Ser – Corpo, Alma, Espírito, Deus e Consciência

Dia do Arcanjo Miguel.

Baseado nos aprendizados, estudos, percepções e compreensões vivenciadas junto com Theda Basso, apresentadas no livro “Triângulos – Estruturas de Compreensão do Ser Humano”, edição dos Autores, São Paulo, 2007.

Tecnicamente as palavras “Alma” e “Psique” são sinônimas, Alma é do latim “Anima” e Psique é em grego, ambas as palavras apontando para a mesma “coisa”. Bem, o que é esta “coisa”? Até o século IX , no Concílio de Constantinopla IV (869-879 d.C), a Igreja Católica reconhecia o ser humano como um ser trimembrado, compondo-se de Corpo, Alma e Espírito.

Por “Alma” entendia ser aquilo que existia entre o Corpo, estrutura física como a conhecemos, e o Espírito, a consciência individualizada, o “Eu sou” (aquilo que nos individualiza e nos faz dizer “Eu” para nós mesmos). Falava que imortal era o Espírito, que habitava um Corpo mortal. Desse encontro entre o imortal e o mortal, surgia, como que entre os dois, a “coisa” chamada Alma, onde se reconheciam todos os sentimentos, sensações e emoções, os medos e os desejos, as simpatias e antipatias.

Depois disso, a Igreja deixou de ver o ser humano como trimembrado, passando a vê-lo apenas como Alma e Corpo, ou Espírito e Corpo; sendo que as palavras “Alma” e “Espírito” passaram a ser sinônimas, designando uma mistura de Espírito e Alma, sendo vista como a parte imortal do ser humano e também onde vivem os sentimentos e aspirações mais nobres, constantemente assediada pelo “Diabo”, querendo conquistá-la para si. Diabo é aquele que, por querer ser igual a Deus, foi expulso do Céu; seu nome é Lúcifer, o “Portador da Luz”. O mesmo que seduz Eva com o fruto da “Árvore do Conhecimento”.

E a Igreja sempre reconheceu a Deus, o Criador, como o Espírito supremo ou “Anima Mundi” (Alma do Mundo), ou seja, o modelo pelo qual se constitui o Espírito humano, o “Eu sou” humano; sendo Espírito ou Alma, a partícula divina no ser humano. No hinduísmo esse “Deus criador” é chamado de Brahmam, e a partícula de Brahman no humano, o “Eu sou” divino no humano, de Atman.

Tudo isso é representado na DEP pelos quatro pares de triângulos, descendentes e ascendentes. Sendo o 1º triangulo descendente o “Espírito” ou “Eu sou”, ou “Eu superior”, ou “Atman”, e o 1º triângulo ascendente o “Corpo vivo”. Os outros triângulos descendentes e ascendentes, 2ºs, 3ºs e 4ºs, são do âmbito da “Alma”, entendendo-se por alma essa interface entre Espírito e Corpo. O 2º descendente com características mais próximas do Espírito, e o 2º ascendente com características mais próximas do Corpo. Os 3ºs formando a Alma por excelência, e os 4ºs triângulos, também Alma, mas com características mais próximas do Ser, ou, do 5º triângulo.

Aqui entra a compreensão mais essencial e diferenciadora, que diferencia o Ser tanto de Alma, quanto de Espírito, quanto de Deus Criador. Pois o Ser é a Totalidade, o Um Indivisível, e Incognoscível, sem nome e sem forma. O que Lao Tse fala no “Tao Te Ching” como: “O Deus que pode ser nomeado não é o Deus verdadeiro/ Sem nome Ele é o Imanifesto e Real/ Com nome é a mãe das dez mil coisas, é o Deus criador”. Esse Deus verdadeiro, que não tem nome, é o que é, e isto é Ser, um verbo no infinitivo. E é representado pelo 5º triângulo, o que não tem par.

Note-se que Ser, é o fluxo perene que sempre é, sem antes nem depois, atemporal. Deus Criador, Espírito, Alma e Corpo, aparecem no Ser, como aparências mesmo, dentro do tempo e do espaço, com começo, meio e fim; pois assim como aparecem, assim desaparecem. O Ser não é consciência nem inconsciência, nem Consciência – com maiúscula.

