Sam?dhi


Por Cláudio Azevedo

Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal

da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007

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A verdadeira concentração (dh?ra??) ocorre quando há uma contínua percepção de um objeto por doze segundos (um dh?ra??) 1:83-84. Meditação (dhy?na) ocorre quando a percepção permanece por doze vezes doze segundos, o sab?ja sam?dhi em doze vezes doze vezes doze segundos (28m:48s) e o nirb?ja sam?dhi, em doze vezes doze vezes doze vezes doze segundos, ou seja 5h:45m:36s.

 

A Caminho no Ser

Enquanto em dhy?na esquece-se totalmente do mundo externo, do corpo e da respiração, quando até a percepção mental autoconsciente de um eu individual externo sumir, atingir-se-á o estado transpessoal de sam?dhi. Enquanto houver um ‘eu exclusivo’ que esteja em dhy?na avasth? não se avançará no caminho do Yoga. É necessário que a mente associativa e discriminativa cesse por completo, sumindo ‘aquele que percebe’ na fusão com o objeto de percepção e com o ato de perceber: o Observador (grah?t?i), a observação (graha?a) e o observado (gr?hya) se fundem em um único estado semente YS I:41. Esse estado é conhecido como sab?ja sam?dhi ou completa absorção com semente, percebido por um ‘Eu inclusivo’.

É nesse estado, quando não mais se está atuando nos centros associativos de nosso cérebro, que surge um novo e mais elevado tipo de consciência, fonte de nossas inspirações, criações e intuições. Sempre que nossa mente inferior estiver envolvida ativamente, por exemplo, na resolução de algum problema, ela só conseguirá ver as coisas como um reflexo de suas próprias experiências anteriores, como um espelho de sua própria memória. Dessa forma, toda solução será baseada, unicamente, no resultado da ação associativa e discriminativa da mente, frente aos seus registros de memória. Para ser um ato criativo real, é necessário o desaparecimento da autoconsciência do ego pensante.

Assim, sab?ja sam?dhi é um estágio mais avançado de dhy?na, um estado mental em que, agora livre das distrações e dos ‘pré-conceitos’ mentais do ego pensante, se compreende mais profundamente o objeto de meditação. Abrem-se as portas para o uso consciente das faculdades mais profundas da mente, de onde sempre se retorna mais sábio, com algum conhecimento transcendente (prajñ?).

A imobilidade do corpo, a sutileza da respiração e a insensibilidade aos estímulos externos podem ocorrer em diversos estados mentais transpessoais, como nas experiências fora do corpo, nos fenômenos paranormais, no sono profundo, no transe hipnótico ou quando sob influência de anestésicos e/ou drogas e não constitui sobremaneira estados de sam?dhi, mas jada-sam?dhi ou falso sam?dhi.

Nessas experiências, embora possa se retornar com alguma forma de conhecimento novo, esse será relacionado com a memória de suas experiências, vividas enquanto nesses estados, as quais são repletas de objetos mentais, distrações e autoconsciência mental. Ademais, essas experiências não contêm um único objeto de concentração como pratyaya, mas são repletas de sementes (objetos de concentração) diferentes. Portanto nada têm de sam?dhi. Em sam?dhi, além da imobilidade do corpo físico (annamaya? ko?a) e do corpo vital (pr??amaya? ko?a), manomaya? ko?a também é colocado imóvel de forma que possa brilhar a atividade de vijñ?namaya? ko?a: a Presença. O buscador, antes um aspirante iniciado (vicara?a s?dhaka) se torna agora um tan?manas? s?dhaka.

Ao conjunto dh?ra??, dhy?na e sam?dhi, Pat?ñjal? chama sa?yama YS III:4 (samdh?na no ?iva SS I:6), que quer dizer perfeita manutenção da concentração mental (sa? – perfeito, yama – sustentação), cujo domínio é imprescindível se o buscador tiver como meta real atingir o Eu mais profundo à luz da consciência mais elevada (prajñ?) YS III:5. Com esse domínio, o buscador, agora mano-n??a s?dhaka,se torna um Siddha, e o mundo manifestado passa a ser como um sonho irreal, do qual ele passa a exercer cada vez mais controle.

