Você sabe quem Descende do Povo Escolhido da Bíblia?

Hitler triunfou

Freqüentemente, quando se pergunta a um Judeu “laico” e “cosmopolita” o que é que o faz Judeu, se recebe uma resposta simplória: “Foi Hitler que me fez Judeu”. Mesmo o Judeu “cosmopolita”, internacionalista, que critica as inclinações nacionalistas de outros povos, insiste em manter seu próprio direito à “autodeterminação”.

E, no entanto, na verdade não é ele que se encontra no centro desta exigência ímpar de uma orientação nacional, e sim o diabo, o Arqui-Monstro anti-semita, Hitler. Aparentemente, o Judeu cosmopolita celebra seu direito ao nacionalismo enquanto pode transferir a culpa a Hitler.

No que concerne ao Judeu laico cosmopolita, afinal Hitler triunfou. Sand consegue realçar este paradoxo. Com perspicácia sugere que “enquanto que no século 19, referir-se aos Judeus como “uma identidade racial diferente” era um sinal de anti-semitismo, no Estado Judeu esta mesma filosofia está mental e intelectualmente enraizada [3].

Em Israel, os Judeus celebram sua diferença e suas condições únicas. Além do mais, diz Sand, “houve momentos na Europa em que era possível ser tachado de anti-semita por dizer que todos os Judeus pertencem a uma nação diferente. Hoje em dia, afirmar que os Judeus nunca foram e nem são um povo ou uma nação fará com que você seja acusado de ódio aos Judeus.” [4]

É surpreendente que o único povo que conseguiu manter e preservar uma identidade nacional racialmente orientada, expansionista e genocida, que não se diferencia em nada da ideologia étnica Nazista, sejam os Judeus, que foram, entre outros, as principais vítimas da ideologia e da prática Nazistas.

Nacionalismo em geral e nacionalismo Judeu em particular Louis-Ferdinand Celine mencionou que durante a Idade Média, durante os intervalos entre as guerras, os cavaleiros cobravam um alto preço por estar dispostos a morrer em nome de seus reinos, enquanto que no século 20 os jovens não hesitam em morrer em massa, e sem pedir nada em troca. Para entender esta mudança na consciência de massas é necessário um modelo metodológico eloqüente que nos permita entender em que consiste o nacionalismo.

Da mesma forma que Karl Deutsch, Sand considera a nacionalidade como um discurso ilusório. É um fato estabelecido que os estudos antropológicos e históricos das origens de diferentes “povos” e “nações” conduzem à embaraçosa desintegração de qualquer etnia ou identidade étnica. É interessante constatar que os Judeus tendem a levar muito a sério seu próprio mito étnico. A explicação pode ser simples, como Benjamin Beit Halachmi mostrou há anos. O Sionismo permite transformar a Bíblia de um texto espiritual a ser um “Escritura de Terras”. Assim, a verdade da Bíblia ou de qualquer outro elemento da narrativa histórica Judaica tem pouca relevância, contanto que não interfira com a causa ou com a prática política nacional Judaica.

Pode-se imaginar que a ausência de uma clara origem étnica não impede que se tenha um sentido de pertinência étnica ou nacional. O fato de os Judeus estarem longe de ser um Povo e da Bíblia ser um texto muito limitado em relação à verdade histórica não impede que gerações de Israelenses e Judeus se identifiquem com o rei David ou com o gigante Sansão. Evidentemente a ausência de uma origem étnica inequívoca não impede que as pessoas se considerem parte de um povo. De forma análoga, não impede que o Judeu nacionalista tenha a sensação de pertencer a uma grande coletividade abstrata.

