Universos Paralelos

O Jogo de Espelhos dos

Universos Paralelos

Extraído da revista Scientific American Brasil, nº 13, de junho de 2003

Será que existe uma cópia de você lendo esse artigo?

Uma pessoa que não é você, mas vive num planeta chamado Terra com montanhas cobertas de neblina, campos férteis e cidades esparramadas em um Sistema Solar com oito outros planetas? A vida que essa pessoa leva é idêntica à sua em todos os aspectos, mas talvez ele ou ela decida abandonar este artigo antes de terminar a leitura, enquanto você contínua lendo.



A idéia de um alter ego como esse é estranha à primeira vista e pouco plausível, mas parece inevitável que acabemos por aceitá-la, pois essa idéia tem sustentação em observações astronômicas. O modelo astronômico mais simples e mais comum hoje prediz que existe um gêmeo em uma galáxia a cerca de 10 elevado a 28 metros daqui. Essa distância é tão grande que está além das medidas astronômicas, mas isso não torna menos real o seu duplo-eu (doppelgänger). A estimativa decorre de leis elementares das probabilidades, sem que seja necessário lançar mão da física moderna especulativa. Simplesmente existe um espaço infinitamente grande (ou pelo menos suficientemente grande) que está praticamente todo preenchido por matéria uniformemente distribuída, como indicam as observações. Num espaço infinito, mesmo os eventos mais improváveis devem ocorrer em algum lugar. Há muitos outros planetas habitados, incluindo não só um, mas infinitos outros planetas com pessoas exatamente como você, com a sua aparência, o mesmo nome e as mesmas lembranças, alguém que já esgotou todas as possíveis combinações de escolhas da sua vida.

Você provavelmente nunca verá seus outros eus. O lugar mais distante que você consegue observar é o ponto de onde a luz partiu há 14 bilhões de anos, desde que começou a expansão do Big Bang. Os objetos visíveis mais distantes estão agora a cerca de 4×1026 metros de distância, o que define o nosso Universo observável, também chamado de volume de Hubble, nosso volume de horizonte ou simplesmente nosso Universo. Da mesma forma, os universos dos seus outros eus são esferas do mesmo tamanho que têm seus planetas como centro. Estes são os exemplos mais diretos de universos paralelos. Cada universo é simplesmente uma pequena parte de um “multiverso” maior.

Se ficássemos apenas com esta definição de “universo” poderíamos esperar que a noção de multiverso se mantivesse para sempre no domínio da metafísica. Para se distinguira física da metafísica é preciso verificar se uma teoria pode ser testada experimentalmente e não se ela é incomum, ou envolve entidades não-observáveis. As fronteiras da física vêm se expandindo gradualmente para incorporar conceitos cada vez mais abstratos (outrora metafísicos) tais como uma Terra esférica, campos eletromagnéticos invisíveis, o tempo, que passa mais devagar em altas velocidades, as superposições quânticas, o espaço curvo e os buracos negros. Ao longo dos últimos anos o conceito de multiverso juntou-se a esta lista. Este conceito se baseia em teorias consistentes, como a relatividade e a mecânica quântica e atende aos critérios básicos de uma ciência empírica: faz predições e pode ser posta à prova. Os cientistas têm discutido a existência de pelo menos quatro tipos diferentes de universos paralelos. O ponto-chave não é discutir se o multiverso existe, mas quantos níveis ele possui.

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