As “regras da estrada” são apenas dedos apontando para o desconhecido da própria vida, os campos inexplorados do Eu. Assim como sempre: “Não se pode caminhar na Senda, até que se tenha tornado a própria Senda”, como nos diz A Voz do Silêncio. É um paradoxo, entretanto uma verdade mística, que leva o coração a um conhecimento que não sabíamos que possuíamos.
Obs.: Luz no Caminho é um livro de regras, direcionando as ações que devem ser assumidas por aqueles que desejam entrar no Caminho, assumindo o que no cristianismo é dito ser “a medida da estatura da plenitude do Cristo”.
É precisamente porque a ação é buscada pelo aspirante que devemos compreender, pelo menos de alguma maneira, a lei universal do karma, uma lei inerente na própria natureza da existência.
Para exemplificarmos, daremos a diferença que há entre um trabalho sobre a nutrição e um livro de receitas sobre cozinha. O livro sobre nutrição, vai expor a teoria sobre o que o corpo necessita para uma boa saúde, enquanto o livro de receitas deverá ser experimentado, para ter algum valor. As receitas deverão ser testadas por cada um. E quando nos deparamos com algum fato inalterado ou um erro, lembremos: não poderemos “desassar” o pão que foi queimado! Pagamos um preço por aprender a cozinhar. Dentro desse exemplo, outra analogia que podemos fazer é a de que os bons cozinheiros não necessitam mais seguirem as receitas, as ‘regras’, eles já as conhecem e sabem o que querem. Como nos colocou J. Krishnamurti, que no final todas as regras são desnecessárias. Lembrando também o Senhor Buddha:“Seja uma lâmpada para si mesmo”.
No início de nossa jornada porém, é para pormos em prática o texto, utilizando-o. Isso nos exige coragem e força de vontade. O caminho não é para os fracos de coração, nem para o caminhante de ‘cadeira de balanço’. Como é dito no ensaio sobre o Karma:
“Diz-se, que um pouco de atenção dirigida ao Ocultismo, produz resultados cármicos consideráveis. Isso ocorre, porque é impossível dar qualquer atenção ao Ocultismo sem fazer uma escolha definida diante do que é comumente chamado de bem e mal. O primeiro passo no Ocultismo leva o estudante à árvore do conhecimento. Ele precisa colher e comer; precisa escolher. Ele não poderá mais ficar indeciso por ignorância.”
Como todos os psicólogos Junguianos apontaram, o primeiro estágio do despertar da consciência de sua condição primeva de inconsciência, está na percepção de que a escolha é possível. Diz um provérbio: “O homem foi feito por causa da escolha”. Todos os grandes mitos representam o início da vida como uma separação de um estado paradisíaco de união, do não conhecimento (ou avidya, que é uma condição de não percepção, traduzida por ‘ignorância’). Por vezes somos como aquela criança que escreveu uma carta para Deus: “Por favor Deus”, a criança perguntou, “como é morrer? Eu não quero fazer. Eu quero apenas saber.” E o nosso texto nos lembra que apenas uma ‘olhadela’ para a vida interior produz conseqüências; uma decisão deve ser tomada. Uma vez que sabemos, conhecemos, não podemos “não conhecer”.
Um preço é sempre exato para qualquer que seja a nossa decisão. Se escolhermos ir adiante, provar do fruto que colhemos da árvore do conhecimento, ou coloca-lo de lado, existe ainda a conseqüência de nossa primeira escolha a ser deparada:
“Uma vez que o tesouro do conhecimento foi alcançado, a confusão começa a diminuir, e em conseqüência os resultados cármicos aumentam enormemente, porque tudo está atuando na mesma direção em todos os diferentes planos, pois o ocultista não pode se colocar com meio coração, nem pode retornar, quando alcançou o tesouro. . . A individualidade aproximou-se do estado de responsabilidade . . . E não pode retroceder daí. (Ensaio sobre o Karma).”
“Você não mais deve apenas conhecer a verdade; você deve sofrê-la”. (Dionísius)
Então a jornada inicia; a escolha inicial foi feita. Adentramos no Caminho Sagrado. O trabalho estende-se diante de nós. Estamos buscando não conhecimento mas sim, sabedoria, o conhecimento interior do ‘Self’, que é iluminação. O Gita o chama de “segredo real”. A escritura cristã refere-se a ele como “a verdade que o libertará.”