Consciência, com maiúscula, é o Deus Criador. E o Universo, com toda a natureza e todos os seres existentes, são criados  “por essa Consciência” nessa própria Consciência. Por isso hoje a física avançada, tanto Quântica quanto a física do Campo Ponto Zero, podem reconhecer a Consciência como o fator que colapsou o Universo, presença interior e inteligente em todos os fenômenos.

Imagine-se a Totalidade, essa situação onde não existem duas coisas; só ela, total, abrangente, indivisível, incognoscível, sem tempo, sem espaço, sem limites, sem nunca ter começado e sem fim. Imaginou? Isto é o que é, isto é Ser. Fluxo perene e imutável. Ser, o único que é. Agora imagine que a Totalidade fique cônscia de Si mesma, ou seja, na Totalidade aparece a Consciência de Si mesma. Um objeto aparece no Todo. E aparentemente o divide.

Essa Consciência de Si mesma, é um foco, um ponto de Consciência que divide a Totalidade em dois, (1) esse ponto que apareceu, que se destacou, e (2) o resto. Esse ponto de Consciência é o “Deus criador”, que não é a Totalidade, mas algo que apareceu na Totalidade, uma aparência. E dentro dessa Consciência, cria-se tudo que conhecemos como nosso Universo com todas suas criaturas. Essa Consciência fica sendo para essas criaturas criadas dentro de Si mesma, uma imagem da Totalidade, ou uma aparente totalidade, ou melhor, uma ilusão de totalidade, obviamente com infinitos poderes sobre todas as criaturas criadas dentro de Si mesma. Um “Deus” Criador Todo-Poderoso.

No momento em que aparece essa Consciência, ela aparece dividida em Informação e Forma, pois tudo que aparece, tudo que tem começo aparece como uma Forma no tempo e no espaço. E se tem uma Forma, essa forma obedece a um princípio que à Informa; por isso compreendemos que tudo que aparece, aparece como Informação e Forma.

A Informação primordial é a Consciência que se destacou na Totalidade, ou seja, a Consciência que se individualizou na totalidade, ou em outras palavras, a Informação primordial de toda criação é o Princípio Individualizador, ou Deus com nome, Deus criador, ou Brahmam para o universo, que no ser humano aparece como Atman ou Espírito ou “Eu sou” ou “Eu Superior” – ou na DEP o 1º triângulo descendente. E a Forma primordial é a substância primordial, plasmada por essa informação primordial, ou Corpo primordial – na DEP o 1º triângulo ascendente.

Os físicos sabem que essa Consciência primordial aparece como “Luz” primordial, que é simultaneamente “Informação” e “Forma”, onda e partícula (as ondas que formam o Campo Ponto Zero carregam, ou melhor, são Informação, as partículas são Formas in-formadas pela Informação).

Não é a toa que a Bíblia conta a Gênese do mundo a partir do “Faça-se a Luz”. É a “Luz da Consciência” que se separa na Totalidade, que se separa no Ser. Aparecem então os quatro pares de triângulos no quinto triângulo, (o Um que aparece como dois). Deus criador, o Deus conhecido nosso, Espírito, Alma e Corpo, são apenas aparências no Ser que é. O Ser é o único que é. É a única realidade.

        Consciência, com maiúscula, Deus, Espírito, Alma e Corpo fazem parte do mundo que apareceu na Consciência, ou seja, um mundo de aparências. A palavra que temos para designar aquilo que é mera aparência, aquilo que aparece e desaparece, aquilo que tem uma existência efêmera, dentro do tempo, com um começo e um fim, (ainda que o tempo de existência seja muito longo, muito tempo, uma continuidade sem fim), é a palavra “Ilusão”. Uma aparência no tempo e no espaço sem existência real. Mera aparência. Ilusão. Os sábios hindus, quando olham para o mundo criado, dizem, esse mundo é Maya, ou Ilusão. E estão certos.

Então, dentro de Maya, ou da Ilusão, a Consciência é o fator primordial que ao colapsar a Si mesma, colapsa todo o resto. Ou “cria” o resto.

