Niyamas


?auca

?auca significa limpeza ou purificação. Purificar é tornar predominante, em nossa constituição, elementos mais refinados, pela aquisição de matéria mais sutil e pela eliminação de matéria mais densa, para que se possa responder mais facilmente a vibrações mais elevadas, provenientes do Eu. A purificação de si mesmo significa propiciar uma eficiência funcional, eliminando tudo que possa criar obstáculos na nossa ‘Busca do Eu’.

E qual a parte nossa que tem que ser purificada? Enquanto o Yoga S?tra faz a distinção apenas entre o Ser (?tman) e o não-Ser (an?tmasu), as escrituras do Advaita Ved?nta discriminam a nossa constituição aparente em corpos denso (sth?la ?ar?ra?), sutil (s?k?ma ?ar?ra?) e causal (k?ra?a ?ar?ra?)TB:10. ?auca é a limpeza ou purificação externa, de nosso corpo denso, e, interna, de nosso corpo sutil e do causal.

A Taittir?ya Upani?ad descreve como esses três corpos se subdividem em cinco invólucros:

Sth?la ?ar?ra?(corpo denso)

Annamaya? ko?a

S?k?ma ?ar?ra?

(corpo sutil ou astral)

Pr??amaya? ko?a

Manomaya? ko?a

Vijñ?namaya? ko?a

K?ra?a ?ar?ra? (corpo causal)

?nandamaya? ko?a

Vi?vagr?sa

 

Nosso corpo físico-energético é também conhecido como o invólucro que nada mais é que alimento: o alimento se origina, cresce e se nutre graças ao alimento e, quando morre, volta ao alimento, que se nutre dele 2:75. Esse é o primeiro nível de auto-identificação (asmit?): esse corpo sou eu! O banho diário, a higiene da boca e dos dentes, e outras formas de limpeza, como a dos órgãos internos e das mucosas mediante as vinte técnicas de kriy?s do Ha?ha Yoga descritas no Gheranda Sa?hit?, são de pouca valia se a pessoa ingere alimentos sólidos, líquidos ou gasosos com elevadas taxas de toxinas e impurezas ou faça uso de substâncias tóxicas, que gerem dependência explícita ou que alterem o estado de consciência, ainda que tais substâncias sejam ‘naturais’.

Annamaya? ko?a é o instrumento do Eu para o trabalho na dimensão física (bh?rloka) e como tal precisamos conservá-lo em bom estado para que o Eu possa usá-lo eficientemente. Mas aquele que só trata da purificação física não está cumprindo ?auca integralmente. Esta recomendação só está satisfatoriamente interpretada quando se exerce também a prática da limpeza interior de nosso corpo sutil e do nosso corpo causal.

Nosso corpo sutil, ou s?k?ma ?ar?ra?, que atua na dimensão astral (antarik?a? ou bhuvaloka) da existência, é o campo ignorante (avidy?) onde se experimenta as conseqüências (karmas – ação e reação) de nossos desejos latentes (k?mas) e é composto de três invólucros VC:98: pr??amaya? ko?a manomaya? ko?a (invólucro que nada mais é que mente) e vijñ?namaya? ko?a (invólucro que nada mais é que conhecimento). (invólucro que nada mais é que vida),

Pr??amaya? ko?a compõe-se de cinco tipos de energia cada qual com sua função: pr??a (respiração), ap?na (eliminação), vy?na (circulação), ud?na (procriação) e sam?na (digestão). Além desses cinco fluxos primários (pr??a v?yus) da força vital, que por sua vez se dividem em outros 50 tipos, existem cinco fluxos secundários (upa-pr??a v?yus) que controlam cinco funções bioenergéticas auxiliares: n?ga (controla o vômito, o soluço e a eructação), k?rma (causa o piscar dos olhos), k?k?ra (causa a sensação de fome e sede), devadatta (controla o bocejo e o sono) e dhananjaya (controla a decomposição do corpo morto). Purificar pr??amaya? ko?a é equilibrar energeticamente nosso corpo energético, principalmente através de práticas físicas e respiratórias, presentes em diversas disciplinas espirituais. É a vitalidade de nosso corpo físico (sth?la ?ar?ra?), ponte entre annamaya? ko?a e manomaya? ko?a. (Cf. mais detalhes sobre a anatomia sutil do pr??amaya? ko?a também no capítulo ‘Tantra’ do livro ‘Yoga: Formando Instrutores’, da Editora Órion).

Manomaya? ko?a é a mente subconsciente estímulo-resposta, responsável pelas funções autonômicas do Sistema Nervoso (simpático e parassimpático) e pelas necessidades básicas de fome, sede e sexo, necessidades comuns a todos os animais: é a sede de nossos desejos e raciocínio lógico. Manifesta-se como nossos pensamentos lógicos e emoções inferiores no estado de vigília (j?grat), mas mostra todo o seu poder de criação no estado de sono com sonhos (svapna), que é o resultado de nossas memórias e impressões conscientes, subconscientes e inconscientes. Sua influência se restringe ao mundo das formas e das sensações não se estendendo à realidade que vivemos no mundo do sono sem sonhos (nidr?). É a parte densa de nosso corpo astral (s?k?ma ?ar?ra?).

Purificar manomaya? ko?a, nosso invólucro de desejos mentais, é refinar nossos desejos, emoções e pensamentos de forma que somente encontrem expressão aqueles desejos, emoções e pensamentos superiores que possuem vibração mais elevada como a devoção, a compaixão e o desejo de servir. Mas essa expressão não dispensa a limpeza daquelas emoções e desejos reprimidos no inconsciente, frutos de nossas feridas infantis que dão origem a diversos complexos psicológicos e suas ‘máscaras’ associadas.

