Vacina contra H1N1 afeta teste para Aids

 

Fonte: Vacina e Teste para AIDS

Ministério da Saúde reconhece que a imunização provoca aumento de um anticorpo que o exame para identificar o HIV interpreta de forma errada. Solução é fazer uma segunda checagem, mais sofisticada.  

Publicação: 22/05/2010 07:00 Atualização: 22/05/2010 16:21

Parte dos 61 milhões de brasileiros que se imunizaram contra a gripe A (H1N1), mais conhecida como gripe suína, e que se submeteram ao exame para detectar a presença do vírus HIV no organismo pode ter um resultado falso positivo mesmo sem o contato com a substância orgânica que causa a Aids. A informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde. De acordo com o Departamento de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), Aids e Hepatites Virais, a vacina contra a nova gripe provoca o aumento do anticorpo Imunoglobina M (IgM), que o teste para o HIV interpreta como indicativo da contaminação pelo vírus da Aids. “Alertamos toda a rede de atendimento para informar àqueles que fizerem o exame para HIV que, se a pessoa tomou a vacina contra a gripe nos 30 dias anteriores, o resultado pode ser falso positivo”, disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Governo decide estender prazo de vacinação

O falso diagnóstico para o HIV pode ocorrer apenas no teste Elisa, primeiro exame de investigação para a doença. “Se o resultado for positivo nesse teste, fazemos o exame denominado Western Blot para confirmação ou não do diagnóstico”, explica a coordenadora de laboratório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Lilian Amaral Inocêncio. Ela lembra que, desde 2009, o ministério publicou uma portaria (151), válida para os laboratórios públicos e privados, que já prevê o protocolo, ou seja, a realização dos dois exames antes de o paciente receber o resultado para o HIV. “Como a vacina contra a gripe suína é nova e não foram realizados estudos, pode ocorrer esse tipo de problema”, admite Lilian.

Apesar do problema, a coordenadora de laboratório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais descartou qualquer possibilidade de um dos 61 milhões de brasileiros que foram imunizados contra a gripe suína achar que pode ter HIV após o segundo exame. “Não existe a menor chance de isso ter acontecido. O exame Western Blot é preciso e não deixa qualquer dúvida diante do resultado”, explica Lilian. “Caso dê positivo e a pessoa tenha tomado a vacina nos 30 dias anteriores, é preciso fazer um outro exame, mais sofisticado, que não está sujeito ao falso positivo”, diz Temporão.

Ainda ontem, algumas pessoas que foram se vacinar nos postos de saúde do Distrito Federal se mostraram preocupadas com a notícia. “A gente procurou tranquilizar a população, dizendo que a vacina não produz a doença”, disse Márcia Carneiro Fernandes, chefe de enfermagem do Centro de Saúde da 514/515 Sul.

A administradora do centro de saúde da 508 Sul, Ana Maria de Castro, disse, porém, que apenas “ouviu falar da possibilidade de falso positivo” em exames de HIV.

“Oficialmente não temos a informação. Geralmente, o ministério se reúne com médicos e enfermeiros para dar esse tipo de informação”, disse, na tarde de ontem. A maioria das pessoas que foram aos postos ontem não tinha conhecimento da informação. A notícia mais comentada nas filas era a respeito da prorrogação do prazo da campanha.

Irresponsabilidade

Em vigor desde 3 de maio, a nota técnica foi criticada pelo infectologista Edimilson Migowski, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Desde que o mundo é mundo ocorrem esses tipos de resultados falsos positivos. Doenças infecciosas, como as próprias gripes comum (sazonal) e suína (H1N1), e algumas vacinas, algumas vezes, levam a esse diagnóstico aparente. O resultado do teste Elisa é muito reversível e, por isso, indicamos a confirmação pelo Western Blot”, esclarece Migowski. “Acho que essa nota técnica divulgada pelo ministério vai causar muita confusão. A população vai achar que tem HIV e, com isso, deixar de se vacinar contra a gripe suína”, analisa o infectologista.

Ao contrário da opinião do professor da UFRJ, o epidemiologista Pedro Tauil, professor da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a estratégia do Ministério da Saúde foi correta. “É importante tranquilizar a população sobre esse resultado falso positivo”, destaca Tauil. “É compreensível que vacinas possam levar a esse tipo de problema. Não há nada de novo nisso”, acrescenta.

A coordenadora de laboratório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Lilian Amaral, ainda destaca que quem tomar a vacina contra a gripe suína não corre nenhum risco de contrair HIV. “Não tem a menor possibilidade de isso ocorrer.”

Colaborou Flávia Foreque

Ouça trechos da entrevista com a coordenadora de laboratório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Lilian Amaral Inocêncio.

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