À Espera da Pandemia

Os cientistas alertam que ocorrerá, possivelmente em breve, uma nova pandemia de gripe.

A ameaça do vírus influenza é mais grave, e suas semelhanças com o Katrina  são maiores do que parecem à primeira vista. A rotina de irrupções sazonais  de gripe e de furacões alimenta uma familiaridade que leva facilmente à  complacência e a preparativos inadequados para o “grande evento”, que  segundo os especialistas virá com certeza.

A coisa mais importante a compreender a respeito de uma grave pandemia de  influenza é que, exceto no nível molecular, a doença se parece muito pouco com a gripe que todos pegamos de vez em quando. Por definição, a pandemia de influenza só acontece quando o vírus sofre mutação, transformando-se em algo perigosamente desconhecido para nosso sistema imunológico e capaz de passar de pessoa para pessoa através de espirro, tosse ou contato físico.

As pandemias de gripe ocorrem de forma imprevisível mais ou menos a cada geração. As últimas foram registradas em 1918, 1957 e 1968. Elas se iniciam quando uma das muitas variantes da influenza, que circulam entre pássaros selvagens ou domesticados, transforma-se numa forma que também infecta as pessoas. O vírus então sofre mais adaptações ou troca genes com uma variante humana da gripe, emergindo de modo altamente contagioso entre seres humanos.

Algumas pandemias são leves, mas outras são cruéis. Se o vírus se replicar muito antes que o sistema imunológico aprenda a produzir anticorpos, a epidemia causará casos graves e às vezes fatais, numa pestilência que poderia provocar em 12 meses mais mortes do que a AIDS provocou em 25 anos. Os epidemiologistas advertem que a próxima pandemia pode deixar doente um em cada três habitantes do planeta. Muitos deles seriam hospitalizados e dezenas de milhões morreriam. Não haveria um meio garantido de evitar a infecção.

É impossível para os cientistas prever qual variante da influenza causará a pandemia ou quando ela vai começar. Eles só podem advertir que uma nova pandemia deve acontecer e que as condições atuais parecem ideais, com uma variante agressiva da gripe aviária matando pessoas na Ásia e infectando pássaros rapidamente na direção do Ocidente, rumo à Europa.

Essa variante de vírus, o influenza A (H5N1), ainda não se transmite de uma pessoa para outra. Mas o vírus está em evolução, e algumas das espécies aviárias afetadas estão dando início a suas migrações de inverno.

À medida que o senso de urgência cresce, governos e especialistas em saúde trabalham para reforçar quatro linhas principais de defesa contra a pandemia: vigilância, vacinas, medidas de contenção e medicamentos. Os EUA pretendem lançar um plano de prontidão para a pandemia que avalie a força de cada uma dessas trincheiras. Falhas são inevitáveis, mas, quanto mais concretos forem os preparativos, menos a humanidade sofrerá. A experiência do Katrina levanta uma dúvida: será que as autoridades conseguirão ater-se aos planos, mesmo se grande parte de sua mão-de-obra for imobilizada pela gripe?

 

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