Luz no Caminho

Essas regras foram escritas para todos os discípulos:

Siga-as. ( Attend you to them – dê atenção a elas.)

ATENÇÃO – não tão fácil de se realizar. Demanda uma percepção constante, a qual não estamos acostumados.

Enquanto existem regras gerais, para as quais a atenção deve ser dirigida, é igualmente verdade que ninguém andou neste caminho particular antes. O crescimento na consciência individual é sempre singular, e nunca plural. Ninguém pode assumir a jornada por nós, e enquanto outros podem nos prover com um tipo de mapa, nós na verdade não conhecemos o território, até que tenhamos caminhado por nós mesmos. Parte do mistério da Auto-Realização está no paradoxo místico da singularidade da jornada.

Porque atenção deve ser dada as regras, se no final, todas as regras devem ser postas de lado? De novo um paradoxo – a vida por si, impõe limitações em nossa caminhada. No final, descobrimos que o que pareciam ser mandamentos externos é essencialmente a lei de nosso próprio ser e as próprias leis da natureza. Nós nos tornamos a senda na qual caminhamos.

H. P. Blavatsky chama essa atenção de: “mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos,” o último degrau da Escada de Ouro, que estamos subindo até o “Templo da Sabedoria Divina” o templo que é o Eu Imortal.

Uma analogia útil, pode ser desenhada, entre a condição da atenção necessitada por nós e a situação em que se acham os prisioneiros. Nós todos somos prisioneiros no mundo que fazemos, confinados por nossas próprias ações (karma), aprisionados por nossos próprios pensamentos, desejos, paixões, necessidades e requerimentos. Por muitas vidas, construímos os muros da prisão que nos mantém, e dos quais queremos escapar.

Quando prisioneiros desejam escapar, focalizam sua atenção inteiramente nesse simples objetivo. Nada mais ocupa suas horas de vigília e algumas vezes até suas horas de sono. Não apenas, sonham com a liberdade, mas, atingem um ponto de não terem mais nenhum desejo, nenhuma ambição, nenhum outro objetivo em suas existências. Todo momento da vida é dado para considerar como efetivar a fuga. Todo seu ser está consumido pela paixão de liberdade. Apenas para ser livre de novo- este é o desejo de fogo que direciona os prisioneiros. Nada é permitido divergir desse objetivo; nada é permitido distrair sua atenção. Mesmo quando a vida em prisão parece trazer algum prazer transitório – a parceria dos prisioneiros, comida satisfatória, e até algum trabalho – o pensamento de liberdade está sempre aí. Assim os prisioneiros se tornam bastante observadores. Vêem tudo ao seu redor em termos de sua utilização para conseguirem a liberação desse confinamento.

Até que ponto, estamos preparados, para concentrar toda nossa energia nessas regras que prometem abrir o caminho para nossa escapada, do presente aprisionamento, no campo sem graça da existência transitória, para a liberdade de uma mais ampla consciência? Nós queremos, de fato, ser livres? Esta é a questão central, que só pode ser respondida por nosso ser inteiro, não simplesmente por um sim ou não.

UM PREÇO A PAGAR

Um preço tem sempre que ser pago. Preço pago por nossas próprias escolhas. Desejamos pagar o exato preço por essa liberdade, ou preferiremos sofrer o que é dito ser, “o inferno de nossas recusas”?

            Algo que não é prometido neste ou qualquer tratado sobre a vida espiritual é conforto. Como é dito: “A ninguém nunca é prometido um jardim de rosas”.

            Mas, uma vez que sentirmos a brisa refrescante do espírito, vinda, dos altiplanos da sabedoria, o ar do vale parecerá estagnado e pesado. Desejamos e buscamos por essas brisas frescas que vem apenas quando o Eu assume, não importa que o caminho seja longo e difícil. Santo Agostinho diz: “Nossos corações estarão sempre sem descanso até encontrarem o descanso em Si”.

A Sra. Blavatsky nos diz para prestarmos atenção à verdade diante de nós, e para isso devemos ter: “uma vida limpa, mente aberta, coração puro, intelecto ardente, clara percepção espiritual, afeto fraternal para com seu condiscípulo, presteza para dar e receber conselho e instrução, leal senso de dever para com o instrutor, pronta obediência aos preceitos da verdade, uma vez que nela pusemos nossa confiança e cremos que o instrutor a possui, corajoso suportar das injustiças pessoais, destemida declaração de princípios, valente defesa daqueles que são injustamente atacados, e mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos que a Ciência Secreta (Gupta Vidya) revela- essa é a Escada de Ouro por cujos degraus pode o aspirante galgar até o Templo da Sabedoria Divina.”