Portanto, hoje entende-se que a única “causação descendente” é o aparecimento da Consciência de Si mesma na totalidade. Descendente significa aqui o surgimento da Ilusão na Totalidade. Uma queda, costuma-se dizer. E essa Ilusão se reproduz como “campos, dentro de campos, dentro de campos, dentro de campos”, e assim sucessivamente…

Assim, na Totalidade colapsa-se o Deus Criador, pela Luz da Consciência; no Céu colapsa-se o diabo, Lúcifer – o Portador da Luz – querendo construir um mundo melhor que o de Deus criador; no Paraíso colapsa-se a auto-consciência no ser humano, pela sedução de Lúcifer com a “Luz do Conhecimento”; e na inocência da infância colapsa-se o ego humano auto-consciente no ato ‘luminoso” de perceber-se separado do resto. Quedas, dentro de quedas, dentro de quedas. Quatro quedas que colapsam o mundo como o conhecemos, incluindo a nós mesmos. Causação descendente. Os quatro níveis básicos da Ilusão. Maya.

Mas, lembre-se, Ilusão não tem existência Real, só existência aparente, só o Ser é Real, por isso pode-se dizer, o Ser é. Espírito, Alma e Corpo são apenas como a Ilusão aparece, não são manifestação do Ser; são manifestação da Consciência, que é manifestação de Si mesma. O Ser continua sendo o que é, imanifesto e incognoscível, mas única Realidade. Quando a Ilusão desaparece, o Real permanece.

No que aparece, ou seja, em Maya, Espírito é o Princípio Individualizador, e Corpo é a Forma Individualizada. Alma são as reações que surgem, como emoções, sensações e sentimentos, na relação do Espírito com o Corpo, ou do Corpo com o Espírito. Esse é o âmbito da Psique, ou Alma. O que aconteceu foi que a palavra latina para essa região do ser humano, “Anima ou Alma”, ficou dentro do âmbito da religião, e a palavra grega “Psique” ficou dentro do âmbito da academia, ou da “ciência”.

A religião esquece o Ser por parar no Deus Criador e tratá-lo como se fosse o Ser. Por ficar na continuidade da manifestação. O Ser é a presença por trás de tudo, quando a Ilusão desaparece o Ser se torna evidente por si mesmo. Mas isso é uma ruptura na continuidade da Ilusão. Por isso se diz que para o Ser, ou para o 5º triângulo, não tem um caminho. É um despertar da continuidade da Ilusão para a Realidade do Ser, o que é. Uma descontinuidade. É quando se pára. É quando se “morre” para a Ilusão. Paz e Silêncio são os atributos, vazios de Si mesmo, que se revelam, desvelados.

É o que o mistério cristão mostra com a “Morte na cruz” e a “Ressurreição”. A Morte na cruz é a Morte da Ilusão, do que é ilusório no ser humano, e a Ressurreição é o despertar na realidade do Ser, o que é, o essencial. É semelhante ao mistério do Buda. A palavra “Buda” significa “aquele que despertou da Ilusão para a Realidade”, ou “o Desperto”. Dizem que o Buda nega a existência de Deus, e é fato, pois o Desperto nega a existência da Ilusão, seja como Deus Criador, seja como Consciência, seja como Espírito, Alma e Corpo, nega tudo aquilo que é temporal e impermanente; nega tudo o que passa, tudo o que aparece e desaparece. O Desperto vê o Real como Real e a Ilusão como Ilusão, e não toma um pelo outro. O Desperto reconhece apenas o que é, isto é, Ser. Olha a ilusão sem deixar-se seduzir por ela; tem os olhos abertos para o que é. Por isso se diz que no tempo, não é do tempo, no Corpo, não é do Corpo, na Alma, não é da Alma, no Espírito, não é do Espírito.

“Bem-aventurados os pobres de Espírito” disse o Cristo. Realmente, pobres de Espírito são os que não têm realmente nada, perderam a Si mesmo na única morte definitiva, a que se coloca fora da Roda do Karma, fora da Roda de Nascimentos e Mortes, fora do círculo do tempo. Pobres de Si mesmos, são apenas o que são, isto é Ser –  sem nome e sem forma.

A Vida, que nunca teve começo, e também não tem fim, é imagem do Ser, na Consciência. Imagem é só aparência.

Simples, não? Assim.
 

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