Reiki

Mikao Usui (1.865-1.926), em 1.875, começou seus estudos em um seminário jesuíta. Já padre católico, lecionava em uma pequena universidade cristã em Kyoto quando um dia um grupo de seminaristas que concluíam a sua formação perguntaram-lhe se ele acreditava literalmente na Bíblia. Diante de sua resposta afirmativa, pediram-lhe que explicasse porque não havia no mundo de hoje curadores que faziam o que Cristo fazia, já que ele ensinou a seus apóstolos a técnica de curar os doentes, com a imposição das mãos, e de ressuscitar os mortos (Mt 10:8), e ainda dissera que eles fariam as mesmas obras que Ele e até maiores (Jo 14:12).

 

Como não tinha respostas a seus seminaristas, Usui permaneceu calado e nesse mesmo dia pediu demissão de suas funções e foi atrás das respostas. Em 1.898 viajou aos Estados Unidos para o seminário teológico da Universidade de Chicago, através de um intercâmbio cultural, onde aprendeu línguas antigas, inclusive o sânscrito, como forma de ler antigas escrituras, e após sete anos doutorou-se em teologia. Mas não obteve resposta a suas perguntas.

Como sabia que a tradição budista relatava que Sidarta Gautama também curara doentes e ressuscitara mortos, retornou ao Japão e pesquisou nas bibliotecas budistas, de monastério em monastério, acerca das curas de Buda. Em conversas, com monges budistas acerca desse assunto, todos diziam que estavam mais preocupados com a cura do espírito que com a do corpo, até que um concordou que seria possível curar o corpo assim como Buda curara.

Foi à Índia e ao Tibete, estudando as escrituras budistas, até que descobriu, no Tibete, um antigo manuscrito em sânscrito de um discípulo anônimo de Buda, datado de cerca de 500 a.C., que dava uma fórmula que acionava uma energia poderosíssima de cura através de quatro símbolos sagrados, mas não continha as instruções de como usar os símbolos para a cura.

Então, em 1.908 já no Japão, Usui resolveu passar 21 dias em jejum e meditação a fim de purificar-se, como os antigos mestres faziam, num retiro no monte Kurama, montanha sagrada próxima à cidade de Kyoto. Ele objetivava ter a visão divina de como os símbolos funcionavam e passou os 21 dias em absoluto jejum, sentado próximo a um pinheiro, ouvindo um som de um riacho, meditando, orando, entoando cânticos e solicitando ao Criador o discernimento necessário ao uso dos símbolos.

E assim, na madrugada do 21o dia, vislumbrou uma intensa luz branca à sua frente e inúmeras outras luzes coloridas em forma de bolhas, contendo em seu interior símbolos sagrados. No mesmo instante que via os símbolos, compreendia o seu significado e a forma de utilização dos mesmos. Ativou-se, em si mesmo, a capacidade de curar e a capacidade de ativar esse poder em outras pessoas.

Tornou-se vendedor ambulante e passou a perambular pelas ruas de Kyoto tratando todas as pessoas marginalizadas e doentes, principalmente mendigos e pedintes, com a intenção de reintegrá-los à sociedade, recomendando que arranjassem um emprego e ganhassem a vida sem mendigar. Passou então a percorrer as cidades e aldeias do Japão, com a mesma intenção de curar e reintegrar à sociedade até que, de volta a Kyoto, encontrou muitos dos que havia curado de volta à mendicância, nas mesmas condições anteriores de miséria e doença. Disseram-lhe que era mais fácil mendigar que se esforçar num trabalho.

Percebeu então que a cura do espírito, que os monges defendiam, era tão ou mais importante que a cura do corpo físico. Ele não os havia ensinado a apreciar a vida com um novo modo de viver. Deixou de tratar os pedintes e dedicou-se a mostrar como viver com saúde, àqueles que queriam tê-la, e ensinou-lhes como curar a si mesmos, harmonizando todas as dimensões do ser: física, emocional, mental e espiritual.

Criou cinco princípios a serem seguidos por seus discípulos 29:32:

  1. No dia de hoje não sinta raiva e não fique zangado;
  2. No dia de hoje abandone suas preocupações;
  3. No dia de hoje agradeça suas bênçãos, respeite seus pais, mestres e os mais idosos;
  4. No dia de hoje faça o seu trabalho honestamente;
  5. No dia de hoje mostre amor e respeito e seja gentil com todos os seres vivos.

Usui praticava o seu método usando apenas a energia da imposição das mãos e dos símbolos sagrados, pleno de ideais de amor. Dava palestras convidando pessoas que sentiam tristezas, depressões e dores físicas, curando-as. Teve 16 discípulos a quem ensinou o seu método, dando-lhes a capacidade de repassar o poder de cura de seu método, e confiou ao seu discípulo médico, Chujiro Hayashi (1.878-1.941), a tarefa de transmitir e manter intacta a tradição.

Coube a Hayashi o mérito de denominar a técnica de Sistema Usui de Cura Natural (Usui Shiki Ryoho) ou Usui Reiki, estruturando e sistematizando os seus níveis. Fundou a primeira clínica de Reiki em Tóquio (a “Shina No Machi”), próximo ao palácio imperial, com oito leitos e mantendo dois iniciados na técnica trabalhando. Manteve prontuários detalhados dos pacientes tratados, produzindo ampla documentação dos métodos e dos resultados obtidos, até que, antes de morrer, elegeu a sua discípula Hawayo Takata (1.898-1.980) para continuar o seu trabalho.