 

Fase

Título

 Característica

 O Buscador

 

 Tem um ideal: o idealista

 O Aspirante

 ?ubhch? s?dhaka

 É um bom estudante

 

O Iniciado

 vicara?a s?dhaka

 Encontrou o ‘Espaço de Silêncio’

 tan?manas? s?dhaka

 Encontrou a ‘Presença’

 mano-n??a s?dhaka

 Encontrou o ‘Vazio’

 O Iogue

 Siddha

 Tem o Poder sobre a matéria

 

O domínio consciente desse estado ampliado de consciência, como Siddha, abre as portas para todo o tipo de conhecimento transcendente provindo dessa superconsciência e para inúmeros poderes e realizações superfísicas (siddhis), de acordo com o objeto (vi?aya) em que se esteja aplicando sa?yama:

  • Aplicando-se sa?yama sobre algum efeito conhecer-se-á sua causa YS III:16-17;

  • Aplicando-se sa?yama sobre qualquer impressão ou imagem mental conseguir-se-á perceber a origem dessa impressão (v?ttis), como a raiva, medo, ansiedade, desejo, amor, etc., mas não o próprio pensamento em particular YS III:18-20;

  • Aplicando-se sa?yama sobre o próprio corpo, poder-se-á cessar o contato entre os órgãos dos sentidos de um observador externo e o próprio corpo, tornando-se invisível, inaudível, etc. YS III:21-22.

  • Aplicando-se sa?yama sobre qualquer virtude, conceito e/ou qualidade conseguir-se-á o domínio correspondente YS III:24-26 ;

  • Aplicando-se sa?yama sobre qualquer fenômeno da natureza conseguir-se-á conhecer o princípio da natureza que o originou YS III:27-29;

  • Aplicando-se sa?yama sobre os centros energéticos, obtêm-se diversas capacidades particulares como: conhecimento da organização corporal YS III:30, cessação da fome e da sede YS III:31, imobilidade corporal YS III:32, visão espiritual dos Mestres YS III:33, plena consciência intuitiva sobre tudo YS III:34; III:37, inclusive sobre a própria mente e o Si-mesmo YS III:35-36;

  • Entrar no corpo de outrem YS III:39 e muitos outros YS III:40-49; III:53-55.

A literatura hindu, classicamente, fala de oito poderes que o iniciado na prática de sa?yama pode obter: habilidade de se miniaturizar e entrar em objetos sólidos (a?iman), de sutilizar o corpo físico ao ponto de levitar (laghima), de permear qualquer coisa (vyapti), adquirir uma irresistível força de vontade (prakamya), tornar o corpo glorioso ou grande (mahim?), adquirir poderes divinos (??itva), controlar todas as coisas (va?itva) e obter tudo o que desejar (k?ma vasayita).

Mas inúmeros outros poderes são descritos 1:124-126: ver e ouvir à distância, movimentar-se à velocidade da mente, transformar a própria forma física à vontade, conquistar a morte e morrer segundo sua própria vontade (não é suicídio), desfrutar do estado celestial ou angelical, comandar livremente a ação de outras pessoas, conhecer o passado, o presente e o futuro, não ser afetado pelo fogo, veneno e etc., o poder de voar, descobrir tesouros enterrados, etc..

Mas todas essas capacidades adquiridas, potencialmente, são meros obstáculos YS III:38 àquele que busca a percepção direta da Verdade, ao sincero caminhante. Embora essas capacidades surjam naturalmente, resultado do desenvolvimento e ampliação da consciência, o seu exercício, quando o caminhante está com sua mente voltada para o mundo ordinário, gera vibrações psíquicas que perturbam a serenização mental (citta-pras?danam) e dificultam a prática do sam?dhi. Aliás, nem é necessária a prática de sam?dhi para se obter esses poderes YS IV:1.

 

BIBLIOGRAFIA

  • As referências bibliográficas acham-se assim indicadas: xx:yy, onde ‘xx’ é o número da referência contido na BIBLIOGRAFIA (no final do livro) e ‘yy’ é a página onde se encontra.

  • Quando precedendo ‘xx’ estiver escrito YS, a obra referenciada é o Yoga S?tra de Pat?ñjal?, BG quando for Bhagavad G?t?, VC quando for o Viveka Ch?d?mani, TB quando for o Tattvabodha? e SS quando a obra referenciada for o ?iva S?tra (obra de referência no ?ivaísmo de Cachemira). Nesses casos ‘xx’ é o capítulo e ‘yy’ é o s?tra.

  1. Bhaskarananda, Swami; Meditação: a Mente e a Yoga de Patânjali; Editora Lótus do Saber, Rio de Janeiro, 2.005;

 

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