Gilad Atzmon – O Mito do Judeu Errante
O historiador Shlomo Sand, professor da Universidade de Tel-Aviv, inicia seu brilhante estudo do nacionalismo Judeu citando Karl W. Deutsch: “Uma nação é um grupo unido por um erro comum sobre sua origem e uma hostilidade coletiva para com seus vizinhos” [1].
Por mais simples ou simplista que pareça, essa citação resume com eloqüência a distorção da realidade que se encontra emaranhada no nacionalismo Judeu moderno e, sobretudo, no conceito de identidade Judaica. É claro que mostra o erro coletivo que os Judeus tendem a cometer cada vez que se referem a seu “ilusório passado coletivo” e a sua “origem coletiva”. Ao mesmo tempo, a leitura que Deutsch faz do nacionalismo traz à tona a hostilidade que, infelizmente, está incorporada em quase todos os grupos Judeus com respeito à realidade que os rodeia, social ou territorial.
Embora a brutalidade com que os Israelenses tratam os palestinos é algo já fartamente conhecido, o áspero tratamento que os Israelenses reservam para sua “terra prometida” e sua paisagem só agora começa a se revelar. O desastre ecológico que os atuais Israelenses vão deixar será a causa do sofrimento de muitas gerações futuras. Deixando de lado o muro megalomaníaco que divide a Terra Santa em enclaves de degradação e fome, Israel conseguiu contaminar seus principais rios e riachos com resíduos nucleares e químicos.
When And How the Jewish People Was Invented [Quando e como foi inventado o povo Judeu] é um estudo acadêmico escrito pelo professor Shlomo Sand, um historiador Israelense. Trata-se da análise mais séria já publicada sobre o nacionalismo Judeu e, de longe, o estudo mais corajoso do discurso histórico Judaico.
Em seu livro, Sand consegue provar que o povo Judeu nunca existiu como “raça-nação” e nunca compartilhou uma origem comum. Pelo contrário, constituem uma colorida mistura de grupos que em várias etapas da história adotaram a religião Judaica.
O leitor então se pergunta: “Quando foi inventado o povo Judeu?” e a resposta de Sand é bastante simples: “Em algum momento do século 19, alguns intelectuais de origem Judaica na Alemanha, influenciados pelo caráter mítico do nacionalismo alemão, assumiram a tarefa de inventar “retrospectivamente” um povo, ansiosos por criar um povo Judeu moderno” [2].
Assim, o “povo Judeu” é uma noção artificial formada por um passado fictício e imaginário com muito pouca substância que o respalde sob o ponto de vista antropológico, histórico ou documental… Além disso, Sand – que utilizou fontes primordiais da antiguidade – chega à conclusão de que o exílio Judeu é também um mito e de que é muito mais provável que os palestinos atuais sejam os descendentes do antigo povo semita da Judéia/Canaã, do que a multidão de Asquenazes de origem Kazar à qual ele reconhece pertencer.
O surpreendente é que, apesar de Sand desmontar a noção de “povo Judeu”, destruir a noção de “passado coletivo Judeu” e ridicularizar o ímpeto chauvinista nacional Judeu, seu livro é um best-seller em Israel. Este fato mostra que aqueles que chamam a si próprios “Povo Do Livro” estão começando a se dar conta das filosofias e ideologias enganosas e devastadoras que os converteram no que Khalid Amayreh e muitos outros consideram como os “Nazistas De Nosso Tempo”.