Nos anos setenta, Shlomo Artzi, na época um jovem cantor Israelense que se tornaria a maior estrela de rock de Israel, gravou uma canção que se tornou sucesso retumbante em poucas horas. Eis aqui os primeiros versos:

De repente

Um homem desperta

Pela manhã

Sente que é povo

E começa a andar

E a todos que encontra

Ele diz Shalom

Até certo ponto Artzi expressa inocentemente em seus versos como foi brusca e quase eventual a transformação dos Judeus em um povo. Mas ao mesmo tempo Artzi contribuiu para a ilusão do mito nacional da nação que busca a paz. Artzi já deveria saber que o nacionalismo Judeu era uma ação colonialista à custa do povo autóctone palestino.

O nacionalismo, a pertinência nacional e o nacionalismo Judaico em especial tornam-se um importante desafio intelectual. É interessante que os primeiros a analisar teórica e metodicamente as questões relativas ao nacionalismo foram os ideólogos Marxistas. Embora o próprio Marx não tenha conseguido tratar o assunto adequadamente, os movimentos revolucionários do começo do século 20 com suas reivindicações nacionalistas na Europa Oriental e Central apanharam Lênin e Stalin despreparados.

A contribuição marxista para o estudo do nacionalismo pode ser considerada como o foco da enorme correlação entre o crescimento da economia liberal e a evolução do estado nacional [5]. Stalin conseguiu resumir a posição marxista: “A nação”, disse, “é uma sólida colaboração entre seres, criada historicamente e formada segundo quatro fenômenos significativos: uma mesma língua, um mesmo território, uma mesma economia e uma mesma interpretação psíquica…” [6].

Como seria de esperar, a tentativa materialista marxista de compreender o nacionalismo carece de uma visão histórica adequada. Na ausência desta se baseia na luta de classes. Por razões óbvias, esta visão foi muito popular entre aqueles que crêem no “socialismo de uma nação”, entre os quais podemos incluir os adeptos de um ramo esquerdista do Sionismo.

Para Sand, o nacionalismo evoluiu devido ao “arrebatamento criado pela modernidade que afastou as pessoas de seu passado imediato” [7]. A mobilidade criada pela urbanização e pela industrialização pulverizou o sistema hierárquico social, bem como a continuidade entre passado, presente e futuro. Sand assinala que antes da industrialização o camponês feudal não sentia obrigatoriamente a necessidade de um discurso histórico de impérios e reinos. O homem feudal não necessitava de um abstrato discurso histórico sobre grandes coletividades, que tinham muito pouca importância para suas necessidades existenciais imediatas e concretas. “Sem uma percepção de progressão social, eles se contentavam com um relato religioso imaginário que continha um mosaico de histórias sem dimensão real de tempo em progressão.

O 'fim' era o princípio e a eternidade ligava a vida e a morte” [8]. No mundo urbano moderno e laico, o “tempo” tornara-se o principal veiculo da vida para ilustrar um sentido simbólico imaginário. O tempo histórico coletivo havia se convertido no ingrediente elementar do pessoal e do íntimo. O discurso coletivo dá forma à significação pessoal e ao que parece ser “real”. Por mais que mentes simplórias ainda insistam que “o pessoal é também político”, seria muito mais inteligível afirmar que na prática ocorre exatamente o contrário. Na condição pós-moderna, o político é pessoal e o sujeito é falado, em vez de falar por si mesmo. A autenticidade é um mito que reproduz a si mesmo sob a forma de um identificante simbólico.

A leitura feita por Sand do nacionalismo como produto da industrialização, da urbanização e da laicidade tem muito sentido se consideramos a sugestão de Uri Slezkin, de que os Judeus são os “apóstolos da modernidade”, da laicidade e da urbanização. Se os Judeus se vêem no centro da urbanização e da laicidade, não deveria ser surpresa que os Sionistas fossem tão criativos como outros ao inventar seu próprio relato coletivo imaginário. No entanto, ao insistir em seu direito de ser “como qualquer outro povo”, os Sionistas conseguiram transformar seu passado coletivo imaginário num programa global, expansionista e impiedoso, e na maior ameaça para a paz mundial.

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