Neuropeptídeos: as Emoções e a Mente do Corpo

A Unidade da Variedade

O último ponto que vou levantar sobre os neuropeptídeos é surpreendente, na minha opinião. Como vimos, neuropeptídeos são moléculas sinalizantes. Elas enviam mensagens para todo o corpo (incluindo o cérebro). É claro que para ter tal rede de comunicação, é necessário componentes que falam e se ouvem entre sí (ou seja, se comunicam). Nessa situação que estamos analisando aqui, os componentes que ‘falam’ são os neuropeptídeos, e os que ‘ouvem’ são os receptores de neuropeptídeos. Como isso pode ser? Como podem de 50 a 60 neuropeptídeos serem produzidos, circularem e falarem com 50 ou 60 tipos de receptores ouvintes que estão em uma variedade de células? Como reina a ordem em vez do caos?

A descoberta que vou discutir não é totalmente aceita, mas nossos experimentos demonstram que ela é verdadeira. Não publiquei ainda mas acho que é apenas questão de tempo até todos poderem confirmar essas observações.

Há milhares de cientistas estudando os receptores de peptídeos opiáticos, e percebe-se que são muito heterogêneos. Todavia, toda a evidência laboratorial indica que de fato há apenas um tipo de molécula nos receptores opiáticos, uma longa corrente polypetídica cuja fórmula podemos escrever. Essa molécula é perfeitamente capaz de mudar sua configuração dentro de sua membrana para que possa assumir diversas formas.

Eu observei também que essa interconversão pode ocorrer em velocidade rápida, tão rápida que é difícil se saber em que estado ela se encontra em um determinado momento do tempo. Em outras palavras, os receptores possuem um caráter tanto ondulatório como de partícula, e é importante notar que a informação pode ser armazenada em forma de tempo dispensado em estados diferentes.

Conforme falei, a unidade molecular dos receptores é admirável. Consideremos o tetrahymena, um protozoário que é um dos organismos mais simples. Apesar de sua simplicidade o tetrahymena é capaz de fazer quase tudo que nós fazemos – come, faz sexo, e é claro produz os mesmos componentes neuropeptídicos dos quais já falamos. O tetrahymena produz insulina. Ele produz beta-endorfinas. Pegamos membranas de tetrahymena e estudamos em particular as moléculas dos receptores opiáticos contidas nelas; também estudamos receptores opiáticos em cérebros de ratos e nos monócitos humanos.

Acreditamos ter demonstrado que a substância molecular de todos os receptores opiáticos é a mesma. A molécula receptora de opiato do cérebro humano é idêntica aos componentes dos receptores de opiato naquele mais simples dos animais, o tetrahymena. Espero que a força disso esteja clara. O receptor opiático no meu cérebro e no seu cérebro é, na raíz, constituído da mesma substância molecular do terahymena.

Essa descoberta chega na simplicidade e unidade da vida. É comparável aos quatro pares baseados em DNA que são do código para a produção de todas as proteínas, que são o substrato físico da vida. Agora sabemos que nesse substrato físico existem apenas em torno de 60 moléculas sinalizadoras, os neuropeptídeos que são responsáveis pela manifestação fisiológica das emoções, poderíamos dizer, pelo estímulo das emoções, ou talvez ainda melhor, pelo fluir da energia. A forma protosoária do tetrahymena indica que as moléculas receptoras não se tornam mais complexas à medida que o organismo se torna mais complexo: os componentes moleculares idênticos para o fluxo de informações são conservados por toda a evolução. O sistema inteiro é simples, elegante e poderá muito bem ser completo.

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