A Vontade Consciente

ESTADOS HABITUAIS DE CONSCIÊNCIA

A tradição sufi cita a existência de sete estados, cada vez mais elevados, de consciência:

  1. O ego (Nafsi-ammara): grau no qual o eu inferior é o senhor absoluto, e a vida é regulada pela busca do prazer e fuga da dor;
  2. O eu acusador (Nafs-iIawamma): grau em que surge o discernimento entre o certo e o errado, em que a satisfação aos prazeres já é causa de remorsos;
  3. O eu inspirador (Nafs-imulhama): grau em que surgem as intuições e inspirações, embora ainda possa haver confusões entre os desejos mais íntimos e os insights;
  4. O eu pacífico (Nafs-imutmainna): grau em que as Leis divinas deixam de ser vistas como imposições, devido ao surgimento de uma harmonia interna, surge um “eu sereno”;
  5. O eu realizado (Nafs-iradiyya): grau em que surge a real percepção da unidade de todas as coisas, o eu se sente integrado com toda a criação;
  6. O eu que realiza (Nafs-imardiyya): o amor incondicional a Deus e à humanidade surge, e com ele a necessidade de trabalho em prol de todos os seres vivos. Surge o “eu fazedor de milagres”; e,
  7. O eu puro (Nafs-isafiyya wa kamila): o grau máximo de realização humana, a meta final da união com Deus.

Segundo Vera Saldanha, atual presidente da Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal, os estados habituais de consciência podem ser divididos em 19 tipos que separaremos em cinco classes:

 

No Indivíduo Comum

  1. Estado de consciência normal, onde a lógica, a racionalidade, o pensamento de causa e efeito e a presença de objetivos direcionados dão a sensação de se estar “no controle” da atividade mental. O pensamento “reflexivo” ocupa um lugar de destaque e o indivíduo percebe-se como uma unidade que experimenta;
  2. O estado de hiperalerta, que se caracteriza pela vigilância prolongada e intensificada enquanto se está desperto. Geralmente é provocada por drogas estimulantes, atividade de intensa concentração ou em situações necessárias à sobrevivência.
  3. O estado de fantasia, onde ocorrem pensamentos com pouca relação com o meio ambiente, independente de se estar com os olhos abertos ou fechados. Geralmente esse estado é provocado por tédio, isolamento social, privação sensória, ausência de sonhos à noite, necessidades psicodinâmicas ou por períodos de devaneios espontâneos;
  4. O adormecer, que surge de modo gradual, com ondas cerebrais “lentas” e ausência dos movimentos rápidos do olho;
  5. O estado hipnogógico do início do ciclo sono-sonho, com imagens visuais e auditivas vívidas próprias;
  6. O estado onírico, com seus períodos de movimentos rápidos do olho (REM) e ausência de ondas cerebrais “lentas” e suas imagens visuais e auditivas diferentes do estado anterior; e
  7. O estado hipnopômpico, entre o sono e a vigília, no final do ciclo sono-sonho. Imagens visuais e/ou auditivas que diferem dos estados adormecidos e oníricos.

No Indivíduo com Transtornos Somáticos

  1. A letargia, onde ocorre uma atividade mental embotada e entorpecida, provocada por fadiga, perda de sono, desnutrição, desidratação, hipoglicemia ou hiperglicemia, traumas encefálicos, drogas ou por sentimentos desanimadores;
  2. O estupor, onde ocorre uma “suspensão” da atividade mental, uma significativa redução da capacidade de perceber os estímulos presentes. A atividade motora pode ser possível, mas sua eficácia acha-se bastante reduzida, tendo uma capacidade de linguagem limitada e não significativa. É provocado por certos tipos de psicose, traumas encefálicos ou drogas como os opiáceos e o álcool; e
  3. O coma, que é a incapacidade de se perceber estímulos presentes, com pouca atividade motora, em geral estereotipata, e sem uso da linguagem. A Escala de Coma de Glasgow, que varia de 3 a 15, mede o nível normal de consciência do indivíduo, usando como parâmetros a abertura ocular, a resposta verbal e a resposta motora, espontâneas ou como resposta a estímulos. Pode ser provocado por doenças, agentes tóxicos, ataque epiléptico, traumas encefálicos ou disfunções glandulares.

No Indivíduo com Transtornos Psíquicos

  1. Nos estados de histeria ocorrem sensações e emoções intensas e/ou excessivas, geralmente negativas e destrutivas, provocadas por raiva, ira, ciúme, pânico, medo, terror, horror, atividade grupal violenta, ansiedade psiconeurótica e algumas drogas;
  2. Os estados de fragmentação se caracterizam por uma falta de integração entre aspectos da personalidade total. São condições de psicose, psiconeurose aguda, “personalidade múltipla”, amnésia ou episódios de fuga, que podem ser temporários ou de longa duração. Geralmente são provocadas por drogas, traumatismo encefálico, tensões psicológicas, predisposições fisiológicas, alguns tipos de esquizofrenia, privação sensória ou hipnose;
  3. Traços mnemônicos ou “engramas” de eventos passados encontram-se presentes em algum nível da consciência do indivíduo. A evocação dessas memórias de experiências passadas, indisponíveis à percepção reflexiva do indivíduo, pode ser obtida pelo esforço consciente, pela estimulação elétrica ou química do córtex cerebral, através da livre associação psicanalítica, ou podem emergir espontaneamente; e
  4. Os estados regressivos, comportamentos inadequados em relação ao estado fisiológico e à idade cronológica do indivíduo. Podem ser temporários (“regressão da idade” através de hipnose ou drogas) ou de longa duração (em indivíduos de diversos tipos de senilidade).

No Indivíduo em Transe Hipnótico

  1. Os devaneios se caracterizam pelos movimentos rápidos do olho, provocado por um hipnotizador que sugere que o indivíduo terá uma experiência semelhante a um sonho. Pode ocorrer durante o transe; e
  2. O transe, que se caracteriza pela ausência, no EGG, de contínuas ondas alfas, pela hipersugestionabilidade, não passividade, vigilância e concentração da atenção num único estímulo. Provocado por um hipnotizador, ouvindo-se a batida do próprio coração, cânticos, observação prolongada de um objeto que se repete em ciclos, rituais, “lavagem cerebral”, canção de ninar, poesia, música, orador carismático, presenciar de uma representação dramática,  ou qualquer tarefa que requeira atenção com pouca variação no efeito, como dirigir durante horas, olhar uma tela de radar, uma linha branca no centro de uma rodovia, etc..

No Indivíduo em Exercício Meditativo

  1. O auto-exame interior é um estado de consciência possível quando se volta a atenção a si mesmo. Começam as percepções de sensações físicas nos órgãos, tecidos e músculos. A consciência está sempre presente, mas em um nível não-reflexivo, a menos que haja um esforço planejado por parte do indivíduo de tornar-se cônscio dessas sensações, ou essas sensações se intensifiquem através da dor;
  2. O estado meditativo profundo onde ocorre uma ausência de imagens visuais e auditivas. Há ampliação e refinamento da percepção. Geralmente provocado por ausência de estimulação, massagem, boiar sobre a água, ou exercícios meditativos; e  
  3. O arrebatamento, onde ocorrem intensas sensações e emoções, geralmente descritas como agradáveis, que são provocadas por excitação psíquica, danças frenéticas, rituais, ritos, atividades religiosas e algumas drogas.

Mas, basicamente, somos capazes de experimentar três tipos diferentes de consciência além da vigília (o sonho, o sono profundo e a superconsciência), embora na prática não vivamos plenamente em nenhum deles. Esses estados serão descritos mais adiante.

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