Quem Somos Nós?

CINEMA

Quem somos nós?

Galileu promove um debate sobre o polêmico documentário que trouxe a física quântica e a neurologia para as grandes salas de cinema

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Pablo Nogueira
Fotos: divulgação

É raro encontrar, no grande circuito de cinema, filmes que tratem de temas científicos considerados “difíceis”, como o comportamento das partículas essenciais ou o funcionamento do cérebro. Se a procura for por obras que tratem desses assuntos no formato de documentário, e não de ficção, então a lista do que já chegou à telona torna-se ainda menor. Daí a decisão de Galileu de realizar, em parceria com a distribuidora PlayArte, um evento para debater “Quem Somos Nós”, lançado em 2005.

O filme combina documentário, drama e animação para contar a vida de uma fotógrafa em crise. A história é entremeada pela fala de cientistas que apresentam conceitos tirados de áreas como a física, a filosofia, a neurologia, a psicologia e a teologia.

Para ajudar o leitor a filtrar as idéias apresentadas durante o filme, Galileu convidou cinco especialistas: Maria Cristina Abdalla, física e professora do Instituto de Física Teórica da Unesp; Laís Volner, doutora em física pela Unicamp, atualmente trabalhando com desenvolvimento da criatividade; Osvaldo Pessoa Júnior, físico e filósofo, especialista em interpretações filosóficas da física quântica e professor da USP; Fátima Caldas, neurologista e psicoterapeuta, e Ademir Baptista, professor de neurologia da Unifesp. Veja a seguir alguns trechos dos comentários.

 

Física quântica e filosofia

Osvaldo Pessoa Jr.: “O filme se baseia na física quântica para defender uma visão de mundo que a gente chama de idealista. Mas pode-se usar a física quântica para embasar diversas correntes filosóficas. Ou seja, ela na verdade não dá argumentos necessariamente a favor do idealismo. O filme diz que a interpretação idealista seria a 'melhor'. Isso é incorreto, não existe uma melhor interpretação”.

A relação entre cérebro e comportamento

Ademir Baptista: “O que me chamou mais a atenção foi a demonstração da plasticidade cerebral. O cérebro é a parte do corpo mais moldável. Tudo o que fazemos modifica o nosso cérebro. Ele é como uma estrada onde, quanto mais se passa, mais larga fica, e mais fácil de caminhar. Nossa rede neuronal se modifica, os neurônios vão fazendo mais conexões, e isso tem importância em nossa capacidade de verificar a realidade. Com bons hábitos podemos construir em nós um melhor cérebro e um melhor corpo”.

O cérebro e a física quântica

Maria Cristina Abdalla: “Há estudos que questionam a existência de fenômenos quânticos no cérebro. Mas ainda não formam um corpo consistente de informação e acho prematuro falar sobre isso. Pode ser até que essa descrição venha a ser confirmada, mas no meu entender ainda não há evidências”.

 

Desvios de comportamento

Fátima Caldas: “Como o filme mostra, temos muitos vícios de comportamento. Desde que a criança nasce e começa a se relacionar com seus pais, ela vai desenvolvendo um personagem. Esse personagem tem um comportamento emocional repetitivo. E ligado a isso há uma química; há pessoas viciadas em sentir tristeza ou em prazeres compulsivos. E o filme sugere que se desenvolvermos um observador interno, podemos mudar o comportamento repetitivo. De certa forma é isso o que o psicanalista faz, ao agir como uma espécie de espelho de nós mesmos. Mas o filme propõe uma inovação, a de que nós mesmos passemos a observar o nosso comportamento”.

 

Física e espiritualidade

Laís Wolner: “A física quântica vai falar basicamente das possibilidades. Elas são um mundo em potencial, um mundo que existe antes de qualquer existência. Essa imagem de um vazio anterior existe na maior parte das religiões; todas se reportam a uma outra dimensão além da manifestada. É por isso que a física quântica é tão atraente para quem quer unir a espiritualidade com a ciência. É um poder passivo, o poder da natureza. Pensar que poder é esse fica a cargo de cada um”.

Maria Cristina Abdalla: “Durante o filme são apresentadas várias leituras sobre Deus, e em muitas se faz uma importação do jargão da física quântica para dar mais credibilidade. Mas há fenômenos físicos de que a física quântica não dá conta. Acho que isso é um pouco alegoria, e um pouco abuso de linguagem. Espero que uma nova religiosidade não precise necessariamente usar os conceitos da ciência. Não há necessidade”.

Osvaldo Pessoa Jr.: “Não vejo a ciência se aproximando de Deus. Pode-se partir da ciência para desenvolver várias interpretações, religiosas ou não. O filme faz uma crítica às religiões institucionalizadas, e oferece uma visão naturalista, como se existisse uma espécie de “alma do mundo”. Essa é uma visão que foi forte na época do Renascimento, e que, em geral, a humanidade sempre teve”.

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