestado (Cf. adiante);
  2. A inexistência de um determinismo absoluto, pois a nova física pode apenas “predizer um certo número de resultados possíveis” e “não um único resultado definido”;
  3. Que nesse resultado definido, o colapso da onda de possibilidades, a consciência está envolvida, talvez uma Consciência Cósmica;
  4. A complementaridade quântica reúne coisas aparentemente opostas e antagônicas. Uma coisa pode ser ao mesmo tempo duas coisas (partícula e onda), não excludentes, mas complementares (4o e 5o Princípios Herméticos do antigo Egito 13 – Cf. no Volume 1).
  5. A interligação de todas as coisas e a sincronicidade das mudanças (efeito EPR), levando ao conceito de interdependência das coisas manifestadas e uma Lei de Causa e Efeito (Karma);
  6. A relatividade do tempo e a unicidade de todas as coisas levam à relatividade do termo “morte” como aniquilação individual. O conceito de individualidade some com a física quântica;
  7. A noção de muitas dimensões surge e o Vazio, como uma abrangente interligação energética, passa a ser a realidade das coisas após o desaparecimento da noção de materialidade das partículas;
  8. Não há nenhum observador em nenhum experimento, mas apenas “mentes” participantes do experimento, influenciando-o. A energia do vazio, que interliga o Universo, pode então ser influenciada pelo nosso poder mental, quando em estado alterado de consciência. Toda a manifestação é feita da mesma substância da mente, já que é totalmente dependente desta, como já dizia a antiga filosofia Hermética do antigo Egito.
  9. Que nesse vazio todas as subpartículas são criadas e aniquiladas, continuamente, do mesmo modo que o deus hindu Shiva cria e destrói o mundo, e dessa forma o mantém; e que
  10. Tanto o Universo (macrocosmo) quanto as subpartículas (microcosmo) são regidas por Leis cíclicas e desse modo há uma relação entre o finito e o infinito. O microcosmo é uma parte holográfica do grande holograma do Universo (macrocosmo): “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima” 13:67 (Hermes Trismegisto).  

          Segundo o paradigma holográfico, em cada partícula nossa há informação de todo o universo. Isso explica o fato de um psicótico se sentir como uma árvore e que, em estados de transe, venham à mente cenas de outras épocas, de outros lugares, que parecem ser muito reais e vívidas. Este paradigma nos permite trabalhar essas situações de uma maneira científica. 

“Ver o Mundo num Grão de Areia…”  81:437.

William Blake (1.757-1.827) 

          Este conhecimento, que já era milenar antes de ser redescoberto pela ciência, nunca foi patrimônio exclusivo de nenhuma corrente filosófica ou espiritual. Pelo contrário, essas “verdades atemporais e eternamente válidas” (Sri Aurobindo – 1.872-1.950), são patrimônio universal, que foi descoberto e expresso de múltiplas maneiras, de acordo com as diferenças históricas, culturais e lingüísticas de cada povo.  Mas de que nos serve tudo isso se não o utilizarmos para o nosso crescimento pessoal? “De que serve a sutil especulação sobre questões misteriosas e obscuras, de cuja ignorância não seremos julgados?” (IC I, 3:1)

          “Alguns não andam diante de Mim com simplicidade, mas, curiosos e arrogantes, pretendem saber Meus segredos e compreender os sublimes mistérios de Deus, descurando-se de si próprios e de sua salvação. Estes, por sua soberba e curiosidade, não raro caem em grandes tentações e pecados, porque Me afasto deles” (IC III, 4:4).

          É incrível como o mundo científico, através de alguns homens, atingiu grandes patamares do conhecimento sobre o macrocosmo (astronomia) e sobre o microcosmo (física quântica), mas sobre a ciência de si mesmo, da qual as verdades atemporais sempre falaram, a humanidade em geral ainda está engatinhando. A ortodoxia ainda crê que somos um acaso da evolução, ocorrida somente nesse planeta, que vem à existência após a união de duas células, vive com metas materiais, que variam de acordo com a sociedade, e que vai sumir após a morte. Pouquíssimas pessoas param para pensar sobre as questões de quem somos, de onde viemos, qual a nossa meta e para onde vamos. Pior ainda, a maioria da população nem se apercebe de que podem existir questionamentos como esse. 

          O que ser, o que fazer, o que sentir e o que pensar? Qual o papel dos nossos instintos? E o do mal em nossas vidas? E a intuição? O que é o ódio e o que é o amor? Qual o meu grande amor? O meu instinto quer que eu me una a quem? Onde é o meu verdadeiro lar?

          A própria origem, natureza ou essência, possibilidades, limites e validade do conhecimento, são objetos de estudo reflexivos, pela filosofia epistemológica. Talvez os maiores e os mais fascinantes mistérios não devam ser solucionados, mas apenas experimentados e saboreados com todo o nosso corpo, sentimento, mente, alma e espírito. O melhor da viagem não é o destino nem o retorno, e sim a viagem em si. E a verdadeira viagem, parafraseando o escritor Marcel Proust (1.871-1.922), não consiste em se buscar novas paisagens, mas novos olhares 74:219

         O conhecimento nunca será esgotado nem completado, pois a única coisa eterna que há é a mudança. Tudo está em constante mudança. É uma Lei Natural. Tudo consiste em ciclos que se alternam e assim o conhecimento evolui indefinidamente. Cabe a cada um de nós descobrir a própria identidade dentro do conhecimento, resgatar aquilo que já sabemos e não o que queremos acreditar ou o que nos foi contado. Tudo o que precisamos saber já está dentro de nós e é nossa tarefa nos lembrarmos de nosso papel na Criação, de nossa missão e de nossa ligação com o TODO. No momento atual é isso que o nosso conhecimento finito afirma e que tento repassar nesse volume. Haverá um momento em que ninguém mais precisará procurar conhecimento fora de si mesmo…

          “O Conhecimento não precisa de qualquer objeto para conhecer. O Conhecimento é independente e eterno. Está além de qualquer descrição ou definição. Quando esta verdade se percebe de fato, somente então há conhecimento perfeito”  50:61.

Yoga Vasistha (VI:2.190) 

Mais ainda:

 “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”.

Isaac Newton (1.643-1.727)

          Mas a gota que sabemos pode nos revelar o oceano. Com a mente aberta, e desejosa de conhecer, caminhemos o caminho formado pelo nosso olhar, até que não haja mais olhar nem caminho…

Boa viagem.

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