Caderno de Meditação

Do livro “A Única Revolução” – Terra sem Caminho, RJ, 2001.

Editado e organizado livremente por Moacir Amaral, novembro de 2008.

Introdução

Estamos conversando sobre nossa própria vida, não fazendo suposições sobre a vida de alguma outra pessoa. De fato, estamos juntos como dois amigos, neste lugar tranqüilo, investigando nossos problemas. Somos sérios, interessados e comprometidos com a solução dos problemas humanos, porque sentimos, como duas pessoas, que nós somos o mundo e o mundo é o que nós somos.

“Parece uma coisa interminável, esta constante introspecção e análise, esta vigilância. Já tentei de tudo; todos os gurus do mercado, muitos sistemas de meditação – você sabe, todos os truques disponíveis. Continuo vazio, oco por dentro.”

Por que você não começa pelo outro lado, o lado que você não conhece? Da outra margem, a qual você não tem possibilidade de ver desta margem? Comece do desconhecido, ao invés de começar do conhecido; pois esse constante exame e análise somente fortalece e condiciona ainda mais o conhecido. Se a mente vive a partir do outro lado, então esses problemas não existem.

“Mas, como vou começar do outro lado? Eu não o conheço, não posso vê-lo.”

Quando você pergunta: “Como vou começar do outro lado?” – você está ainda perguntando a partir deste lado. Portanto, não pergunte isto, mas comece do outro lado; do lado que você não conhece nada; comece de outra dimensão, que o pensamento, por mais astuto que seja, não pode apreender.

“Não posso imaginar como começar daquele lado. Em verdade, não compreendo essa asserção vaga; essa afirmação que, para mim, não tem significado nenhum. Só posso ir onde conheço.”

Mas, o que é que você conhece? Você só conhece o que já está acabado, concluído. Você só conhece o passado. E estamos dizendo: comece daquilo que você não conhece, e viva a partir dali. Se você diz: “Como vou viver a partir desse lugar?” – então você está convidando o padrão de ontem. Mas, se você vive a partir do desconhecido, você está vivendo em liberdade, agindo a partir da liberdade e isso, afinal, é amor. Se você diz: “Eu sei o que é o amor” – então você não sabe. Pois o amor não é um conhecimento, uma memória, nem a lembrança de um prazer. E como não é uma memória, nem uma lembrança, então viva daquilo que você não conhece.

“Realmente não sei do que você está falando. Você está tornando as coisas ainda mais difíceis”.

Estou propondo uma coisa muito simples. E estou dizendo que, quanto mais você procura, mais você tem para procurar. O próprio procurar é o condicionamento, e cada passo constrói um caminho que não leva a parte alguma. Você quer que novos passos sejam dados para você, ou você quer dar seus próprios passos esperando que o levem a uma dimensão totalmente diferente. Mas, de fato, você não sabe o que tal dimensão é, então sejam quais forem os passos que você dê, só poderão levá-lo àquilo que já é conhecido. Assim, largue tudo isso e comece do outro lado. Fique em silêncio, e você vai descobrir.

“Mas eu não sei como ficar em silêncio!”

Aí está você de novo perguntando “como”, querendo “saber como” para depois “fazer certo”, e não há um fim para o “como”. Todo saber está do lado errado. Se você sabe, você já está morto. Ser não é saber.



Jiddu Krishnamurti nasceu em Maio de 1895, na Índia.

Foi educado dentro da Sociedade Teosófica, anunciado e tratado como veículo para encarnação do Messias, ou do Bodhisatwa Maitreya. Para isso foi colocado como chefe da Ordem da Estrela do Oriente.

Em Agosto de 1929, aos 34 anos, dissolveu a Ordem da Estrela, saiu da Sociedade Teosófica, e seguiu seu caminho único, percebendo e sustentando a Verdade com total compromisso e integridade.

Por mais 56 anos viajou pelo mundo, sendo o que é, observando tudo, falando, escrevendo, conversando e encontrando muita gente.

Seus livros, publicados no mundo inteiro, são publicados no Brasil pela Instituição Cultural Krishnamurti e pela Editora Cultrix.

Morreu em Fevereiro de 1986, aos 90 anos de idade, na Califórnia. Sua última palestra havia sido em Janeiro desse mesmo ano, em Chennai, na Índia.

Há quem diga que ele é aquele que foi anunciado.

Excerto do discurso que proferiu em Agosto de 1929:

Sustento que a verdade é uma terra sem caminho, e você não pode aproximar-se dela por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é meu ponto de vista e eu o sigo de modo absoluto e incondicional.

Não tendo limites, não sendo condicionada e não sendo acessível por nenhuma espécie de caminho, a Verdade não pode ser organizada; nem se deve formar nenhuma organização para levar ou convencer as pessoas a enveredar por um determinado caminho.

Se vocês criam uma organização com esse propósito, ela se tornará uma muleta, uma fraqueza, uma servidão, mutilará o indivíduo e o impedirá de crescer, de firmar sua singularidade, que reside no descobrimento para si mesmo da Verdade absoluta, não-condicionada.

No momento em que seguem alguém, vocês deixam de seguir a Verdade. Não me preocupa saber se vocês estão, ou não, prestando atenção ao que digo. Quero fazer uma coisa no mundo e vou fazê-la com total concentração. Só me preocupa uma coisa essencial: libertar o ser humano. Desejo libertá-lo de todas as cadeias, de todos os medos, e não fundar nova religião, nova seita, nem estabelecer novas teorias e novas filosofias.

Porque sou livre, não-condicionado, total, não a parte, não o relativo, mas a verdade total, que é atemporal, desejo que os que procuram compreender-me sejam livres, não me sigam, não façam de mim a prisão que se converterá em nova religião, em nova seita. Desejo que sejam livres de todos os medos – do medo da totalidade, do medo da realização, do medo da verdade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida.

Todos vocês dependem, para sua verdade, de outra pessoa; para a sua felicidade, de outra pessoa; para sua iluminação, de outra pessoa. Quando digo: busquem dentro de vocês a iluminação, a glória, a purificação e a incorruptibilidade do Ser, nenhum de vocês se dispõe a fazê-lo.

Mas os que realmente desejam compreender, os que estão buscando o eterno, o sem começo e sem fim, caminharão juntos com maior intensidade, serão um perigo para tudo o que não é essencial, para todas as ilusões e as sombras. E eles ficarão juntos, se tornarão uma chama, porque compreendem. Tal é o corpo que precisamos criar e tal é o meu propósito. Por causa dessa amizade verdadeira haverá uma cooperação verdadeira da parte de cada um. Não em virtude da autoridade, não para conseguir a salvação, mas porque compreendem realmente e, portanto, são capazes de viver no desconhecido. Isto, sim, é maior que todo o prazer, e que todo o sacrifício.

Meu único propósito é tornar o ser humano absoluta e incondicionalmente livre.

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Continua…

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