Quando olhamos os primeiros degraus acreditamos ser bem fácil. Mas perguntamos, se não tivéssemos uma vida limpa, estaríamos nos aproximando do discipulado? Saberíamos da existência desse Templo de Sabedoria, dedicado à sabedoria Divina, se não tivéssemos lavado as mãos para todas as ambições humanas?

O Primeiro degrau ou passo que nos parece à primeira vista o mais simples, nos dá prova de ser o mais difícil de ascender. Na verdade o que é dito ser o primeiro passo, o que é demandado para a senda espiritual é de fato, uma separação completa e irreversível da senda passada da existência. Ambos os pés devem ser trazidos a uma nova plataforma ou degrau, um novo modo de vida, no qual não pode haver nenhum arrependimento, mesmo que queiramos manter uma parte de nós presa ao mundo já conhecido, enquanto outra parte de nós explora o alcance desconhecido do Eu. O destino daqueles que desistem é bem exemplificado na estória da esposa de Ló, que olhando para o passado se transformou numa estátua de sal, símbolo da cristalização que pode ocorrer quando falhamos em nos mover para diante. De fato, todos os heróis dos mitos, nos lembram sobre o desejo de volta aos vales, por aqueles que partiram para conquistarem as alturas. E incontáveis são aqueles que sucumbiram a esse desejo, incapazes à brava exposição aos elementos que se parecem tornar mais terríveis e fortes, quanto mais alto subirem.

EXAMINAR A VIDA

Não nos deixe passar por alto no requerimento inicial que é visto como um “dado” na Luz do Caminho mas que está implícito quando se diz ‘prestar atenção’, que é Vida Limpa. O que é vida limpa? Uma vida examinada- uma vida na qual a atenção é dada a cada objeto, circunstância, condição, e situação – significando que devemos observar com um profundo entendimento cada aspecto de nossas vidas no sentido de determinar se estamos nos movendo na direção que impusemos a nós mesmos.

Isso significa também que traremos conosco nessa viagem apenas o que é necessário. Em outras palavras, nós nos desligamos do não essencial. Essa é a “vida limpa” na qual nada estranho se prende a nós.

Apenas quando nossas vidas estiverem ‘desligadas’ dos elos passados e mesmo de futuras antecipações, que nos ligam sem necessidade (podemos dizer, cegamente), podemos por à prova nosso compasso interno. Este compasso deverá estar apontando para o Norte do Eu e não ser atraído pelos puxões magnéticos dos preconceitos ou fobias emocionais.

Uma vida examinada não apenas é sinônimo de uma vida limpa, mas também é requisito para essa limpeza. Quando dizemos isso, estamos propondo que tal vida é uma vida ordeira (com ordem), sem nada supérfluo, uma vida na qual pretendemos nos examinar objetivamente e restaurar o curso, se necessário, de acordo com aquele compasso interior que nos direciona sempre para o verdadeiro Eu, o Eu Uno. Uma vida limpa portanto é muito mais que o banho diário, apesar de limpeza física ser um símbolo da existência que é livre de qualquer “sujeira” ou ligação à matéria que distorce a visão.

LIMPEZA IMPESSOAL

O físico tem sua importância, portanto um veículo repleto de impurezas dificilmente nos servirá efetivamente ou eficientemente, constituindo como o faz uma carga pesada em nossa subida. Ser limpo significa ser ordeiro, de tal modo que seja dado ao corpo físico seu próprio dever, atendendo a um modo ordeiro, para que seja totalmente expressivo do eu que o está utilizando por um dado período de tempo.

Em adição ao cuidados e atenção, dados ao veículo físico, a limpeza deve abarcar nossas ações, nossas palavras, nossos gestos – de fato a totalidade de nossa natureza pessoal. Todos os aspectos da existência pessoal devem estar sem impurezas ligadas a elas, o que significa que todos os nossos aspectos devem estar sem serem manchados por qualquer pensamento egoísta, qualquer motivo de auto engrandecimento, qualquer sentimento vingativo, ciúmes, má vontade, ou desejo de prejudicar alguém.

Como nos diz o Bhagavad Gita, a ação deve se dar sem o pensamento estar ligado ao seu fruto. Até nossas palavras, a linguagem que usamos, devem trazer em volta  delas uma radiância de compaixão amorosa porque elas foram limpas de todas as intenções ferinas. Até, em nossos silêncios, deve haver uma aura de direcionamento compassivo a todas as vidas.

