Comunicar com o Sistema Imunológico.
Agora vou acrescentar o sistema imunológico à esse quadro. Já expliquei que o sistema hormonal, historicamente estudado como sendo separado do cérebro, é conceitualmente a mesma coisa que o sistema nervoso. Pacotes ?? de sucos são liberados e se dispersam para bem longe, agindo via a especificidade dos receptores em locais distantes de onde os sucos são armazenados. Portanto, a endocrinologia e a neurociência são dois aspectos do mesmo processo. Agora vou defender a posição de que a imunologia também faz parte desse sistema conceitual e não deve ser considerada uma disciplina separada.
Uma propriedade chave do sistema imunológico é que suas células se movem. Outrossim são idênticas às células estáveis do cérebro, com seu núcleo, membrana celular e todos os receptores. Monócitos, por exemplo, que ingerem organismos estranhos, nascem no tutano dos ossos, e depois se dispersam viajando pelos veias e artérias, e decidem o seu destino seguindo dicas químicas. Um monócito trafega pelo sangue e em determinado ponto chega à distância ‘farejável’ de um neuropeptídeo, e pelo fato de possuir receptores para um neuropeptídeo na superfície celular, ele começa literalmente a ‘quimotaxear’, ou engatinhar em direção aquele elemento químico. Isto está muito bem documentado, e há excelentes meios de estudá-lo em laboratório.
Agora, os monócitos são responsáveis não apenas pelo reconhecimento e digestão de corpos estranhos como também pela cura de feridas e mecanismos de reparo tecidual. Estamos, portanto, falando sobre células com funções vitais, de sustentação à saúde.
A nova descoberta que quero enfatizar aqui é que todo neuropeptídeo receptor que procuramos (utilizando um sistema preciso e elegante desenvolvido pelo meu colega Michael Ruff) está também nos monócitos humanos. Os monócitos humanos têm receptores opiáticos, para PCP, para outro peptídeo chamado bombasin, e assim por diante. Esses elementos bioquímicos que afetam as emoções de fato, aparentemente controlam o trajeto e a migração do monócitos que são os pivôs no sistema imunológico. Eles se comunicam com células tipo B e T, interagem no sistema inteiro para lutar contra uma doença e para distinguir entre ‘o self’ e o ‘não self’, decidindo, digamos, que parte do corpo constitui uma célula de tumor a ser destruída pelas células destruidoras naturais, e que parte deve ser restaurada. Espero que este quadro esteja claro para vocês.
Um monócito está circulando esse elemento sustentador da saúde do sistema imunológico trafegando pelo sangue, então a presença de um opiato o atrai e ele se conecta com o neuropeptídeo por que ele tem o receptor apropriado. Ele tem, de fato, muitos receptores diferentes para neuropeptídeos diferentes.
Constata-se contudo que as células do sistema imunológico não possuem apenas receptores para esses diversos neuropeptídeos; está se tornando claro que eles também produzem os próprios neuropeptídeos. Existem subconjuntos de células imunes que produzem beta endorfinas, por exemplo, e os outros peptídeos opiáticos. Em outras palavras, essas células imunes estão produzindo a mesma química que concebemos como controladores do humor dentro do cérebro. Elas controlam a integridade do tecido do corpo, e também produzem a química que controla o humor. Mais uma vez, cérebro e corpo.