À Espera da Pandemia

Reação Rápida: Seria Possível Deter a Pandemia?

 

Até recentemente, em 1999, a OMS tinha uma definição simples para o início da pandemia de gripe: a confirmação de que um novo vírus estava passando de pessoa para pessoa em pelo menos um país. A partir daí, conter a disseminação seria impensável – ou ao menos parecia impensável. Mas, devido aos recentes avanços na vigilância da doença e nas drogas antivirais, a última versão das diretrizes da OMS identifica um período no início da pandemia em que um vírus prestes a se espalhar pelo mundo pode ser interceptado e contido – talvez até totalmente eliminado.

Simulações por computador indicam que o esforço de contenção teria de ser incrivelmente rápido e eficiente. A gripe avança com velocidade extraordinária porque tem um período de incubação muito curto – apenas dois dias depois de contrair o vírus, uma pessoa pode apresentar os sintomas e infectar outras. Algumas podem se tornar contagiosas um dia antes de os sintomas aparecerem. Como comparação, as pessoas infectadas com o vírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que surgiu na China em 2003, levavam dez dias para se tornar infecciosas, e havia algum tempo para rastrear e isolar aqueles com quem a vítima tinha tido contato, antes que eles também passassem a espalhar a doença.

Só o rastreamento dos contatos e o isolamento nunca conseguiriam conter a gripe, mas resultados de simulação por computador divulgados em agosto mostraram que, quando até 30 milhões de doses de drogas antivirais e uma vacina de baixa eficácia são acrescidos à intervenção, surge uma chance de barrar a potencial pandemia.

As condições teriam de ser quase ideais. Utilizando como modelo uma população de 85 milhões de pessoas (baseada nos dados demográficos da Tailândia), Neil Ferguson, do Imperial College de Londres, fez as contas.

Ele concluiu que as autoridades de saúde teriam até 30 dias, a partir do início da transmissão entre pessoas, para colocar em uso os antivirais como forma de tratamento e prevenção no local do surto.

Mesmo depois de analisar os resultados das simulações feitas neste ano, dirigentes da OMS levantaram dúvidas sobre a confiabilidade da vigilância em certas regiões da Ásia, questionando se conseguiria captar uma epidemia nascente a tempo. Na prática, a confirmação de alguns dos casos humanos de H5N1 levou mais de 20 dias, advertiu Stöhr, chefe da OMS para a gripe. Essa demora deixa uma margem muito estreita para levar drogas até áreas remotas e administrá-las a até 1 milhão de pessoas.

Uma imunidade parcial da população poderia representar um ganho de tempo no combate à epidemia, de acordo com Ira Longini Jr., da Universidade Emory. Ele também simulou uma intervenção com antivirais em uma comunidade menor, baseada em dados demográficos tailandeses, com resultados semelhantes aos de Ferguson. Mas Longini acrescentou cenários em que as pessoas teriam sido vacinadas antecipadamente. Uma vacina como o atual protótipo contra H5N1, por exemplo, teria probabilidade de apenas 30% de imunizar contra o vírus pandêmico. Mas, nas simulações, a vacina fez a diferença na hora de combater uma cepa de gripe muito agressiva. Fauci, diretor do NIAID, diz que os EUA e outros países que já possuem a vacina contra H5N1 estudam usar parte do estoque para prevenção na região em que uma versão adaptada aos seres humanos tenha mais chance de surgir – mesmo que isso signifique um estoque menor para os próprios americanos. “Se formos espertos, deveríamos fazer isso”, diz Longini.

Especialistas acreditam que, quando uma nova cepa começar a se disseminar livremente, ela circundará o planeta em duas ou três ondas, cada uma levando vários meses, mas atingindo o pico em cada comunidade cerca de cinco semanas depois de sua chegada. As ondas podem ser separadas entre si por um período de até três meses: se a primeira chegar na primavera, a segunda pode começar só no início do outono. Como quantidades adequadas da vacina feita especialmente para a pandemia só sairiam das fábricas depois de seis meses, os governos estão mais preocupados com o combate à primeira onda.

Quando a pandemia se globalizar, as reações serão diferentes de lugar para lugar, já que cada país terá recursos variados e tomará resoluções com base tanto na ciência quanto em suas prioridades políticas. O uso profilático de antivirais é uma opção para um pequeno punhado de países que têm como financiar estoques, embora não seja uma alternativa muito prática. Nenhum país ainda tem estoque suficiente para proteger sua população por meses. Além disso, o uso prolongado nunca foi testado, e poderia causar problemas imprevisíveis. A Grã-Bretanha, por exemplo, já declarou que usaria seu estoque em primeiro lugar para tratar as vítimas, mas não para proteger os não-infectados.

Na maioria dos países, a principal defesa será o que a OMS chama de Intervenções não-farmacêuticas, mas ainda há dúvidas quanto a sua eficácia. Fiscalizar as pessoas que chegam ao país com sintomas de gripe, por exemplo, “não traz benefícios comprovados à saúde”, concluiu um painel da OMS. Também há descrença quanto à eficácia de centrais telefônicas ou clínicas especiais para fazer alertas sobre a doença.

Os especialistas recomendam o uso de máscaras cirúrgicas para pacientes com gripe e para funcionários de saúde expostos às vítimas. Para os saudáveis, o hábito freqüente de lavar as mãos protege mais que o uso de máscaras em público, porque as pessoas podem ser expostas ao vírus em casa, no trabalho e ao tocar superfícies contaminadas – incluindo a superfície da máscara.

As medidas tradicionais de “distanciamento social”, como a proibição de aglomerações públicas ou o fechamento do sistema de transporte, terão de ser guiadas pelas conclusões dos epidemiologistas quando a pandemia já estiver ocorrendo. Se as crianças forem especialmente suscetíveis ao vírus, por exemplo – como foi o caso em 1957 e em 1968 – ou consideradas uma fonte importante de disseminação da doença na comunidade, os governos podem analisar a possibilidade de fechar as escolas.

 

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