O que esse ‘banho’ interior implica? Psicologicamente significa que atingimos um refrescamento em tudo que sentimos e pensamos- reconhecendo cada aspecto de nossa natureza, mas utilizando nossa energia psíquica, de tal modo que nos assegure um fluxo sem obstrução de dentro para fora, pois as águas da vida, em nosso interior, não devem ser permitidas de se tornarem poluídas ou estagnadas. Nossas vidas, então, movem-se a partir de uma fonte interna de poder, um fluxo interno, que está sempre fresco e claro, sempre se renovando, porque não colocamos nenhuma obstrução ao próprio fluxo de vida. Existindo assim uma espontaneidade, naturalidade, alegria, em nossas vidas. Pensamento, sentimento, e ação se encontram num acordo harmonioso.

LIMPEZA MENTAL

Uma mente limpa é uma mente ordenada, uma mente que não está em estado de confusão, não é poluída por idéias estranhas, opiniões e crenças. Tal mente é capaz, imediatamente, de enfrentar tudo que se apresentar durante o dia e ver tudo de maneira fresca, renovada e clara.

Sentimentos limpos, puros, são os que se dão de modo espontâneo pelo fluxo interno da compaixão e amor. Não existe nenhum rodamoinho de autopiedade ou egocentrismo, nenhuma conspurcação de sentimentos emocionais de infelicidade. A natureza emocional-mental é como uma clara e profunda piscina, refletindo apenas a pura luz do amor.

Para assegurarmos o fluxo límpido do interior, necessitamos examinar nossos motivos. Por que viemos, para esse trabalho, desejosos em trilhar o mais antigo caminho que nos leva à iluminação? O que é que nos motiva a desencadear a ação?

Uma vida limpa significa que nossos motivos são os mais puros possíveis, e isso vai depender da nossa habilidade em termos consciência, percebermos esses motivos.

Quando percebemos, quando damos atenção, não podemos mais fazer ou dizer qualquer coisa sem pensar ou sem sentir, ignorando suas conseqüências.

Quando alguma ação nossa produziu um efeito indesejável e por isso estamos prontos a dizer: “Bem, eu não tinha pensado nisso!”; significará que nós não estávamos alerta, não tivemos atenção, mas ao contrário, ficamos satisfeitos de continuar existindo na piscina estagnada da inconsciência.

Algumas vezes, as palavras parecem sair, como se não tivessem nenhuma origem, raiz, na consciência. Muito do nosso tempo pode ser gasto em explicações para outros e até para nós mesmos. Dizemos: “Mas eu não pretendia dizer isso!” Tentamos nos explicar, justificar nossas palavras ou ações. Numa vida limpa e ordeira, na qual os motivos foram examinados, existe uma conscientização de cada pensamento, cada sentimento, cada palavra, cada ação, mas é uma conscientização que de forma alguma se desliga da espontaneidade de pensamento, sentimento e da ação. Quando levamos uma vida completamente limpa o frescor e a criatividade caracterizam todas nossas respostas. A palavra necessária a cada momento é dita, o ato que é certo é feito, porque nós participamos e somos parte desse fluxo interno da Realidade que emerge do Eu Uno através do eu pessoal, claro e sem obstrução.

Então uma vida limpa significa uma vida sem qualquer impureza, sem poluição em todos os níveis de nossa existência. Tal vida inevitavelmente implica em que sigamos desejosos de ascender a todos os degraus da Escada de Ouro que leva ao Templo da Sabedoria Divina, o embasamento do Eu Imortal, o Eu Uno. Pois na vida limpa existe “uma mente aberta, um coração puro e um intelecto ardente.”

Nessa vida, vivida a partir de um centro transpessoal do Eu, existe um “desejo de obediência para o alcance da verdade” pois nós alegremente damos atenção as mais antigas “regras” do discipulado.

Sri Ram, resumiu assim o ideal: “Existe um modo de viver com tanta vitalidade, frescor, originalidade, espontaneidade, e dinamismo, que a vida se torna uma transformação, um estado de perpétua alegria, um êxtase nativo que nada pode nos tirar.”

DIANTE DO PORTAL

Uma vez que tenhamos tido um vislumbre da futura glória, a visão não mais nos deixará descansar.  Devemos seguir adiante como o velho Ulisses, através de quaisquer tormentas que possam nos aguardar, navegando em quaisquer mares, chegando em quaisquer margens, até que por fim vençamos, chegando em casa. Não é mais o lar que deixamos em nosso desconhecimento, mas um lar tornado novo pelas transformações por que passamos. É o lar onde habita o Self (Eu) Imortal, o lar de onde partimos como prodígios para uma terra distante e para onde, finalmente, devemos retornar em plena consciência de nosso ser essencial.

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