Nossa auto-identificação (asmit?) é particularmente forte com esse nosso corpo. Estamos firmemente identificados com nossos desejos (k?mas) e emoções inferiores e o primeiro passo para evitá-los, como já visto, é desenvolver a faculdade de nos dissociarmos deles e observá-los quando em plena ação: recolher-se para observar e refletir. Então passamos a estar conscientes de nossos hábitos (sa?sk?ras) e tendências mentais (v?san?s), fontes de nossos atos (karmas) e causadores de nossas dores e sofrimentos (kle?as).

Essa capacidade de observar firmemente é desenvolvida quando se consegue criar o hábito de fazer tudo, no dia-a-dia, de forma concentrada e sem distração. Assim, o passo seguinte é desenvolver a capacidade de discernir, entre as suas diversas formas, quais desejos, emoções e pensamentos são indesejáveis para, finalmente, evitar a manifestação daqueles em desarmonia com a nossa meta de trilhar a senda de ‘Busca do Eu’.

Vijñ?namaya? ko?a é o veículo da consciência que percebe as diversas reações de prazer e dor que ocorrem na vigília (no mundo físico – bh?rloka) e no sonho (no mundo astral – bhuvaloka). Constitui a parte mais sutil de nosso corpo astral (s?k?ma ?ar?ra?), elo entre manomaya? ko?a e ?nandamaya? ko?a, e sua manifestação gira em torno de uma existência individual separada (j?va) no Universo, produzindo a percepção do ‘eu’ e do ‘meu’. Assim, continuamente identifica-se com os deveres, funções, hábitos e tendências de manomaya? ko?a.

Purificar vijñ?namaya? ko?a, nosso invólucro de inteligência espiritual, é desenvolver a capacidade de ver princípios e leis gerais unificando o diferente, com a conseqüente equanimidade, e a consciência da auto-responsabilidade no longo trilhar do caminho de ‘Busca do Eu’. Com a perfeita purificação de vijñ?namaya? ko?a atinge-se a consciência do Observador e a capacidade do paciente observar.

E, por fim, nosso corpo causal (k?ra?a ?ar?ra?) é o pacote de nossas memórias profundas, composto do depósito de nossas ações (karm??aya?), iluminado por nosso invólucro divino, conhecido como ?nandamaya? ko?a (invólucro que nada mais é que bem-aventurança). Esse corpo luminoso (buddhi), que atua na dimensão intencional e intuicional da existência (o mundo causal – svarga ou svaloka), é o Observador puro e seu ‘desenvolvimento’, ou manifestação, ocorre gradualmente nos homens virtuosos. Assim, é necessária uma vida meritória (dharma), de ações (karma) justas que ficam, por assim dizer, registradas nele.

?nandamaya?, nosso Ego espiritual, nos capacita a sentir uma indefinida paz e felicidade quando contemplamos o bom e o belo e abre as portas para que se tenha consciência do sono sem sonhos. Purificá-lo é alimentá-lo com pensamentos, palavras e ações que produzem toda uma psico-esfera de proteção em nossa busca pelo Eu.

Com a sua purificação surge a verdadeira compreensão, fruto do discernimento (viveka) e da intuição. Compreende-se as verdades da vida espiritual e, com isso, surge um guia seguro, totalmente independente de nosso corpo sutil (s?k?ma ?ar?ra?). Diante dos desafios cotidianos surge a decisão certa usando os meios corretos para cada diferente situação, ou decisões diferentes para a mesma situação em momentos diferentes.

Ser limpo psíquico e mentalmente constitui requisito imprescindível. O combate às paixões sutis parece ser empresa infinitamente mais dura que a conquista física do mundo. Ser limpo interiormente compreende não alimentar seu psiquismo com imagens, idéias, emoções ou pensamentos tóxicos, tais como orgulho, impaciência, irritabilidade, inveja, cobiça, luxúria, e outros sentimentos inferiores. Por isso a recomendação do constante uso de mantras e orações.

O impulso vem de dentro (internamente), da Vontade Espiritual, e visa uma mudança emocional e mental que atinja o nível físico através de um trabalho persistente (para mudar sinapses e receptores). Mudar os hábitos (os vícios) é mudar (purificar) todos os ko?as: reconstruir o caráter.

Assim, quanto mais perfeito em ?auca o buscador se torna, mais ele atinge um alegre domínio dos sentidos e uma total capacidade de auto-observação YS II:41. Então ele percebe suas imperfeições e a dificuldade em manter-se limpo, e compreende que não conseguirá nunca purificar permanentemente seus veículos. Por conseguinte, procura se afastar de tudo e de todos para manter-se limpo a maior parte do tempo possível. Em outras palavras, estando firmemente estabelecido em ?auca, surge um desinteresse total por todo o tipo de relacionamento, pois se percebe a própria impureza e a de todos os outros YS II:40.

Para atingir a pureza perfeita, é preciso libertar-se de todas as paixões do pensamento, da palavra e da ação; ultrapassar as correntes contrárias do ódio e do amor, da repulsa e do apego. Nada é mais contagioso do que a purificação. Esta norma atinge a sua plenitude quando a própria limpeza se reflete no meio ambiente, cujas manifestações mais próximas são a sua casa e o seu local de trabalho. A observância de ?auca não deve induzir à intolerância contra aqueles que não compreendem a limpeza e a pureza de forma tão abrangente. Quem não tem o coração puro jamais atingirá Deus.

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