K?ma, Karma e Sa?sk?ras

Por Cláudio Azevedo

Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal

da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Órion Edições, Fortaleza, 2.007

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“O centro da personalidade humana não é a mente, mas o ‘Observador Silencioso’”.

Com o advento da física quântica, e da comprovação de que a mente interfere nos fenômenos quânticos, os filósofos da ciência passaram a querer identificar quem é esse ‘Eu’ que observa e percebe o ‘mundo externo e o interno’ e pode influenciá-los. Já se sabe o que o Observador faz, do ponto de vista da física quântica, mas não se sabe quem ou o que esse Observador é na verdade. Não se achou nada no cérebro que pudesse se assemelhar a esse Observador. ‘Entrou-se’ na mente, usando todos os recursos de que a neurociência dispõe e também não se achou nada que pudesse ser esse Observador.

 


A Caminho no Ser

 

Para o Yoga S?tra, esse Observador é o Ser Interior (adhy?tma) YS I:47 que está dirigindo o veículo físico e observando os arredores. Seria uma camada mais interna da nossa ‘roupa biológica’, dotada de todos os tipos de sistemas para captar assinaturas energéticas ao seu redor, por isso a sensação que temos de sermos os tais Observadores, capazes de observar o mundo. O Yoga, assim como toda verdadeira religião, é a busca pela Consciência Pura (Puru?a): nosso verdadeiro Eu. Quando a percebemos, o nosso desejo se despe de sua forma mundana (v?san?) e desvela seu cerne que é nossa Vontade Espiritual: nossa capacidade de aspirar ao Infinito.

Entretanto, na verdade existem muitas camadas que velam a autopercepção pura desse Observador. Num primeiro momento, por causa de avidy?, ignoramos completamente a existência do Observador que somos, nos identificamos (asmit?) com a expressão dos desejos pessoais (k?ma) e, assim identificados, agimos (karma) guiados por nossas tendências, hábitos, condicionamentos e potencialidades (sa?sk?ra), em busca de nossas paixões (r?ga)(dve?a). e fugindo de nossas dores

Pat?ñjal? afirma que todos os k?mas, v?ttis, karmas e sa?sk?ras, as impressões de nossos desejos, pensamentos, sentimentos e ações que foram frutos de asmit?, ficam registrados num tipo de memória inconsciente profunda denominada de karm??aya?, que não se extingue após a morte do corpo físico. Assim, é karm??aya? quem provê os padrões e conteúdos das vidas sucessivas. Esse é o ponto fundamental que explica toda a teoria reencarnacionista: todas as impressões registradas em karm??aya? YS II:12-13, numa relação inflexível de causa e efeito, causarão efeitos que vão ocasionar as experiências de nossa vida presente ou de vidas futuras pois memórias atuais e antigas impressões registradas são a mesma coisa YS IV:9.

Com nossas ações, causamos efeitos dolorosos (pu?ya) e/ou agradáveis (p?pa), colhemos os frutos dessas ações, como alguém colhe os frutos maduros de uma árvore que plantou YS II:14, sempre que as condições favoráveis a isso ocorrem YS IV:8, e, presos a avidy?, nos deliciamos ou repudiamos a experiência de ter que prová-los, registrando mais impressões em karm??aya?. Mas ao sábio (vidu?a?) que desenvolveu discernimento (viveka) tudo isso é causa de dor YS II:15-16 e essa dor pode e deve ser evitada.

Assim, além do karma que já plantamos e ainda não colhemos (sañcita karma), armazenado no mesencéfalo 1:49, e do que estamos colhendo a cada momento (pr?rabdha karma), há aquele que estamos plantando em karm??aya? a cada momento com nossas ‘reações mentais’ (kriy?mana karma). Quando o pr?rabdha karma que causou o nascimento se extingue, o corpo sutil (s?k?ma ?ar?ra?), com sua mente subconsciente (manomaya? ko?a), se separa do corpo físico (sth?la ?ar?ra?).

Esse veículo de registro é conhecido no Ved?nta dar?ana como k?ra?a ?ar?ra? e esse registro iniciou-se no momento em que a consciência entrou em contato com a matéria, no remoto início dos tempos, dando origem a avidy? e asmit? e a todos os nossos v?san?s (humanos, animais, vegetais, minerais, etc.), inclusive ao eterno desejo de viver (??i?ah) YS IV:10.

Sempre que nossas ações forem motivadas por nossos v?san?s estaremos gerando kriy?mana karma. Mas quando se consegue agir sem qualquer identificação egóica, mas identificados com nosso ‘Eu’ verdadeiro, se age sem gerar karma para ser registrado em karm??aya? YS IV:7. A essa técnica, conhecida no taoísmo como wu-wei, a filosofia hindu denomina ni?k?ma karma: karma (ação) sem k?ma (desejo).

“Escuta, pois, e compreende a diferença entre o reto agir, o falso-agir e o não agir – problema difícil de discernir! Quem age sem perder o repouso interno e quem vê atividade na inatividade… o seu trabalho é livre da maldição do egoísmo… não se compraz em nenhum fruto… nem se apega a objeto algum da natureza; habita sempre sereno, na paz do seu Eu, porque sabe que não é ele que age, mesmo quando realiza alguma obra”. BG 4:18-20

Ni?k?ma karma não é uma atitude mental intelectiva, mas uma dissociação consciente e efetiva do ‘eu’, só obtida por aqueles que já ultrapassaram seus v?san?s vencendo avidy?. É avidy? quem gera o círculo vicioso condicionado (sa?s?ra) de v?san?. Toda ação com motivos pessoais (egoístas) gera efeitos cármicos e aprisiona no sofrimento (kle?a), e os efeitos somente desaparecerão quando sumirem suas causas YS IV:11.

 

BIBLIOGRAFIA

  • As referências bibliográficas acham-se assim indicadas: xx:yy, onde ‘xx’ é o número da referência contido na BIBLIOGRAFIA (no final do livro) e ‘yy’ é a página onde se encontra.

  • Quando precedendo ‘xx’ estiver escrito YS, a obra referenciada é o Yoga S?tra de Pat?ñjal?, BG quando for Bhagavad G?t?, VC quando for o Viveka Ch?d?mani, TB quando for o Tattvabodha? e SS quando a obra referenciada for o ?iva S?tra (obra de referência no ?ivaísmo de Cachemira). Nesses casos ‘xx’ é o capítulo e ‘yy’ é o s?tra.

  1. Hariharananda, Paramahansa; Kriya Yoga; Lótus do Saber, Rio de Janeiro, 2.006;

 

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