Takata, a primeira mulher no Ocidente a receber a iniciação em Reiki, introduziu a técnica nos Estados Unidos. Cursou a “National College of Drugless Physicians” (Universidade Nacional de Medicina sem Drogas), em Chicago, e ministrou cursos e sessões de cura durante 30 anos, iniciando 22 novos mestres e fundando a “American International Reiki Association” (AIRA) . Após a sua morte, divergências fizeram que alguns mestres criassem uma segunda entidade, denominada “The Reiki Alliance”.

Basicamente, a diferença entre elas está na quantidade de níveis, ou graus de Reiki. Enquanto a primeira (a AIRA), dividiu o Reiki em sete níveis, denominando a técnica de “Radiance Technique”, a segunda manteve a tradição de três níveis, seguindo a linha de Mikao Usui. Usui focava o primeiro nível na dimensão física do ser, ensinando aos discípulos as posições das mãos e despertando-os para serem canalizadoras da energia vital cósmica (Rei). Reiki seria o processo de encontro da energia vital pessoal (Ki) com a essência energética cósmica (Rei) que permeia toda a criação, daí o nome Reiki. A iniciação pessoal ao primeiro nível de Reiki incluiria um processo de sintonização pessoal, através de um realinhamento dos Chakras, facultando ao iniciado a capacidade de fazer fluir, através de suas mãos, a energia cósmica de cura captada pelo Chakra coronário (Cf. no capítulo anterior).

Como não se utiliza o Ki pessoal, o Reiki não demanda energia pessoal para a cura e sim a energia vital do universo. O iniciado apenas impõe as mãos e a energia flui na intensidade e na qualidade determinada por quem a recebe, daí a extrema importância de quem recebe a técnica em sua cura. Não é somente o poder da vontade pessoal que age, pois assim ele não necessitaria das sessões de Reiki, mas uma somação do desejo de cura e da aceitação em receber aquela energia de cura.

As pessoas que têm esse nível devem passar de 60 a 90 minutos em cada sessão de cura 29:56, a fim de cumprir os cerca de cinco minutos nas 14 posições básicas, embora não seja obrigatório o uso das 14 posições nem o cumprimento exato dos cinco minutos. No uso das mãos, que em geral se tornam muito quentes durante a aplicação do Reiki, os dedos devem ficar unidos com a mão relaxada e em forma de concha, na posição de se beber água com elas, durante o toque. Na região genital, pode-se colocar as mãos a cerca de dois a três centímetros do corpo do paciente.

A iniciação de segundo nível capacita o iniciado a trabalhar no campo áurico do paciente, nas dimensões emocionais e mentais do ser. Aqui se aprende três símbolos que são, então, sintonizados nas mãos do iniciado. Os tratamentos se darão em um tempo menor, de 15 a 20 minutos, pois a ênfase se dá nos corpos sutis do paciente de vibrações mais semelhantes às da energia que flui das mãos. Assim, os tipos de tratamentos dependem da combinação desses três símbolos: o Choku Rei (para o corpo físico), o Sei He Ki (para o corpo emocional – o subconsciente) e o Hon Sha Ze Sho Nen (para o corpo mental – o nível quântico do ser que transcende tempo e espaço) 29:168. O iniciado nesse nível sente uma grande necessidade de crescimento interior e começa a sua busca pessoal por transformação.

Na iniciação de terceiro nível, o da realização pessoal, o iniciado recebe uma nova ativação energética e aprende o símbolo dos mestres (o Dai Koo Myo), que serve para amplificar e intensificar os efeitos dos anteriores, passando a ser capaz de realizar, em vida, os seus desejos e sonhos. Esse novo símbolo leva ao âmago do paciente, permitindo ao iniciado conectar-se com a sua parte divina e a do paciente: o corpo espiritual.

Para esse terceiro nível é necessário um grande crescimento interior do iniciado e esse é o motivo que justifica a extrema importância dada ao tempo entre a iniciação anterior e esta (em torno de um ano). Nessa iniciação, que dura cerca de sete meses, o aluno passa a compreender o seu próprio Karma, encontrando a sua própria verdade, e recebe a faculdade de poder ensinar e capacitar novas pessoas a serem canais da energia vital cósmica.

Em geral, os símbolos são traçados no ar, utilizando-se a mão dominante, ou mentalizados, enquanto se pronuncia, verbalmente ou mentalmente, o seu nome, como um mantra, três vezes. Choku Rei significa algo como “Deus está aqui”, Sei He Ki significa “o homem e Deus são um só” e Hon Sha Ze Sho Nen significa algo como “o tempo e o espaço não existem”, embora possa ser traduzido no mesmo sentido da palavra indiana Namaste: o divino que habita em mim saúda o divino que habita em você.

Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como prática terapêutica alternativa, o Reiki tem utilidade no tratamento tanto de seres humanos quanto de animais, sementes ou plantas, de forma local ou à distância, no tempo atual ou no passado ou no futuro, permitindo replanejar o passado, reprogramando-o, ou delinear o futuro, programando-o. Hoje, além do sistema Usui, outros são bastante difundidos, com alguns símbolos próprios, mas equivalentes quanto à potencialidade: o tibetano, o Osho, o Kahuna, o Kahuna Ki, o Ken Reiki e o Mei Reiki.

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